Segredos escrita por Arisusagi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Tinha criado esses personagens h um tempinho e resolvi us-los para esse desafio, espero que gostem!



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O celular tocou suavemente sobre o criado-mudo. A figura se revirou sob as cobertas, um braço moreno se esticou para fora no ninho e desligou o despertador, trazendo o aparelho para debaixo do cobertor. Cinco e cinquenta e cinco da manhã, era hora de ir para a escola.

Alexandre era um adolescente comum que tentava viver sua vida tranquilamente. Era magro e não passava dos 165 centímetros de altura. Tinha a pele morena e os cabelos eram curtos, pretos e cacheados. Guardava segredos como qualquer outra pessoa, porém preferia manter os seus trancados a cadeado, raramente dividindo-os com os outros.

Saiu da cama sem muita dificuldade, ele já estava acostumado a acordar cedo, mesmo sendo a primeira semana de aula. Tirou os shorts e a camiseta que usava e abriu o guarda-roupa.

Começou com as faixas elásticas, usadas para esconder os seios de tamanho mediano. Ele mesmo as fez a partir de uma cinta para grávidas que achou jogada em algum canto da casa. Colocou duas faixas, a mais frouxa por baixo e a mais apertada por cima, apertando os seios juntos ao peito. Finalizou com uma regata fina, que servia apenas para esconder as marcas das faixas sob a camiseta.

Como o uso de uniforme não era obrigatório, ele preferiu vestir uma camiseta preta simples e calças jeans largas, o que usava diariamente para esconder alguns de seus segredos.

Foi até o banheiro e olhou-se no espelho, satisfeito. Aquela camiseta era larga o suficiente para cobrir todas as curvas indesejadas que seu corpo tinha. Escovou os dentes e penteou os cabelos.

Tomou uma xícara de café com leite e voltou para o quarto, tentando sair de casa antes que todos os outros acordassem.

— Bom dia, querida! — A mãe entrou no quarto com um sorriso no rosto, como se soubesse do plano que acabara de arruinar.

— Bom dia, mãe. — Respondeu mal-humorado enquanto calçava seus tênis.

— Quer que eu te leve pra escola? — Ela perguntou, ajeitando a alça da camisola branca.

— Não precisa, eu quero ir a pé. — colocou a mochila nas costas e se levantou, indo em direção à porta do quarto. — Hoje a aula vai até as 5.

— Tem dinheiro para o almoço? — ela perguntou. Ele apenas mostrou a nota de 20 reais que tinha no bolso. — Você devia tentar vestir umas roupas mais bonitinhas, sabe?

Ele não disse nada, apenas revirou os olhos e colocou os óculos de armação grossa.

— Vou voltar para a cama. Boa aula.

— Obrigado.

Saiu de casa com passos pesados, era daquele tipo de situação que ele fugia a todo custo.

Considerava-se menino desde que podia se lembrar. Na escola brincava sempre com os garotos, achava que era igual a eles. Foi aos 10 anos de idade que ele percebeu que tinha algo de errado, seu corpo era diferente dos outros meninos. Falou com os pais sobre o problema e foi fortemente repreendido. “Como assim? Você é uma menina!” Sentiu-se envergonhado, estava no corpo errado? Não se via como uma garota, não queria ser uma. Decidiu continuar sendo um menino, custe o que custasse.

Tentou dizer isso aos pais durante algum tempo, mas foi vencido pelo cansaço. Eles se recusavam a aceitar, e ainda tentavam convencê-lo do contrário. Frases como “É só uma fase” e “Você só está confusa” eram tão frequentes quanto os vestidos e bonecas que ganhava de presente todos os anos. Passou a ignorá-los, tentando não se importar com os comentários maldosos que ouvia. Era difícil, mas ele não tinha outra opção.

O céu ainda estava um pouco escuro e a fina neblina que cobria a paisagem denunciava o sol forte que estava por vir. O caminho era bem tranquilo naquela hora, não havia quase ninguém na rua e sua única companhia eram os passarinhos e os gatos. Passou por uma padaria, o cheiro de pão encheu o ar. Pensou nos 20 reais que tinha no bolso, talvez conseguisse comprar um pão de queijo ou um pedaço de bolo. Continuou seu caminho, estava com preguiça e precisava guardar dinheiro para comprar roupas novas.

Chegou à escola antes que o calor do verão brasileiro o alcançasse. Talvez não fosse uma boa ideia usar uma camisa preta sobre as outras 3 camadas de tecido. São José dos Campos não era uma cidade quente, mas não deixava de ser desconfortável.

Sentou-se na fileira próxima à janela, na última carteira, debaixo do ar-condicionado e longe do foco dos professores. Pegou a tabela de horários, verificando mais uma vez as aulas que teria naquele dia. Suspirou, a primeira aula seria com um professor novo e ele teria que se explicar na hora da chamada.

— E aí, cara? — Era Daniel, seu melhor amigo.

Daniel era filho de japoneses, magro e tinha quase 175 centímetros de altura. Seu cabelo era preto, cortado no estilo undercut e que, segundo Alexandre, o deixava parecido com um cantor de pop coreano. Daniel sempre esteve ao lado dele, ajudando-o a lidar com as eventuais brigas que tinha com os pais.

— E aí. — Ele respondeu enquanto o outro jogava a mochila sobre a carteira do lado.

— Vai almoçar onde? — Perguntou, sentando-se no lugar escolhido. Não era incomum o fato de Daniel pensar sobre o almoço naquela hora da manhã.

— No self-service da rua de cima — disse, soltando um bocejo alto. — E você?

— Vou junto — ele passou a mão pelos cabelos, jogando a franja para trás. — Qual a primeira aula?

— Física 3 — respondeu, tirando o livro de dentro da mochila. — Eu não conheço o professor.

— Quer que eu fale com ele antes da aula? — Daniel perguntou apreensivo. Ele sabia que o amigo se sentia extremamente desconfortável em situações como aquela.

— Não. Pode deixar que eu falo.

A escola era como um campo minado para Alexandre, era difícil saber quem o respeitaria em meio a tantas pessoas. Alguns o chamavam pelo nome escolhido, outros ainda insistiam em usar o seu nome de batismo, e a grande maioria fazia piadas sobre o seu gênero quando ele não estava por perto. Ele sabia disso, portanto se mantinha afastado de quase todos, interagindo com poucas pessoas.

O sinal tocou, alguns alunos entraram na sala, sendo seguidos pelo professor. Ele era um homem não muito velho, seu cabelo era ralo e grisalho. Carregava uma pasta e alguns gizes de lousa.

— Bom dia pessoal — começou, colocando seu material sobre a mesa e escrevendo a data no canto da lousa. — Meu nome é Márcio e eu serei seu professor de física durante esse ano.

Ele prosseguiu com um discurso sobre as responsabilidades de alunos do 3° colegial. Alexandre ficou a olhar quais conteúdos seriam ensinados nas próximas aulas. Física era uma de suas matérias preferidas, junto a matemática e biologia. Não se dava muito bem com geografia e português, entretanto não deixava de apreciá-las.

— Agora farei a chamada — ele sentiu um frio na barriga quando o professor disse isso. — Ana Carolina...?

Os alunos respondiam normalmente. As mãos de Alexandre começaram a suar, pensar na possibilidade de uma piada ou de qualquer desrespeito do tipo lhe dava náuseas. Começou a chacoalhar a perna freneticamente, mordendo os lábios.

— Bianca? — Não houve resposta. Todos na sala de viraram para ele, como sempre acontecia.

— É... — Começou com a voz trêmula, pigarreando.

— Sim? — O professor o procurou pela sala.

— Poderia me chamar de Alexandre? — perguntou, tentando manter sua voz uniforme.

— Claro — ele respondeu com certa naturalidade, escrevendo algo na folha que segurava. — Carlos?

Alexandre se desmontou na carteira, deitando a cabeça sobre os braços cruzados. Sentia um misto de alívio e medo. Daniel estendeu a mão, dando-lhe alguns tapinhas no ombro.

— Relaxa — sussurrou, apertando seu braço levemente. — Você se saiu muito bem.

— Valeu.

Eles sempre estiveram juntos, desde a infância. Quando Alexandre era importunado pelas outras crianças, Daniel sempre o defendia. Ele esteve lá para confortá-lo quando as coisas não iam bem. Mesmo que não se manifestasse, Alexandre era muito grato por tê-lo como amigo.

As aulas seguintes seguiram normalmente, assim como o intervalo. Antes que se dessem conta, já era hora do almoço.

Os dois subiam a ruela que passava atrás da escola junto com outros alunos. O sol estava bem forte e todos estavam apressados, desejando almoçar o mais rápido possível.

— Espero que tenha coisa boa hoje. — Comentou Daniel, imaginando qual seriam as opções do dia.

— E eu tô apertado. — Resmungou Alexandre. O restaurante possuía apenas um banheiro, que não era dividido em masculino e feminino. Ele detestava usar os da escola que eram divididos daquela forma.

Após alguns minutos de caminhada, chegaram ao restaurante. Era um self-service simples, sempre cheirando a fritura. Durante a semana estava sempre lotado de estudantes das escolas próximas. Alexandre foi fazer suas necessidades enquanto Daniel aguardava na fila.

— Que fila imensa. — Disse Alexandre, juntando-se ao amigo.

— É, mas pelo menos tem frango frito. — Ele falou, inclinando-se um pouco para ver o conteúdo dos réchauds.

A fila andou mais rápido que esperavam, em poucos minutos já estavam pegando seu almoço. Alexandre encheu seu prato com algumas rodelas de tomate, arroz, feijão, frango e um pouco de strogonoff. O problema de se almoçar em restaurantes como aquele era a quantidade de opções que, geralmente, não se combinavam muito bem.

Pesaram os pratos, ele pagou 10 reais pelo almoço e Daniel pagou quase o dobro.

— Que prato de pedreiro. — Ele riu, pegando um copinho de gelatina. A sobremesa era cortesia da casa.

— É pra aguentar as aulas da tarde. — Ele respondeu, colocando o prato e os talheres na bandeja.

Sentaram-se de frente para a televisão velha que exibia um programa de esportes da TV aberta. Comeram em silêncio, como faziam quando Daniel estava com muita fome.

— Vai querer isso aí? — Ele perguntou, apontando para a sobremesa de Alexandre.

— Pega. — Respondeu, apoiando o queixo na mão e olhando para a televisão.

Ele comeu a gelatina rapidamente, como se nem sentisse o gosto. Levantaram-se e voltaram para a escola.

— Vou no banheiro.— Disse Daniel assim que passaram pelo portão.

—Ok, te espero no pátio.

Alexandre sentou-se em um banco na sombra de uma árvore, o sol estava forte e poucas pessoas estavam por ali.

— Bianca!

Sentiu um arrepio ao reconhecer aquela voz. Era Lucas, um rapaz irritante que adorava assediar as garotas da escola. Ele tinha os cabelos compridos e ensebados e não cheirava nada bem.

— Oi.— Disse Alexandre, estranhando a aproximação repentina.

— Tudo bem com você, Bianca?— Ele sentou-se ao seu lado, colocando o braço em torno de seus ombros.

— Eu já te pedi para não me chamar por esse nome...— Suspirou, tentando se afastar. Era a quarta ou quinta vez que falava com Lucas sobre o assunto.

— Mas que outro nome eu chamaria?

— Alexandre, me chame de Alexandre.

— Mas Alexandre é nome de homem!— ele quase gritou, aproximando-se mais ainda. — Por falar nisso, você se parece muito com um. Já pensou em deixar o cabelo crescer?

— É porque eu sou um garoto!— Alexandre se levantou, tirando a mão do colega de seu ombro.

— Hein? De jeito nenhum! Você é uma menina!— Ele ficou de pé, chegando mais perto de Alexandre — Olha só, tem até cintura!

Lucas esticou o braço, passando a mão na lateral do tronco de Alexandre. Algumas pessoas pararam para observar o que estava acontecendo, aumentando seu constrangimento.

— Não passa a mão em mim!— Ele se desesperou, agarrando o braço do outro e afastando de seu corpo.

— Por que não? Você sente cócegas?— Lucas sorriu, mostrando os dentes amarelados. — Ou é por causa do seu namorado?

— O que está acontecendo?— Os dois se viraram, era Daniel.— O que está fazendo, Lucas?

— Só estava conversando com a Bianca, não é nada demais!

— Acho que o Alexandre não quer conversar com você— Disse Daniel, colocando a mão no ombro de Lucas. — Pare de incomodá-lo, por favor.

— É, e não me trate como garota. — Completou Alexandre, arrumando seus óculos com as mãos trêmulas.

Lucas não disse nada, apenas se afastou. Daniel deitou-se no banco, colocando o braço debaixo da cabeça. Alexandre sentou-se no chão, soltando um suspiro alto de insatisfação. A sua respiração estava acelerada e ele podia sentir o início de um ataque de pânico.

— Otário.— Murmurou. Detestava pessoas como Lucas, que insistiam em chamá-lo pelo nome de batismo.

— Um dia a gente quebra ele, não esquenta.— Disse Daniel, cobrindo os olhos com o outro braço.

Alexandre não respondeu, estava tentando controlar sua respiração. Enxugou as lágrimas que se formavam nos cantos de seus olhos com as costas da mão. Tentou não pensar sobre que acabara de acontecer. Ele já passou por situações semelhantes diversas vezes, e sabia que elas iriam se repetir inúmeras vezes. Sabia que existiam pessoas que, assim como Lucas, não iriam respeitá-lo. O mínimo que podia fazer era manter-se afastado desse tipo de gente.

Lucas estava do outro lado do pátio, junto com outros garotos. Vez ou outra o grupo olhava para Alexandre, todos ao mesmo tempo. Provavelmente estavam falando sobre ele.

A aula começaria em 20 minutos e Alexandre não tinha muito a fazer. Contentou-se em jogar Tetris em seu celular. Estava morrendo de calor, suando como um porco. “Pelo menos não tem ninguém sentado atrás de mim”, pensou. Nem queria imaginar qual seria seu cheiro.

— Alê... — Resmungou Daniel, acordando de seu cochilo.

— Oi.

— Já tocou o sinal? — Perguntou, coçando os olhos.

— Não, faltam cinco minutos. — Bloqueou a tela do aparelho e guardou-o no bolso.— Por que você me chama de Alê?

— Sei lá, é um apelido bonitinho — Bocejou, sentando-se e estralando a coluna. — Prefere Xandi?

— Não. Alê tá bom. — Riu, subindo no banco. Daniel o ajudara com a escolha do novo nome e o apelido foi um critério importante.

— Xandão, o grande.

— Para com isso — empurrou-o, encabulado. — Ei, eu tô fedendo?

— Daqui eu não sinto nada. Então tudo bem, acho. — Respondeu, cheirando o ar.

O sinal tocou e eles tiveram que retornar para a sala de aula. A próxima aula seria de biologia com outra professora nova e, mais uma vez, ele teria que se explicar na hora da chamada. Seria mais fácil mudar seu nome nos documentos, porém ele precisava de autorização dos responsáveis para fazê-lo.

A professora era baixinha e gordinha, devia ter uns 40 e poucos anos de idade. Tinha os cabelos compridos e castanhos, presos em um coque no alto da cabeça. Carregava uma bolsa a tiracolo.

— Boa tarde 3° ano! — ela os cumprimentou, tinha um forte sotaque carioca. — Meu nome é Esther e eu cuidarei da frente dois de biologia durante este ano.

Ishtérr. — Sussurrou Daniel, zombando do sotaque da mulher.

— Cala a boca, Dani.

— Eu queria que vocês se apresentassem para mim, falem o seu nome e qual curso vocês pretendem fazer na faculdade — ela se dirigiu até a fileira de Alexandre, apontando para a aluna que estava sentada na primeira carteira. — Pode começar, querida.

Esther marcava sua lista de chamada conforme os alunos se apresentavam. Cada fileira tinha cerca de 5 alunos sentados, então não demorou muito para que a vez de Alexandre chegasse.

— Erm, meu nome é Alexandre e eu ainda não sei qual curso eu quero. — Ele disse, sentando sobre as mãos trêmulas.

— Desculpa, Alexandre, mas seu nome não está na lista de chamada. — Ela o encarou, arqueando as sobrancelhas.

— É... Bem, na verdade é Bianca. — ele respondeu, coçando a nuca, a insegurança crescendo cada vez mais.

— Como assim “é Bianca”? — Disse a professora. Um riso leve correu a sala.

Ele foi tomado pela vergonha, não sabia como se explicar. Ofegou, sentindo a boca ficar seca. Olhou para quem estava sentado do seu lado, como se pedisse socorro.

— O nome dele no documento é Bianca. — Ele disse calmamente, atendendo ao chamado silencioso do amigo. — Poderia, por favor, chamá-lo de Alexandre?

— Ah, entendo. Tudo bem — ela sorriu, riscando o papel que segurava. — E você...?

— Ah, sim. Sou Daniel Ryuu e eu também não sei qual curso fazer.

As risadas cessaram, mas isso não foi o suficiente para acabar com a aflição de Alexandre. Ele se inclinou no encosto da cadeira, apoiando a cabeça na parede e passando a mão no rosto. Não sabia se era outro ataque de pânico ou se era apenas uma continuação do que teve por causa de Lucas.

— Cara, você tá bem?

— Não muito, mas já vai passar. — Murmurou, tirando os óculos e cobrindo os olhos com as mãos. Sua respiração estava um pouco acelerada e ele sentia tontura.

Passou o resto da aula sentindo dores de cabeça, fazendo com que fosse para a enfermaria durante o intervalo.

— Tá melhor? — Perguntou Dani, assim que ele voltou para a sala.

— O remédio ainda não fez efeito, mas daqui a pouco ficarei melhor. — Ele se sentou, guardando um livro na mochila.

A última aula correu normalmente, um pouco lenta já que todos estavam ansiosos para voltar para casa. A chuva caiu logo que o sinal tocou, arrancando reclamações mal-humoradas de quase todos os alunos.

— Ah não! — Gritou Daniel, segurando o celular em uma das mãos.

— O que foi?

— Minha mãe acabou de me mandar uma mensagem dizendo que não vai poder me buscar. — Reclamou, colocando o aparelho no bolso.

— Quer ficar com o meu guarda-chuva? — perguntou, tirando o objeto da mochila. — Se não se importar de dividir ele comigo até em casa.

— Tudo bem, melhor que se molhar.

Abriram o guarda-chuva preto e seguiram andando pela calçada. O ar estava quente e pegajoso e era desconfortável ficar tão perto de outra pessoa. Sabiam que iam se molhar de qualquer forma, mas não deixava de ser incômodo. As meias se encharcaram rapidamente, assim como as barras das calças que insistiam em roçar asquerosamente em seus tornozelos.

— Ei, Dani... — Começou, assim que pararam no sinal vermelho.

— Hm?

— Obrigado.

— Por...?

— Ah, você me ajudou com a professora nova hoje, e com o Lucas também... — disse um pouco envergonhado. — E com tudo mais, sabe?

— Ah, não precisa agradecer.

— É que... Sei lá. Às vezes parece que você é o único que me apoia em todas as ocasiões, e... Eu acho que não retribuo toda essa ajuda e... — Parou para respirar, sentia que estava prestes a chorar.

— Sh, vai com calma — ele passou a mão pelos cabelos do outro. — Eu não sou bom com esse papo sentimental e tudo mais, mas eu gosto muito de você e... Não precisa agradecer.

— Então tá. — Ele também não estava muito acostumado com sentimentalismo.

Daniel o puxou, encostando a cabeça dele em seu ombro, soltando-o rapidamente. O sinal abriu e eles atravessaram a rua. O contato físico entre eles não era algo comum, mas ambos apreciavam as raras ocorrências.

Caminharam em silêncio por mais alguns minutos, até chegarem à casa de Alexandre.

— Valeu por me acompanhar até aqui — disse, tirando a chave do bolso e destrancando o portão. — Quer entrar?

— Não, valeu — Recusou, sabendo que seria importunado pela mãe do amigo. Ela achava que os dois eram namorados, mesmo depois de inúmeras negações.

— É, eu sei que você está fugindo da minha mãe — ele riu, fechando o portão. — Até amanhã então.

— Até.

Ele ficou parado na soleira, observando o amigo ir embora.

Alexandre já esteve apaixonado por Daniel, porém nunca contou sobre seus sentimentos para ninguém. Concluiu que não precisava estar em um relacionamento para se sentir bem. Bastava tê-lo como amigo.

Esperou até que ele virasse a esquina. Quando o fez, destrancou a porta e entrou em casa.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Críticas? Comentários?