Clt23 escrita por AyalaOM
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura =D
Passos. Eu consigo ouvir passos. A voz da doutora Tânia é alta e parece muito irritada. Esforço-me um pouco mais para ouvi-la melhor e entender suas palavras.
─ Ela é só uma menina crescida, Doutor Smith! Ainda não está pronta! Entendo que esteja ansioso, mas ela…
─ Está pronta. – A voz do doutor Smith soa calma e me arrepia. Não sei porque, mas algo nele me dá medo. Como se ele escondesse algo de mim.
─ Não, ela não está. Ela pode se parecer com ela, mas CLT23 não é ela, entende isso?
─ Saia do meu caminho.
─ Doutor S…
Um som alto me assustou. Era um som seco, como quando eu bato o meu pé na cama, só que muito mais alto.
─ Como ousa? – A doutora Tânia disse muito mais alto e eu ouvi a porta começar a ser destrancada.
A sala branca e estofada não contrasta muito com a cor da roupa que eles vestem. Branco. Foi o que me disseram à… não sei mais quanto tempo. Mas muito. Eu era pequena e bem… eu não cresci muito na altura, mas eu sou muito mais velha agora.
─ Olá querida CLT23. Como anda?
─ Não, estou sentada. – Eu respondi procurando com o olhar pela doutora Tânia, mas ela não está mais aqui. Ele gargalhou por algum motivo e eu volto meus olhos para o rosto dele. Outro calafrio estranho. O que há de errado comigo? Ele não me parece perigo, mas mesmo assim eu sinto medo.
─ Quis perguntar sobre seu estado. Como você está? Bem? Ferida? Com saudades de mim?
─ Bem. – Escolhi a que mais se aplicava. Não estou ferida e nem doente, mas também não sinto saudades dele. Me sinto aliviada nos dias que não o vejo.
─ Venha aqui, querida. – Ele estende a mão na minha direção e eu me levanto à contra gosto. Vou chegando perto e seu cheiro de peixe (como o peixe que me serviram mais cedo) invade as minhas narinas. Eu não gosto do cheiro, apenas do gosto, mas não demonstro isso. Algo me diz que devo ficar alerta.
─ Certo. – Respondi, enquanto me levantava, calçava meus sapatos e caminhava para ele lentamente.
─ Nós vamos passar por um corredor longo e branco, mas hoje você não vai para a área recreativa não, você irá entrar numa caixa de metal preta e sentar-se lá. Porá o cinto e eu vou te levar para um lugar muito legal. ─ Ele explicou para mim enquanto íamos caminhando pelo corredor citado e deixávamos meu quarto para trás.
─ Que lugar?
─ Você verá.
[…]
─ Que lugar é esse?
─ Sua casa, CLT23.
─ Como pode ser a minha casa? Eu não moro aqui.
─ É sua casa, oras! – Ele me disse parecendo irritado.
─ E o meu quarto branco? – Perguntei hesitante.
─ Ficou para trás.
Tento absorver a informação. Tantas perguntas. Porque estou aqui? Quando irei embora? Porque tudo aqui tem tanta cor? Que cheiros são esses? Quando poderei ter a minha recreação? Quem irá cuidar de mim agora? Todas elas são interrompidas pelo som de coisas caindo e eu olho firmemente para a mulher morena que está estática olhando para mim.
─ Tudo bem? – Questiono-a vendo que alguns cacos de vidro machucaram sua pele. – Quer que eu te ajude a catar?
─ Creio em Deus pai! – A mulher disse antes de ser repreendida por Dr. Smith. Eu não faço questão de escutar o que eles estão dizendo e vou subindo a longa escada cor… marrom, isso, marrom.
[…]
Dias depois…
Já se passaram cinco dias de pesquisa nesta casa, mas há um cômodo em que não posso ir. O escritório do Dr. Smith. Ele me disse também coisas que perturbaram minha mente.
─ Eu sou um cara legal e quando você se habituar à casa, irá se habituar ao meu corpo também.
─ Como assim? – Perguntei sem entender.
─ O seu corpo foi feito para o meu, querida. – Ele disse muito próximo de mim, me deixando desconfortável.
─ Eu ainda não entendi, mas afaste-se. Está me assustando.
─ Te darei sete dias e começaremos a dormir na mesma cama. Não exatamente dormir, meu bem.
─ Ainda não entendi.
─ Pergunte à Gertrudes sobre sexo. – Ele saiu depois de dizer-me isso.
Fechei os olhos sentindo o sol aquecer meu rosto um pouco. Ouvi as batidas e autorizei que Gertrudes entrasse no quarto. Ela estava diferente, com suas próprias roupas ao invés das roupas cinza e branco que ela usa costumeiramente.
─ Senhora, venha aqui, por favor.
─ O que foi? – Pergunto-lhe saindo de perto da janela.
─ Na sala proibida tem um livro mais grosso, você deve puxá-lo. Ele irá abrir uma…
─ Não posso entrar na sala proibida. – Eu a lembro.
─ Irá responder todas as suas dúvidas. – Eu cogito a ideia ouvindo ela respirar e presto atenção ao que ela está falando agora: ─ Vá lá, abra a gaveta e pegue o caderno lá dentro. São as memórias da Dona Celeste.
CLT.
─ Como abro a gaveta mesmo? E quem é Dona Celeste?
─ Ela. – Gertrudes me mostra uma foto que tirou de seu bolso e eu sinto como se meu estômago estivesse afundando.
Nós somos exatamente iguais. A mesma pele branquíssima, os mesmos cabelos claros e olhos tão azuis quanto os meus.
─ Mas nós…
─ São iguais. Eu sei. – Gertrudes me fez olhá-la e fez um carinho na minha cabeça. – O que esse homem fez é horrível e antiético. Se você soubesse… apenas vá na gaveta, pegue o diário e venha comigo.
─ Porque?
─ Não vou deixá-la nas mãos desse… depravado.
─ Eu já volto.
[…]
Clonagem humana. É o que diz nas anotações da Celeste. Diz também que eu iria doar para ela vários órgãos, entre eles o meu coração, porque os dela estavam apodrecendo com uma doença humana chamada câncer.
Agora estou vendo as cores passando e se tornando borrões enquanto esse ônibus me leva para Santa Catarina, para uma escola de artes. Era o que a Celeste queria fazer e como agora eu sou ela, não tem porque eu não fazer isso.
Os documentos dela já estão comigo e por algum motivo ela não tem um atestado de óbito. Gertrudes me disse que ela deveria ter, mas ela não tem. Descobri que dei certo tarde demais para Celeste. Sou o projeto número 23, com algumas das letras do nome dela. Então já que eu sou ela, eu só estou tomando a minha vida de volta.
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Ai caramba, espero que gostem xD
Beijinhos ♥