Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi
– Dêem-me espaço! – exigiu Circe, querendo sentar-se numa cadeira vazia entre Snow e Ouro mas sem espaço para poisar o seu tabuleiro na mesa.
– Calma aí com isso, Circe – pediu Saya, fazendo gesto com a mão para Circe se controlar.
– Não dá para me acalmar quando tenho uma novidade tão grande para vos contar – negou Circe, em pulgas.
– Desembucha logo – resmungou Burn, picando uma batata com o garfo.
Circe pigarreou suavemente enquanto ajeitava tudo no seu tabuleiro e depois anunciou:
– É com enorme prazer que vos anuncio que estou pronta para fazer uma Bolha de Isolamento – disse ela.
– Boa! – exclamaram algumas raparigas, felicitando-a.
– Isso quer dizer que vocês nos vão, finalmente, contar tudo? – perguntou Ouro.
– Yap – confirmou Circe, satisfeita.
– Finalmente! – exclamou Burn, erguendo as mãos para o teto.
– Parece-me que vamos ter uma grande conversa – constatou Saya – Afinal, parece que há muito sobre que temos de conversar.
– E quando será essa grande conversa? – perguntou Hisui.
– Que tal amanhã à noite? – sugeriu Circe.
– Porque não já hoje? – perguntou Saya, erguendo uma sobrancelha.
– Preciso de uma boa noite de descanso antes de fazer a Bolha – disse Circe – Além disso, temos de delinear um plano para não sermos apanhados a sair dos dormitórios.
– Eu posso tratar disso – ofereceu-se Bella, endireitando-se de repente na sua cadeira – Trato de manter os outros guardas da escola distraídos enquanto vocês se reúnem.
– E vamos reunir-nos onde? – perguntou Yngrid.
– Têm alguma coisa contra a cave? – perguntou Niko.
– Não temos as chaves – lembrou-o Saya.
– Tem o meu irmão. Se eu lhas pedir, ele dá-mas.
– O teu irmão? – perguntou Gina, curiosa, num tom de voz suave que fez os outros arregalarem os olhos. Quase parecia que ela estava a cantar!
– O Sebas – esclareceu-a Niko, num tom de voz igualmente suave, mesmo doce.
Gina acenou levemente e depois devolveu a sua atenção ao que estava a comer, uma simples salada apenas temperada com sal. Curiosamente, Niko estava a comer exatamente o mesmo que ela.
– Hey, Niko – chamou Burn, parecendo ter reparado na mesma coisa – Desde quando viraste vegetariano?
Niko congelou a meio da mastigação, o rosto ficando subitamente inexpressivo (ou mais inexpressivo do que normalmente já era).
– Não me apetece comer carne – murmurou ele, num tom evasivo – Só isso.
– Não há nada de mal em ser-se vegetariano – estalou Gina, mal Niko tinha terminado de falar.
– Gina, não – murmurou Niko, poisando a mão no braço da rapariga – Por favor…
Burn encolheu os ombros.
– Hey, tudo bem que tu sejas vegetariana, amiga. Mas o Niko é homem e um homem precisa de se alimentar de algo mais do que relva. Ele não é um coelho.
– Burn, por favor, não vamos discutir os meus gostos alimentares – pediu Niko – Vamos terminar de jantar, pode ser?
– Idiota – resmungou Gina na direção de Burn, antes de largar o garfo no prato com estrondo e se levantar, afastando-se com passadas largas.
– Ah, bolas – gemeu Lilás, enterrando o rosto nas mãos.
– Gina! – chamou Niko, levantando-se também e correndo atrás da rapariga.
– Mas o que é se passa com esta gente?! – admirou-se Burn, na direção de Lilás.
– Tocaste na ferida – murmurou Lilás, baixando as mãos mas não erguendo propositadamente o olhar do seu prato – Não voltes a falar em comer carne na frente deles. Em especial da Gina. Por favor.
– Oh, pá, okay, meu, é na boa – cedeu Burn, na defensiva.
– Fui só eu que achei a Gina e o Niko muito… íntimos? – perguntou Saya, com um pequeno sorriso malandro.
– Estás a delirar – resmungou Hisui.
– Oh, vá lá, todos vocês viram como eles falavam um para o outro – insistiu Saya.
– E ele tocou-lhe – relembrou Bella – Sem que ela lhe torcesse um braço atrás das costas.
L, Softhe e Bella trocaram um olhar entendido, lembrando-se do episódio durante os Testes.
– É assim, gente – disse Shark, batendo com a mão na mesa – Eu estou despachado e tenho outras coisas com que me preocupar – disse ele, lançando um olhar sugestivo a L, que corou e baixou a cabeça – Eu vou-me pirar. Vens, L?
– O-okay – gaguejou ela.
– Uhh – fizeram Softhe e Saya baixinho, enquanto L e Shark se levantavam com os seus tabuleiros e os levavam para as passadeiras rolantes.
– Anda – chamou Shark, pegando na mão de L, entrelaçando os seus dedos – Quero levar-te a um sítio.
L acenou nervosamente e deixou que Shark a puxasse até um terraço em que ela nunca tinha estado.
– Foi aqui que o Burn tentou atirar a Softhe para o mar – revelou Shark, rindo, enquanto se deitava no chão, com as mãos atrás da cabeça – Vá, não fiques aí especada a olhar para mim. Deita-te.
Engolindo nervosamente em seco, L cedeu a deitar-se ao lado de Shark, colocando também as mãos atrás da cabeça. O rapaz riu-se suavemente e depois puxou-a para junto de si, guiando a cabeça da rapariga na direção do seu peito.
– Não mordo – murmurou ele, enquanto L se acomodava com a cabeça em cima do seu peito e ele se entretinha a acariciar-lhe os cabelos – Embora tenha de admitir que tenho alguma vontade.
L soltou simplesmente um risinho nervoso, não deixando de apreciar a dureza e a solidez do peito de Shark.
– Olha ali – pediu Shark, apontando para o céu livre de nuvens e intensamente estrelado – Vês aquela estrela rosada ali? É o templo da minha mãe.
– A sério? – admirou-se L, que nunca chegara a descobrir onde eram os templos dos deuses de pleno direito.
– Hum-hum – confirmou Shark, antes de voltar a baixar mão e a colocar atrás da cabeça enquanto, com a outra, descia as carícias do cabelo para o pescoço de L, fazendo-a arrepiar-se – L?
– Diz…
– Nunca me chegaste a dizer… qual era o teu segundo nome.
L franziu levemente o sobrolho e ergueu o rosto para olhar Shark. Ele desviou o olhar das estrelas para também olhar para ela.
– Isso importa? – perguntou ela, confusa.
– Bem… para mim, importa – revelou ele, afastando alguns cabelos vermelhos da testa de L com dedos extraordinariamente cuidadosos – Gostava… de saber tudo sobre a tua vida. Quem já foste. Quem és. E quem irás ser no futuro.
– Porquê? – perguntou L, confusa.
– Eu… gosto de ti – revelou Shark, corando levemente e fazendo L corar também.
Ficaram a olhar para os olhos um do outro até que L voltou a poisar a cabeça no peito de Shark e ele voltou a fixar as estrelas.
– Não faz sentido gostares já assim tanto de mim – disse L.
– Alguma coisa faz sentido quando se trata de sentimentos?
L riu-se suavemente.
– Okay, ganhaste – cedeu ela, ainda a sorrir – O meu nome era Helena.
– Ah, estou a ver – murmurou Shark, voltando a acariciar o cabelo de L – O meu já sabes, o Burn já fez o favor de o revelar.
– Brian – suspirou L, sentindo um arrepiozinho na língua por pronunciar aquele nome. Como se isso criasse um laço ainda mais íntimo entre ambos. O que era ridículo, pois não eram os primeiros nomes que eles estavam a revelar.
– Que som é este? – perguntou Shark, franzindo de repente o sobrolho, concentrando-se.
– Que som? – perguntou L, sem ouvir nada para além do ondular do mar.
– Oh, tu não consegues ouvir – constatou ele – Ainda és humana, os teus sentidos não estão tão apurados quanto os meus. Mas… parece que está por aí alguém a cantar.
– É uma música assim tão má? – perguntou L, rindo.
– Não, muito pelo contrário – negou Shark – É tão bonita que… quase me dá vontade de chorar. Embora não entenda uma só palavra.
L riu-se, erguendo de novo o rosto para lhe lançar um olhar divertido.
Shark segurou-lhe o queixo enquanto a olhava com seriedade, fazendo o sorriso de L deslizar-lhe lentamente dos lábios.
– E também me dá vontade de te beijar – murmurou ele, antes de a puxar para mais perto de si e lhe depositar um beijo suave e muito terno nos lábios.
Se L pensou em resistir ao beijo, nem se deu conta. No segundo seguinte aos seus lábios se terem encontrado, ela já estava a soltar um suspiro de satisfação e a afundar-se nos braços de Shark. Ficou meio deitada em cima do seu peito, com as mãos dele a segurar-lhe a cabeça, impedindo-a de se afastar, enquanto a beijava lenta, carinhosa e profundamente.
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