Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 10
Capítulo 10




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– Calma – pediu Saya, poisando uma mão tranquilizadora no ombro de L – Este é só o nosso Sebas a mostrar que consegue fazer bonecos andar.

– Só estes – disse Sebas, encolhendo os ombros.

– Mas como? – perguntou L, engolindo em seco enquanto via os manequins alinhar-se na sua frente, com lindos e coloridos vestidos, para depois ficarem tão imóveis e inanimados como antes.

– Eles estão forrados com tecido que eu próprio entrancei, no interior – disse Sebas, dando umas palmadinhas nas costas de um manequim e fazendo soltar-se um som surdo e oco – Consigo controlá-los através disso.

– Ah – fez L, simplesmente, ainda não completamente recuperada do susto.

– Vá, agora escolhe um – pediu Saya, apontando para os manequins na sua frente.

L foi olhando os vestidos, até a sua atenção se fixar num vestido vermelho que tinha como acessório um colar de ouro, com um cristal roxo no medalhão.

– Quanto custa aquele? – perguntou L, adivinhando já que ficaria acima das suas possibilidades.

– Não custa – disse Sebas, estalando os dedos e o vestido saltando magicamente do manequim.

– Como assim, não custa? – repetiu L, confusa.

– Não pagas nada por recorrer à roupa do Sebas – disse Saya – Aliás, não pagas nada seja por o que for. Somos deuses, o dinheiro é coisa de humanos.

– Fala por ti – disse L – Eu ainda sou humana.

– Ah, serás por pouco tempo – garantiu Sebas, encostando o vestido ao corpo de L, pensando ela que era para comparar tamanhos. Acabou por soltar um novo grito quando se viu de repente com o vestido no corpo, as suas roupas cuidadosamente dobradas na mesa onde Sebas trabalhava.

– Ah, e é melhor ires-te habituando à “magia” – disse Saya a L, desenhando aspas com os dedos – Ou vais passar o resto dos três anos em Atlantis a guinchar.

– Desculpem – murmurou L – É só que não estou nada habituada…

– Nós sabemos – tranquilizou Sebas, ajustando o vestido à sua silhueta – Terás muito tempo para te acostumar.

– Hey, Sebas, tens um tempinho? – perguntou uma voz pujante e alegre enquanto um rapaz altíssimo e lindíssimo entrava na divisão.

Os seus cabelos eram maioritariamente loiros, mas tinha algumas madeixas castanhas escondidas por baixo do dourado. De momento eram perfeitamente visíveis, uma vez que ele trazia o cabelo parcialmente preso na nuca. Os seus brilhantes olhos verdes poisaram de imediato em L.

Atrás dele vinha um rapaz humano que viera com L no autocarro.

– Ora, olá – disse o rapaz de olhos verdes, mirando L dos pés à cabeça – Já nos conhecemos?

– Ela acabou de chegar, Shark, é humana – disse Saya, em tom aborrecido. Depois deu uma pequena cotovelada a L para lhe chamar a atenção e apontou descaradamente para a cara do rapaz – Estás a ver aquele? Chama-se Shark e é um idiota atrevido.

– Não sejas má comigo, Saya – pediu Shark, atirando um piscar de olho na direção da rapariga – Não te esqueças que somos irmãos.

– Irmãos? – repetiu L.

– Não somos irmãos de sangue – disse Saya, de má vontade – Mas os nossos poderes reconhecem-se.

– E é melhor pararem com essa conversa sobre poderes ou eu vou ter de vos castigar – disse Sebas – Sou uma espécie de professor, esqueceram-se? E, se bem me lembro, uma das regras de Atlantis é não revelar os poderes uns dos outros. Que raio de exemplo vocês estão a dar aos vossos Sobrinhos.

– Eles vão descobrir, mais cedo ou mais tarde – disse Shark, cruzando os braços enquanto encolhia os ombros.

– Isso foi porque tu já abriste a torneira e contaste a toda a gente qual o teu poder – lembrou Sebas, lançando um olhar levemente reprovador ao rapaz.

– Abrir a torneira, gosto dessa – disse Shark, apontando um dedo aprovador a Sebas – Tu sabes, quando abres uma torneira saí água e o meu poder…

– Cala-te, Shark! – disseram Sebas e Saya ao mesmo tempo.

– Okay, o teu vestido está prontinho – disse Sebas, puxando o vestido nos ombros de L, que voltou a ficar vestida com a sua roupa e sem o vestido – Agora só precisas de um uniforme. Mas mandarei entregar no teu quarto mais tarde, okay? Agora tenho de tratar dos fatos e dos vestidos dos outros.

– Claro – cedeu L, prontamente.

Sebas teve só de fazer um gesto com a mão para uma caixa de cartão aparecer a flutuar sabe-se lá de onde. O vestido dobrou-se sozinho e enfiou-se dentro da caixa, a tampa selando-a sem que Sebas fizesse um gesto. Na verdade, estava já a atender o Sobrinho de Shark.

Saya pegou na caixa, colocando-a por baixo do braço, e puxou L para sair da divisão.

– Anda lá, vou-te mostrar o teu quarto – disse ela.

L deixou-se ir, por entre os corredores, até chegar ao que pareceu o centro do edifício. A rapariga não conseguiu segurar o queixo.

Era uma divisão ampla, com o teto lá muito no alto, uma cúpula a permitir a entrada da luz avermelhada do pôr do sol. As paredes exibiam lindíssimos frescos, retratando algumas cenas dos mitos mais conhecidos e importantes. As paredes eram suportadas por gigantescas colunas brancas, cuidadosamente esculpidas, com alguns entalhes de ouro e pedras preciosas. O chão branco era tão brilhante que L conseguia ver o seu reflexo nele. No centro da divisão estava um bonito e enorme repuxo de pedra branca, a água saindo das diversas figuras que o decoravam. Dezenas, talvez centenas, de jovens andavam de um lado para o outro, falando diferentes dialetos e alguns deles com aspeto verdadeiramente exótico.

– Aquela porta leva ao salão principal – disse Saya, apontando para a imensa porta que se situava numa ponta da divisão – Antigamente, era lá que os alunos almoçavam, jantavam, etc., mas agora só a usamos para passar o tempo, quase como uma sala de convívio. Agora está fechada porque será lá a Cerimónia de Abertura, claro. Aquela porta ali – continuou, apontando para uma porta aberta, igual à outra, mas na ponta oposta – É a entrada principal da escola. E estas escadas – disse ela, indicando com um gesto a bonita escadaria na sua frente, para a qual se estavam a dirigir – Levam ao resto da escola, às salas de aula, à biblioteca, aos dormitórios… enfim, ao resto.

Subiram as escadas e percorreram um corredor largo, encontrando outras diversas escadas ou corredores, mas continuando sempre em frente, até uma outra divisão espaçosa. O teto desta era mais baixo, mas tinha também uma cúpula. As paredes, porém, exibiam apenas nichos, espaços em forma de cápsula, com uma simples bancada branca, feita em pedra, no interior. A única parede que não os exibia era a parede na frente da abertura, que tinha apenas três buracos escuros.

– Okay, agora a parte importante – disse Saya, virando-se para L, de dedo indicador levantado, para dar mais ênfase ao discurso – Esta divisão chama-se Átrio. É através dela que tu chegas aos quartos. Vês aqueles nichos nas paredes? São uma espécie de teletransportadores. Entras, escreves naquela pedra branca a tua senha, e és levada para o teu quarto. É simples, mas importante que não te esqueças. Oh, e vês aqueles buracos na parede? São o nosso sistema de correio. Queres entregar algo a uma pessoa, sabes que ela está no quarto mas não consegues chegar ao quarto dela? Basta deixares ali, num dos buracos, que vai lá parar. Só não te esqueças de escrever o nome da pessoa no embrulho, claro, ou sabe-se lá onde irá parar o que lhe enviares. E não te esqueças também que este Átrio é das raparigas. É fácil saber, tem o chão rosado – disse ela, batendo com o calcanhar no chão rosa claro – O dos rapazes tem o chão azulado, mas levo-te lá depois. Agora vamos ao teu quarto! Eu sei a senha, claro, porque sou a tua Madrinha – tagarelava ela enquanto empurrava L para um dos nichos – Okay, primeiro poisas a mão na pedra – Saya poisou a mão esquerda na pedra branca, que libertou um brilho difuso enquanto várias runas surgiam – E depois tocas nas runas pela ordem correta. Para ti é esta primeiro, chama-se Ae. Depois Thro. E, por fim, An – disse ela, tocando as runas à medida que as apontava.

Depois de tocar nas três, virou-se de novo para a abertura do nicho. L virou-se também e constatou que, ao contrário do esperado, não era o Átrio que se estendia na sua frente. Era um curto corredor, que levava a uma porta de madeira esculpida.

– Ae thro an – disse Saya – Quer dizer sussurro sábio do sol, ou algo lá perto. Mas não fiques aí especada a olhar para a porta. Entra!

L engoliu em seco e depois, lentamente, saiu do nicho e dirigiu-se para a porta.


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