Acordei novamente na cama grande dos lençóis de seda, mas dessa vez algo estava diferente. Parecia que um trator tinha passado em cima do meu corpo e até respirar doía. Queria levantar a cabeça para ver se Jason estava deitado no sofá, mas não dava.

Virei meu corpo de lado com dificuldade e fiquei apenas fitando a grade de metal. Eu não ouvi o som do chuveiro ligado, mas Jason saiu de dentro do banheiro com o cabelo molhado e apenas a calça jeans.

– Bom dia, princesa.

– Bom dia - digo baixo e fecho os olhos novamente.

– O que houve ? - ele se aproxima da cama.

De repente tudo parece real. Hoje é primeiro de outubro, meu tempo caiu para três meses, meu corpo estava doendo, minha cabeça estava doendo, meus remédios estavam todos na bolsa que estava jogando em algum lugar na casa onde eu não conseguiria chegar. Essa realidade me atinge como uma bomba, e eu começo chorar.

– Hei, o que aconteceu ?

Jason se senta na cama e passa a mão no meu cabelo.

– Pode pegar minha bolsa, por favor !? - digo entre os soluços - E um copo de água ?

Ele apenas assente e se levanta, depois volta com um copo e minha bolsa, coloca o copo em cima do criado mudo e me entrega a bolsa, em seguida nota minha dificuldade em levantar e me ajuda.

Tiro de dentro da bolsa três frascos de remédios. Luto contra a primeira tampa com as mãos tremulas.

– Deixa eu fazer isso - Jason pega o frasco da minha mão delicadamente.

Eu tomos os remédios.

– Princesa, o que está acontecendo ?

– Parece que um trator passou por cima de mim - digo com um sorriso fraco.

– O que eu posso fazer pra te ajudar ?

– Já fez.

– Posso fazer mais alguma coisa ?

Nego com a cabeça. A avalanche de sentimentos me pega de novo e eu volto a chorar. Jason pula para o meu lado e me puxa para um abraço, deito com a cabeça em seu peito, sua pele está fria.

– Vai ficar tudo bem... - ele sussurra para mim acariciando meu cabelo - já vai melhorar.

– Não, não vai... Estou morrendo!

– Shh... Não fala isso.

– Por que, de repente, isso parece tão mais real ?

– Eu não sei.

– Eu também não...

Ficando em silêncio por vários minutos, talvez tenha chegado a uma hora, eu não sei. Eu teria dormido se não fosse por isso:

– Vai ficar tudo bem, Lizzi...

Me afasto de Jason encarando-o, ele estava fazendo como todo mundo.

– Você está fazendo como todo mundo... - digo me sentando com dificuldade.

– O que ?

– VOCÊ ESTÁ FAZENDO COMO TODO MUNDO, DROGA!

– O que... ? Qual é o seu problema ?

– ESTÁ AGINDO COMO EU JÁ ESTIVESSE MORTA!

– POR QUE ESTÁ FALANDO ISSO ?

– VOCÊ ME CHAMOU PELO MEU NOME!

– ACHEI QUE ERA ISSO O QUE QUERIA!

– VOCÊ NÃO ME CHAMARIA PELO MEU NOME SE EU NÃO ESTIVESSE MORRENDO!

Me levanto da cama e quase caio, mas recupero o equilíbrio, tentando ao máximo ignorar a dor aguda.

– POR QUE VOCÊ FAZ ISSO ? - ele se levanta frustrado.

– Faço o que ? - digo cansada.

– DESCONTA NAS PESSOAS ERRADAS! VOCÊ TÁ TÃO OCUPADA SENTINDO PENA DE SI MESMA QUE NEM LIGA PRA QUEM TÁ AQUI! NÃO É MUITO MAIS FÁCIL PRA MIM, SABIA !?

Olho para Jason enquanto algumas lágrimas embaçam meus olhos, eu paro de me mexer e um soluço escapa por meus lábios.

– VOCÊ FAZ ISSO O TEMPO TODO! VOCÊ NÃO QUER QUE NINGUÉM SINTA PENA DE VOCÊ, MAS VOCÊ MESMA ESTÁ SE REMOENDO DE PENA! E DEPOIS VOCÊ DESCONTA SUA FRUSTRAÇÕES POR ESTAR MORRENDO EM MIM!

– Por que você ainda tá gritando ? - pergunto chorando.

– PORQUE EU NÃO QUERO TE PERDER! MAS QUE DROGA, PRINCESA! POR QUE VOCÊ SEMPRE ESPERA O PIOR DE MIM?

– Porque eu queria, que pelo menos uma vez, você fizesse tudo errado! Eu to ferrando a sua vida, e mesmo assim, você não me manda embora! E eu não tenho força pra ir embora por mim mesma, porque eu gosto de você, seu imbecil! Pior! Eu acho que eu te amo...

Jason fica totalmente sem reação, seus olhos me encaram e eu queria estar em condições de sair correndo daqui. Deixo minhas pernas bambas cederem, mas meu corpo não atinge o chão.

Jason me pega no colo e me leva de volta para a cama. Estou encolhida sentada em suas pernas enquanto me abraça de maneira protetora.

– Eu te amo, princesa, e não há nada que vá me impedir de ficar perto de você, seja por hoje, por três meses ou por um milhão de anos, enquanto você me quiser, eu vou estar aqui, independente do tempo que tivermos.

Me afasto um pouco, o bastante para poder olhar seu rosto.

– Acho que não mereço você - digo com uma risada sem graça encarando seus sonhos.

– Posso dizer exatamente o contrário.

Não percebi que estávamos tão perto, só percebi quando seus lábios tocaram os meus. Nos beijamos lentamente e apaixonadamente, então nos separamos ainda de olhos fechando.

– Eu amo você... - Jason diz com um sorriso, seus lábios roçam nos meus enquanto ele fala.

– Também amo você.