Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi
– Vamos lá a acordar! – exclamou Saya, entrando de rompante no quarto da Sobrinha e fazendo-a dar um saltar de susto na cama – Tenho o teu uniforme e o teu horário. E se queres apanhar um bom pequeno-almoço, é melhor que te despaches, ou o Burn e o bando dele devoram tudo.
– Mas agora o Burn está contra mim? – resmungou L, saindo lentamente da cama, ainda meia a dormir.
– Oh, não, isto não é nada pessoal. São eles simplesmente que têm um buraco no lugar do estômago e comem tudo o que lhes aparece à frente. Enfim, o Shark dá sempre a desculpa de que eles são “adolescentes divinos em crescimento”, pelo que é precisa muita comida para manter a energia deles. Não que eu entenda em que parte é que eles são adolescentes, já que têm vinte anos.
L não respondeu, muito concentrada a caminhar até à casa de banho sem tropeçar nos próprios pés, que pareciam não lhe querer obedecer.
– Oh, a propósito, a Softhe já se arranjou e está à tua espera – informou ainda Saya, alisando a saia do uniforme com a mão enluvada – E a Gina também está à nossa espera e eu preferia não a deixar assim. Não que ela se importe de esperar, ela não se importa com nada, mas ela é arrepiante quando está muito tempo quieta, parece uma estátua.
– A Gina? – repetiu L, curiosa, erguendo a cabeça.
– Sim, a Gina – confirmou Saya – Qual é a admiração?
– Não sei, ela é tão… estranha.
– Incompreendida, queres tu dizer – disse Saya, erguendo uma sobrancelha – Respeita a rapariga na sua estranheza e ela respeita-te a ti na tua normalidade. Simples.
L acenou, sem saber de que outro modo haveria de reagir.
Arranjou-se rapidamente, com Saya sempre a apressá-la. Vestiu o seu novo uniforme, uma saia dourada com umas tirinhas de folhos minúsculos em branco. A parte de cima era uma blusa branca, com as mangas douradas e renda negra no decote e na ponta das mangas. Bem no centro da blusa estava o símbolo de Atlantis: o sol com o centro negro e os raios dourados em redor.
– Fica-te bem, vá, para de te admirar – pediu Saya, batendo com o pé no chão de uma forma irritante – Arranja um caderno qualquer, uma caneta, um lápis, uma borracha e mexe-te!
– Estou no ir, estou no ir – disse L, enquanto pegava numa mala que ela já preparara na véspera.
Saíram as duas do quarto, com Saya a puxar L pelo pulso. Chegadas ao Átrio, onde Gina, Softhe e Dórrémi estavam à espera, nem sequer teve tempo de cumprimentar as amigas. Saya puxou-a pelo corredor fora, a correr, até chegarem a uma ampla divisão dividida em várias secções. Havia uma zona onde sofás, puffs e almofadas se reuniam em redor de três televisões plasma, uma outra zona com jogos que só os rapazes jogavam, como o bilhar e matraquilhos, e depois uma zona com várias mesas redondas, onde alguns alunos estavam sentados a terminar de comer o pequeno-almoço. Na parede imediatamente atrás das mesas estava uma abertura larga que levava ao que parecia ser uma pequena cozinha.
Entraram e viram Shark, sentado em cima do balcão, com os braços cruzados na frente do peito. Fez um largo sorriso quando as viu.
– Olá, meninas. Podem meter-se em fila e começar a dar-me beijinhos. Mas não se empurrem, por favor, uma de cada vez.
– Só nos teus sonhos – disse Saya – Mas o que é que tu estás aí a fazer?
– A guardar a vossa comida – disse Shark, saltando do balcão e revelando a comida que ele estivera a esconder atrás das costas.
– Oh, que querido! – comentou Softhe.
– Eu sei – disse Shark, empinando o nariz de forma caricata e arrancando gargalhadas às raparigas – Bem, mas eu aconselho-vos a despacharem-se. Ou o Burn volta para tentar comer tudo outra vez.
– Ele que venha – disse Softhe – É hoje que lhe ensino umas quantas coisas.
– Não sejas idiota – pediu Shark – Tu podes ter toda a razão do mundo, mas o Burn continua a ser o Deus Supremo do Fogo.
– Acabaste de revelar o poder dele – notou L.
– Ah, sim? Ups… – disse Shark, com um falso ar inocente.
As raparigas tornaram a rir-se, pegaram na comida, e depois dirigiram-se para uma das mesas para comer. Shark sentou-se ao lado de L e começaram a conversar. Saya e Gina pareciam estar em silêncio mas, olhando com atenção, via-se que os seus lábios se moviam levemente enquanto conversavam em voz baixa. E Softhe envolvia-se numa alegre discussão com a sua Madrinha.
– Ainda aqui? – perguntou Bella, chegando algum tempo depois, com Tech e Dest atrás.
– Uau, vocês ainda conseguiram arranjar comida – admirou-se Tech.
– O Shark guardou-nos alguma – revelou Softhe.
– Sou um cavalheiro – disse Shark, emproando-se.
Riram-se todos, mas pararam quando um outro rapaz do “gangue” chegou. Ouro.
– Oi – cumprimentou ele, fazendo um pequeno sorriso – Shark, o Burn quer saber se já paraste de montar guarda à comida.
– Podes ver que sim – disse Shark, friamente.
– E quer saber se a pode comer – continuou Ouro.
– Não, não pode – negou Softhe – Diz-lhe que a “humanazinha insolente” ganhou desta vez e comeu o pequeno-almoço dele.
– Eu não fazia isso, se fosse a ti – avisou-a Ouro.
– Fá-lo – ordenou Softhe – Ou, para o próximo ano, vou estrear os meus poderes recém-adquiridos em ti.
Ouro ficou algum tempo a olhar para Softhe, até que não aguentou mais e se começou a rir.
– Okay – cedeu ele – A cabeça é tua.
E depois afastou-se.
– Que aulas vocês vão ter agora? – perguntou Shark às raparigas, mais precisamente a L.
As humanas verificaram os seus horários rapidamente.
– Eu vou ter uma coisa chamada ICP – disse L – O que é isso?
– Introdução ao Conceito de Poderes – esclareceu Saya – Vais aprender umas quantas coisas sobre poderes divinos.
– Com aquele pecado do Darkness – suspirou Bella, com um ar sonhador.
– Hey! – exclamou Shark, ofendido.
As raparigas riram-se.
– E tu, Softhe? Gina? – perguntou Saya.
– Vou ter… DCF – revelou Softhe e Gina acenou com a cabeça, talvez em sinal de que iria ter também aquela disciplina.
– Desenvolvimento da Condição Física – traduziu Bella – Com aquele professor que fez os testes de condição física.
Softhe fez um ar horrorizado, mas antes de se poder manifestar, ouviu-se um berro furibundo:
– Humana!
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