Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 24
Capítulo 24




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Quando L viu Lilás e Niko juntar-se a ela para a Aula de Introdução ao Conceito de Poderes, começou por ficar estupidificada. Mas depois lembrou-se do que Saya lhe dissera na noite do baile: que eles ainda não tinham encontrado o seu Deus Supremo, aquele que lhes despertaria os poderes. Mas que poder teriam eles? Que poder seria esse, que ainda não fora encarnado por nenhum Deus Supremo? Era deveras estranho.

– Hoje a aula será mais direcionada para um outro assunto – disse Darkness, enquanto andava de um lado para o outro na frente do quadro negro – Entraremos num tema mais específico dos poderes e que colocará os humanos ligeiramente de parte. Ainda assim, é um conhecimento que todos devem adquirir.

Darkness sentou-se em cima da secretária, completamente informal, as pontas do seu longo cabelo castanho roçando o tampo da mesa.

– Quem me sabe dizer o que é um Deus Supremo?

– É o boss – disse uma voz masculina, fazendo a turma soltar algumas risadas.

Darkness fez um pequeno sorriso de lábios apertados.

– Sim, poderá ser visto dessa forma. Mas, dito na linguagem correta, é o deus que detém total controlo sobre o elemento físico que lhe foi atribuído.

– Professor? – chamou Softhe, que nesse dia calhara ter aula ao mesmo tempo que L, erguendo a mão.

– Diz, Softhe.

– O professor disse que o poder é atribuído… Atribuído por quem?

– É uma boa pergunta, Softhe, mas, infelizmente, não tenho resposta para ela. Há uma crença generalizada de que são as Parcas a escolher esses poderes, mas elas nunca o confirmaram realmente.

Softhe acenou, ainda não satisfeita na sua curiosidade mas aceitando a resposta de Darkness. Este, por sua vez, continuou a falar nos Deuses Supremos e nos seus poderes, tomando apontamentos no quadro, até que se virou para a turma e perguntou:

– Então, e os Deuses Adeptos? O que são?

– São os criados dos Supremos – disse outra voz masculina desconhecida.

– São deuses com pequenas parcelas de um poder compartilhado por um Deus Supremo – disse Lilás, erguendo a voz endurecida enquanto lançava um olhar zangado ao rapaz que falara – São deuses que só têm os seus poderes graças ao Deus Supremo, que é quem lhos desperta.

Darkness acenou, em aprovação.

– Penso que não é já segredo nenhum, portanto, poderei dar o vosso exemplo – disse ele, fazendo um gesto para Lilás e Niko – De certeza que todos vocês já repararam que dois rapazes bem mais velhos do que os restantes se encontram nesta sala. E as mentes mais espertas – disse ele, num tom sugestivo, enquanto lançava um olhar cheio de significados ao rapaz que falara nos “criados” – com certeza já chegaram à conclusão de que estamos na presença de dois Deuses Adeptos cujos poderes ainda não foram despertados.

– Quando serão? – perguntou alguém.

– Quando o Deus Supremo que compartilha os poderes deles vier para Atlantis – respondeu Darkness, inclinando ligeiramente a cabeça – Não há sequer maneira de saber quais são os poderes deles enquanto o seu Deus Supremo não vier para esta escola. Eles poderão ter poderes diferentes, poderão ter poderes iguais… não se sabe. A única coisa que sabemos é que eles reconhecerão o seu Deus Supremo no exato momento em que o virem. E esse reconhecimento, turma, essa ligação, é o assunto da nossa aula de hoje.

Darkness apagou rapidamente o que estava escrito no quadro e voltou a sentar-se em cima da secretária.

– Existe um elo místico que liga os deuses entre si, mas apenas alguns deles estão aptos a senti-lo e a ser influenciados por ele. Existem várias ocasiões em que se elo se pode manifestar, mas vamos começar pelo mais básico: o elo que une um Deus Supremo com os Deuses Adeptos que compartilham o seu poder. E em que consiste esse elo? Bem, é a parte mais difícil de explicar. É um reconhecimento imediato, uma empatia instantânea, às vezes uma certa obsessão com a outra pessoa. Em casos extremos, as pessoas conseguem pressentir a aproximação uma da outra sem se ver e encontrar-se no meio de multidões como se fossem duas luzes no meio da escuridão. Pode parecer romântico – acrescentou ele, observando os sorrisos enlevados de um pequeno grupo de raparigas – e é muitas vezes confundido com um falso sentimento de amor, mas acaba apenas por ser irritante, frustrante, pelo menos para os Deuses Supremos, que sentem isso por várias pessoas, por todos os seus Deuses Adeptos. Sentires-te inevitavelmente atraído na direção de uma ou mais pessoas, sem compreender o que te puxa para elas consegue ser muito desconfortável.

«Uma outra situação em que isto pode ocorrer é entre poderes semelhantes. Como, por exemplo, um Deus Supremo do Amor e um Deus Supremo da Sedução. Ou um Deus Supremo da Fertilidade. Não é um reconhecimento tão profundo e imediato como no caso anterior, sente-se mais como uma curiosidade insaciável para com a outra pessoa. Ela chama-nos a atenção de um modo estranho, mas não passa disso.»

– Professor – chamou alguém – Sendo assim, também há um elo de ligação entre pessoas que têm poderes opostos?

– Ora nem mais, esse é o último caso em que ocorre um elo de ligação – aprovou Darkness, acenando – Mas, ao contrário dos outros, não provoca um sentimento de atração imediato. Muito pelo contrário, é um sentimento de repúdio instantâneo e também de alguma sensação de perigo.

– Então, eles odeiam-se automaticamente? – perguntou L, lembrando-se de Shark e Burn, que tinham poderes exatamente opostos.

– Num primeiro contacto, sim – confirmou Darkness, lançando-lhe um pequeno sorriso cúmplice – Mas isso não quer dizer que não consigam superar as divergências impostas pelos seus poderes e não consigam tornar-se bons amigos.

L acenou.

Darkness deu-lhes mais alguns apontamentos e depois chegou a hora de saída.

– L, podes chegar aqui um instante? – pediu Darkness, enquanto os alunos arrumavam as suas coisas.

L trocou um olhar preocupado com Softhe, perguntando-se em que tipo de sarilhos poderia já estar metida. Colocou a alça da sua sacola ao ombro e depois chegou-se à secretária de Darkness, onde ele estava a organizar uns papéis.

– A Hisui disse-me que tu e a Saya parecerem dar-se muito bem com uma tal de Gina – começou ele, fixando L com aqueles amplos e hipnóticos olhos vermelhos.

– Oh – fez L, lembrando-se que Hisui era uma Deusa Adepta da Morte, pelo que tinha um daqueles estranhos elos com Darkness. Provavelmente contava-lhe imensas coisas e parecia que também lhe contara de Gina – A Saya dá-se melhor com ela, por isso, se calhar era melhor…

– Para o que eu quero, não, não era – negou Darkness – A Saya tem muito aquela filosofia de “deixa andar” e eu não preciso que a Gina seja ainda mais igual a ela.

– Então… o que quer que eu faça? – perguntou L.

Darkness fez um novo sorriso de lábios apertados.

– Preciso que a relembres de que, se quer passar de ano, tem de vir às aulas. Ela ainda não veio a nenhuma das minhas aulas e, tanto quanto sei, a nenhuma outra que ela tenha marcada.

– Isso não era trabalho para a Madrinha dela? – perguntou L.

– A Madrinha dela desistiu do seu posto logo no primeiro dia – revelou Darkness – Diz que a Gina é demasiado estranha para querer estar com ela. É claro que foi punida por isso.

L engoliu em seco.

– Podes ir – disse Darkness, voltando a sua atenção para os papéis sobre a secretária.


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