Um apartamento decrépito, caindo aos pedaços, mas, ainda assim, é nosso. A tinta está descascando, o chão de madeira manchada range, o sofá está rasgado, a televisão liga apenas quando quer, as flores estão morrendo e apenas o rádio funciona realmente, mas, ainda assim, é nosso.

Estou na sacada e você no quarto, mas, ainda assim, posso sentir seus pensamentos bailando pesadamente sobre nosso apartamento. Já estou no meu último cigarro e você se revira entre os lençóis encardidos. Apenas mais um gole de café, um único suspiro e já vou até você. Tenha paciência, minha pequena.

Amarga escuridão divina.

Não me olhe com essa cara, eu sei que só está fingindo. Vamos, me dê aquele maravilhoso sorriso de sempre, abra seus lábios gentilmente e receba-me como a todas as noites escuras. Quão torturante é te ver assim distante. Venha pra cá, isso Deite seus cabelos cor de cobre em meu peito e me consuma.

Doce brilho diabólico.

Durma na imensidão de nossas vidas, faça companhia à minha solidão. Derreta o gelo de meu coração com seus beijos quentes e faça dele apenas seu. Caminhe estes seus olhos cor de mel sobre meu corpo e me faça parecer desejável. Dê-me seu amor, ele é tudo o que eu preciso.

Mal que me consome.

Minha Sally, uma mulher com os sentimentos de uma garota, uma estrela incontrolável, pronta para explodir e se desintegrar, um alguém extremamente normal e mesmo assim tão especial, cheia de defeitos e manias Tudo tão... Seu.

Mal que me corrói.

Talvez eu devesse me calar e admirar esse meu bem agridoce... Sim, é provável que sim, mas, oh, pequena Sal, como és bela dormindo! Sua pele está levemente rosada agora, talvez pelo ar quente que nos cerca nessa madrugada docemente fria, ou talvez este seja o seu natural. Pequenas sardas rodeiam-te o corpo, espalham-se por ele encobertas pela sua camisola azul celeste. Que inveja eu tenho.

Uma luz rodeada de escuridão.

Sua imagem não me deixa dormir e o sol já amanhece na nossa janela meio quebrada. Talvez não seja justo eu te culpar, posto que há muito tempo não durmo, mas mesmo assim...

Deixo-te ainda desacordada e sigo para a cozinha atrás de mais uma xícara de café, meu vício pessoal.

Apenas mais um dia, como outro qualquer.

Já estou pronta para sair, mas não tenho vontade. Quero ficar aqui com você. A faculdade e o trabalho são um mártir ao qual eu gostaria de evitar, ao menos hoje. O tempo corre e o relógio me chama, mas nossa cama grita mais alto, canta uma melodia composta especialmente para nós duas.

— Ainda por aqui? - Você pergunta-me da soleira da porta. Sally, eu achava que você era linda dormindo, mas agora... Seus fios estão desgrenhados e você está vestindo apenas uma camisa meio aberta e aquela sua lingerie preta que eu tanto amo.

— Você realmente acha que eu sairia sem meu beijo de despedida? - Levanto-me da pequena mesa improvisada e sigo até ti.

— Giulliet Meg Gaia, não use essa palavra! Você sabe que odeio-a... - Esse tom de repreensão...

— Desculpe-me, senhorita Sally Zahara. - Beijo-te a testa, as bochechas, o pescoço, a boca.

Doce ardor.

— Giu, você não dormiu novamente, não é? - Seus dedos curtos passeiam pela minha face, brincam com o meu cabelo, tecem uma teia para aprisionar-me a ti.

— O que posso fazer se minha musa me enfeitiçou?

A única que eu amo.

— Se soubesse como eu amo essa sua cara emburrada...

— Faria muito mais. - Você diz, completando minha frase rotineira para depois depositar um beijo em meus lábios e fazer com que eu saia de nossa casa.

A única capaz de me amar.

Giulliet.