Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 15
Capítulo 15




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L pretendia voltar para junto de Saya e Gina, mas estacou de repente quando viu uma figura alta e loira aproximar-se de si, com passadas largas e confiantes. Era impossível não reparar, já que todos se desviavam para lhe dar passagem e as raparigas suspiravam à medida que ele passava por elas.

– Olá – cumprimentou Shark, parando na sua frente (talvez mais perto do que o necessário) e fazendo um sorriso de cortar a respiração – Não tivemos realmente oportunidade de nos apresentar quando nos cruzámos no atelier do Sebas. Sou o Shark. E tu?

L pigarreou suavemente enquanto olhava rapidamente em volta, constatando que estava a ser alvo dos olhares envenenados de inveja das outras raparigas.

– Sou a L – disse simplesmente.

– L – repetiu ele, com ar sonhador – Agrada-me. Mas diz-me – pediu ele, franzindo levemente o sobrolho enquanto tornava a ficar sério – És mesmo humana?

– Isso importa? – perguntou L.

Shark torceu a boca.

– Bem… – foi tudo o que disse.

– Daqui a um ano terei poderes semelhantes aos teus – recordou-o L – Nessa altura, não serei mais humana. E o facto de não ter nascido com esses poderes não me fará mais fraca. Quem sabe se não te poderei derrotar num combate.

Shark soltou uma gargalhada jocosa, atirando a cabeça para trás.

– Vai sonhando, pequena – disse ele. Depois olhou rapidamente em volta, como se a verificar que ninguém estava a ouvir (porque, a olhar, ainda estavam várias raparigas) e puxou L para si, uma mão na sua cintura e outra na dela, pronto para uma dançar – Estás a falar com um Deus Supremo – murmurou ele, a boca bem encostada ao ouvido de L e fazendo-a arrepiar-se levemente.

– Hum – fez ela, simplesmente.

– Deus Supremo da Água, mais precisamente – continuou ele.

– Não devias falar nisso – recordou-o L.

– Já toda a gente sabe – disse ele, endireitando-se, sem parar de dançar – Seria apenas uma questão de tempo até ouvires falar no assunto.

L não respondeu e Shark dirigiu-lhe mais um dos seus sorrisos deslumbrantes.

– Mas conta-me… como é o mundo humano?

– Nunca o viste? – admirou-se L.

– Claro que sim. Mas nunca estive lá. São duas coisas completamente diferentes. E, seja como for, sempre olhei para o mundo humano para saber das coisas importantes, não do dia-a-dia de cada um. Portanto, conta-me. Como eram os teus dias lá?

E L falou-lhe dos seus dias na escola e a trabalhar, dos seus amigos e dos seus passatempos. Não lhe contou sobre o abandono dos pais nem sequer sobre ter vivido com a tia durante dezasseis anos. Contou-lhe tudo como se ela tivesse surgido do nada, depois de comprar um pequeno apartamento e de arranjar emprego no café que existia por baixo. Shark também não lhe pediu pormenores. Não teria tempo para os pedir em qualquer caso, uma vez que Saya apareceu de repente ao lado de ambos e se meteu no meio da dança.

– Já falaste com a Circe? – perguntou Saya, num tom ligeiramente reprovador, baixinho, para Shark não ouvir.

– Ora bolas! – exclamou L – Combinei de encontrar-me com a amiga dela na biblioteca. Se calhar já passou da hora combinada!

– Nada de pânico – pediu Saya, poisando as mãos nos ombros de L – Eu levo-te à biblioteca e vemos se ela lá está.

L acenou e mal teve tempo de acenar uma despedida a um Shark admirado antes de Saya a puxar para fora do salão. Correram a maior parte do tempo, até atravessarem uma bonita porta de madeira branca e entrarem numa divisão praticamente às escuras. Apenas o luar iluminava as altíssimas prateleiras cheias de livros, entrando pelas altas janelas que existiam na parede oposta à da porta.

– Estás cinco minutos atrasada – estalou a voz da amiga da Circe enquanto esta saia das sombras – E pensei que viesses sozinha.

– Vim só levá-la – disse Saya – Vou-me já embora.

– Já devias ter ido – disse a amiga de Circe, forçando um sorriso pouco simpático.

Saya limitou-se a olhar intensamente para a rapariga durante alguns segundos, numa espécie de aviso, antes de se ir embora, acenando uma despedida a L.

– Vamos – chamou a rapariga, fazendo um gesto com a cabeça para que L a seguisse.

Engolindo nervosamente em seco, L seguiu-a através de um corredor entre duas prateleiras, até chegarem a um conjunto de mesas junto das grandes janelas. Sentaram-se, uma na frente da outra, com uma vista incrível do céu noturno e do mar negro mesmo ao lado.

– O meu nome é Hisui – começou a rapariga por se apresentar – E sou a Madrinha da Circe. É também o primeiro ano dela cá, mas nós já nos conhecemos há algum tempo.

L limitou-se a acenar nervosamente.

– Antes de te contar seja o que for, tens de ter noção de que só estamos a ter esta conversa porque a Aino e a Aina estão distraídas com o baile. Não é completamente seguro e elas poderão ainda vir a saber disto, mas eu estou disposta a arriscar. E tu?

– Eu… sim – disse L, não se sentindo assim tão segura – Mas o que é que a nossa conversa pode interessar à Aino e à Aina?

– Porque vamos falar justamente daquilo que era suposto ninguém saber para além de alguns deuses – disse Hisui, chegando-se à frente e baixando o tom de voz – Elas lançaram alguns encantamentos em redor da informação, para que ninguém lhe possa chegar, mas o poder da Circe está ainda muito bruto. Muito forte e muito descontrolado. Ela conseguiu, inconscientemente, quebrar alguns desses encantamentos e saber o que mais ninguém sabe.

– E, o que é que ela sabe? – perguntou L, chegando-se também à frente.

– Sabe que algo de muito errado está a acontecer. Sabe que algo de extremamente errado aconteceu no passado.

– E o que foi? – insistiu L, morrendo de curiosidade.

– Estão deuses a surgir no mundo humano – murmurou Hisui – Aparecem Deuses Supremos e Deuses Adeptos entre os humanos.

– Estás a querer dizer que estão deuses a nascer de humanos? – perguntou L.

– Não, não são filhos de humanos – negou a rapariga, abanando a cabeça – Se fossem filhos de humanos, seria fácil para a Aino e para a Aina descobrir quem são os pais desses deuses. Mas o problema é justamente esse. Elas não conseguem descobrir quem são os pais. Podem partir do princípio de que, se conseguem esconder a sua identidade, os pais são, ou eram, deuses. Mas porque iriam deuses abandonar os filhos recém-nascidos no mundo humano, deixando-os crescer sem saberem quem são os pais e eles próprios? É algo que não faz rigorosamente sentido nenhum.

– E o que é que isso tem a ver comigo? – perguntou L, desconfiando do que Hisui lhe iria dizer.

– A Circe sonhou com as gémeas a falar de ti – revelou ela – Disse que elas estavam preocupadas por não saberem quem são os teus pais. Não és uma Deusa Suprema, caso contrário, o teu poder já teria despertado. Mas agora que estás em Atlantis… poderás descobrir que és uma Deusa Adepta.

– Isso é de loucos – negou L – Eu vivi com a irmã da minha mãe e ela sabe quem são os meus pais. A minha mãe era completamente humana e o meu pai era um inútil que não tinha emprego mas também não se preocupava em arranjar um.

– Então, como explicas que a Aino e a Aina não consigam descobrir quem são os teus pais? – perguntou Hisui – Acredita em mim, L, há magia envolvida nisso. E magia poderosa! É quase impossível esconder algo às gémeas. E, no entanto, alguém anda a fazê-lo. A razão disso, é algo que as transcende.

L suspirou.

– Quais são as probabilidades de eu ser uma deusa? Quer dizer, quantas crianças é que crescem sem conhecer os pais? Milhares delas! Não acredito que todas elas sejam deuses perdidos. Portanto, quais são as probabilidades?

– Quase nenhumas – disse Hisui – se não tivesses passado nos Testes. Mas passaste. E estás aqui, em Atlantis, a candidatar-te para deusa.

– Então, todos os humanos que passam nos Testes e que não conhecem os pais são deuses perdidos? – perguntou L, desconfiada.

– Talvez – disse Hisui, com uma expressão pensativa e algo sonhadora.

– Isso já aconteceu de facto? – perguntou L.

Hisui lançou-lhe um olhar de “só podes estar a gozar comigo”.

– Não ouviste nada do que eu te disse? – perguntou ela – Eu disse-te que andam deuses a surgir vindos do mundo humano. Falei no presente! – disse ela, batendo novamente com o dedo indicador na mesa, o sobrolho franzido e a voz ligeiramente irritada. Recostou-se na cadeira, ainda a lançar um olhar arreliado a L antes de revelar – Eu fui um desses casos.


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