O despertar do Apocalipse escrita por AHSfan


Capítulo 12
Não faça isso -


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos,

Perdão pela longa demora para postar, contudo esse capítulo é grande e eu pretendo sim concluir a fic antes do mês de fevereiro acabar e para isso estarei escrevendo todos os dias.
Bem, vamos dar inícios aos agradecimentos desse capítulo que se iniciam com alguns nomes já conhecidos e outros novos! Agradeço a todos que me mandam mensagens de encorajamento e amor através de seus comentários, essas pessoas são: Lynn Fernandes, Patolina, Waterfall, Marie Claire, Raquel Azeite, Lukuornicova, Fran Carvalho e Heidi Akatsuki.
Além dos amigos Thiago e Glauco!
Gostaria em especial de oferecer esse capítulo a Heidi que tem sido uma leitora fiel e vem acompanhando desde o começo as postagens, além de ser uma desenhista super talentosa que me dedica os fanarts mais lindos!
Muitíssimo obrigada a todos por lerem e comentarem a fic e eu PROMETO que irei responder todos os comentários atrasados eventualmente!
Boa leitura,



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KEVIN MAC’NEIL

12 de Janeiro de 2014 – Chinatown – Oito e vinte quatro da manhã

O labirinto estava se formando com ciclos de energia mágica girando em torno de si, absorvendo a dimensão real e a distorcendo.

Aos poucos bruxa ia transformando o cenário ordinário em algo bizarro e macabro, como se fosse uma grande piada, caricaturando diabolicamente a humanidade. Kevin não se importava.

Há muito tempo ele tinha deixado de se importar, de tentar entender e de questionar. Ele aceitava as coisas como elas se davam. Ao contrário do rapaz que um dia Maya conhecera, o garoto ruivo agora fazia todo o possível para ser o mais mesquinho e egoísta possível.

Kevin era tudo que importava para Kevin. Isso era sobrevivência.

De repente, o labirinto tomou forma diante dos olhos do ruivo sardento e ele sorriu com o canto esquerdo dos vermelhos lábios finos. A antecipação da batalha enviava múltiplas descargas de adrenalina pelo corpo de Kevin e naquele momento ele era apenas o exímio caçador de bruxas.

Nada mais.

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STELLA LANCASTER

12 de Janeiro de 2014 –

Stella não sabia o que estava acontecendo. Seria efeito colateral do uso constante de entorpecentes desde treze anos? Ela não sabia. Tudo que conseguia distinguir claramente era a melodia suave. Tão sublime que se derramava por seu ser, elevando-a a um plano superior a ela própria. Stella não era uma garota muito religiosa, mas ela sabia que essa canção era o mais próximo da palavra santidade que ela conheceria em vida.

Sim, quando Sam tocara Ave Maria aquele dia durante o concerto de natal do Observatório de música, Stella entendeu finalmente a transcendência da música. Ela reviu o dia em que Simon havia se matriculado no observatório com a promessa de se tornar um excelente músico. Entretanto, observando os ensaios de Simon, Stella descobrira que o garoto era um terror quando tentava tocar as notas mais simples e por mais que ela desejasse apoiá-lo não poderia mentir: Simon era péssimo. Foi Sam que o ensinou a tocar decentemente em tempo até o dia da apresentação de natal. O garoto negro instruiu pacientemente Simon, dia após dia e aos poucos ele se tornou amigo dos gêmeos Lancaster, aproximando-se também de Atlas. Sam até mesmo estudou um ano na Dalton School, fazendo parte da turma de amigos dos Lancaster. Logo, Hanna, Stella, Atlas, Simon e Sam, tornaram-se amigos inseparáveis. Amigos para a vida era o que Stella acreditava.

Então outra visão se fez e ela enxergou a si mesma com quinze anos, quando decidira declarar o que sentia para Sam. Ela arrumou-se toda, pondo um vestido azul e encaracolando ainda mais os cabelos ondulados que, na época, não eram coloridos. Stella segurava em suas mãos nervosas um pacote de biscoitos feitos por ela mesma e minutos antes ela constatara que tais biscoitos estavam de fato, comestíveis. Então, alegre e esperançosa ela se dirigiu até o estúdio onde sabia que Sam estaria ensaiando. Como previsto, o talentoso adolescente negro estava praticando Ave Maria com a mesma excelência da primeira vez que Stella o vira tocar. Entretanto antes que ela tivesse a chance de bater a porta ou entrar, a mão de Sam escorregou do violino fazendo um som desafinado, estranho e assimétrico. Stella observou do outro lado da porta de vidro enquanto Sam erguia sua mão direita tremula até a altura do rosto. O olhar dele projetava o mais puro pavor e sem pensar duas vezes, Stella abriu a porta de uma vez e perguntando, em tom de angústia, se ele estava bem.

Sam respondeu que sim, estava. Estava tudo bem.

Ela não pensou mais em se declarar desde o ocorrido, e afinal, como poderia? Não demorou muito tempo mais depois disso para que a artrose degenerativa o atacasse severamente, retirando aos poucos toda a habilidade motora dos pés, pernas e mãos de Sam. Seus movimentos foram perdendo-se e ele parecia gradualmente mais abalado e abatido a cada manhã na escola. Na aula em que Sam foi até a escola em uma cadeira de rodas, Stella teve vontade de morrer. Algumas semanas depois, ele fora internado com urgência.

A verdade é que Sam perdeu uma grande parcela de si mesmo quando lhe foi retirada a capacidade de se fazer em música e Stella não pode deixar de notar o quanto o garoto parecia sentir-se completamente inútil ao ser impossibilitado de fazer o que amava.

De repente, Stella escutou a voz inumana de Kyubey sussurrada em seu cérebro. Trazida pelo vento como uma sugestão gentil:

“Sam é prisioneiro em seu próprio corpo, Stella, mas... Você tem em si o poder ajudá-lo”.

E assim a garota de madeixas azuis finalmente acordou.

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ATLAS YOUNGBLOOD

Refeitório Estudantil da Dalton School – Duas horas da tarde.

Ele estava só. O jovem de ombros largos estava sentado com o rosto apoiado em uma das mesas do refeitório. Atlas fechou os olhos com força, franzindo as sobrancelhas e inspirando profundamente.

Magdalena não estava ali. Stella tinha faltado também e quando Atlas questionou Simon a respeito disso, tudo que obteve foi uma resposta vaga sobre Stella precisar de um tempo pra si. Enquanto o primeiro período das aulas vespertinas ia transcorrendo Atlas esperou ansiosamente que ao menos Magdalena aparecesse, mas isso não aconteceu. Ele passara uma parte do almoço com Hannah e Simon até que estes decidiram que iriam comer fora, em algum restaurante caro no Upper East Side.

Agora, o sinal indicando o fim do intervalo havia tocado e Atlas ainda estava no mesmo local, inerte. Até que ele trincou os dentes, sentindo-se determinado a falar com Stella. Atlas levantou-se da mesa e pegou o celular, discando o número dela rapidamente.

“Oi!” A voz enérgica de Stella soou pelo aparelho eletrônico.

“Stella!” Atlas exclamou contente.

“Você ligou para Stella Lancaster. Se quiser deixar algum recado é só ficar na linha por mais alguns minutos. Até mais!”

“Merda!” Atlas reclamou, sentindo que estava prestes a ficar desanimado novamente. Todo o potencial que aquele dia tinha estava se extinguindo como uma chama enfraquecendo antes de cessar. O garoto de bagunçados cabelos castanhos encaminhou-se até o vestiário masculino, para pôr o uniforme de educação física e preparar-se para uma longa tarde de exercícios e aquecimentos.

Que saco! Atlas pensou enquanto atravessava as instalações vazias da escola. Ele muito provavelmente iria chegar atrasado à aula, mas honestamente, Atlas concluiu que não poderia importar-se menos. Ele entrou no amplo vestiário com armários verdes escuros e aproximando-se do espaço destinado a si, começou a trocar de roupa, retirando a gravata, o paletó, a camisa de botões e por fim a calça.

Ao vestir-se completamente com o confortável uniforme da educação física o garoto tocou no trinco da porta quando foi invadido por um aroma familiar.

“Estamos atrasados.” A voz sexy e poderosa dela era inconfundível.

Atlas olhou para Lena deslumbrado e surpreso. A garota negra, cujos cabelos crespos estavam amarrados em um rabo de cavalo alto, vestia o uniforme de educação física que delineava seu corpo curvilíneo. A visão repentina de Lena continha magnetismo o suficiente para deixar as mãos de Atlas inquietas. Incapaz de elevar a voz acima de um fraco sussurro ele disse pra si mesmo:

“Você veio.”

Lena aproximou-se travando seu olhar no de Atlas. Os olhos dela eram profundamente escuros remetendo a noites em que os mistérios da ausência da luz prevaleciam e qualquer coisa parecia possível.

“Eu estive ocupada caçando com um colega, mas prometi que viria e gosto de manter minha palavra.”

“Caçando?” Por um momento Atlas ficou preocupado quanto ao bem estar de Lena, mas ele deveria saber que a jovem magi continuaria a caçar bruxas, mesmo após os últimos eventos. Ele entendia que alguém precisava proteger Nova York, mas não conseguia evitar a sensação de temor quanto ao desfecho dessas atividades. Atlas finalmente entendera a mortalidade dos mais fortes.

“Sim. Estou... Fazendo reservas de energia mágica.” Lena completou sorrindo um pouco.

Quando isso não funcionou e Atlas apenas continuou franzindo as sobrancelhas, a jovem magi aproximou-se mais um palmo, até que os dois pudessem sentir a respiração um do outro. Ela inclinou um pouco a cabeça de forma que os lábios deles estivessem separados apenas por alguns centímetros.

“Não é nada demais.” Lena insistiu.

Atlas observou atentamente o movimento dos lábios da jovem magi enquanto ela os fechava. Lábios cheios, carnudos, e que pareciam deveras macios.

“Eu acredito em você. Nunca deixei de acreditar.” Atlas respondeu honesto.

De repente, Lena abaixou o olhar parecendo triste.

“É melhor irmos andando.” Ela comentou desviando o rosto. Atlas poderia jurar que ouviu um fragmento de dor na voz de Lena, mas preferiu manter essa impressão para si.

Eles caminharam sem conversar, cada um submerso no oceano de seus pensamentos. Escutava-se somente o som dos passos ecoando pelas paredes antigas, passos inconscientemente sincronizados. Após alguns minutos, porém as palavras de Lena voltaram à mente de Atlas e ele as analisou com mais cautela.

“Estive caçando com um colega”, Lena dissera. Porém Atlas não conhecia mais nenhum jovem magi fora a própria garota negra, então quem seria esse colega de caça? O garoto lambeu os lábios sentindo-se indeciso, sem saber se deveria indagar algo a respeito ou esperar que Lena voltasse ao assunto naturalmente. Entretanto, antes que Atlas tivesse a chance de decidir-se quanto a questionar algo eles já estavam passando pela porta dupla de madeira que dava para o ginásio.

A Dalton School era uma escola tradicional que prezava pela tradição e o passado, por isso o ginásio coberto era o mesmo desde a construção da escola, passando apenas por pequenas reformas desde então. O ar entusiástico dos anos 50 estava presente nas cores fortes que se destacavam: vermelho, amarelo e marrom madeira.

“Onde está Stella?” Lena perguntou olhando ao redor.

“Ela faltou hoje, Simon disse que Stella precisava de um tempo para si ou algo do tipo.” Atlas respondeu enquanto aproveitava para se alongar.

De repente o semblante de Magdalena tornou-se mais sério e seus lábios se apertaram, quase como se ela estivesse com raiva.

“Isso não é bom.” Magdalena olhou para Atlas e prosseguiu “Nós deveríamos ir até a casa dela no final da aula.”

“Senhorita Northup!” O professor de educação física, Nigel, assoprou seu apito estridente fazendo com que todos os que estivessem perto dele estremecessem.

“Bem a tempo da nossa corrida pela quadra, muito bem, em seus lugares!” Nigel tornara-se obcecado com a corrida de Lena desde que a vira bater o recorde da escola no primeiro dia de aula. Ele tinha certeza que com a ajuda da aluna novata, a Dalton School venceria a liga Junior das escolas de Nova York.

“Nos falamos daqui a pouco.” Magdalena disse com segurança. Assim ela foi até o local indicado por Nigel, tomando sua posição. Lena apoiou seus dedos das mãos e pontas dos pés no piso da quadra, arqueando o corpo de modo tão perfeito que Atlas gostaria de poder desenhá-la naquele exato instante.

“Em suas marcas!” Nigel falou para em seguida olhar orgulhosamente na direção de Lena e então, dar o apito da largada.

“I- Incrível, não é?” Uma voz insegura soou atrás de Atlas. Quando ele se virou para ver de quem se tratava, deu de cara com Eli Durk, o garoto do primeiro ano a quem ele e Magdalena socorreram no primeiro dia de aula, salvando-o de uma bela surra.

“É como se ela não precisasse de pulmões para respirar.” Eli continuou a falar com os olhos vidrados. Atlas virou a cabeça para voltar sua atenção à corrida. Lena facilmente destacava-se, pois estava à frente de todas as outras, correndo com seu corpo esbelto desafiando o espaço e o ar. A garota sustentava uma expressão tranqüila no rosto, beirando o tédio.

“É quase como se ela não fosse humana.” Eli disse para si mesmo.

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STELLA LANCASTER

Lenox Hill Hospital – Três e meia da tarde

As luzes fluorescentes pareciam mais fracas aquela tarde. Enfermeiras e enfermeiros, médicas e médicos caminhavam apressadamente por vezes sussurrando, às vezes apenas apressando o passo; de uma forma ou outra todos os empregados do hospital pareciam estar constantemente ocupados. Stella observava-os em silêncio aguardando ansiosamente o momento em que poderia visitar Sam. Ela estava mordendo o lábio inferior intensamente quando finalmente escutou o próprio nome ser chamado. A senhora Córdelia gentilmente olhou na direção de Stella e pediu que ela se aproximasse do balcão da recepção.

“O senhor Reach já foi devidamente medicado e está apto a receber visitas, senhorita Lancaster.”

“Obrigada Córdelia.” Stella agradeceu gentilmente. Ela dirigiu-se ao elevador do hospital a passos largos, sentindo seu estômago contrair-se de nervosismo. Desde que acordara, Stella sentira crescer dentro de si a irrefutável certeza que precisava ver Sam, como se para se certificar que ele estava bem. A garota olhou para seu reflexo no espelho, com olheiras profundas de noites mal dormidas, lábios ressecados, bochechas rosadas e grandes olhos azuis. Ela ergueu uma das mãos na direção do rosto e pela primeira vez perguntou-se por que era Sam a estar doente e não ela. Porque não eram os dedos dela a pararem de funcionar ao invés dos dele. O elevador chegou ao andar de Sam e Stella saiu no mesmo instante em que três enfermeiros entraram conversando.

“Esta é a namorada dele?” Um deles perguntou discretamente para a enfermeira mais baixa.

“Eu não saberia dizer, mas espero que sim. Esse garoto precisa de toda ajuda disponível.” A enfermeira respondeu apertando o botão do seu andar.

“Ele nunca mais recuperará os movimentos, vocês sabem...” O terceiro enfermeiro então se calou diante da onda de raiva que se abatia sobre ele.

De pé no corredor do hospital e de frente para o elevador, Stella o fuzilava com toda a raiva que um olhar poderia transmitir. Depois de um segundo constrangedor, as portas finalmente se fecharam e o trio se foi. Stella respirou diversas vezes até acalmar-se, soltando o ar pela boca enquanto dava leves tapas em seu rosto.

A jovem de cabelos azuis ajeitou seu uniforme da escola, alisando a saia cinza de pregas, e andou os poucos passos finais até chegar à porta do quarto de Sam. Antes que Stella pudesse bater para avisar que estava entrando, o jovem negro virou o rosto na direção dela e deu um sorriso fraco.

“Entre.” Ele disse soando meio distraído, como costumava ficar após ser medicado.

Stella fez como o pedido e sentou-se no pequeno banco de madeira ao lado da cama do rapaz e enquanto isso, Sam endireitava seu corpo e tocava no CDplayer sobre suas pernas, mudando de música. Stella contemplou-o por um momento, observando seus lábios cheios, nariz largo e olhos castanhos claros. Então ela rapidamente desviou o olhar para as mãos de Sam que tremiam devido ao esforço de tocar no CDplayer. Stella sentiu um enorme nó se formar em sua garganta e a vontade de chorar atingiu-a como um soco no estômago, porém ela apenas respirou fundo e perguntou:

“O que você está ouvindo Sam?”

O garoto não respondeu. Ele continuou encarando o vazio, como se estivesse perdido em pensamentos. O rosto de Sam não esboçava nenhuma emoção.

“Sam?” Stella chamou-o, pondo uma de suas mãos sobre a dele.

“A menina dos cabelos de linho.” Ele replicou seco.

“Ah...” Stella retraiu-se um pouco, encolhendo a mão de volta. “É Debussy, não é? É uma das melhores músicas dele.”

Sam permaneceu calado.

“Estou certa que ninguém me imagina como conhecedora de música clássica. Por vezes meus próprios pais parecem surpresos quando identifico o nome de uma peça.” Stella riu sem humor. “Para eles eu devo parecer só mais uma adolescente estúpida e eu não estou dizendo que não sou... Apenas... Fico feliz em ter outros interesses musicais, além das músicas modernas”

O garoto virou o rosto na direção de Stella e ela animou-se um pouco, permitindo-se prosseguir em sua fala.

“E tudo isso é graças a você, Sam. Eu nunca teria dado uma chance à música clássica se você não tivesse aparecido na minha vida.” Stella sorriu grata e Sam finalmente olhou-a nos olhos.

“Ei, Stella, eu parei pra pensar um pouco... Você sempre vem me visitar, não é? Ao menos uma vez por mês está aqui e me trás CDs de violinistas aclamados ou conversa comigo sobre música clássica.”

Stella concordou com a cabeça, lisonjeada ao finalmente sentir-se notada por Sam. De repente, porém, o tom da voz dele mudou.

“Por quê?” O jovem negro indagou colérico. “Por que está fazendo isso comigo, Stella? Porque me trás de volta uma música que eu não posso mais tocar? Que eu nunca mais poderei tocar?! Você quer me torturar?”

Stella franziu as sobrancelhas em confusão, seu coração palpitando com a força de um trovão.

“Não quero mais que você perca tempo visitando um moribundo como eu! Eu já estou morto! Não preciso de mais nada disso!” Sam gritou gesticulando com fúria. Ele tremia todo o corpo durante o processo, como se estivesse tendo um ataque epilético. Foi nesse instante que o rapaz ergueu o braço acima da cabeça e acertou o CD player sobre suas pernas, quebrando-o. Sangue vívido e vermelho começou a escorrer da mão do menino e, enfim o resto do CD caiu no chão partindo-se e fazendo um som assimétrico, semelhante ao da nota desafinada de Sam anos atrás.

“Sa- Sam, por favor, fique calmo. Eu tenho certeza que você está recebendo o melhor tratamento possível...” Stella tentou pensar em mais palavras de consolo e conforto, mas nada de relevante se sobressaiu em sua mente.

E antes que a garota pudesse piscar, o corpo de Sam apresentou ainda mais tremores até que ele caiu da cama diretamente no piso do quarto, ainda debatendo-se. Stella imediatamente se ajoelhou ao lado dele, com grandes gotas de lágrimas brotando de seus olhos. A garota de cabelos azuis começou a gritar por socorro, implorando que algum médico ou enfermeiro aparecesse. Ela pôs a cabeça de Sam sobre suas coxas repetindo para si mesma que iria ficar tudo bem, iria ficar tudo bem, iria ficar tudo bem. Sam ficaria bem se ambos tivessem um pouco mais de esperança, Stella estava certa disso. Repentinamente uma das mãos de Sam cobriu a mão direita dela.

“Eu não quero mais viver assim” A voz de Sam falhou “Eles disseram que eu poderia desistir.” O jovem negro explodiu em lágrimas ao dizer a frase, como se estivesse guardando isso em seu ser durante muito tempo.

“Os médicos falaram que somente um milagre poderia me curar.” Ao concluir sua sentença, Sam virou seu rosto em direção a porta onde vários enfermeiros e enfermeiras se amontoavam para ajudá-lo. Eles foram rápidos em separar Stella de Sam, mas a garota não queria ficar longe dele. Mesmo sob os protestos da jovem, os enfermeiros a fizeram se afastar e cuidadosamente colocaram Sam na maca de novo.

“Existe!” Ela gritou antes que pudesse pensar duas vezes. Stella respirou acumulando ar para em seguida expulsa-lo.

“Milagres e magia existem, Sam! Eu prometo!” Stella gritava enquanto era puxada contra sua vontade em direção da porta. Antes que a trancassem do lado de fora do quarto 403, Stella observou angustiada quando os enfermeiros doparam Sam com alguma espécie de calmante. O garoto lentamente fechou os olhos e seu semblante imediatamente acalmou-se.

“Sentimos muito pelo ocorrido, senhorita Lancaster. Nós estamos trocando o medicamento de Sam e hoje deram algo um pouco mais forte, esse tipo de mudança repentina no humor dele pode se tornar algo rotineiro de agora em diante e...”

A enfermeira da voz suave continuava explicando o que acontecera e desculpando-se em nome do hospital, mas tal discurso não importava menos naquele momento crítico. Stella, na verdade, nem estava dando-se conta que alguém ainda tentava falar com ela. A única coisa que ela conseguia ver era o animal albino que estava se materializado diante de seus olhos.

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MAGDALENA NORTHUP

The Hampsphire House - 18:40 da noite

Magdalena suspirou sentindo uma onda de frustração tomá-la. Ela e Atlas estavam no saguão da recepção do apartamento de Stella, que ficava perto do Central Park. O prédio contava com uma visão privilegiada dos arranha-céus de Nova York e do Central Park em si, portanto era um dos mais caros que se poderia encontrar no Upper East Side. Um grande lustre pendia majestosamente no teto e cada móvel parecia exalar elegância e luxo. Os moradores, muito bem vestidos, passavam conversando e vez por outra alguém olhava na direção dos dois estudantes da Dalton School. Nada disso tinha a menor relevância para Lena afinal tudo que ela queria era ter certeza que Stella estava okay. Infelizmente, não foi bem isso que aconteceu.

O recepcionista informou calmamente que “a senhorita Lancaster não estava em casa”, mas ainda assim, Lena e Atlas eram bem vindos a esperá-la no bar do prédio, mesmo que não fossem maiores de 21 anos. Atlas agradeceu pela informação e olhou para Lena aguardando novas instruções.

A garota negra meneou a cabeça, pensativa em suas opções. Ela poderia permanecer ali com Atlas e aguardar a chegada de Stella, montando vigia até que a menina rica se fizesse presente. Por outro lado, Lena pensou que talvez estivesse dando muita atenção a este assunto quando outras questões mais urgentes demandavam sua atenção. Foi quando fitou os olhos acinzentados, ávidos e turbulentos de Atlas. De repente a decisão já estava tomada.

“Vamos pra casa.” Magdalena falou dando as costas.

Ela escutou atrás de si Atlas apressando o passo para segui-la e um calor há muito esquecido aconchegou-se no coração da jovem magi. Esse pequeno gesto do garoto desencadeou uma sequência de lembranças e repentinamente, Lena teve vontade de chorar. Ela começou a sentir os olhos arderem e seus canais lacrimais serem inundados por lágrimas guardadas, mas piscou rapidamente antes que Atlas percebesse. Os dois estudantes caminharam entre uma multidão sem rosto até a estação de metrô que levaria ambos ao outro lado da ilha, onde ficava o Brooklyn e o Bronx. Ao chegar à estação de metrô Atlas continuou descendo as escadas metálicas, mas Lena parou de caminhar ainda na entrada da estação.

“Aqui é onde nos despedimos.” Ela explicou serenamente enquanto ascendia um cigarro.

“Eu achei que fossemos voltar juntos.” Atlas lamentou cabisbaixo.

“Tenho algumas pendências para resolver.” A garota replicou soltando a fumaça tóxica pela boca. Ela esperou que Atlas se despedisse e prosseguisse até a fila do metrô, mas ele ficou no mesmo lugar, encarando-a.

“Lena, eu... Posso fazer uma pergunta?” Atlas disse enfim.

Magdalena balançou a cabeça positivamente, curiosa. Atlas respirou fundo algumas vezes e corou um pouco antes de voltar a falar.

“Mais cedo, você mencionou que estava caçando com um amigo... Que amigo?”

“Ciúmes?” Ela retrucou em tom jocoso. Imediatamente o garoto de ombros largos ficou completamente vermelho.

“E-eu só...” Atlas intentou justificar-se, mas Lena cortou-o, gentilmente.

“Está tudo bem, Atlas. Kevin é... Ele foi o primeiro jovem magi que Maya treinou. Eles foram amigos por algum tempo, mas acabaram seguindo caminhos diferentes. Agora Kevin e eu somos colegas de caça.”

“Ah... Sim.” Atlas abaixou o olhar parecendo um pouco triste ao ouvir o nome da líder de torcida “O que o levou a se separar de Maya?”

“Isso é conversa para outro dia. É melhor você ir pra casa, seus pais devem estar preocupados. Aliás, quero que fique com meu número de celular.”

Atlas balançou a cabeça concordando, incapaz de emitir uma palavra e ainda constrangido ainda por, de fato, ter sentido um pouco de ciúmes. Ele pegou um pequeno pedaço de papel com a caligrafia inclinada de Lena e a pôs no bolso da calça. A jovem negra afastou-se dizendo:

“Se souber que Stella está bem me ligue. Até mais.”

“E- Espere!” Ele pediu, segurando o pulso dela cuidadosamente. “Eu irei vê-la amanhã, certo?”

Lena franziu as sobrancelhas, surpresa e confusa. Essa insegurança excessiva de Atlas, como se ele realmente acreditasse que Magdalena fosse desvanecer com o vento era realmente... Incomum. Ela olhou para a mão dele ao redor de seu pulso, uma mão forte e grande que a fazia parecer pequena, talvez até frágil. Por fim, Lena fitou-o nos olhos. Os olhos turbulentos de águas agitadas, olhos de cor indecifrável, olhos que ela observara tantas vezes.

Eles sempre a venceriam.

“Sim, Atlas Youngblood, eu prometo.”

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ATLAS YOUNGBLOOD

Em alguma rua do Brooklyn - 20:25 da noite

A rua estava deserta e o assovio do vento por entre a copa das árvores era o único som presente naquele instante. O garoto estava voltando para casa por um atalho, pegando uma rua que era perpendicular a sua. Atlas caminhava a passos largos, ansioso para chegar a seu apartamento e transformar toda sua distração em arte, desenhando tudo o que vira mais cedo. Em especial ele queria desenhar as diferentes expressões faciais de Lena, a quem ele sentia conhecer um pouco melhor agora. Atlas estava certo que ela era, sim, a garota de seus sonhos, mesmo que houvessem coisas sobre Lena as quais ele não conseguisse entender.

Enquanto o rapaz caminhava entre seus devaneios ele não pode antever que alguém andava em linha reta na sua direção e que em poucos segundos, ambos colidiriam. Atlas tomou um enorme susto ao ser empurrado para trás por uma força descomunal.

“Desculpe!” Ele exclamou retomando o equilíbrio. “Você está bem?” Atlas indagou finalmente olhando para baixo vendo quem o atingira.

Lá estava Hannah Envystone, a garota mais popular da escola.

O que Hannah está fazendo aqui? Ele questionou consigo mesmo. Aquela área do Brooklyn era residencial, não havia nenhum bar cool ou balada underground nos arredores. Não fazia sentido Hannah estar por ali. Entretanto, antes que o jovem tivesse a chance de dizer um oi, Hannah continuou a andar, com seus cabelos ondulados balançando ao vento. Então, curioso como uma presa atraída e prestes a ser enlaçada, Atlas decidiu segui-la para tentar falar com a colega.

“Hannah! Hannah! Sou eu Atlas!”

Depois de dobrar um quarteirão, a moça negra resolveu parar, enfim, permitindo que Atlas conseguisse acompanhá-la.

“Atlas! É tão bom te ver!” A voz de Hannah soava animada como se ela não visse o garoto há muito tempo. “Você também está indo para nossa reunião?”

“Reunião?” Ele ecoou enquanto franzia as sobrancelhas.

“Sim, será uma reunião maravilhosa! Você deveria vir conosco.” Sem esperar por uma resposta, Hannah segurou Atlas pelo antebraço puxando-o com força.

“Hannah, eu estou bem cansado, é sério. Se isso for uma reunião para a comissão da festa de formatura eu já informei aos professores que preferiria ficar fora esse ano. Você sabe que eu sempre me disponho pra ajudar a montar a decoração, mas sou péssimo com a parte de dar idéias e...”

“Não seja tolo, Atlas.” Hannah riu com sua característica voz suave. “Isso não tem nada a ver com aquela escola inútil. Essa reunião levará todos nós a um lugar muito melhor!”

“Lu-lugar melhor?”

“Sim!” Ela caminhou a passos apressados para um dos estacionamentos vinte quatro horas do bairro. Somente então Atlas cogitou a possibilidade de algo estar errado. Ele parou de movimentar-se até que Hannah se virasse.

“Vamos Atlas! Não queremos chegar atrasados.” Ela comentou com um sorriso vazio. Neste momento Atlas viu em um canto do pescoço de Hannah a pequena marca, uma tatuagem holográfica. O bejio mortal.

“Puta que...” Atlas praguejou baixinho.

Hannah estava sendo controlada por uma bruxa! O garoto pensou em angústia. Ele escutou, de repente, o som de passos retumbando no asfalto e ao olhar para os lados viu que várias outras pessoas se reuniam: homens, mulheres e idosos. Cada um deles trazia no rosto o mesmo sorriso vazio e desprovido de vida. Todos tinham a marca do beijo mortal em seus pescoços. Quando deu-se por si, Atlas já estava dentro do local, rodeado de desconhecidos que pareciam prontos para iniciar um ritual macabro.

“Eu sou mesmo um inútil...” Um senhor de idade dizia na entrada do estacionamento. Ele segurava em seus braços uma caixa de madeira que parecia pesada.

“Minha família ficará melhor sem mim” Uma garota ruiva falou esbarrando em Atlas para em seguida cambalear em direção a um círculo de pessoas paradas.

“Um grande peso morto...” Outro rapaz falava sozinho enquanto fechava a porta do estacionamento trancando todos os que estavam do lado de dentro.

Atlas olhou para trás incrédulo, sua respiração velozmente acelerando simultaneamente a percepção de que estava em apuros. Ele viu quando o senhor que carregava uma pesada caixa a pôs no centro do grupo, com excessivo cuidado. O senhor de grisalhos cabelos e rosto cansado, olhou para os outros indivíduos que o cercavam, para então sorrir de forma perversa, enviando calafrios a coluna de Atlas. De dentro da caixa o velho senhor puxou um pequeno objeto verde-escuro, oval e com pequenos padrões quadriculados ao redor.

“Não!” Atlas bradou empurrando-se entre a pequena multidão. Ele finalmente havia visto que o senhor tinha em mãos uma granada. Atlas sentiu o coração martelando com força no peito e percebeu que precisava impedir a granada de ser ativada a qualquer custo, porém antes que o rapaz pudesse alcançar o senhor, ele foi surpreendido.

“Atlas! Pare com isso! Não vê que está interrompendo algo importante aqui?” Hannah irrompeu na frente de Atlas, empurrando-o violentamente para trás. Parecia haver fogo em seu olhar e ela continuou a falar com paixão.

“Depois que o processo estiver concluído todos nós iremos para um lugar muito melhor!”

“Mas nós iremos morrer Hannah! Isso é loucura!” Ele exclamou tentando trazer a colega de volta a razão. Repentinamente a gargalhada cruel de Hannah preencheu todo o ar. Ela afastou-se um pouco pegando impulso e girou o corpo dando um perfeito soco no rosto de Atlas. O mundo inteiro girou. O garoto que fora atingido no queixo ficou desnorteado, vendo cada palmo embaçado, como se estivesse embriagado. Ele precisou respirar mais lentamente e piscar algumas vezes até se certificar de que estava de pé.

“Exatamente.” Hannah falou com frieza. A negra de madeixas onduladas caminhou os poucos passos restantes até o senhor mais velho e tomou-lhe a granada das mãos.

“Em breve você também entenderá, meu amigo.” Hannah ergueu a granada acima da cabeça e todos os presentes, com exceção de Atlas, começaram a aplaudi-la. Nesse momento Atlas compreendeu que era inútil discutir com aquelas pessoas, pois elas estavam sob o controle absoluto da bruxa. O jovem sentiu que tinha poucos segundos restantes para agir.

Ele respirou fundo uma única vez, seus músculos tremendo de antecipação e a pulsação do sangue agitada. Atlas trincou os dentes e correu com toda a velocidade que suas longas pernas permitiam. Sem refletir muito no que estava fazendo, ele rapidamente chegou ao local onde a amiga estava. Ao esticar o braço Atlas apanhou a granada entre os dedos facilmente.

Porém o estudante não parou por aí, pois ele sabia que deveria aniquilar a ameaça da bomba de uma vez por todas, afinal uma explosão dentro do estacionamento em um bairro residencial, certamente teria conseqüências catastróficas. Enquanto inspirava o estranho aroma de gasolina que emanava dos carros e via o pálido brilho da lua iluminar o caminho, Atlas pensou em sua mãe e Sofia, que deveriam estar em casa, ansiosas pela chegada dele. Antes de arremessar a granada pela janela de vidro, ele implorou aos céus que o gesto não a detonasse. Logo, ele fez seu grande arremesso, quebrando a janela sem piedade. O vidro estraçalhado caia no chão enquanto o garoto observava o som inquietante dos cacos se fragmentando. Atlas prendeu a respiração, temeroso que a granada explodisse. Os segundos de espera escorriam lentamente, como se para provocá-lo. Ele soltou o ar pela boca.

Nada aconteceu.

Contudo, o jovem mal teve tempo de sentir alívio. Os olhares direcionados a ele eram mortais como se em suas costas houvesse um alvo com círculos vermelhos e brancos. Atlas engoliu em seco antes de se virar.

“Peguem-no!” Hannah comandou.

Imediatamente as pessoas controladas pela bruxa viraram-se na direção do rapaz e feito zumbis amontoaram-se para persegui-lo. Atlas correu na direção contrária a que tinha escutado a voz da amiga. Ele olhou de relance uma vez e achou ter visto alguém segurando uma faca de cozinha e tal visão o aterrorizou, fazendo-o suar frio. A verdade é que Atlas não havia refletido sobre o caminho que estava tomando, ele apenas se movia apressado, pisando firmemente no chão de cimento áspero. Apesar do esforço de Atlas, aos poucos a distancia entre os perseguidores e ele ia diminuindo, pois seu corpo, cujo cansaço advinha desde a aula de educação física, começou a protestar contra o esforço. A cada passo que Atlas dava sentia seus músculos das pernas e braços arderem, tais quais brasas.

Foi neste momento que ele viu uma porta entre aberta e sem olhar para trás, Atlas adentrou o pequeno espaço, fechando a porta atrás de si. Assim que o garoto trancou a entrada com o peso do próprio corpo, ele afastou um pouco o rosto e por pura sorte evitou ser atingido pela ponta afiada da faca de cozinha que fora jogada contra a porta. Ele olhou ao redor tentando encontrar algo que o ajudasse a segurar o peso das pessoas do lado de fora, que batiam incessantemente na porta.

“Você não pode se esconder de nós, Atlas!” Hannah gritou de algum lugar e isso apenas motivou o rapaz de ombros largos a continuar procurando alguma coisa para se defender. Ele parecia estar em um pequeno depósito com algumas televisões velhas, uma escrivaninha quebrada e uma cadeira.

Enfim, Atlas largou a porta por um segundo, tomando a cadeira e colocando-a embaixo do trinco, temporariamente resolvendo o problema. Porém, antes de comemorar, ele deu-se conta que ainda estava em um ambiente completamente fechado e havia trancado a única saída. Então, como se por mágica Atlas lembrou-se de ter posto o telefone de Magdalena em um dos bolsos da calça jeans e pegando o pedaço de papel com a caligrafia arrojada da moça, Atlas começou a discar o número em seu celular. Lena atendeu no primeiro toque.

“Alô?” A voz composta dela ecoou do outro lado da linha o que deixou Atlas com uma vontade inexplicável de vê-la, apenas olhar para Lena. Então, tentando manter-se concentrado ele explicou a situação, onde estava e o que havia acontecido anteriormente, incluindo o fato de existir uma bruxa em algum lugar por perto que estava controlando pessoas inocentes.

“Estarei aí em um segundo, fique onde está!” Ela replicou urgente.

“Le-lena...” Ele pensou em confessar o que sentia pela jovem, mas a linha ficou muda de repente. Ao olhar para o celular ele viu que não havia mais sinal.

“Droga!” Atlas praguejou em voz alta.

Repentinamente, ele sentiu uma carga de energia atingi-lo. Algo que o arrepiou dos pés a cabeça. Em seus tornozelos a densa névoa que marcava a entrada do labirinto de bruxa começou a surgir, intensificando-se até alcançar o joelho do adolescente e quando Atlas finalmente se deu conta disso, era tarde.

A névoa estava tragando-o muito rapidamente. Ao piscar e abrir os olhos, Atlas já se encontrava dentro do labirinto. Ele respirou algumas vezes e percebeu seu corpo leve como se não houvesse gravidade alguma o trazendo pra baixo.

Flutuando, a palavra se fez em seu cérebro.

O rapaz estava flutuando em meio a um cenário completamente escuro e seu corpo pesava tanto quanto um dente de leão carregado pelo vento. Até que algumas luzes se ascenderam no alto fazendo Atlas fechar os olhos para não receber toda a claridade de uma vez. Então ele sentiu seus pés tocarem algo. Ao ver o local em que estava Atlas arquejou, expulsando o ar preso em seus pulmões. Havia várias televisões na frente dele, de distintos tamanhos e proporções, antigas e de LCD. Cada uma dessas televisões mostrava uma imagem diferente de Maya, sempre do pescoço pra cima. De um lado Atlas enxergou Maya salvando-os da bruxa pela primeira vez, do outro ele visualizou a amiga contando a verdade sobre seu pedido com os olhos cheios de lágrimas, já em outra tela via-se Maya sendo decapitada de novo e de novo em um replay macabro. Ela franzia a sobrancelha, o corte expelia sangue rubro e sua cabeça tombava para frente, sempre na mesma sequência. O garoto intentou dar um passo para trás, aterrorizado demais, e só então percebeu que estava preso. Havia uma corda em seu pescoço, a qual ele não tinha notado antes.

“Permito e peço que não me deixem.” Maya falava em uma das telas onde se via uma imagem do dia em que ela havia falecido, um pouco antes dela e Atlas adentrarem a sala em que a bruxa estava.

“Eu sou bem carente pra uma mentora, não é?” Ela completara com um sorriso de orelha a orelha, seu típico sorriso que continha raios de sol. O olhar de Maya estava cheio de esperança e a garota loira parecia realmente feliz.

Tem razão, é isso, Atlas pensou sentindo-se derrotado, É isso que eu mereço por ser um covarde e mentiroso. É isso que eu mereço por não ter tido a coragem de assinar o contrato antes, me perdoe Maya!

De repente, lágrimas escorriam de seus olhos e ele não podia mais se conter de infelicidade. Atlas permitiu que a bruxa encontrasse a fraqueza em seu coração e quando ela o fez, o piso de madeira sob seus pés se abriu e o rapaz caiu, ficando pendurado apenas pelo pescoço.

O ar que havia em seus pulmões fora sido arrancado completamente pelo susto da queda, ele sentia seus olhos saltando das órbitas e suas mãos intentavam afrouxar a corda que o sufocava, mas era um esforço inútil. Atlas balançava as longas pernas, virando-se em sua própria órbita enquanto batalhava por ar, contudo seu corpo rebelava-se contra ele, pois a corda impedia a passagem do ar para os pulmões. Atlas agonizou abrindo a boca e sugando em desespero, mesmo que nenhum ar entrasse. Após alguns segundos de dor, seus braços ficaram flácidos e ele acabou fechando os olhos com força permitindo que seu último pensamento viajasse até Lena. Atlas queria poder tê-la visto uma última vez...

Enquanto o estudante perdia a consciência, a corda que o pendurava foi partida sem avisos prévios. Atlas caiu por um breve momento, tossindo, e ao voltar seus olhos para o alto, ele viu um grande feixe de luz azul claro rachar a tela das televisões. Faíscas parecidas com sangue saltavam das telas rachadas enquanto algumas cordas intentavam amarrar quem quer que fosse o jovem magi atuando ali. Todavia, tais cordas falharam lentas demais diante da lamina ágil do jovem magi. E como um grande dominó caindo em cascata, todo o labirinto se desfez até que uma pequena semente da angústia surgisse dentre o resquício de magia.

“Nada mal, huh?” O timbre feminino soava familiar e feliz.

Atlas olhou na direção em que pensou ter escutado a voz, mas não pode acreditar no que estava diante dele. Ele tentou falar, entretanto sua garganta ainda estava machucada demais. E ainda assim lhe faltariam palavras.

“Espero não ter chegado muito tarde. Você está bem?” Ela continuou em um tom preocupado. O rapaz só teve forças para balançar a cabeça positivamente.

Era Stella. Em sua mão direita ela segurada uma Claymore cuja longínqua lâmina de cristal azul era idêntica a cor dos olhos dela. A garota usava o uniforme da escola e em suas costas estava uma capa branca, como a de um super herói. Stella havia assinado o contrato, Atlas constatou boquiaberto.

“Você!” A fúria na grave voz de Magdalena ecoou por todo o local. Atlas observou-a parada há alguma distancia, com suas tradicionais vestimentas cinza. Ele não fazia a menor idéia de como Lena havia se materializado lá, pois a porta continuava trancada, ainda assim era ela mesma, e naquele momento o mais ardente ódio transformava seu semblante em um rosto perigosamente cruel.

“Não está um pouco atrasada, Magdalena?” Stella perguntou irônica.

“Stella Lancaster, você...” Lena repetiu irada e sua raiva era tamanha que ela falou o resto da frase praticamente entre dentes.

“Acabou de cometer o pior erro da sua vida!”


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Notas finais do capítulo

Oi, Caros Leitores!
Espero que tenham gostado do capítulo tanto quanto eu adorei escreve-lo!
Gostaria de informa-los que a fic O Despertar do Apocalipse está participando de um concurso online para receber uma resenha! Eu gostaria muitíssimo de poder ir pra segunda fase desse concurso, mas pra isso preciso do voto de vocês! Não se preocupem, pois não há nada de muito complicado! Basta clicar no link abaixo e curtir a imagem no facebook:

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Conto com o apoio de vocês, por favor, me ajudem! (Incluindo os fantasmas!)

Um grande abraço e até o próximo capítulo.