Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 4
IV




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/528977/chapter/4

L aproximou-se para entregar a sua ficha de inscrição no preciso momento em que a rapariga se afastava e se sentava numa das poucas carteiras ainda vazias.

— Olá, sê bem-vinda – disse o deus, quando recebeu a ficha de L, fazendo um pequeno sorriso que, ainda assim, foi o suficiente para cortar a respiração da rapariga – Aqui está, assinado – disse ele, devolvendo a folha – E boa sorte.

— Obrigada – murmurou L, dirigindo-se rapidamente para uma carteira.

As mesas já estavam preparadas para os testes. No canto superior esquerdo estava o pequeno livrinho de folhas agradas com as perguntas. No canto oposto, estava um maço de folhas de linhas. E, no centro da mesa, estava uma só folha de linhas, com uma caneta negra ao lado. Estava tudo perfeitamente organizado, ao milímetros, como se tivessem andado ali com uma régua para não deixar nada nem um bocadinho desviado do seu sítio. L até tinha medo de pegar na caneta e tirá-la do seu lugar perfeitamente colocado. E tinha apenas pavor de começar a escrever e manchar a folha perfeitamente branca com a sua letra desengonçada.

Olhou em volta e constatou que todos pareciam estar com o mesmo dilema. Exceto a rapariga estranha, que pegara na caneta com a mão esquerda e estava já desenhar na folha deixada no centro da mesa.

L olhou para o deus, que acabara de se sentar em cima da mesa, com as pernas cruzadas, olhando para o teto com ar sonhador.

— Podem começar – disse ele, poucos segundos depois, fechando os olhos – E boa sorte a todos.

A rapariga estranha colocou o seu desenho de lado, pegou numa outra folha de linhas, nas perguntas do teste, abriu o livrinho e começou de imediato a responder, escrevendo com a folha colocada completamente de lado. O deus mantinha-se em cima da secretária, de olhos fechados e completamente imóvel. E L acabou por puxar para si o livrinho das perguntas. Abriu-o, pegou na caneta e começou a ler.

As perguntas não eram tão difíceis quanto L pensara. Havia perguntas sobre a importância dos três nomes, sobre os diferentes estatutos de cada deus, sobre as regras de Atlantis e alguns dos mitos mais importantes. Reparou que o rapaz ao seu lado estava a tentar copiar e olhou para o deus, admirada por ele não intervir. Mas engoliu em seco quando reparou que ele tinha uma prancheta no colo e escrevia algumas coisas nela, ainda de olhos fechados. O deus podia parecer completamente alheado, mas L soube que ele estava mais atento do que qualquer humano poderia estar. De certeza que ele repara no rapaz copiador muito antes de L. E de certeza que o puniria mais tarde.

L acabou o teste muito antes de qualquer outro. Ou assim pensou, até reparar que a rapariga estranha estava já de volta de um segundo desenho, o primeiro terminado e poisado num canto da mesa.

— Poisem as canetas – ordenou o deus, abrindo os olhos – O teste terminou.

Todos aqueles que ainda estavam a escrever poisaram de imediato as canetas, não se atrevendo a discutir com o deus.

— Podem sair – continuou ele, saltando da secretária para o chão.

L pegou na sua pasta e saiu da sala, ansiosa por trocar impressões sobre o teste com Softhe, Tech e Dest. Viu-os assim que saiu da sala.

— Foi tão estupidamente fácil! – exclamou Softhe – Não sei porque fazem tanto alarido sobre os Testes. Até agora foram bem simples.

— É, mas nem para todos – negou L – Um rapaz estava a copiar por mim durante o teste.

— A sério? – admirou-se Tech.

— Ele atreveu-se a fazer isso? – sussurrou Dest – Na frente de um deus?!

Eu acenei com a cabeça.

— E por falar em deuses – intrometeu-se Softhe – Eu sabia que os deuses eram giros, mas vê-los ao vivo… ai, até me ia babando! Acho que passei mais tempo a olhar para o deus do que para o teste.

Riram-se todos e depois Dest verificou o horário.

— Bem, a seguir temos as entrevistas – notou ele – Daqui a quinze minutos.

— Quinze? – perguntou Softhe, verificando o horário – A minha é daqui a três minutos.

— A minha também – disse L.

— Os horários devem ser diferentes por sermos muitos – ponderou Tech – Bem, se vocês têm a entrevista agora, boa sorte. Eu e o Dest vamos encontrar algo com que nos entreter.

— Nem penses que vamos voltar ao centro comercial – avisava Dest enquanto Tech o puxava para longe das raparigas.

L e Softhe dirigiram-se para as salas onde seriam feitas as entrevistas, deparando-se com várias outras pessoas ali reunidas. Entre elas estava a rapariga esquisita com que L chocara anteriormente.

— Anda cá – pediu L a Softhe, agarrando-a pelo pulso e puxando-a na direção da rapariga estranha.

— O que foi? – perguntou Softhe, admirada.

L não lhe respondeu. Estava demasiado ocupada a olhar para a rapariga, que mantinha a cabeça baixa, deixando os longos cabelos negros cair-lhe para a frente do rosto, as mãos nos bolsos das calças, de costas encostadas à parede. Ao pescoço trazia a sua identificação, com o nome Gina.

— Humm… olá – chamou L.

A rapariga ergueu ligeiramente a cabeça, olhando para elas por entre as pestanas negras de um modo que pareceu muito ameaçador.

— Desculpa ter ido contra ti antes do teste escrito – desculpou-se L – Estava distraída e não te vi.

A rapariga não reagiu.

— O meu nome é L – continuou ela – E esta é a Sofi… a Softhe.

Mais uma vez, a rapariga não reagiu.

— Tu és Gina, certo? – insistiu L, procurando arrancar uma reação da parte dela.

Gina desceu o olhar para o cartão que tinha ao pescoço, voltou a erguê-lo para L, e depois acenou levemente.

L sorriu, contente por ter conseguido algo. Fora só um aceno, mas sempre era melhor que nada!

— Atenção! – chamou um jovem deus, entrando na sala – A etapa das entrevistas vai agora começar. Os vossos nomes serão chamados um a um por ordem aleatória e, quando tal acontecer, deverão entrar nesta sala e sentar-se na cadeira ao centro – disse, apontando com o polegar para a porta por trás de si – Estará um júri constituído por três deuses na vossa frente. Respondam às suas perguntas e saiam apenas quando vos for solicitado – o deus olhou para uma prancheta que até agora mantivera abraçada contra o peito – Chamarei agora o primeiro nome.

As pessoas ficaram tensas, de respiração suspensa, ansiosas sobre quem seria o primeiro chamado.

— L – chamou o jovem deus, erguendo diretamente os olhos para a rapariga.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Candidatos a Deuses" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.