A Grande Queda escrita por BobV


Capítulo 1
Os dias antes da queda.


Notas iniciais do capítulo

Os dois primeiros capítulos dessa fic foram planejados para serem escritos em primeira pessoa. Eu não tenho certeza se continuarei escrevendo nesse formato no decorrer da história.
Dito isto, boa leitura e espero que gostem ;)



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Eu acordei antes do raiar do sol. Saí do meu saco de dormir, estiquei os músculos dos braços, pernas e tronco em um rápido alongamento e ouvi os ossos estalando. Essa foi uma lição que aprendi desde cedo com meu pai. Apesar de ser um idiota colossal, me ensinou muitas coisas. Pelo menos algo de bom ele fez na vida.

O fogo da fogueira ao meu lado já havia se extinguido há algumas horas atrás. Tudo o que restou dela foram as brasas dos galhos queimados e as cinzas das folhas usadas para iniciar aquilo que foi que ajudou a afastar o frio durante a noite.

Depois de terminar o alongamento, executei uma série de katas do meu estilo. Comecei com os mais básicos, aqueles onde a maioria dos movimentos são executados no chã. Os katas mais avançados do Saotome Masabetsu Kakutou Ryu, são em sua maioria, recheados de saltos mortais e cambalhotas, afinal a especialidade do nosso estilo é o combate aéreo. Mas isso não me impediu de aprimorar e ser tão bom em combate em solo firme como eu sou em aéreo.

Perto da minha posição havia um riacho de água clara, quase cristalina. Banhei-me por alguns minutos assim que terminei os katas para eliminar o suor e tentar relaxar. Tarefa difícil. A água fria rasgava a minha pele como navalhas. Não podia reclamar, era tudo o que eu tinha naquele momento.

Após o banho, voltei até onde deixei minhas coisas, que não eram tantas assim: apenas uma mochila grande, bem maior do que as que são normalmente usadas para viagem e meu colchão de dormir. Havia uma barraca também, mas eu fiz uma barganha com ela dias atrás. Eu encontrei um viajante dias atrás que estava com problemas com a sua barraca. Eu ofereci a minha em troca de alguns suprimentos. Foi um bom negócio já que não parecia chover muito naquela região, e mesmo se chovesse, eu havia aprendido a me virar nessas situações. Além do mais dormir tendo as estrelas como teto não era nenhuma novidade para mim.

Os suprimentos não eram nada além de frutas. Eu poderia muito bem sair por aí e conseguir algumas por conta própria. Eu conheço uma boa variedade de plantas e frutas. Interpretando alguns sinais e fazendo observações de alguns animais selvagens, é possível dizer quando algo é comestível ou não. Contudo, preferi fazer a troca para economizar tempo de viagem.

Meu café da manhã foram apenas duas peras e um pouco de água de meu cantil. Nada muito elaborado, porém suficiente para me manter de pé por algumas horas. É claro que eu queria comer bem mais, o problema é que o caminho era longo. Portanto, era melhor economizar para não passar aperto depois.

Retirei de minha mochila um mapa adquirido antes mesmo de minha jornada começar e o analisei. Algumas horas a mais e eu finalmente estarei perto do meu objetivo. Acho que foi uns dois anos atrás que tudo aconteceu, que minha vida mudou completamente. Eu nunca pensei que lugar assim pudesse existir. Acho que nada de bom aconteceu desde que eu caí lá. Bem, é hora de terminar com isso tudo.

Em primeiro lugar, não foi fácil entrar no país. Eu não estou muito sintonizado com os acontecimentos políticos do mundo, mas parece que os olhos do mundo se voltaram par a China nos últimos meses. Algo envolvendo protestos estudantis e um simples rapaz em frente a uma fileira de tanques de guerra. Sinceramente, eu não sei do que isso se trata. Eu apenas sei que tive que entrar como clandestino em uma embarcação. Por meios normais está sendo impossível entrar no país.

Assim que desembarquei tive que me esgueirar para não chamar atenção. Nas cidades maiores foi bem difícil, cheguei a ser avistado duas ou três vezes e tive que fugir. As coisas ficaram mais fáceis quando comecei a caminhar pelas partes mais desertas do lugar, onde quase não se via a presença dos representantes do governo.

Passei por alguns bosques, paisagens de tirar o fôlego, vilarejos isolados e algumas plantações de arroz. Na verdade muitas. Agora eu estou aqui, a beira de um riacho, perto da trilha que me levará até a região montanhosa de Bayankala.

Por ter sido usada como travesseiro(ou algo parecido) durante a noite, minha mochila precisou de uma pequena arrumação. Aproveitei o gancho e decidi fazer uma arrumação completa. Tirei todo o conteúdo para refazer toda a organização. Ou quase tudo. Bem no fundo, um embrulho de cetim ficou intocado. Eu o observei por alguns segundos, era como se ele estivesse me encarando. Eu deveria ter me livrado dele há tempos atrás. Até agora não sei o porque de não tê-lo feito. Eu tentei pegá-lo. Apenas um leve toque e meu coração disparou. Não pisquei, minhas mãos tremiam, cada fio de cabelo de meu corpo estava de pé e tive a impressão de estar suando.

— Por que eu não consigo ?— Sussurrei.

Treinei por anos. Ensinei minha mente e corpo o controle para me tornar um lutador excepcional. Foram anos de árduo treinamento. Eu não era considerado o melhor atoa. Eu deveria ser capaz de fazer isso. Então por quê? não é nada complicado. É só pega-lo e deixá-lo no chão.

...

Um pouco desconcertado, eu deixei o embrulho na mesma posição e joguei todas as minhas coisa por cima dele, enterrando-o completamente. O saco de dormir foi amarrado no topo da mochila. Minha bagagem estava arrumada e eu pronto para seguir viagem. Antes, porém, deixei-a no chão e subi na maior árvore que consegui encontrar.

O céu negro e estrelado vinha dando lugar ao límpido azul claro. No horizonte, espectros de rosa, amarelo, vermelho e laranja surgiam com a alvorada. Estiquei os braços e inalei o ar úmido da manhã. Os mornos raios de sol atingiram meu corpo e o oxigênio que entrou pelas minhas narinas, me fez sentir bem. Os cantos das aves que não conhecia e o som dos galhos se mexendo me conectou com a natureza. Eu enchi meus pulmões de ar e expeli com os olhos fechados logo em seguida. Me senti revigorado, vivo, pronto para seguir adiante.

Foram longas horas de caminhada quase sem paradas, tamanha era a minha ansiedade. Rios traiçoeiros, falsas trilhas, animais peçonhentos e centenas de outras barreiras naturais. Nada me impediu. E agora estava aqui, diante de mim. O lugar que serviu para desgraçar, não só a minha, mas a vida de outras pessoas, estava prestes a mudar a minha vida novamente.

Jusenkyo.

E dessa vez espero que seja para melhor.


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Notas finais do capítulo

Críticas construtivas serão sempre bem-vindas.
Percebeu algum erro de português, concordância, formatação ou qualquer outro tipo? me avise para corrigi-lo.

Até a próxima.