O despertar do Apocalipse escrita por AHSfan


Capítulo 8
Não há arrependimentos -


Notas iniciais do capítulo

Oi, recebi muitos feedbacks positivos quanto ao capítulo anterior o que me incentivou pra mandar ver nesse e portanto garantir novamente a experiência completa de vocês. Espero, sinceramente que gostem :)
Agora aos agradecimentos especiais: gostaria de agradecer ao Glauco e ao Thiago - meus grandes apoiadores desde o começo do projeto, mas que não tem conta no Nyah! Gostaria de agradecer também a Beatriz di Angelo, Lady Scarlatte Darcy, Fran Carvalho, Ksenya, Lynn Fernandes, Nêmesis, Lukuornicova (Nalani)
Vocês todas tem um lugar muito especial no meu coração e saibam que leio cada comentário que vcs deixam com máxima atenção. Ah! Hoje teremos também nossa primeira sessão de Dreamcasts no final do capítulo. Pra quem não sabe, dreamcast é o nome dado a seleção de atores/modeles/cantores que representam seu elenco dos sonhos para a fic em questão.
Hoje começaremos com a da Lynn e no próximo será a vez da Nêmesis, se alguém mais quiser mandar, por favor, não hesitem.



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STELLA LANCASTER

“Argh! Essa garota está me tirando do sério!” Stella reclamou exaltada.

Suas narinas estavam se expandido e contraído graças à respiração apressada que expressava a incontida raiva.

Afinal, quem Magdalena pensava que era?

A garota surgira vinda de lugar nenhum na noite anterior e apontara uma arma para Kyubey e Atlas por tabela. Como se isso não bastasse cada palavra que saia da boca de Lena era um enigma irritante e o olhar constantemente frio dela incomodava Stella de forma ímpar.

“Eu queria que existisse uma forma de todos nós nos darmos bem.” Atlas comentou tristonho.

Stella olhou de relance para o melhor amigo e sentiu pena da transbordante inocência dele. Estava claro que Atlas havia se interessado por Lena desde o momento em que seus olhos pousaram nela, mas qualquer um poderia ver que a garota não estava ali pra fazer amizades. Stella tinha certeza que Lena se importava com muito pouco ou quase nada.

“Me parece que o sentimento não é recíproco, Atlas. Infelizmente, nem todos os iuvenis magi pensam da mesma forma.” Maya respondeu pondo as mãos nos largos ombros de Atlas e empurrando-o em direção a uma escada para o primeiro andar do prédio abandonado.

“Mas vamos mudar de assunto... Venha também Stella, vou mostrar pra vocês a melhor parte do trabalho de ser um jovem magi.” Maya disse virando o rosto e sorrindo cordialmente.

Stella soltou o ar pela boca e decidiu que não valeria a pena dedicar um minuto que fosse para pensar na arrogância de Lena enquanto pessoas incríveis como Maya estavam diante dela. Naquele momento ela se sentiu verdadeiramente encantada com a possibilidade tornar-se uma jovem magi pela primeira vez. A dedicação com a qual Maya lutou para defender a si, a eles e a mulher vestida como executiva era admirável aos olhos de Stella.

Maya, sim, é uma legítima defensora da justiça, ela concluiu.

Quando a garota de ondulados cabelos azuis deu por si, ela Atlas e Maya estavam próximos ao local onde a mulher vestida de executiva encontrava-se caída. O prédio estava todo empoeirado e o local ao redor dela estava ‘limpo’ graças ao impacto de seu próprio corpo. Maya ajoelhou-se ao lado da mulher e apoiou o torso dela em seus braços inclinando sua cabeça para cima. O rosto da mulher parecia cansado, ela tinha cabelos castanhos lisos e empalidecidos lábios finos. No pescoço havia uma marca pequena, como uma tatuagem, se tatuagens fossem holográficas. Não se aguentando de curiosidade, Stella questionou:

“O que é isso no pescoço dela, Maya?”

“Excelente pergunta, Stella! É o beijo mortal da bruxa... Essa marca aparece em pessoas que estão sob o feitiço e influencia das bruxas. É também a prova de que as bruxas se aproveitaram da fraqueza no coração das vítimas. Mas não se preocupem, pois a marca sumirá assim que ela despertar.”

Assim que Maya selou os rosados lábios, a mulher abriu seus olhos castanhos e virou a cabeça até poder enxergar a todos. Quando o olhar da mulher finalmente entrou em foco ela franziu as sobrancelhas repentinamente e começou a tremer-se, lacrimejando.

“O- O que eu... O que eu estava prestes a fazer!? Meu Deus!” Enquanto a mulher falava a marca em seu pescoço desvanecia até tornar-se invisível.

“Está tudo bem, você pode ficar tranquila agora.” Maya falou com um tom de voz um pouco distinto, Stella percebeu. Era como se ela soasse mais adulta, se isso fosse possível.

“Que- Quem são vocês?!” Ela perguntou visivelmente assustada.

“Estamos aqui para ajuda-la. Você está a salvo. Foi só um sonho ruim, pode ir pra casa descansar.” Maya pôs uma mão na testa da mulher e a expressão dela imediatamente se suavizou. A jovem loira sussurrou algumas palavras em uma língua desconhecida que lembrava bastante latim. No minuto seguinte, a mulher piscou os olhos de uma forma serena e seu corpo relaxou.

“Obrigada.” Ela agradeceu olhando com genuína gratidão para Maya e os outros dois jovens.

Foi então que Stella entendeu o que Maya quis dizer por ‘Melhor parte de ser um jovem magi’. No final do dia, não se tratava de derrotar criaturas horrendas, nem de usar armas legais, mas sim de proteger e socorrer aqueles que caiam nas garras das bruxas. Stella sorriu calorosamente sentindo-se útil pela primeira vez em anos e ela não deixou de notar a mesma expressão se fazer no rosto de Atlas.

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Alguns minutos depois de terem chamado um táxi para a mulher, os três estudantes da Dalton School encontraram-se novamente próximos à escola.

“Parece que salvamos o dia por hoje não é?” Stella comentou alongando os braços.

“E aí, o que vocês querem fazer agora? Sendo honesta, não estou muito animada pra retornar a escola. O que me dizem de irmos comer algo?” Maya comentou com um sorriso de orelha a orelha.

“Vamos!” Atlas respondeu animado. “Aposto que Kyubey também está com fome!” Ele completou fazendo carinhos na cabeça do misterioso animal.

“Hum... Acho que não poderei ir hoje” Stella revelou com um olhar travesso. “Tenho um compromisso agora de tarde.” Ela sentia em si um misto de culpa e excitação, pois apesar de ser verdade que não poderia se juntar aos outros dois, a garota de cabelos azuis também ansiava por deixar Maya e Atlas a sós.

“Você vai visitar o Sam?” Altas observou enquanto Stella corava levemente.

“Na verdade sim.” Ela confessou pondo uma mão atrás da cabeça, sentindo-se meio constrangida.

“Entendo. Se você quiser podemos ir vê-lo no final de semana também.” Atlas replicou sorrindo.

“Perdoem-me a pergunta, mas quem é Sam?” Maya perguntou intrigada, alternando o olhar entre os dois para ver quem responderia primeiro.

“Não se preocupe que eu te explico no caminho.” Atlas respondeu gentilmente. Então ele abraçou a ex-namorada amigavelmente e disse:

“Até mais tarde não é Stella?”

“Pode deixar!” Ela retribuiu o abraço, pensando no quanto tinha ficado assustada com a possibilidade de perder o melhor amigo ainda naquele mesmo dia. Stella deu-se conta que não saberia viver sem a segurança de ter Atlas ao seu lado. Então, antes que qualquer um pudesse perceber que ela tinha se abalado, Stella empurrou esse medo para um local afastado do seu raciocínio. Todos estavam bem e ela não tinha nada a temer, ela pensou.

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O Lenox Hill Hospital era um dos centros hospitalares mais renomados da cidade, até por se localizar em uma região nobre de Nova York, o Upper East Side. O hospital, fundado em 1857, contava com dez instalações diferentes e modernas, com mais de 600 camas para os pacientes, além de prover educação prática e clinica para estudantes da área da saúde de diversas universidades. Stella avistou a entrada com o nome do hospital em letras brancas maiúsculas. Ela caminhou por entre as portas eletrônicas e se dirigiu ao guichê da recepção central, acostumada com o cheiro asséptico de limpeza e com o aspecto clean que o hospital exibia. O teto possuía uma iluminação interna discreta, branca e reluzente, enquanto o piso refletia a mesma cor alvejada, como mármore.

“Olá senhorita Lancaster, como vai?” Uma senhora de pele oliva e olhos amendoados perguntou cordialmente a Stella quando ela se aproximou da recepção.

“Estou bem, Cordélia, obrigada por perguntar. Por favor, o Sam do 403, está disponível pra visitas hoje?”

“Acredito que sim, senhorita Lancaster. Segundo elevador à direita, como a senhorita já deve saber.”

A senhora Cordélia sorriu e pequenas covinhas de generosidade se espalharam por seu rosto o que trouxe uma onda de culpa em Stella, pois ela trazia em sua mochila um saco com pó e um pacote de maconha e seda, a serem usadas mais tarde. Stella empurrou mais um pensamento indesejado – uma crítica sobre si mesma - para o fundo de seu cérebro e sorriu de volta acenando para a recepcionista.

Ao entrar no elevador, a jovem de cabelos azuis viu seu reflexo no espelho e lembrou-se repentinamente da primeira vez que tinha posto os pés naquele hospital. Foi há três anos, quando ela ainda tinha os cabelos castanhos claros, quase loiros, como os do irmão gêmeo. Naquele fatídico dia, Stella recebera a notícia de Simon com o impacto de um soco no estômago: Sam estava internado, Sam precisaria de uma cirurgia, Sam poderia nunca mais voltar ao normal. O choque da notícia a deixara tremula por vários minutos. Em seguida ela pedira ao motorista particular da família para deixa-la em frente ao hospital e chorou seus olhos para fora das órbitas dentro do elevador, pois ela não queria assustar Sam demonstrando seu irrefutável desespero. Entretanto, isso estava no passado agora.

Desde então a artrose degenerativa não tinha avançado e Stella sabia que - apesar das chances dele se recuperar serem mínimas - ela depositaria sua esperança em Sam quantas vezes fossem necessárias. E por ele Stella não iria de maneira alguma entrar em desespero. Enfim, as portas do elevador se abriram e ela avançou para o quarto 403, que estava com as portas abertas, como se ela estivesse sendo esperada. Então Stella o viu e seu coração se agitou, facilitando a fuga de qualquer pensamento racional.

Ele estava sentado de perfil, olhando para a janela e provavelmente para a rua. Samuel Reach tinha o nariz largo, expressivos olhos âmbar, curtos e espessos cabelos crespos que cobriam sua cabeça perfeitamente e acetinada pele negra. Ele estava vestido com a bata esverdeada do hospital e se Stella pudesse ver seu rosto daquele ângulo perceberia o quão nostálgico era o olhar do garoto.

“Oi.” Ela disse batendo a porta para indicar que estava entrando.

Sam virou o pescoço e ao vê-la seu olhar se iluminou um pouco e ele sorriu daquela forma que enviava borboletas loucas ao estômago de Stella.

“Você veio” Ele disse e então seu olhar desviou-se para o banco que estava ao lado de sua cama. “Sente-se.”

Stella fez como pedido e caminhou a passos largos para poder sentar logo. Ela estava ansiosa para mostrar a Sam o presente que tinha comprado.

“Como está se sentindo hoje?” Ela perguntou pondo uma mão dentro da bolsa e pegando o disco, discretamente.

“Bem, eu acho. Com saudades de caminhar na neve... Ou de caminhar em geral. E você?” Sam direcionou seus olhos amendoados para Stella que sorriu com ternura.

“Você me diz.” Enquanto falava Stella puxou da bolsa o disco e o pôs no colo de Sam. A expressão no rosto dele imediatamente se transformou de calma para feliz.

“David Oistrakh para colecionadores?! Stella você realmente tem um dom para descobrir meus violinistas favoritos. Obrigado.” Sam olhou nos olhos dela ao agradecer e esticou o braço em sua direção, o que a deixou estática.

Será que ele tocaria em seu rosto? Entretanto, antes que Stella tivesse tempo para se perder em devaneios Sam trouxe o braço de volta, segurando seu discplayer conectado a um fone de ouvido.

“Gostaria de ouvir comigo?”

O coração da jovem de cabelos azuis batia intensamente quando ela balançou a cabeça concordando. Sam pôs o fone de ouvido na orelha dele e na dela, o que enviou doces arrepios a nuca da garota. A melodia se iniciou a princípio lenta, perpassando por tons mais agudos e graves, e somente então tomou a intensidade arrojada que daria o compasso para o resto da música, marca registrada do estilo de David Oistrakh.

Stella estava tão tomada pela beleza daquele instante que se permitiu relaxar por um minuto, fechando os olhos, expirando e inspirando ar em seus pulmões, batendo a mão do joelho ao ritmo da música. Até mesmo seu coração agitado se acalmou e – sorrindo - ela abriu os olhos, lentamente.

Foi quando ela viu que Sam estava chorando.

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9 de Janeiro de 2014 – 02 da manhã

ATLAS YOUNGBLOOD

Já tinha passado da meia noite e ainda assim Atlas prosseguia desenhando na escrivaninha de seu antigo quarto. Ele e sua irmã, Sofia, estavam na casa do pai, prestes a passar o final de semana por lá, como fora acordado entre seus pais durante o divórcio.

Mesmo desenhando e durante anos a fio praticando, Atlas não era muito talentoso, sendo incapaz de desenhar cenários ou criar ângulos dinâmicos. A única especialidade dele era desenhar pessoas, a percepção que tinha dos rostos inomináveis de Nova York e de seus amigos. Por estar inspirado, Atlas se pôs a desenhar desde que chegara, traçando esboços e aprimorando-os em retratos. Todos os seus amigos estavam representados lá: Stella e seus fios azuis, Simon e seu cabelo penteado para trás, Hanna e seu olhar calmo que exalava popularidade, Maya segurando duas espingardas em cada mão, Kyubey com seus olhos escarlates e por fim, Magdalena. Ele a desenhou em um canto da página, a princípio, mas quando parou para observar o que tinha feito, dezenas de folhas de seu caderno de desenho estavam preenchidas com imagens da jovem negra em diversas expressões faciais, algumas das quais ele nunca tinha visto – como uma versão tímida.

Atlas sorriu sentindo-se cansado, percebendo que seus olhos começavam a relutar para permanecerem abertos. Apesar de sentir-se sonolento, ele ainda estava deveras empolgado com a possibilidade de tornar-se um jovem magi, graças à figura exemplar que Maya provara ser naquele dia, demonstrando que a missão dos jovens magi era bela e gratificante. A verdade é que Atlas gostaria de ser capaz de ajudar as pessoas daquela mesma forma e isso foi o ponto decisivo para ele chegar à resolução que gostaria de ser assim como a garota loira, a despeito dos avisos de Magdalena.

O problema é que Atlas ainda não fazia a menor ideia do que desejar. Uma parte dele considerou mais de uma vez, pedir por dinheiro – afinal Atlas estava liso desde o começo do ano – mas esse pedido o faria sentir-se como um mercenário e isso era a última coisa que ele queria.

Repentinamente, seu celular tocou, retirando-o de suas meditações. Era Stella.

“Alô?”

“Atlas!” A vibração estridente e cortante da música eletrônica ecoava quase tão alto quanto os esforços de Stella para se comunicar.

“Stella, está tudo bem?” Atlas perguntou preocupado, mas tão logo escutou a longa gargalhada da amiga deu-se conta que ela deveria estar sentindo a brisa.

“Depois de duas carreiras sim! Como foi o encontro com Maya?”

Essa foi a vez dele rir.

“Stella, não teve encontro algum. Maya é gay. Ela me contou hoje que está há um ano sem namorar ninguém. E mesmo que ela não fosse eu...”

“Séeeeeeeeeeerio?! Eu queria tanto que vocês ficassem juntos!” Ela lamentou do outro lado da linha, fazendo com que Atlas suspirasse. Ele sabia que após visitar Sam no hospital, Stella costumava se entregar sem restrições as drogas ilícitas, ansiando por sair de si mesma e fugir de qualquer pensamento racional que viesse a ter, portanto ele evitou perguntar como tinha sido no hospital.

Muitas pessoas a subestimavam, a primeira vista, por ela ser uma garota rica e bonita, mas seus amigos mais íntimos sabiam que ela era capaz de reflexões intensas e profundas. Antes de começarem a namorar, Stella confessar a Atlas que a cada vez que visitava Sam no hospital sua mente dava voltas e voltas em torno do estado de saúde dele e sua incapacidade de ajuda-lo. Para impedir-se de ir à loucura, Stella preferira adormecer sua consciência.

Depois de conversarem mais algumas amenidades, Atlas desligou o telefone e deitou-se, perto de Kyubey. O animal albino parecia observa-lo com curiosidade e Atlas perguntou:

“Tem certeza que não é possível me tornar um jovem magi sem fazer um pedido? Eu só gostaria de poder ajudar as pessoas sendo tão forte quanto Maya.”

Bem, quiçá... Normalmente isso não seria possível, mas no seu caso, algumas regras não se aplicam. Talvez se você desejasse não precisar de um desejo isso se tornaria possível.”

“Como assim no meu caso?” Atlas riu-se esgotado. Obviamente Kyubey tinha um senso de humor estranho.

“Se você assinar o contrato comigo será infinitamente mais poderoso que Maya. Eu não consigo nem sequer imaginar o potencial da sua joia da alma, Atlas. É a primeira vez que eu encontro alguém com tanto talento.”

“Ah, Kyubey, para de tirar onda com a minha cara, se não tinha resposta era só dizer. Nós dois sabemos que eu não passo de um estudante comum. Vou dormir agora, boa noite.”

“Não estou tirando onda... Eu não saberia fazer isso se quisesse.”

O animal misterioso piscou seus três olhos de uma vez silenciosamente esperando uma réplica que não veio. Ele observou Atlas até que este caísse rapidamente em um sono profundo, para somente então fechar seus três olhos escarlates.

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10 de Janeiro de 2014 – Central Park, Uma hora da manhã

MAYA HARRISON

O ataque fugaz das criaturas veio debaixo e Maya antecipando-o, saltou para o topo de um poste de iluminação, estabilizando-se por tempo o suficiente para atirar de novo com o fuzil de caça antigo e dourado. Ela dispunha de um equilíbrio inumano e seu corpo inteiro reluzia com a encantadora luz dourada.

Enquanto isso as criaturas, cujos formatos assemelhavam-se ao de lobos, uivaram simultaneamente recuando um pouco – enfraquecidos pelo tiro. Era exatamente essa brecha que Maya precisava para executar seu assalto final. Pulando com agilidade ela esticou os dois braços, estendendo-os horizontalmente para concentrar a magia nas palmas de suas mãos.

“Multiplo Fucile!”

Um losango com incontáveis luzes douradas surgiu atrás da garota mágica. Cada foco de luz converteu-se em um fuzil de caça antigo, eram modelos que precisavam ser recarregados a cada disparo efetuado, mas Maya sabia que não precisaria se preocupar com isso. Tão logo cada uma das armas mágicas disparou contra a pequena alcateia de monstros, ela sabia que seria o suficiente.

Quando a fumaça abaixou o suficiente, os três jovens viram que as criaturas foram dizimadas e que Maya tinha conseguido novamente. Ela pousou no chão de pedras acinzentadas do central park e sua sutileza poderia ser comparada a da própria neve quando esta toca a terra.

“Fantástico Maya!” Stella congratulou a amiga, aproximando-se dela.

“Obrigada, Stella, mas não esqueça que não estamos aqui por diversão. Caçar bruxas é uma atividade extremamente perigosa.”

“Então nós temos sorte de estar com você!” Stella replicou sorrindo.

“Onde está a semente da angústia?” Atlas perguntou mudando de assunto. Ele estava com Kyubey em seus braços, olhando curiosamente ao redor.

“Não teve semente da angústia dessa vez, pois o que enfrentamos hoje não se tratou de uma bruxa, mas sim de um familiar de bruxa que se desprendeu do labirinto.” Kyubey respondeu calmamente.

“Hum... Faz algum tempo que não encontramos nenhuma bruxa de verdade, não deveríamos estar caçando coisas maiores?” Stella questionou bocejando com sono.

“Não exatamente, Stella. Não podemos deixar os familiares de bruxas fazerem o que quiserem, pois se amadurecessem o suficiente se tornariam um ser tão poderoso quanto à bruxa da qual se separaram. Agora venham comigo, quero mostrar pra vocês meu lugar favorito no Central Park” Maya sorriu cordialmente para seus dois amigos que concordaram, acompanhando-a.

Após algum tempo de caminhada dentro do parque, eles saltaram uma pequena cerca de metal que separava o piso de pedras acinzentadas da densa floresta de árvores altas. Os três humanos e Kyubey andaram por entre galhos e gravetos espalhados no chão até alcançarem uma pequena clareira no centro das árvores. Uma brisa fria soprou contra o rosto de Maya balançando seu cabelo trançado e ela começou a falar.

“Eu gosto de vir aqui quando quero pensar... Acho que irá ajuda-los a decidir, porque está claro que vocês não sabem o que desejar ainda.” Ela disse virando-se para os dois jovens. Stella e Atlas, pegos de surpresa, coraram praticamente ao mesmo tempo, confirmando as suspeitas da garota loira.

“É verdade, eu ainda não sei o que quero...” Stella admitiu pensativa.

“Eu também não cheguei a nenhuma conclusão ainda, mas e você o que pediu Maya?” Atlas indagou soando genuinamente interessado.

Ao ouvir essas palavras, o olhar de Maya distanciou-se e seu semblante decaiu. Ela mordeu o lábio inferior e a carga emocional de dor, angústia e solidão que acreditava ter deixado para trás, retornou com mais densidade do que nunca. Maya lembrou-se da primeira vez que ouviu esta pergunta. O garoto ruivo fora solidário ao ouvi-la lamentar-se, mas de que adiantava isso?

Ele teria me deixado de qualquer forma, Maya pensou.

“Ah... Tudo bem se você preferir não responder, Maya. Desculpe, foi uma pergunta idiota.” Atlas praguejou mentalmente por não perceber antes que o fato dela nunca ter mencionado como se tornara uma jovem magi, poderia ser um indicativo de que Maya não queria entrar no assunto.

“Não... Não foi. Está tudo bem. Eu teria que falar sobre isso eventualmente, não é?”

“Aconteceu há um ano...” Maya respirou fundo, esforçando-se para prosseguir sem deixar que nenhum nó se formasse em sua garganta.

“Dia 03 de janeiro de 2013 aconteceu o maior engavetamento que os Estados Unidos já presenciou. A interestadual 95 foi completamente interditada, saiu em todos os noticiário...”

Um calafrio desceu lentamente a coluna de Maya que se arrepiou fechando os olhos por um rápido segundo e abrindo-os em seguida, para prosseguir. Se ela parasse de falar por tempo demais retornaria para aquele lugar no banco detrás, suas narinas sentiriam o cheiro metálico de sangue no ar misturado a fumaça que emanava das explosões dos carros à frente. Ela – de cabeça pra baixo - veria os pais mortos no banco da frente e escutaria novamente o grito de desespero que escapou de seus lábios. Seus olhos lacrimejariam sem parar e então a lancinante e aguda dor em seu peito se daria início, até que Maya notaria que um pedaço do capô havia se desprendido quando o carro capotara. Aquele pedaço residia estranhamente em seu torso, como se ambos fossem um só.

Eu vou morrer, ela pensaria em desespero.

“Meus pais estavam me trazendo de volta pra Nova York, pois eu acabara de ser expulsa do meu antigo internato para garotas. Quando a diretoria descobriu que sou lésbica, não hesitou por um momento. Meus pais, nunca me aceitaram, mas também nunca reclamaram, com exceção desse dia. ‘Vergonha’ eles disseram. ‘Temos vergonha de você, Maya’. Foi uma viagem silenciosa e lenta, mas tudo mudou quando chegamos na interestadual. O acidente aconteceu diante de nossos olhos, alguns automóveis e um caminhão foi tudo o que bastou. Nosso carro capotou alguns metros e no momento em que acordei meus pais já tinham falecido.” Apesar da voz dela seguir firme, Maya segurou suas mãos em um aperto de ferro para que seus amigos não vissem o quão trêmula ela estava.

“Quando Kyubey apareceu diante de mim, eu não precisei pensar entendem? Apenas pedi para ser salva... Não dispus do mesmo privilégio que vocês estão tendo agora, por isso quero que pensem com cuidado e valorizem a chance que têm em mãos.”

“Maya, eu... Nós sentimos muito.” Atlas disse abraçando a amiga e Stella também não demorou para se incluir nos braços dos amigos. Após um par de minutos em silêncio, Maya se afastou enxugando algumas lágrimas dos olhos.

“Obrigada por me escutarem. Não esqueçam que viemos até aqui para que vocês pensem no que irão pedir, mas também não precisam decidir hoje.”

“Pra mim quanto mais rápido melhor pupilos.” Replicou Kyubey fazendo com que os presentes rissem um pouco aliviando a tensão.

Após conversarem mais um pouco, os três saíram do Central Park e Stella deu carona para cada um de seus amigos, indo deixa-los em casa. Quando chegaram ao apartamento de Maya o carro do ano seguinte estacionou lentamente. Antes de Maya abrir a porta e sair ela parou um pouco, decidindo por impulso que deveria aconselhar Stella melhor. Especialmente depois que Atlas revelou o que acontecera com Sam e o quanto a garota de cabelos azuis se importava com ele.

“Ah, Stella. Lembre-se do aviso que lhe dei antes, ok? Se você ainda está considerando pedir algo para outrem é melhor pensar duas vezes antes de fazer isso.”

“Por que o meu desejo pode trazer morte? O que você quis dizer com isso?” Stella replicou um pouco na defensiva.

“Eu quis dizer que você deve avaliar bem quais são suas intenções para com esse desejo, Stella. Somente assim não se arrependerá de fazê-lo. Você quer realmente proteger a pessoa em questão ou quer que ela fique grata, pois você a ajudou? As duas coisas podem ser semelhantes, mas há uma diferença enorme aí.”

Stella a encarou com o olhar vazio então seu rosto adquiriu um tom avermelhado e ela concordou com a cabeça.

“Tem razão, Maya. Tomarei cuidado para não fazer um pedido leviano.”

“Desculpe-me se soei rude, só quero o melhor pra vocês. Espero vê-los na escola segunda feira.”

Maya despediu-se de seus colegas e adentrou em seu bloco de apartamentos. Após subir as íngremes escadas acinzentadas ela suspirou cansada, mas feliz. Tinha sido um dia realmente produtivo e após contar a verdade sobre seu desejo, Maya sentia que sua conexão com os outros dois jovens estava ainda mais forte. Ela abriu a porta de seu apartamento cantando uma melodia doce, largando a bolsa de um lado e jogando os sapatos para cima.

Como é bom finalmente estar em casa! Maya pensou esticando-se.

“Até que enfim.” Uma voz feminina grave ecoou de um canto da sala.

MAGDALENA NORTHUP

Lena estava sentada no sofá amarelo com as pernas cruzadas segurando um maço de cigarros em uma mão e um isqueiro na outra. Ela encontrava-se entediada, encarando o tapete indiano da sala de estar quando a dona do apartamento finalmente entrou. Lena observou silenciosamente enquanto Maya cantarolava feliz e por um segundo sua expressão ríspida se suavizou um pouco. Todavia, Lena sabia que tinha negócios inalienáveis ali e que deveria manter-se focada. Ela falou atraindo a atenção da jovem loira para si.

O olhar gélido de Lena encontrou-se com o de Maya que estava surpresa, entretanto esta logo se endireitou e ficou mais formal.

“Não vou nem perguntar como você entrou... O que você quer Magdalena?”

“Entrei pela porta assim como você.” Lena disse com um fantasma de sorriso e então prosseguiu sem rodeios, como de costume. “Quero que você tome consciência de seus atos, Maya. Que não seja ingênua de levar Atlas e Stella para o campo de batalhas no qual vivemos.”

“Você realmente me subestima, Magdalena. Eu tenho protegido e tomado conta de ambos muito bem até agora. Eles deixaram de ser inocentes espectadores no minuto em que Kyubey os escolheu.” Maya rebateu cruzando os braços.

“Não é isso. Meu problema é que você os está incentivando a se tornarem jovens magi, como nós.” Lena replicou revirando os olhos, como se essa fosse à informação mais óbvia do mundo.

“E se eu estiver? Há algo de errado?” Maya questionou soltando as tranças do cabelo enquanto deixava a fita amarela em um pequeno armário.

“Sim. Isso é um problema. Principalmente no caso de Atlas Youngblood.” Lena respondeu franzindo o cenho ao mencionar o nome de Atlas.

“Entendo. Imagino que você também deve ter percebido o incrível potencial que ele tem, não é?” O tom da voz de Maya adquiriu um ar arrogante ao dizer essas palavras, mas Lena apenas ignorou este fato.

“Ele é a única pessoa que não posso permitir que assine o contrato, de maneira alguma...” A réplica de Lena foi dita em um tom frio, mas ao analisar que a postura da garota negra ficou mais tensa conforme ela falava Maya sorriu consigo e disse:

“Tem medo que surja alguém mais poderoso que você, Magdalena? Não a tomei por uma covarde desse tipo, como uma criança que não deseja dividir seus brinquedos.”

Lena bufou, inclinando a cabeça para olhar diretamente nos olhos de Maya. “Você não compreende mesmo, não é? Vir até aqui foi um esforço inútil, percebo agora. Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto, mas para impedi-los de assinar o contrato batalharei contra qualquer um, inclusive você.”

“Se é assim que tem que ser cuide para que não nos encontremos novamente. Hoje será a última vez que nos vemos sem lutar. Agora, retire-se da minha casa, Magdalena.”

Lena levantou-se e foi em direção à porta, passando por Maya enquanto balançava cabeça negativamente. Ela colocou os pés no hall de escadas e antes de sair definitivamente, virou-se mais uma vez em direção ao apartamento de Maya, vendo-a na soleira da porta, apenas esperando que Lena se fosse para fecha-la.

“Algo mais?” Maya perguntou impaciente.

A garota de esvoaçantes cabelos crespos pôs um cigarro entre os dentes, ascendendo-o com o isqueiro prateado. Lena deu um trago e soltou a fumaça pelo nariz, lentamente, dizendo em alto e bom som:

“Você precisa saber Maya, que não sou inexperiente em lutar contra outros jovens magi e matá-los durante o processo... Já fiz isso antes. E não há arrependimentos.”

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Dreamcast da Lynn:


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Notas finais do capítulo

E aí jovens?! O que acharam? Gostaram? Desgostaram? Algo não ficou do agrado de vocês? Algo definitivamente ficou do agrado? Vocês tem algum personagem favorito até aqui? Deixem-me saber o que estão pensando com um comentário e até o próximo capítulo, se Deus quiser.
Abraços!