Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 40
Capítulo 40




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– O quê? – perguntou L, desconfiada, antes de se contar, perguntando-se que raio teria aquele ardor provocado nas suas têmporas.

Aino lançou um olhar de aviso a L enquanto Aina dirigiu-se à cómoda de L e retirou de lá um pequeno espelho que entregou à rapariga.

L susteve a respiração. Tinha umas tatuagens estranhas nas pálpebras, em negro e vermelho, estendendo-se para as têmporas. Na zona de pele logo abaixo da sobrancelha tinha uma fileira de estranhos símbolos negros que se assemelhavam vagamente a runas. E depois umas bonitas linhas onduladas estendiam-se desde os cantos dos olhos até às têmporas.

L passou os dedos sobre as linhas, morrendo de vontade de questionar as gémeas sobre aquelas tatuagens. Mas não se atrevia a abusar da sorte.

– Um selo de encarceramento duplo – explicou Aina, adivinhando o que ela estaria a pensar.

– Está a trancar ou a esconder algo dentro de ti ao mesmo tempo que se esconde a si mesmo – continuou Aino.

– E foi muito bem lançado – comentou Aina.

Aino concordou com um aceno de cabeça.

– Poucas pessoas para além da Aina o conseguiria detetar – revelar Aino – E poucas pessoas para além de mim o conseguiriam fazer emergir.

Bella pigarreou suavemente, parecendo também ela ansiosa por perguntar algo e estando a fazer um enorme esforço para se conter.

– Não vamos abrir o selo – disse Aina.

– Não sabemos o que ele está a trancar, portanto… é mais seguro mantê-lo fechado – concluiu Aino.

– Não sou perigosa – disse L, disfarçando assim a pergunta que queria fazer: se o selo poderia estar a encarcerar algo assim tão horrível dentro dela, que ameaçasse a vida de alguém.

– Não nos poderás garantir de que não te tornarás perigosa quando o selo for aberto – negou Aina.

– Ele pode estar a trancar memórias, traços da tua personalidade… seja o que for, está a ser estimulado para sair e o teu corpo está a reagir a essa luta “interior” – disse Aino.

– É por isso que te tens sentido tão mal ultimamente – continuou Aina.

– E vão deixar o selo fechado para que ela continue a sentir-se mal, a sofrer? – admirou-se Saya, não se conseguindo segurar mais.

– Não te compete a ti questionar as nossas decisões! – exclamaram as gémeas ao mesmo tempo, lançando um olhar ameaçador a Saya, o qual foi prontamente correspondido.

– Podemos estar a salvá-la de um sofrimento ainda maior, ao manter o selo fechado – disse Aino.

– Pensa nisso – desafiou Aina, antes de as duas desaparecerem em nuvens de pó.

– Eu não acredito que elas te deixaram nesse estado! – vociferou Saya, fora de si.

– Calma – pediu L – Sinto-me muito melhor agora. Talvez agora que o selo “emergiu” seja mais fácil lidar com ele. A única coisa que me preocupa de momento é saber como vou explicar estas tatuagens ao resto do pessoal.

– Explicar as tatuagens ao pessoal será fácil – disse Saya – Difícil será fazê-los crer que as gémeas não o abriram, com medinho do que ele poderá estar a trancar.

– Talvez elas tenham razão – disse L, saindo da cama lentamente, o corpo ainda fraco do mal-estar anterior.

– Oh, vá lá, não poderá ser algo assim tão mau – disse Saya – Pois não? – perguntou, logo a seguir, insegura.

– Não sei – murmurou L.

– Mas seja como for, tu não podes ficar assim! – insistiu Saya.

L encolheu os ombros e depois reparou que Softhe estava parada num canto, sossegada, a olhar o vazio. Na verdade, ela não dissera uma só palavra desde que entrara no quarto, algo que não fazia o género dela.

– Softhe? – chamou L – Estás bem?

– Hum? – fez Softhe, erguendo a cabeça de repente, como se tivesse acordado de um sonho.

– Ela está assim desde que acordou – disse Saya, exasperada, de mãos na cintura – Acho que ela nem reparou que a puxei para aqui.

Softhe não respondeu, voltando a baixar a cabeça e ao seu ar pensativo. L adivinhou que havia algo de muito errado ali, mas falaria com a amiga mais tarde, até porque Saya estava já a atacar de novo:

– Mas não mudes de assunto, L! Tu não podes ficar nesse estado, com uma tatuagem espetada na testa, para mais quando ela te faz tanto mal. Temos de arranjar uma maneira de abrir esse selo – a última parte Saya já estava com ar pensativo e mais a falar para si do que para as outras.

– Achas que o consegues abrir? – perguntou Bella, insegura.

– Acho que sim – disse Saya, revelando alguma hesitação.

– Em princípio, não haverá problema – disse Yngrid, baixinho – Os selos não são fáceis de lançar e ainda menos são de abrir, mas não é um poder que pertença a um deus específico; basta ter conhecimentos que permitam abri-los. Mas só um Deus Supremo o poderá fazer – acrescentou Yngrid, lançando um olhar sugestivo a Saya.

A rapariga ficou a olhar alguns momentos para Yngrid e depois suspirou, deixando descair os ombros.

– Isso não é um problema – murmurou Saya, revelando assim o seu estatuto e fazendo L piscar os olhos, surpreendida. Quem diria que a sua Madrinha era uma Deusa Suprema! – O problema será encontrar esses ditos conhecimentos.

Yngrid soltou um risinho.

– Vocês esquecem-se que sou uma aprendiza de bibliotecária. Conheço a biblioteca tão bem como a palma da minha mão.

L riu-se.

– Isso não é justo, só precisas mesmo de tocar nos livros com a palma da mão para saberes tudo aquilo que dizem.

Riram-se todas, com exceção de Softhe, que continuava a olhar o vazio.

* * *

Assim que penetrou nas árvores do jardim, Hisui começou a ouvir o murmúrio de vozes a cantar. Poderia ter-se deliciado com o som se fosse apenas uma voz: a de Gina. Mas as vozes eram duas, o que facilmente se traduzia na companhia de Niko e talvez mesmo na de Lilás.

Inspirando fundo para se acalmar, Hisui continuou a avançar até junto do charco. Gina estava sentada num tufo de relva fofa, de pernas cruzadas, balançando-se suavemente de um lado para o outro enquanto cantava. Niko estava na sua frente, sentado em outro tufo de relva, balançando e cantando ao mesmo ritmo de Gina. Entre os dois saltitavam alegremente dois esquilos, com os quais eles pareciam estar a brincar. Lilás, por sua vez, estava ajoelhado atrás de Gina, entrançando-lhe os cabelos negros enquanto lindíssimas flores floriam magicamente no meio do manto negro, quais ganchos realistas.

Hisui engoliu em seco. Apesar de nunca ter sido uma verdadeira Adepta de Darkness, conhecia o sentimento de intimidade, de família, que existia entre um Supremo e os seus Adeptos. Ele estava ali bem patente, naqueles três que se resguardavam do mundo para estarem sozinhos, no círculo deles, a ter conversas que só para eles fariam sentido. E, curiosamente, Hisui sentia inveja. Queria estar lá também. Queria ser ela a entrançar os cabelos de Gina, quem sabe afastá-los do seu pescoço e dar-lhe uma dentadinha… uma pequenina…

“Argh, para!”, ordenou Hisui a si mesma. Era a atração que o sangue de Gina exercia sobre ela que lhe provocava aqueles sentimentos. Daria tudo para se livrar deles, mas como não podia, só lhe restava resistir-lhes… ou ceder-lhes.

“Concentra-te”, exigiu Hisui a si mesma, aproximando-se por fim do trio.


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