Nightmares Come True escrita por Polo


Capítulo 1
Peter Pan, Wendy e Alice




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Aquelas duas garotas que eu conheci há pouco menos de um mês já são aquilo que eu tenho mais próximo de uma família.

Desde que o fim do mundo começou a minha vida não mudou tanto. A verdade é que ela nunca havia sido fácil pra mim, antes de tudo começar eu já era um menino perdido, ou melhor, um menino de rua. Naquela época, eu já tinha que correr se quisesse sobreviver, tinha que me esconder, já sofria com a fome e com a perda de entes queridos. A única diferença era que eram os "Soldados de Copa", como Alice os chamava, que queriam me ver morto e não os vivos.

Eu já conhecia Wendy, uma das garotas, antes do apocalipse. Quero dizer, eu conhecia ela de vista. A garota dos cabelos cor de mel e dos olhos azuis sonhadores era filha de um rico banqueiro da cidade, ás vezes eu a ficava fitando da rua. Ela era tão linda. Ela contava histórias de dormir para os seus irmãos mais novos e brincava com sua cadela, Naná. Muitas vezes eu sonhava com o dia que eu iria entrar pela janela dela e lhe surpreender com um beijo, mas eu sabia que esse dia nunca iria chegar. Nós dois eramos de mundo diferentes, ela tinha um universo de possibilidades onde seus desejos sempre se tornariam realidade, ela era da Terra do Sempre e, eu, da Terra do Nunca.

A primeira vez que eu falei com Wendy Darling foi quando os Soldados de Copas tinham se erguido ao mundo. Eu estava vasculhando em uma padaria, procurando mantimentos, e escutei uns barulhos estranhos vindo de dentro de um armário. Me armei com o meu machado, no caso de alguma surpresa indesejada, e abri a porta do armário. E então eu vi a garota dos meus sonhos no estado mais lastimável possível. Ela estava coberta de sangue e chorava freneticamente, estava armada com uma pistola e balbuciava algo que eu não entendia. Parecia estar em choque, se notou que eu estava lá, não demonstrou nenhuma reação.

– Você não devia estar aqui - Foi o que eu disse - Vamos, você tem que se limpar.

A garota continuava com olhar vazio e não dizia nada, apenas tremia e balbuciava coisas sem sentido. Eu estava assustado com aquela visão, embora não quisesse admitir para mim mesmo.

– Você é Wendy. - Eu disse esperando que ela reagisse se eu falasse o seu nome em voz alta - Wendy Darling, filha do banqueiro. Eu te via pela janela e...

De repente ela berrou e começou a chorar cada vez mais alto. Eu fiquei com medo de ter assustado ela e então guardei o meu machado, embora eu soubesse que não era algo inteligente já que ela estava armada.

– Olha, foi mal se eu disse algo errado - Disse, cauteloso - Vou tentar começar de novo. Meu nome é Peter. Eu tenho um lugar pra ficar, não é lá muito grande, mas...

E então eu percebi que a frágil Wendy não estava mais chorando, ela me olhava com um olha vazio e apontava a sua pistola para a minha cabeça. Algo me dizia que ela não estava muito a fim de papo.

– Olha, eu não quero problema... - Eu disse tomando muito cuidado com as minhas palavras e me afastando do armário - Eu vou embora, certo? Quer que eu feche a porta do armário? - Ela fez que sim com a cabeça - Certo, eu vou fechar a porta do armário.

E então, fechei. Pude escutar que Wendy Darling continuava chorando dentro do armário. Fiquei intrigado com o estado que ela se encontrava, mas achei melhor deixar pra lá, as pessoas reagem de formas diferentes ao fim do mundo. Continuei procurando por suplementos e acabei me deparando com uma porta que antes eu não havia notado. Havia um rastro de sangue que ia da porta até o armário de Wendy, achei estranho aquilo e decidi atravessar a porta e ver o que a sala escondia.

A porta dava para a cozinha e a cozinha me revelava a imagem mais terrível que eu já tinha visto na vida. Era grotesco, havia sangue e farinha espalhado por toda a sala, três corpos jaziam no chão da cozinha: O de um homem, de uma mulher e de um menino pequeno. O braço do menino estava arrancado e a mulher tinha suas tripas expostas, o único que parecia mais intacto era o homem que apenas apresentava uma bala na cabeça. Eu, mesmo sentindo vontade de vomitar me aproximei do homem e pude ver seu rosto. E, puta que pariu, era o banqueiro.

De repente eu havia entendido tudo. Fui em direção ao armário de Wendy, abri a porta e por um instante eu a fiquei encarando, ela havia passado por algo terrível. Daquela vez eu não disse nada, apenas a abracei.

O tempo passou e nós dois nos tornamos muito próximos. Cuidávamos um do outro. Ela era organizada e responsável e nos ajudou muito quando tudo parecia sem saída. E eu era sagaz e bom de matar zumbis, nós formávamos uma dupla perfeita. Com um tempo, um clima até começou a rolar entre nós.

Porém, não permanecemos muito tempo como uma dupla, depois de uma semana Alice se juntou a nós. Na verdade, Wendy não foi muito a favor disso, mas eu não pudia culpa-la: O modo que nós encontramos Alice foi, no mínimo, inusitado.

Eu e Wendy estávamos andando por uma praça procurando algum lugar para ficar. Wendy dizia que havia visto um aviso em uma pichação que indicava algum lugar seguro e com outras pessoas.

– Vai saber, Peter - Wendy dizia olhando para mim com um jeito sonhador - Vai ver é nesse lugar que o João está, é a minha única família viva agora, a gente tem que tentar.

– Me olhando desse jeito fica difícil dizer não, senhora - Eu disse com um sorriso torto - Mas a gente tem que ser cuidadoso.

A gente andou mais um pouco até da der cara uma cena perturbadora. Havia uma garota, da mesma idade que eu e Wendy, no meio de uma horda de zumbis. A garota era loira e bastante branca, achei ela bonita de cara, e gargalhava como uma louca.

– Soldados de Copas! - Ela gritava em meio a risadas - Vocês estão, por acaso, lendo "coma-me" ou "beba-me" na minha testa? Eu posso garantir que tenho gosto de coelho, vocês iriam adorar provar.

A garota insana esperou os Soldados de Copa chegarem cada vez mais perto e no último momento mostrou que carregava um tipo de arma com uma roda de metal pontiaguda com ela. E então ela começou a matar os Soldados de Copa, um por um.

– Morram, morram criaturas vis! - Gritava a loira enquanto golpeava um pobre cadáver na cabeça - Voltem para o buraco de coelho de onde vocês não deveriam ter saído!

Foi tudo tão impressionante, em poucos segundos a lunática havia derrubado uma dezena inteira de Soldados de Copas e parecia ter se divertido com isso.

– Peter! - Wendy cochichou no meu ouvido agarrando meu braço - A gente tem que ir, essa garota é problema!

Pela a primeira vez, eu não dei ouvidos a Wendy, eu queria realmente falar com aquela garota, ela havia me impressionado de uma forma que eu simplesmente não consigo explicar. Fui, com passos cuidadosos, em direção a garota. Wendy ia atrás de mim com cara fechada. Quando notei que ela havia me visto, parei.

– Oi - Foi tudo o que eu falei.

– Hã... Oi - A garota disse e depois riu um pouco - Você não é nenhum Soldado de Copas, não é?

– Se com Soldado de Copas você se refere a esses mortos que andam - Eu disse em tom de brincadeira - Não, acho que não.

– E ela? - Alice disse lançando um olhar assassino pra Wendy - É?

– Não sei - E então me dirigi para Wendy com um sorriso torto - É, Wendy?

– Peter! - Ela exclamou horrorizada - Olha pra ela, ela tem uma arma.

Eu e a garota estranhas nos encaramos por instante e depois de um tempo começamos a gargalhar.

– Do que vocês estão rindo? - Wendy parecia indignada - Peter, vamos embora! Temos que ir para...

– Para onde vocês estão indo? - A lunática inclinou a cabeça para o lado - Vocês tem um lugar seguro?

– Não lhe interessa!

– Não falei com você, Rainha de Copas - A garota disse, e depois sorriu quando viu o meu gorro - Eu estava falando com o Chapeleiro.

– A gente tá procurando um lugar seguro - Eu disse retribuindo o sorriso - Você pode ir com a gente se assim desejar. Qual é o seu nome?

– Alice.

Wendy se afastou de nós e ficou nos amaldiçoando baixinho, eu e Alice rimos disso. A lunática se juntou ao nosso grupo e nós continuamos a nossa busca por um lugar seguro. Nós andamos por mais algumas quadras, sempre que víamos um Soldado de Copas Alice corria para matá-lo. Wendy ia na frente e nos levava para o lugar onde havia encontrado a tal pichação.

Chegamos, por fim, no local. Era do lado de uma casa de penhores e em um muro feito de tijolos pôde-se ser visto um desenho enorme de um gancho e a seguinte mensagem:

"VÃO PARA O PORTO, ENTREM NO JOLLY ROGER, EMBARQUEM ATÉ A ILHA DA TERRA DO NUNCA. OS QUE CHEGAREM, SOBREVIVEM"


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Notas finais do capítulo

Obviamente, a história de Peter, Wendy e Alice não termina aqui. Nessa fic vocês vão poder acompanhar diversos pontos de vistas e diversas histórias que continuarão em capítulos alternados. Quem você gostaria que contasse a próxima história? Deixe seu comentário, ele sempre é importante, até o próximo capítulo, galera! Abraços, Polo!