Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi
– O que é que elas vão fazer? – perguntou L, quase sem fôlego, enquanto corriam todos atrás de Circe e Hisui que, por sua vez, corriam atrás de Tech e Dest.
– A Hisui tem o poder de sugar a vitalidade das pessoas através do sangue – revelou Snow, correndo ao lado delas sem qualquer dificuldade – O que poderá ser uma boa ameaça, para obrigar os gémeos a falar.
– Como é que sabes? – perguntou Softhe, surpreendida.
Snow sorriu para elas, revelando umas presas iguais às de Hisui.
– Também sou um Deus Adepto da Morte – revelou ele.
– E todos têm presas de vampiro?! – admirou-se Softhe, enquanto L engolia em seco.
Snow acenou.
– Temos uma forte ligação com o sangue, justamente porque sangue significa vida, o completo oposto do nosso poder.
– Não o deveriam odiar? – perguntou Softhe, não tropeçando por pouco – Não foi isso que o Darkness disse?
– O Darkness, sendo um Deus Supremo da Morte, não iria falar, obviamente, da exceção à regra sobre o ódio instintivo que existe entre poderes opostos – explicou Snow, cuja voz nem sequer se apresentava ofegante da corrida – Ao contrário de todos os outros, os deuses ligados à Morte pura e simplesmente adoram tudo o que esteja ligado à Vida. É quase como… uma droga. Poderosa e irresistível. Talvez por estarmos mais próximos da Morte, do frio intenso, do sono eterno, sentimo-nos atraídos pelo calor e pela alegria da Vida. É algo que ainda não está completamente explicado.
Snow parou a sua explicação quando ouviram os gritos de Circe no interior de uma sala próxima. Entraram de rompante e viram-na a apontar um dedo ameaçador aos gémeos, que trocavam olhares preocupados, na frente do quadro negro, completamente encurralados.
– Digam-me já o que é que vocês fizeram! – ordenou Circe – Ou a Hisui morde-vos!
Hisui acenou, ainda com um largo sorriso perigoso nos lábios, que revelava as suas presas brilhantes e pontiagudas.
– N-não podes fazer isso! – negou Dest, em pânico – É proibido beber o sangue de outras pessoas para lhes descobrir o primeiro nome!
– Oh, mas não é só isso que o teu sangue me vai dar – disse Hisui, dando um passo na direção deles – A tua força, a tua juventude… tudo virá para mim.
– Ela está descontrolada – murmurou Snow, que olhava atentamente para Hisui – Está completamente cega pela sede de sangue. Temos de pará-la. Ónix, consegues segurá-la?
– Sem problema – garantiu o rapaz negro – O problema é se ela me morde.
– Preciso só que a segures tempo suficiente de a adormecer – disse Snow.
Ónix acenou e os dois, sorrateiramente, aproximaram-se de Hisui. No entanto, Circe viu-os e avisou a Madrinha:
– Hisui!
Hisui virou-se de repente, os olhos vermelhos com um brilho estranho e ameaçador.
E de repente Snow estava a voar pelo ar, embatendo contra uma parede e caindo no chão quase sem ar. Quanto a Ónix, Hisui lançou-o por cima do ombro para cima de uma mesa, com uma força de tal modo bruta que a mesa se partiu e o chão rachou por baixo do corpo alto do rapaz. Atordoado, Ónix ainda levou algum tempo a reparar que a mesa estava, inexplicavelmente, a arder. Levantou-se com um salto e um pequeno grito, não se queimando por pouco. Burn estendeu a mão na direção da mesa a arder, querendo controlar as chamas, mas apenas conseguindo soltar um grito de dor e cair de joelhos no chão, quando o Colar Negro o impediu de usar os seus poderes. Ao mesmo tempo, Shark batia palmas e uma coluna de água derramava-se sobre os restos carbonizados da mesa.
– O que é que… foi isto? – perguntou Ouro, muito lentamente.
Olhámos todos para a outra ponta da sala.
Tech e Dest estavam a espreitar cautelosamente por cima da secretária do professor, atrás da qual se tinham escondido para se proteger. Circe estava ao lado deles, de pé e de boca completamente escancarada enquanto olhava para Hisui. E esta última estava no centro da sala, olhando, muito chocada, para as mãos trémulas que erguia na frente do rosto. Depois olhou para Snow, que se estava a levantar agarrado às costelas, e correu para ele, ajudando-o a erguer-se.
– Irmão… Irmão, desculpa-me… eu não sei o que me deu!
– Irmão? – repetiu Softhe, num murmúrio.
– Eles são Deuses Adeptos da Morte – murmurou-lhe Shark – É comum os deuses do mesmo estatuto chamarem irmãos uns aos outros.
– Explica-me – rosnou Burn na direção de Hisui, levantando-se com uma mão poisada no pescoço – como é que convocaste aquelas chamas.
– Não foste tu? – perguntou Hisui.
Burn limitou-se a apontar para o colar que o impedia de usar os seus poderes.
– E como é que de repente ficaste mais forte que eu – concluiu Ónix, cruzando os braços musculados na frente do peito.
L e Softhe ergueram as duas o olhar para Shark, em busca de explicações, e ele soltou um risinho antes de dizer:
– O Ónix é um Deus Adepto da Guerra. Tem uma força extraordinária.
– Eu… eu não sei – murmurou Hisui, numa voz fragilizada, olhando para os rostos chocados, ameaçadores e surpresos que estavam em seu redor – Eu… ah…
E depois saiu da sala a correr, como se estivesse a fugir de algo.
– Devíamos todos sair daqu… – Niko não conseguiu terminar a frase.
Antes disso, Aino e Aina apareceram do nada.
– Divertiram-se? – perguntou uma delas.
– A lutar no interior da escola? – continuou a outra.
– Foi um acidente – L achou por bem explicar.
– Nós sabemos muito bem o que aconteceu! – cortou a segunda gémea, erguendo a mão para cortar a fala da rapariga.
– E sabemos que aconteceu tudo por vossa culpa – disse a outra, olhando ameaçadoramente para Tech e Dest, que engoliram em seco – Quando decidiram usar os vossos poderes.
Atrás das gémeas, Burn desenhou as palavras “Mas o quê?!” com os lábios.
Tech e Dest baixaram as cabeças e depois as gémeas aproximaram-se deles, dizendo ao mesmo tempo:
– Usarão também o Colar Negro. Durante uma semana!
Colocaram colares idênticos ao de Burn no pescoço de cada um dos dois rapazes e, depois de percorrerem a sala com um último olhar de aviso, desapareceram nas típicas nuvens de pó brilhante.
– Okay, vocês têm muitas explicações a dar-nos – disse Circe, de mãos na cintura, olhando para Tech e Dest – Que raio de poderes é que vocês têm?
– Não podemos contar – disse Dest, muito sério – Não ainda.
* * *
Hisui entrou de repente no gabinete de Darkness, fazendo-o erguer a cabeça do livro que estava a ler.
– Oh, olá, Hisui – cumprimentou-a, erguendo depois as sobrancelhas levemente – Que cara é essa?
Hisui fechou a porta cuidadosamente e sentou-se na frente do seu Deus Supremo, mordendo nervosamente o lábio inferior e fazendo com que os caninos afiados abrissem um pequeno golpe que ela lambeu longamente.
Darkness observou atentamente o movimento da língua da rapariga, humedecendo também ele os seus próprios lábios, atraído pela pequena ferida.
– Aconteceu… algo muito estranho – murmurou Hisui, olhando para as mãos poisadas no colo.
– Conta-me – pediu Darkness, fechando o livro e forçando-se a concentrar noutros assuntos que não o sangue da sua Adepta.
Hisui soltou um suspiro trémulo.
– É verdade que eu… sempre fui diferente dos teus outros Adeptos – começou Hisui, ao que Darkness acenou – O nosso elo nunca foi tão forte quanto o elo que tens com os outros.
– Mas isso não muda nada, minha querida – garantiu Darkness, estendendo as mãos para Hisui, que lhe entregou as suas – Gosto de ti do mesmo modo que dos outros.
– Não duvido – garantiu ela – Mas…
– Mas…? – incentivou Darkness, com um pequeno sorriso encorajador.
Hisui inspirou fundo e contou-lhe tudo o que se passara alguns minutos atrás.
– Fui eu quem convocou aquele fogo. O Burn tinha o Colar Negro ao pescoço, não o conseguiria convocar por muito que o tentasse. E nenhum dos outros tem algum tipo de poder ligado ao fogo. Fui eu que provoquei aquilo. Mas… como?! Eu rachei o chão, quando atirei o Ónix para cima de uma mesa! Não são poderes normais para uma Deusa Adepta da Morte.
Darkness fez uma expressão pensativa.
– É verdade – concordou – Não são poderes que devesses ter.
– O que é que isso quer dizer, Darkness? – perguntou Hisui, desesperada – Quem sou eu, afinal?
– Não sei – murmurou Darkness, honestamente.
Hisui levantou-se com um pequeno “tsc” e começou a andar de um lado para o outro.
– Logo agora – gemeu ela – Logo agora que eu achava que tinha finalmente definido a minha identidade, essa malfadada pergunta volta a assombrar-me. Quem-sou-eu?
– Não te apoquentes com isso, Hisui – pediu Darkness, num tom tranquilizador – Vai-se tudo resolver. É apenas uma questão de… esperar.
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