Uma Babá Sem Noção escrita por Sáskya


Capítulo 42
Capítulo: 41 - Tulipas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Como depois da meia noite já é sábado, então aqui está o capítulo (enorme) para vocês ♥.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/526085/chapter/42

Bella

O táxi me deixou em frente ao prédio do meu irmão por volta das oito horas da noite. Paguei a corrida e caminhei a passos lentos para o interior do prédio, deixando o cansaço do dia se apossar do meu corpo.

A noite tinha sido tranquila por fora. Tomamos chocolate quente, nos divertimos com o filme infantil e aproveitamos da companhia uns dos outros. Porém por dentro, o meu dentro, estava se remoendo nas palavras de Edward. O meu lado bobo e apaixonado teimava em dizer que ele estava reconhecendo o mesmo sentimento que eu tinha por ele, enquanto o meu lado mais racional contra-atacava com a teoria de que ele só estava sentindo falta de uma amizade e nada mais.

Balancei a cabeça, querendo tirar as teorias da minha cabeça por pelo menos uma noite. Abri a porta do apartamento quase que silenciosamente e tirei os saltos dos meus pés – eles estavam me matando. Na sala não tinha ninguém, então decidi ir deixar meus sapatos no quarto antes de ir atrás de alguma alma viva.

Ao passar pelo corredor que dava tanta para os quartos como para a cozinha, eu escutei as vozes de Adam e Emmett. Pelo tom, eles pareciam está falando sobre uma espécie de segredo.

Com a curiosidade aguçada, encostei-me perto da entrada da cozinha, distinguindo melhor as falas.

— Cara, você tem que falar para ela. – Emmett disse de uma forma muito enfática.

— Falar uma coisa que ela não lembra? Melhor não, Emm. Prefiro recomeçar com nós dois sóbrios. – retrucou Adam, parecendo está chateado com algo.

— Não custa nada tentar.

Escutei passos ao redor da cozinha e espremi-me mais na parede, não querendo ser pega no flagra. A voz de Adam chegou de forma enérgica e debochada aos meus ouvidos segundos depois.

— Ah, claro, porque eu posso muito bem chegar na sua irmã e dizer: Ei, nós nos pegamos na boate sábado e eu gostaria de saber se você quer repetir a dose.

Arregalei os olhos, assustada com o desabafo do meu amigo. Nós tínhamos nos pegado sábado? E então, como um flash, minha memória foi bombardeada com detalhes importantes daquela noite: principalmente quando Adam pediu-me um beijo e eu cedi, exausta da minha vida amorosa ser uma merda.

— Então é por isso que você está estranho comigo? – a pergunta escapuliu dos meus lábios antes que eu pudesse raciocinar com coerência.

Apareci na soleira da porta, encontrando dois olhares assustados para cima de mim, entretanto, foquei-me no olhar azul de Adam.

— Bella...

— Porque não falou comigo? – perguntei, sentindo a chateação tomar conta do meu tom de voz.

— Vou deixar vocês dois a sós. – disse Emmett, se retirando do cômodo com uma tapinha nas costas do amigo.

Adam suspirou, sentando-se no banco. Eu continuei no mesmo lugar.

— Eu sabia que estávamos bêbados no sábado, Bella, que tinha sido uma coisa de momento, apesar de eu não querer isso. Estava querendo criar uma nova oportunidade para nós, para que começássemos na maneira correta. Talvez um jantar, um cinema... – deixou no ar, olhando para mim esperançosamente.

Com as recém-palavras de Adam, eu percebi o que Jake tinha dito para mim no dia do aniversário de Alice: Adam tinha interesse romântico em mim. Talvez no íntimo eu soubesse e não quisesse admitir, pois eu sabia que não estava pronta para entregar-me a uma nova aventura – ainda mais agora que Edward estava conflitando os meus pensamentos.

Sorri triste, tomando o lugar ao lado de Adam no balcão. Peguei em suas mãos, entrelaçando meus dedos nos seus e deixei meus olhos presos no gesto.

— Adam, você é um cara legal, divertido, inteligente. Um verdadeiro amor de pessoa, mas... – parei, subindo meu olhar para o seu. O azul já me dizia que sabia o que estava por vir – Eu não posso me aventurar em um relacionamento. Não agora.

— Por quê? Você é solteira, jovem e estamos indo para o mesmo curso! – tentou fazer graça, mas um sorriso triste estava em seu rosto.

— Eu gosto de outra pessoa, Adam. – resolvi falar a verdade.

Ele olhou-me de forma chocada.

— Quem?

— Ai já é informação demais... – murmurei, desejando não retomar o assunto Edward.

— E porque não está com essa pessoa? – Adam questionou, não acreditando muito no que eu disse.

Mordi um pedaço da maçã, encarando-o enquanto mastigava. A verdade é que eu estava buscando uma forma de explicar sem colocar uma corda em meu pescoço.

— É complicado. – disse por fim, encolhendo os ombros.

Adam olhou-me cético e com uma pontada de decepção. Tirou suas mãos das minhas de forma quase bruta, como se tivesse levado um balde de água fria.

— Não precisa falar isso para dizer que não me quer, Bella. Eu sei lidar com a verdade. – bufou, levantando-se do banco.

Segurei em seu braço, impedindo-o de ir. Não queria que ele ficasse chateado e achando que eu estava inventando uma mentira esfarrapada.

— Eu sou apaixonada por uma pessoa, mas ela não sente o mesmo por mim, entende? Tivemos algo... – suspirei, lembrando-me da noite que me entreguei de corpo e alma para Edward – Intenso. Nós tínhamos uma espécie de amizade antes disso e eu acabei pulando em um lugar perigoso.

— Hoje você ainda gosta dessa pessoa. – ele afirmou, mas ainda assim balancei a cabeça em acordo.

Adam suspirou, voltando a se sentar ao meu lado.

— E se você sabe que essa pessoa não corresponde você, porque não desiste?

— É difícil. – murmurei, mantendo meus olhos baixos.

— Bella, olha para mim. – fiz o que ele pediu – Eu não estou te pedindo em namoro, muito menos em casamento. Eu só estou pedindo uma chance. Irmos aos poucos, conhecer melhor um ao outro. Não acho que seja crime.

— E não é. – neguei com a cabeça – Mas eu ainda estou perdida no vendaval dos meus sentimentos, Adam. E eu não acho justo te puxar para dentro dele. Desculpe-me se te passei alguma ideia errada.

Ele deu um pequeno sorriso e uniu nossas mãos mais uma vez.

— Você não passou nenhuma ideia errada, Bella, e, por favor, pense com carinho na minha proposta. Eu não quero desistir de você. – colocou um fio solto do meu coque atrás da minha orelha.

— Não acha que merece alguém melhor? – arqueei a sobrancelha, sorrindo torto.

— Acho que mereço você. – colocou simplesmente, aproximando-se para um beijo na minha bochecha – Estarei aqui. – sussurrou, antes de se afastar e tomar o rumo para fora da cozinha.

Fiquei alguns minutos na cozinha, encarando o nada, até decidir que era hora de tirar aquela roupa e tomar um bom banho. Ao passar pela geladeira, notei que lá tinha um recado de Renné, avisando que tinha ido à casa de Alice e não sabia a que horas voltaria. Dei de ombros e passei direito para o meu quarto, a fim de realizar as atividades previamente pensadas. Emmett provavelmente estava em seu quarto.

Como eu tinha jantado pizza na mansão – pois é, o chocolate quente se transformou em pizza também – eu não estava com fome, então decidi pegar uma taça de vinho e ir para a varanda do apartamento, apreciar a noite fria de Nova York. Esperava do fundo do meu coração que o ar gelado adentrasse em meu cérebro e eu fizesse parar um pouco de pensamentos tão efusivos.

Como se não bastasse minha confusão com Edward Cullen, ainda tinha a questão com Adam para perturbar-me o juízo.

— Eu só queria uma vida amorosa normal. – choraminguei, enterrando minha cara no parapeito da varanda.

— A coisa está complicada, hein? – a voz de Rose fez-me saltar no lugar.

— Que susto. – falei, colocando uma mão sobre o coração – Pare de chegar feito fantasma!

Ela riu, vindo ficar ao meu lado.

— O que você está fazendo aqui fora nessa noite congelante? E ainda mais com uma taça de vinho? – arqueou uma sobrancelha, pegando a taça e tomando um pouco do conteúdo.

— Precisava de um pouco de vento frio no rosto. – resmunguei, tomando a taça de suas mãos e voltando o meu olhar para as camadas de prédios que construíam a cidade.

— E porque precisava?

— Porque estou cansada. – confessei, colocando todo o peso naquelas palavras – Estou cansada do amor idiota que sinto por Edward Cullen, cansada de não conseguir esquecer isso e cansada de ver todo mundo feliz, enquanto eu sou aquela presa em marcha ré. – suspirei, bebendo todo o conteúdo da taça uma vez só – Eu só queria esquecer-me disso tudo por um momento, mas agora Edward está dando uma de bom moço e deixando-me louca aos poucos. Tulipas de agradecimento, simpatia exagerada, falando coisas doces...

— Coisas doces? – Rosalie interrompeu, olhando-me chocada e com uma pontada de algo que eu não consegui decifrar.

— Hoje ele disse que eu era especial, que não queria mais me machucar e que queria que voltássemos a ter uma boa relação. Isso está me deixando louca, Rose. – terminei com a voz trêmula, sentindo as lágrimas se acumularem nos meus olhos.

— Bella, você precisa relaxar. – ela disse, colocando uma mão sobre meu ombro – Talvez Edward só esteja querendo uma chance para recomeçar.

— E talvez eu não queira recomeçar. Eu estava disposta a dar-lhe amor, mas ele preferiu a falta dele. – murmurei, deixando a mágoa falar mais alto.

Tirei a mão de Rose do meu ombro e segui em direção ao meu quarto. Eu só queria cair na cama e dormir para desligar-me de tudo.

[...]

Eu corria. Corria por um vasto campo verde, com árvores e pequenas flores. Corria com um grande sorriso no rosto e os cabelos ricocheteando no vento. Estava em uma brincadeira onde eu não poderia deixar que me pegassem.

— Não adianta fugir, Bella. Eu vou te alcançar. – disse a voz de veludo, fazendo-me parar um pouco o ritmo.

A voz aqueceu o meu coração e ampliou ainda mais o meu sorriso. Era a voz de Edward. Olhei para trás, querendo ver o seu rosto. Era ele quem me perseguia com um sorriso bonito, olhos vibrantes e os cabelos bagunçados. Ele vestia amarelo e parecia mais belo do que nunca.

Voltei o olhar para as minhas próprias roupas, percebendo que eu vestia rosa. Um vestido rosa, dando-me um aspecto de jovem apaixonada. Eu estava linda!

Feliz, voltei a olhar para frente, mas acabei estacando ao encontrar uma figura parada próxima a uma árvore. Era um homem alto e o seu rosto estava escondido parcialmente pela sombra. Ele vestia blusa e calça vermelhas e tinha os pés descalços.

— Bella. – falou a voz, saindo das sombras.

Espantei-me ao perceber que era Adam. O que ele estava fazendo ali?

— Adam?

— Venha comigo, Bella. Eu posso te fazer feliz, eu nunca vou te magoar. Eu sou o melhor para você. O melhor. Eu vou ser o que ele nunca foi e nunca será. – falou com o tom de voz baixo e hipnótico.

Querendo fugir, tentei correr e acabei tropeçando em meus próprios pés. Mas, de alguma forma estranha, eu não caí. Parece que algo invisível me mantinha presa ali.

Espantada, olhei para trás, percebendo que Edward também tinha parado a uma boa distância. Sua roupa não era mais amarela; era cinza. A cor parecia sintonizar com seu olhar perdido.

Edward estava se apagando.

O sentimento de perda se apossou do meu corpo e eu tentei correr para ele, mas algo invisível me mantinha presa no mesmo lugar.

— Edward... – falei em sussurro, querendo chegar até ele.

Ele deu um sorriso triste.

— Eu amo você.

Com essa confissão, ele fechou os olhos, desaparecendo do lindo campo. O lugar que antes transbordava vivacidade, agora parecia se apagar aos poucos, como se o principal motivo de mantê-lo vivo tivesse morrido.

Desesperada, gritei.

Acordei sem fôlego, sentindo meu coração pulsar forte em meu peito. Que merda de sonho tinha sido esse? E o pior é que todas as emoções estavam vividas em mim, causando-me um desespero desnecessário.

— Que insano. – sussurrei, passando a mão pela minha testa, percebendo que ela estava suada.

Uma batida na porta do meu quarto foi dada e logo a cabeça de Renné apareceu. Ela parecia preocupada.

— Está tudo bem com você? Eu escutei algumas lamúrias.

Passei a mão pelos meus cabelos, respirando fundo.

— Foi só um sonho ruim.

Ela sorriu de forma solidária e veio sentar-se ao meu lado na cama. Pegou algo em cima da cômoda; uma liga para amarrar cabelo. Renné passou a mão pelos meus cabelos, levantando-as a certa altura para poder prendê-los.

— Lembra-se do que eu falava quando você era pequena e tinha sonhos ruins? – perguntou com um sorriso amoroso, pousando as mãos sobre o colo.

— Que eram apenas sonhos ruins. – balbuciei, recordando-me das palavras.

Renné sorriu outra vez, agora de forma satisfeita, e beijou minha testa, exatamente como ela fazia quando Emmett e eu éramos pequenos.

— Querendo conversar, estarei aqui para qualquer coisa. Não hesite em me procurar. – disse de forma séria – Seu irmão está querendo ir tomar café em uma Starbucks e gostaria de saber se você quer ir.

— Mande-o apenas trazer um café para mim. Ele sabe o sabor. – ela assentiu, levantando-se da cama e deixando o quarto logo em seguida.

Tombei em minha cama, sentindo agora o peso da nostalgia me esmagar. Minha mãe estava sendo ótima nesses últimos dias, realmente agindo como uma mãe. Ela se importava e eu não podia negar isso. E não podia negar que aquilo me trazia alegria, afinal, eu senti falta de uma mãe.

[...]

Manhã de sábado. Cinzenta. Chuvosa. Triste. Descrevendo exatamente como eu me sentia. Principalmente quando nem em sonhos você pode escapar do que te cerca. E com palavras que pareciam absurdas ao lembrar.

Eu amo você.

Pufff! Que idiotice.

Depois da higiene matinal, eu arrastei a minha bunda para o sofá, a fim de distrair-me com alguma bobeira da televisão. Encontrei um canal de desenhos e deixei lá, assistindo à bobeira dos personagens.

Estava quase dormindo outra vez quando a campainha foi tocada, fazendo-me pular do sofá. Irritada e xingando até a quinta geração do ser humano que estava tendo a proeza de perturbar o meu cochilo, caminhei até a porta, abrindo-a com violência.

— Bella, você está parecendo um zumbi! – exclamou Emmett, rindo feito um idiota.

— E essa porra de apartamento é seu. Para que apertar a campainha? – grunhi, deixando meu mau-humor falar mais alto.

— Ih, parece que alguém acordou com a pá virada. – zombou, entrando no seu apartamento com Renné logo atrás. Ela me passou o meu café – E eu só queria ver se você tinha levantado seu traseiro gordo da cama.

— Vá se ferrar, Emmett. – disse azeda, marchando de volta para o sofá com o meu café.

— Eu também te amo, formiga. – piscou os olhos para mim e eu lhe dei o dedo do meio – A senhora está de prova do jeito que ela me trata. E olha que tudo que eu dou são amor e carinho. – fingiu falsa tristeza, olhando para a nossa mãe como um cão que caiu da mudança.

Revirei os olhos e Renné riu.

— Ah, estou indo jogar baralho, beber, jogar conversa fora, essas coisas, no apartamento do Adam junto com uns caras. Rose me ligou perguntando se você quer ir passar o dia na casa de Alice. Ela vai para lá com a mamãe. Esme, Carlisle e os pais de Jasper e Rose chegam hoje de viagem. – explicou, sentando-se ao meu lado.

— Não estou com vontade de sair de casa hoje. – resmunguei, abraçando-me com uma almofada.

— Ok, senhorita TPM. Vou ligar para Rose avisando. – revirou os olhos, e saiu da sala.

Renné tomou o seu lugar, olhando-me com o mesmo olhar preocupado de mais cedo.

— Quer que eu fique? Já passei muito tempo na Alice ontem. – sugeriu.

Sorri fracamente para ela.

— Não precisa. Vá e se divirta com as garotas.

Renné lançou mais um olhar preocupado para mim, antes de se levantar e murmurar algo como ‘’preciso me arrumar’’. Minutos depois, vi meu irmão sair do apartamento com um chapéu ridículo na cabeça e cantarolando algo; e minha mãe caminhar de forma esbaforida para fora, falando consigo mesma que Rosalie já estava a esperando.

Quando só restaram a TV da sala e eu, decidi que passaria o sábado todinho no sofá. Corri até meu quarto para pegar o meu edredom, passei na cozinha, peguei um bocado de besteira e voltei para sala, agora assistindo a um filme.

Em determinado momento do meu dia épico, eu comecei a divagar. Pensei em juntar um dinheiro, comprar um pequeno apartamento em um bairro mais periférico e encher a casa de gatos. Pelo menos eu não morreria só e gatos são excelentes companhias: ronronam quando você faz carinho, deitam perto de você e te ignoram na medida certa.

— Eu sou patética. – murmurei para o nada.

A campainha do apartamento tocou pela segunda vez. Olhei com desprezo para porta, não querendo em nenhum momento abri-la. Como não voltou a tocar, desviei a atenção para TV outra vez.

Cinco minutos depois, a campainha tocou de novo. Levantei irada do sofá, imaginando várias formas de matar Emmett caso ele estivesse tirando uma com a minha cara novamente. Abri a porta com força, pronta para soltar os cachorros, mas, estranhamente não tinha ninguém. Olhei para um lado e não vi ninguém; virei para o outro e percebi uma pequena figura se escondendo por trás do grande vaso de plantas.

Semicerrei os olhos, pronta para falar umas poucas e boas para o moleque.

Qual é, nem em pleno sábado se tem paz?

Ô vida bandida!

Coloquei o primeiro pé para fora do apartamento e algo mais alto fez-me sobressaltar e olhar para baixo. E lá estava um enorme buquê de tulipas vermelhas e amarelas. Reconhecendo esse mesmo cenário, baixei para pegar o buquê e cacei por um bilhete, encontrando-o com um pouco de dificuldade por conta da quantidade de tulipas.

Abri o papel da mesma coloração que o do sábado passado e li o que tinha digitado.

‘’Amarelas e vermelhas. Apaixonantes e alegres. Podem ser suas cores preferidas, mas elas também lembram você.

Com amor, para Bella.’’

Diferente do último sábado, eu não me senti boba pelos elogios. O meu mau-humor me consumiu e a única vontade era tacar aquele belo buquê na cabeça do infeliz que me mandou. Era tão terrível mandar-me uma porra de convite para jantar?

O barulho do elevador sendo chamado tirou-me das minhas lamentações internas, e eu atentei para ver onde o moleque estava. O pequeno garoto dava pequenos pulos enquanto esperava a porta abrir.

— Ei, você aí. – chamei, colocando as tulipas no chão outra vez.

Ele arregalou os olhos para mim e correu em direção as escadas. Com um grunhido, coloquei o bilhete no bolso e fui atrás dele. Seus passos eram pequenos, mas precisos, dando uma boa distância entre nós dois.

— Pare! Eu só quero saber quem mandou as flores. – gritei, tentando alcançá-lo.

Aumentei mais o passo e quando ele estava prestes a pisar no último degrau da escadaria, consegui puxá-lo pela camisa que usava. Coloquei o garotinho contra parede e olhei bem em seus olhos amedrontados. Apesar de não está no meu melhor dia, não queria assustá-lo. Ansiava apenas por respostas.

— Quem mandou você entregar essas tulipas? – inquiri com a voz mais suave que o meu humor permitiu.

Ele engoliu em seco.

— Eu-eu-eu não sei, moça. – gaguejou, tentando soltar minha mão do seu braço.

— Dê-me o nome que eu lhe solto. – ofereci, sorrindo amigavelmente.

Ele franziu o cenho, olhando para os lados.

— Eu não sei o nome dele. Só sei que é um rapaz alto, com o cabelo ruivo, o olho bem verde e um sorriso simpático. Quer dizer, ele veio no sábado passado, mas hoje veio outro cara a mando dele. Deram-me quarenta pratas para isso, moça. A culpa não é minha. – cuspiu a verdade.

Chocada demais para manter o mínimo de força em meu aperto, eu o soltei. Sem esperar por mais, o garotinho continuou sua corrida, deixando-me atônita para trás. O único homem que eu conhecia com aquelas características era Edward Cullen, entretanto, ai estava o grande problema: porque Edward estaria me mandando tulipas? E o pior, porque as malditas frases? A alegria que demonstrava toda vez que me via? Que tipo de jogo era aquele?

Sentindo o choque sendo substituído gradativamente pela raiva ao fazer os questionamentos e não obter nenhum tipo de resposta concreta, eu decidi que precisava tirar essa história a limpo. Edward Cullen diria o que ele queria com o espetáculo todo ou eu não me chamo Isabella Marie Swan.

Decidida, marchei furiosamente para o apartamento do meu irmão. Peguei o buquê de tulipas e os coloquei ao lado dos outros dois que eu tinha ganhado. Tirei o pijama que eu vestia – e que depois de muito tempo me toquei que tinha o colocado de novo após o banho – e coloquei uma roupa qualquer. Amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo e peguei em minha carteira dinheiro o suficiente para ir e voltar de táxi.

Sem paciência para elevador, praticamente corri pelas escadas, tendo a sorte de encontrar um táxi deixando alguns passageiros no prédio. Sem delongas, enfiei-me lá, dizendo o destino para o motorista. Um pouco assustado pela minha postura hostil, o homem dirigiu mais rápido do que o normal, provavelmente querendo se livrar da louca que transportava.

Assim que ele parou em frente à mansão, joguei o dinheiro de qualquer jeito para o moço e sai do carro, sentindo minha motivação crescer cada vez mais. Sem problemas para entrar na propriedade, não demorou muito para eu está apertando a campainha com uma força exagerada.

A porta branca de madeira entalhada foi aberta, revelando o rosto de Esme. Minha coragem caiu um pouco ao fitar o sorriso que cresceu em seu rosto ao me reconhecer.

— Bella, querida, como vai? – perguntou simpática, vindo abraçar-me.

— Estou bem. – sorri fracamente, soltando-me dela – O seu filho está? – fui direto ao ponto, querendo resolver aquilo o quanto antes.

Esme fez um muxoxo.

— Oh, querida, Edward viajou de madrugada para Londres. Está prestes a fechar um contrato com uma empresa brasileira e precisou ir para matriz discutir o processo com o primo de Carlisle. Ele só volta na véspera de natal. – franziu as sobrancelhas, notando o meu rosto desolado – Não sabia disso?

— Não. – murmurei derrotada, passando a mão pelos cabelos.

Parece que toda a energia que tinha me movido até ali tinha acabado. Edward não estava. Malditamente não estava.

— Você está realmente bem? Parece um pouco pálida. – Esme perguntou preocupada.

— Estou bem. – apressei-me em dizer, querendo sair o mais rápido possível dali – Obrigada, Esme. – agradeci e praticamente corri, não dando oportunidade para uma réplica.

[...]

Estava parada em frente aos três buquês de tulipas. As encarava por cerca de meia hora, não sabia ao certo o porquê. Também não sabia qual era o meu propósito com aquilo. Passei a mão sobre as pétalas, e fechei os olhos para poder sentir a textura melhor.

Arranquei uma pétala.

Arranquei outra.

E mais outra.

E mais outras e outras.

Quando percebi, os três buquês estavam mortos aos meus pés, mas um peso significativo tinha sido tirado de cima de mim. Eu não queria aqueles buquês sem explicação. Sem fundamentos. Pensei em rasgar todos os bilhetes, mas não consegui. Algo me deteve, sussurrou-me que os guardasse em algum canto e assim o fiz. Deixei os três papeis bem dobrados dentro de um dos meus livros.

Limpei a bagunça de tulipas do meu quarto com eficiência e, mesmo com a chuva torrencial que começou a cair lá fora, desci com o saco de lixo para colocá-lo na lixeira do prédio. Ainda fiquei um pouco sob a chuva, vendo o plástico com as flores mortas sendo constantemente molhado.

Com um suspiro, voltei para dentro. Tomei um banho relaxante, revigorante, que limpou os lugares mais estranhos do meu ser. Limpei minha pele com o sabonete de morango, sentindo o cheiro bom chegar ao meu nariz, trazendo-me a sensação de conforto.

Aos poucos, voltei ao meu eu de sempre: louca e alegre, mas agora com uma convicção: Edward e eu colocaríamos tudo em pratos limpos assim que ele voltasse; no jantar de natal. Daquela noite não passaria.

[...]

Só vim ver minha mãe e irmão na noite de sábado, quando Emmett chegou perguntando se tinha comida com um olhar muito estranho para o meu lado. Ignorando as esquisitices dele, falei que tinha feito frango xadrez com arroz e logo o esfomeado veio tirar sua casquinha da comida.

Jantamos Renné, Emmett e eu em uma conversa amena, falando sobre o dia que cada um teve. Diferente do que eu imaginava Emmett não estava bêbado, e isso se devia ao fato de ele ter se concentrado mais no jogo do que na bebida. O resultado é que ele ganhou as apostas e agora estava duzentos reais mais rico.

Renné parecia alegre em falar como foi bom reencontrar Esme e Carlisle, e de como os pais de Rose e Jazz eram agradáveis. Eles tinham conversado a tarde toda sobre assuntos diversos e comido um bolo de abacaxi maravilhoso que Kate tinha feito.

— Alice sentiu sua falta. – comentou Renné, após descrever o seu dia – Ela disse que queria falar com você em breve e não tinha escapatória.

— Típico de Alice. – revirei os olhos, remexendo a minha comida com o garfo.

— Será que tem algo a ver com um alguém especial? – maliciou Emmett, levantando as sobrancelhas sugestivamente.

Franzi o cenho.

— Que?

Ele riu baixinho, mas não comentou mais nada. Ainda fiquei olhando-o estranho por alguns minutos, até voltar à atenção para o meu prato e finalizar minha refeição.

No fim do jantar, Emmett e eu ficamos com a louça para lavar. Renné deu um beijo em nossas bochechas e seguiu para sala, dizendo que assistiria a algum filme na netflix.

— Então, quem é o cara? – perguntou Emmett, enquanto eu lhe estendia um prato recém-ensaboado para que ele pudesse enxaguar.

Parei de enxaguar o segundo prato para fitá-lo. Meu irmão já tinha os olhos bem atentos em mim.

— Que cara?

— O cara pelo qual você dispensou o Adam.

Suspirei, voltando a ensaboar o prato em minha mão.

— Vocês já falaram sobre isso? – arqueei uma sobrancelha, entregando-lhe o objeto de vidro.

— Claro! Eu preciso saber como andam as coisas. – disse como se aquilo fosse óbvio.

— Já passou pela cabeça de que ‘’as coisas’’ é a minha vida? – sorri duramente para ele, esfregando a colher com uma força maior do que o necessário.

— E já passou pela sua cabeça que a sua vida é importante para mim? – não respondi, continuei somente lavando os talheres e os passando – Sério, Bells. Eu só quero saber quem é o cara. Ou você inventou isso tudo para dispensar o Adam? Não parece um jogo honesto.

— E não é. Por isso, não menti. – pausei por dois segundos – O que o Adam te disse? – perguntei, mantendo meu olhar no trabalho que eu realizava.

— Ele só me contou o básico. Disse que vocês tinham conversado, que você tinha outra pessoa em pensamento, mas essa pessoa parecia não ter você em pensamento. Sem contar que ele enfatizou bastante a questão de ‘’uma chance’’. – contou enquanto eu lhe passava os copos.

— É um bom resumo. – murmurei.

Emmett soltou um suspiro, desligando a torneira, dando-me um claro sinal de que eu deveria olhar para ele. Subi meus olhos para os do meu irmão, encontrando uma seriedade que só existia em Emmett em duas ocasiões: quando ele estava trabalhando ou quando o assunto era sério mesmo.

— Você sabe que eu quero o melhor para você, sim? – assenti com a cabeça – E eu só me preocupo com o seu bem estar. Eu só quero ver você feliz, Bella, e se quem você gosta não te dá o valor que merece, talvez esteja na hora de olhar o mundo ao seu redor.

Com isso, ele desviou o olhar, pegando um dos copos ensaboados. Emmett tinha percebido minha falta de interesse em falar sobre o assunto e deixado implícito que não me importunaria com isso caso eu não quisesse contar. No entanto, eu sabia que aquilo o entristecia. Prometemos que sempre ajudaríamos um ao outro e saber que ele estava imponente no assunto o matava de certa forma.

— É o Edward. – revelei, soltando uma respiração pesada no fim.

Emmett paralisou. Seus olhos fixaram-se na água escorrendo da torneira e suas mãos ficaram suspensas no ar. Os vincos de sua testa tornaram-se bastante visíveis.

Agoniada com o silêncio, desliguei a torneira, quebrando o seu olhar.

— Bella, você me disse que não tinha amor platônico. – sussurrou, voltando seu olhar confuso para mim.

— E não tinha! – neguei prontamente, mas logo recuei um pouco – Bom, pelo menos eu acreditava que não...

— Como foi isso?

— Sei lá. – dei de ombros, sentindo a frustração começar a cair sobre mim – Eu não gostava de como Edward era no começo, mas com o passar do tempo, quando ele começou a mostrar o seu coração, eu vi que ele tinha algo de bom. Foi inevitável, Emmett. Uma vez nos beijamos, outra... – balancei a cabeça, não querendo ter que contar os detalhes para o meu irmão – Enfim, sei que aconteceu e que não foi do jeito que eu queria.

— Ele era noivo da Tanya ainda, sim? – desviei o olhar, sentindo-me constrangida com a pergunta – Por isso que você se envolveu no sequestro? Caramba, tudo parece tão claro agora! Porque não pensei nisso antes? – perguntou a si mesmo, jogando o pano de prato em seu ombro em cima do balcão.

— Tanya não sabia que tínhamos tido um envolvimento. Ela tinha ciúmes da amizade que eu tinha com o Edward.

— Amizade? – arqueou as sobrancelhas para mim – Tem certeza que era só amizade?

Olhei-o ofendida.

— Que tipo de pessoa acha que eu sou? Eu só tive algo mais... Profundo com ele uma única vez, porque tudo que eu queria era mostrar o quanto eu gostava dele e o quanto eu queria que aquilo fosse correspondido! – desabafei, sentindo as lágrimas se acumularem os meus olhos – Eu nunca ficaria com alguém se eu não tivesse sentimentos. E ele nem gostava dela, só gostava do fato de ela não causar-lhe nenhum tipo de emoção verdadeira! – exclamei com o meu tom de voz aumentando duas oitavas. Estava deixando o sentimento ruim me dominar.

Emmett olhou-me de forma assustada.

— Eu não estou pensando o pior de você, formiga. Eu só... – interrompeu-me, puxando-me para os seus braços – Estou tão surpreso com tudo isso. Quer dizer, como eu não vi que você gostava de alguém? Como Edward pode ser tão idiota em não querer nada com você? Eu estava até gostando dele, mas agora quero dá-lhe um soco na cara. – beijou os meus cabelos e eu ri fraquinho, engolindo minhas lágrimas.

— Seria uma boa. – brinquei, afastando-me dele – Desculpe-me por não ter dito nada. Eu só... Não sabia como falar. Tinha medo da sua reação. – abaixei o olhar, passando o pé pelo chão da cozinha.

— Eu te amo, Bella. Toda vez que sentir-se em dúvida com relação a algo sobre mim, lembre-se disso. – assenti, indo para um novo abraço – Quem tanto sabia? Alice, Rose?

— E Jake. Anne, Jessica, Bree, talvez Pietro... – completei, sentindo minhas bochechas ficarem rubras.

— Porra, formiga, até o idiota do Jake? – rosnou, fazendo-me rir da sua irritação – Saiba que eu vou ficar chateado com você pelo resto do ano. – emburrou, afastando-me dele.

— Mas hoje é dia oito de dezembro. Não vai ser muito tempo. – sorri sarcasticamente.

Emmett cruzou os braços, virando o rosto.

— É o suficiente. – deu de ombros.

Eu pulei para lhe dá um beijo no rosto, apertando suas bochechas logo em seguida.

— Eu amo você e esqueça isso, sim? – pedi, segurando seu rosto para poder olhar em seus olhos.

Emmett sorriu de lado. Não vem coisa boa...

— Esqueço se você der uma chance ao Adam. – arqueou uma sobrancelha, achando-se um sabichão.

— Que nóia é essa com o Adam? – questionei realmente curiosa.

— Ele é legal, bonito e eu gosto dele. – deu de ombros – Tem mais algum motivo?

— Tem. – bati em seu peito – Eu não gosto dele dessa forma.

— Mas poderia! Até beijinhos já trocaram.

Bufei, dando-lhe as costas para sair da cozinha.

— Esqueça as tulipas. – falou, fazendo-me olhar para trás, chocada com sua cartada. Ele sorriu vitorioso – Então é mesmo o Cullen que estava te mandando as tulipas?

— E o que isso tem a ver? – desconversei, colocando uma mão na cintura.

— Tudo. Esqueça as tulipas e foque-se na psicologia. Nunca se sabe quem pode se sentar ao seu lado. – piscou um olho, sorrindo galanteador.

Com os olhos semicerrados, peguei o pano de prato em cima do balcão e joguei nele, fazendo-o se contrair e rir. Saí da cozinha com as gargalhadas do meu irmão de fundo e com uma única certeza: ele ainda me importunaria mais.

[...]

Era cerca de cinco horas da tarde de segunda feira. Depois de muita chuva, o tempo pareceu dá uma trégua para que as pessoas pudessem circular sem os seus guarda-chuvas. Eu tinha acabado de atender um cliente, quando Alice entrou pela porta da frente, empurrando um carrinho duplo com os gêmeos dormindo confortavelmente nele.

Rapidamente, Ashley e Jane foram para cima da patroa, a fim de dá uma babada em cima dos bebês. Elas os elogiavam, falando que eram as coisas mais lindas e fofas do mundo. Alice sorria toda orgulhosa por suas pequenas crias.

— Quais são os nomes? – perguntou Ashley, brincando com o pezinho de Chase.

— Chase e Charlotte.

— Lindos. – elogiou Jane, encantada com a quantidade de cabelo que o pequeno garoto tinha.

Alice subiu o olhar dos seus filhos para a loja, olhando ao redor. Ao me localizar, caminhou graciosamente até mim com um sorriso no rosto. Ainda era um pouco estranho vê-la sem aquele enorme barrigão.

— Bella! – disse contente, abraçando-me de forma apertada – Eu preciso raptar você, e sei que já é fim de expediente aqui. Onde está Rose? – soltou-se de mim, olhando para os lados.

— Ela está no escritório. – avisei, mas logo franzi o cenho, ganhando consciência de outro fato – Porque quer me raptar?

— Jake está no carro e nós queremos conversar com você. Rose nos disse que estava recebendo tulipas anonimamente. – sorriu outra vez, tirando os óculos escuros do seu rosto – Eram do Edward, sim?

Semicerrei os olhos.

— Você sabia?

Seu sorriso se ampliou, e ela colocou os óculos de volta no rosto.

— Eu sei de coisas, mas isso não quer dizer que eu possa falar de todas elas. – deu uma de misteriosa.

— Tu tá metida com o que, Alice? – pedi, colocando as mãos na cintura – Odeio quando quer dá uma de misteriosa.

— A história não é minha, Bells. E eu disse que não ia me meter. – franziu os lábios, tocando a ponta do meu nariz – Vamos? Ashley fecha a loja hoje. Chame Rose.

— Para onde vamos?

— Logo verá, querida.

[...]

— Então quer dizer que o buquê de tulipas do aniversário não foi o único? – perguntou Jacob, devorando um pedaço de pizza.

Pois é. Alice decidiu vim para uma pizzaria, pois estava cansada de sua dieta e morrendo de vontade comer algo gorduroso. Aproveitou que Jasper teve que ir trabalhar – pois ele tinha uma audiência marcada há dois meses – e fugiu com seus dois pimpolhos. Agora estávamos aqui, os seis, os bebês dormindo e os adultos se esbaldando na pizza com coca.

— Sim. E eu só descobri que os outros dois vieram do querido irmão de Alice porque tive que importunar a criança que os levava para minha porta.

Jacob olhou-me de forma divertida.

— E ainda mandava uma criança entregar? Isso tá ficando cada vez melhor. – riu, passando o guardanapo por sua boca.

— Eram bonitos, pelo menos? – indagou Alice, tomando o refrigerante como uma lady.

Olhei-a confusa.

— O que?

— Os buquês, sua lesada.

Revirei os olhos.

— Eram. Mas joguei fora. – dei de ombros, mordendo meu pedaço de pizza de frango com catupiry.

— Jogou? – perguntaram ambos. Alice com um tom de indignação; Jake, de diversão.

Rose parecia alheia ao assunto, comendo sua pizza tranquilamente. Ela já tinha dado falta dos jarros quando invadiu o meu quarto.

— Joguei. Eu não estou a fim de adivinhar Edward Cullen. Vou ter uma conversa bem sincera com ele quando o mesmo voltar de Londres. Quero saber qual é o real motivo disso. – anunciei com a mesma determinação que tive ao tomar a decisão.

Alice, Rose e Jacob se entreolharam. A baixinha suspirou, Jake riu outra vez e minha cunhada deu de ombros.

— Bella é por isso que eu te amo. – Jake beijou minha bochecha, sujando-a de catchup.

Fiz careta, pegando um guardanapo em cima da mesa.

— Olhe bem onde você bota essa boca antes de esfregá-la na minha cara. – resmunguei, tirando os resquícios do catchup do rosto.

Ele revirou os olhos.

— Da próxima vez, eu lambo. – piscou um olho.

Olhei-o com cara de nojo e joguei-lhe um guardanapo.

— Como vocês são nojentos. – reclamou Alice, olhando feio para nós dois – Enfim, deixando a nojeira de lado... – franziu o nariz, cortando a fatia de pizza – Bella disse que saiu para farrear na sua boate, Jake? E que estava com o novo candidato para a vaga no coração de Bella Swan? – sorriu sarcástica, fazendo Jacob arregalar os olhos com interesse.

— Dessa eu não sabia. – olhou para mim – Quando você apareceu lá?

— No sábado.

— Ah, eu me dei folga. – fez um sinal de desdém com a mão – Foi só você e o fugitivo de direito?

— Não. Jess, Bree e Pietro estavam lá. Fomos somente nos divertir.

— E chegar bêbados em casa, cantando, acordando todo mundo e vomitando o estômago no dia seguinte. – murmurou Rose, prestando atenção na fatia em seu prato.

Olhei chateada para ela.

— Combinamos não tocar mais no assunto.

Ela riu, dando de ombros. Bandida!

— Vamos ver pelo lado bom: pelo menos ela não vomitou em ninguém dessa vez. – zombou Jacob, gargalhando do episódio trágico.

— Jake!

— Credo. Aquele dia foi louco. Queríamos descolar uns beijos para Bella, e tudo que ela deu foi uma vomitada no rapaz. – comentou Rose, olhando para o nada – Que desperdício. – murmurou, bebendo o seu refrigerante.

— Mas e aí? Rolou algum amasso? – Jake mexeu as sobrancelhas maliciosamente.

Involuntariamente, minhas bochechas ficaram vermelhas. As meninas automaticamente arregalaram os olhos e Jacob só sorria com interesse, como se dissesse ‘’eu sabia que algo do tipo ia acontecer’’.

— Não me diga que ficou com ele? – Alice questionou, parecendo assustada.

— Bom... – remexi com as mãos em meu colo – Estávamos um pouco bêbados e acabou saindo alguns beijos, pelo o que eu lembro. – franzi o cenho.

Pelo o que eu lembro. Uau, Bella, estamos progredindo. – zombou Rose – Que tal brindarmos a isso? – levantou seu copo de refrigerante.

— Você é cruel. – declarei para a minha cunhada.

Ela sorriu diabolicamente. Meu irmão estava ferradinho nas mãos de Rosalie Hale. Principalmente se eles se casarem um dia.

— E eu pensando que Bella era a santa desse grupo. Como a gente se engana com as pessoas. – Jake fingiu chateação.

Alice e Rosalie riram, concordando com o moreno. Já eu bufei, cruzando os braços.

— Qual é. Vou ter que ficar me arrastando a vida inteira por alguém que não me quer?

Eles se entreolharam outra vez.

— Claro que não, cunhadinha. – disse Rose de forma amorosa, apertando minha bochecha.

— Você, sei lá, gosta do Adam pelo menos? – Alice inquiriu de forma despreocupada.

Suspirei, largando o garfo e a faca em cima do prato.

— Eu gosto do Adam como amigo, mas talvez eu não descarte a possibilidade de tentar algo no futuro, não sei. É meio incerto ainda. – desabafei, lembrando-me da merda que era minha vida amorosa.

Eles se entreolharam pela terceira vez. Semicerrei os olhos, sentindo-me incomodada e excluída.

— Querem parar de fazer isso? – pedi irritada.

— Isso o que, mulher? – Rose perguntou confusa.

— Ficarem se entreolhando. Sinto como se vocês estivessem me deixando à margem.

Os três bufaram em uma sintonia incrível. Ótimo, além de safados e cruéis, meus amigos também eram estranhos.

— Saindo do assunto vida amorosa perturbada de Isabella Swan...— joguei a fralda de pano de um dos gêmeos em Jake – Gostaria de falar sobre as aulas de dança - sorriu de lado, colocando a fralda em seu colo de forma inabalável.

— Aulas de dança? – perguntou Alice, animando-se com o assunto.

— Sim. – sorriu, ajeitando-se em sua cadeira – Lembra que eu te pedi para ser minha parceira, B? – assenti – Então, as aulas começaram em fevereiro e serão no final da tarde.

— Ótimo. As minhas aulas da universidade serão pela manhã. – proferi, bebendo o resto do meu refrigerante.

— Posso me inscrever? Estou precisando de um pouco de dança. – remexeu-se Alice.

— Eu também quero. – candidatou-se Rose.

— Você será a primeira da lista, mamãe.— Jake disse com carinho, passando a mão pelos cabelos de Alice – E você, loira, vai ser a segunda. – piscou para ela, que enviou um beijo ao vento para Jake. Esse fingiu pegar e colocá-lo no coração.

— Essa é a cena mais tosca que eu já vi. – falei com azedume, ganhando vaia dos três.

Para a minha alegria, Alice, Rosalie e Jacob não voltaram ao assunto ‘’tulipas de Edward Cullen’’. Continuamos discorrendo sobre dança pelo resto do tempo em que fazíamos o nosso lanche tardio, ou jantar adiantado, como queira chamar. Os bebês permaneceram dormindo pelo resto do tempo – só acordaram para mamar um pouco antes de irmos.

Estava me sentindo bem e satisfeita. E era tudo o que importava no momento.

Edward

Só vim perceber que sentia falta de Londres quando coloquei meus pés aqui, depois de anos sem fazer uma única visita. Quando Melanie completou um ano, achei melhor nos mudarmos para os EUA. Ficaria mais próximo dos meus pais, eu poderia cursar a universidade na Columbia e trabalhar na filial de Nova York.

Lembro-me que minha avó não ficou muito satisfeita com essa minha decisão, pois queria que eu tomasse a presidência da matriz, não de uma filial. Entretanto, ela não teve muito tempo para fazer-me mudar de ideia. Morreu de um enfarto fulminante antes que soubesse que seria avó pela segunda vez. Apesar de a minha avó ter me passado um pouco de sua amargura, eu sentia falta dela. Ela foi a minha mentora por muito tempo, além do fato de ser a senhora que brincava comigo e sorria feliz por isso. Pena que a morte do meu avô levou o melhor dela.

Peguei a sua foto em cima da lareira da sua antiga casa – agora habitada pelo primo do meu pai, Alfred, sua esposa e seus dois filhos – e sorri saudosamente, vendo o seu rosto sério e perfeitamente arrumado.

— Acho que estou lhe devendo uma visita. – murmurei para o retrato, devolvendo-o para o seu local.

— A tia Elizabeth faz falta, sim? – perguntou o meu primo.

Olhei para trás, deparando-me com o homem de cinquenta anos bem conservado. Ele tinha os cabelos loiros – parecidos com os do meu pai –, olhos castanhos e um terno bem alinhado.

— Sim. Ela me ensinou quase tudo o que eu sei sobre ser um empresário. – expressei-me, sentando-me em uma das poltronas.

Alfred sorriu para mim, caminhando para uma pequena adega que tinha na sala. Era mantida desde a época que o meu avô comprou a propriedade.

— Ela me ensinou algumas coisas também, apesar de não ser a minha maior fã para os negócios. – deu de ombros, servindo-se com uma dose de uísque – Uma dose? – ofereceu, levantando a garrafa.

— Claro. – aceitei.

Ele colocou uma dose para mim e eu me levantei para pegá-la, voltando para a poltrona logo em seguida.

— Nervoso para as reuniões da semana? – perguntou com um ar divertido, sentando-se na poltrona ao meu lado.

— Acho que já estou acostumado. – sorri, levando o copo a minha boca e solvendo um pouco do líquido.

Meu celular tocou em meu bolso, cortando a conversa. Peguei-o, vendo que o número pertencia a Alice. Estranhei. Será que tinha acontecido alguma coisa?

— Preciso atender. É a Alice. – avisei, deixando o copo em cima da mesinha de centro.

— Mande lembranças para ela. E uma visita também seria legal. – pediu.

Assenti, retirando-me da sala já com o dedo no botão ‘’atender’’.

— Oi Alice. – saudei, parando na varanda da casa.

O vento frio que me acolheu fez com que eu me retraísse um pouco em meu casaco.

Oi maninho. Como está Londres?— perguntou com a voz simpática.

— Anh... Está ótima. O tempo não está muito diferente do de Nova York. – franzi os lábios, colocando a mão livre sobre o parapeito – Tudo bem por aí?

Claro. Eu só te liguei para conversar um pouco. Saudades do meu irmãozinho fofo.— falou com uma voz doce demais.

Estreitei os olhos.

— Fala logo o que está acontecendo, Alice.

Houve um suspiro do outro lado da linha.

Qual é o seu plano para conquistar Bella? Ficar mandando tulipas até ela se irritar e querer jogá-las todas na sua cara?

Ops!

— Bem... Isso seria um começo, mas quem te contou isso? – franzi as sobrancelhas, tentando buscar quem poderia ter contado.

Tyler? Não, Alice não tem tanta intimidade com motoristas para perguntar algo do tipo. E nem Tyler diria algo.

Mamãe? Mas ela nem sabe para quem foram as tulipas!

Alguém da mansão? Não, também ninguém sabe. Nem sabem que eu comprei as tulipas.

Edward!— o chamado estridente de Alice fez com que eu voltasse para realidade – Pare de pensar em como soube e foque no importante: Bella. — ela tinha algum poder psíquico, óbvio – Enfim, ela sabe das tulipas e está bastante intrigada em saber o porquê delas.

— Ela não conseguiu obter nenhum ideia com os bilhetes? – murmurei um tanto decepcionado. Os bilhetes foram à melhor parte...

Bilhetes?— Alice questionou em desentendimento – Que bandida, ela não mencionou isso. Preciso dá uns sacolejos em Isabella Swan, porque ela tá demais...

— Alice. – chamei, cortando sua divulgação.

Voltando... Com bilhete ou não, Edward, ela vai falar com você e eu te liguei para avisar isso. Ela foi na sua casa, mas você já tinha pegado o beco para Londres.— pausou – Acho melhor está preparado para falar a verdade no natal.

Passei a mão pelos cabelos, refletindo sobre o que Alice acabara de me contar. Bella, de alguma forma, sabia de tudo agora. E pelo o que minha irmã estava me contando, ela queria explicações. Eu sabia que teria que dá-las e, contrariando as expectativas, eu não estava mais receoso, ou com medo. Estava determinado. Eu colocaria tudo em pratos limpos com Bella assim que nos encontrássemos na noite de natal. Acho que já tinha passado da hora disso acontecer.

— Alice. – falei o nome da minha irmã com confiança – Está chegando a hora de colocar tudo em pratos limpos.

Ótimo, pois você não é o único que quer o coração de Isabella Swan. E mais: ela não vai ficar só para sempre.— finalizou, desligando o telefone logo em seguida.

Chocado, fiquei encarando o aparelho enquanto as palavras de Alice eram computadas em minha cabeça. Algo me dizia que o Adam tinha ganhado pontos com Bella. Eu só tinha medo de pensar de que forma.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nesse capítulo teve um bocadinho de coisa, e A conversa está perto ♥. Ainda tem umas coisinhas legais antes, mas acho que daqui a uns dois capítulos ela sai - pelo o que eu escrevi até agora.
Edward tentando chegar de mansinho, mas parece que Bella não está muito a fim da lentidão kkk. Ela foi firme nesse capítulo e o Edward não se esconderá mais atrás do seu medo (ele está amadurecendo ainda mais o/).
Enfim, o espaço abaixo é livre para vocês comentarem (e eu espero do fundo do meu s2 que o usem).
Até a próxima, gente! Beijo.