– Lizzi !

Sou acordada pela voz do meu pai, ele está com a mão no meu ombro. Olho-o ainda sonolenta.

– Como entrou aqui ?

– Aquela comoda não é muito pesada - ele dá um sorriso - Lizzi, eu ia te pedir pra você pelo menos ouvir o que ela tem pra falar.

Agora ele está sentado na cama, o olho meio confusa.

– Ela passou dezenove anos longe, e agora que eu só tenho mais 5 meses e meio ela volta ? Por que ? Por remorso ?

– Você é a unica filha da Clary, e está morrendo, isso pode acarretar num remorso sim - ele olha para mim e faz uma pausa - vai pelo menos ouvir ?

– Talvez.

– Ok.

...

Soco o saco de pancada com todas as minhas forças. Eu deveria falar com Clary, ela está hospedada em um hotel aqui na cidade mas eu não vou lá, se ela quiser falar comigo, que venha.

– Você está com a guarda baixa, princesa.

Dou um pulo com a voz de Jason, ele está encostado no ringue exatamente igual a primeira vez que eu o vi. Encaro seu rosto, ele parece procurar por algo. Saio de perto do saco de pancada, pego minha mochila e me direciono a porta. Passo longe de Jason, mas sinto algo segurando meu braço obrigando meu corpo virar-se.

– Hei, espera!

Solto o meu braço, raivosamente, da mão de Jason e olho com toda a mágoa que consigo para ele, viro-me de costas e vou em direção a porta.

– O que queria que eu fizesse ? - ele fala alto - Eu não ia fugir com você.

Paro onde estou e me viro para ele.

– Por acaso eu pedi pra você fugir seu idiota ? Você podia simplesmente ter me levado para uma cafeteria e ido embora!

– E o que eu ia dizer pro seu pai ? Que eu fui buscar a filha dele num posto nos quintos e deixei ela numa cafeteria qualquer. Eu preciso do seu pai me treinando e não tenho tempo pro seus dramas familiares!

– Dramas familiares ? Você não tem ideia do que está falando! Você não tem nem ideia de metade do que está acontecendo! - grito de volta.

Isso não tem nada haver com dramas familiares, seu imbecil de uma figa! Tem haver com o fato de que eu vou morrer em cinco meses e meio, e mulher que seria me mãe me abandou e voltou agora!

– Ah não? - ele usa todo o sarcasmo disponível para falar essas duas palavras - Sua mãe está aqui de volta e você não tem a capacidade de falar com ela como alguém que se preze! Você é uma imbecil! Vai chegar uma hora que você vai estar chorando em cima do caixão dela!

Dou alguns passo para frente para poder xingar todos os antepassados de Jason mas tudo fica escuro.

...

– Liz !? - é a voz do meu pai - Ah, graças a Deus!

Abro os olhos e vejo que estou no chão ainda, minha cabeça está em cima das pernas do meu pai, olho em volta e duas órbitas escuras preocupadas prendem minha atenção.

– Como você está ? - é a voz das órbitas. Jason.

– Estou bem - me dou conta de que ele não sabe a verdade - ótima, na verdade, melhor impossível.

Me levanto rapidamente.

– Opa! Calma ai mocinha! - diz meu pai ai se levantar - Você acabou de desmaiar.

Meu pai está com um rosto preocupado, e eu sei que esse desmaio me entregou mais do que deveria.

– Estou bem, só passei muito tempo sem comer - digo sorrindo.

Nenhum dos dois acreditou na minha desculpa.

...

Estou deitada na minha cama, o desmaio de hoje foi péssimo. Meu pai ficou muito preocupado, e Jason ficou me olhando ansioso, acho que com medo de que eu contasse para o meu pai que estávamos discutindo quando eu desmaiei.

Meu celular toca e não reconheço o número.

– Alo ? - pergunto.

– Elizabete - a voz grave de Jason pronunciando meu nome inteiro me causa arrepios.

– Esse não é o seu número.

– Troquei. Olha, desculpa, eu não deveria ter te levado para ca...

– Nem se incomode.

– Sim, eu me incomodo sim. Remorso faz isso, eu vi como você ficou e pretendo me retratar, eu ia fazer isso hoje, mas não deu muito certo...

– Jason, desenrola.

– Ok, amanhã nós vamos jantar, passo aí pra te pegar às 20h, nada formal, provavelmente vamos em alguma lanchonete, então, é isso.

– Jason, eu não...

Ele desliga o telefone.

Esse idiota marcou de sair comigo e desligou na minha cara ?