Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 9
"You snore like a pig." Really?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525461/chapter/9

LEIAM AS NOTAS FINAIS OU EU JURO QUE APAGO ESSA HISTÓRIA E VOCÊS NUNCA VÃO SABER O QUE VAI ACONTECER NO FINAL!!!!!!!

Os sonhos de Annabeth foram perturbados, cheios de vozes que não conhecia e outras ligeiramente familiares. Houve um momento em particular, que ela via a partir do ponto de vista de uma criança.

A primeira coisa que Annabeth pôde registrar naquele sonho foi a dor. Dor que corria por seu corpo inteiro, que não deixava que ela movesse o pulso, que fazia com que cada respiração machucasse. E então ela notou as centenas de lágrimas escorrendo por suas bochechas, o suor frio causado pelo medo, o encontro das paredes atrás dela, o chão sujo de sangue sobre o qual estava encolhida. Foi então que pôde olhar para cima, para o homem cuja imagem estava borrada, a não ser pelo cinto que ele balançava furiosamente em uma das mãos. Annabeth podia ouvir que ele estava gritando, ouvir a se mesma implorando para que ele parasse, mas tudo, sejam sons ou imagens, estava embaçado, e ela sentia que não deveria estar vendo aquilo.

De repente, tudo parou. Mesmo desacordada, Annabeth sentiu seus arredores, e sentiu também quando algo foi tirado de suas mãos como os sonhos foram tirados de sua mente. A faca. Annabeth sentiu uma espécie de raiva quando o objeto foi tirado dela, e inconscientemente se levantou, as mãos erguidas em busca da faca.

– Calma aí. – Disse uma voz feminina. – Eu não me moveria se fosse você, garota.

Annabeth entreabriu os olhos para ver o rosto de uma garota a sua frente. Seu cabelo era negro e espetado, como se ela tivesse levado um choque. Seus olhos eram impressionantemente azuis, e ela tinha sardas espalhadas por suas bochechas e nariz.

– Quem... – Annabeth resmungou, mas a garota a interrompeu ao, rudemente, enfiar uma colher com alguma coisa que tinha gosto de pipoca amanteigada, mas que era pudim, em sua boca.

– Fique quieta. – Disse a garota, e Annabeth pôde jurar que viu uma faísca elétrica percorrer uma das pontas espetadas do cabelo preto. – Volte a dormir.

Annabeth voltou a dormir.

Depois disso, os sonhos de Annabeth foram bem estranhos, cheios de animais de estábulo. A maioria queria matá-la. O restante queria comida, mas aparentemente não havia comida, e sim um... chapéu?

Espere um minuto, o quê?

Aquele era um daqueles momentos que você se lembra do que sonhou e pensa que ainda está dormindo, mas na verdade está acordado, tentando agarrar as lembranças de seus sonhos enquanto elas somem. Annabeth abriu os olhos repentinamente, tentando raciocinar por que ela havia pensado em chapéus, antes de perceber que, por algum razão, não estava em sua cama na Yancy.

Annabeth olhou ao redor. Não havia nada de estranho com o lugar em que estava, exceto que era mais agradável do que ela estava acostumada. Havia pequenos bosques, um riacho sinuoso, campos de morangos espalhados embaixo do céu azul. O vale era cercado por colinas ondulantes, e a mais alta, bem na frente dela, era a que tinha o grande pinheiro no topo. Mesmo isso parecia bonito à luz do sol. Estava sentada numa espreguiçadeira em uma enorme varanda, olhando ao longo de uma campina para colinas verdejantes à distância. A brisa tinha cheiro de morangos. Havia uma manta sobre as suas pernas, um travesseiro atrás do pescoço. Tudo isso era ótimo, mas a boca de Annabeth lhe dava a sensação de ter sido usada como ninho por um escorpião. Sua língua estava seca e pegajosa, e todos os dentes doíam. Sobre a mesa ao lado havia bebida num copo alto. Parecia suco de maçã gelado, com um canudinho verde e um guarda-chuva de papel enfiado em uma cereja.

A mão de Annabeth estava tão fraca que ela quase derrubou o copo quando passou os dedos em volta dele.

– Cuidado. – Disse uma voz vagamente familiar, e Annabeth ergueu a cabeça tão rápido que seu pescoço doeu.

Havia um garoto apoiado no gradil da varanda. Ele deveria ter uns dezessete anos, e Annabeth não pôde deixar de notar o quanto ele era bonito. Seu cabelo era de um loiro arenoso, a pele belamente bronzeada e seus olhos eram azuis como o céu do meio-dia. Ele lhe dirigia um sorriso cansado, porém brilhante. A cicatriz que cortava sua bochecha esquerda poderia ser vista como um defeito, mas Annabeth sinceramente achava que era apenas mais uma característica marcante sobre o garoto.

– Eu sou Luke. – Disse ele, sorrindo gentilmente.

Certo, ele podia ser bonito, mas Annabeth não tinha tempo para isso.

– Quanto tempo eu fiquei dormindo? – Ela perguntou.

O sorriso diminuiu um pouco, mas não vacilou.

– Você ficou desacordada por dois dias. – Ele respondeu, antes de sua expressão se tornar preocupada. – Do que se lembra?

Annabeth franziu a testa, tentando se lembrar do que aconteceu dois dias antes.

Monstro... Minotauro... Grover... Comida... Chapéu... Pinheiro... Faca... Percy.

Annabeth piscou, e sua curiosidade não deixou que ela impedisse as palavras que saíram de sua boca sem permissão:

– Quem é Percy?

O efeito foi instantâneo. O sorriso de Luke finalmente deixou seu rosto, que escureceu. A cicatriz de repente não era mais tão marcante para Annabeth, e sim apavorante no rosto sombrio. Mesmo seus olhos azuis haviam mudado, não parecendo mais tão calorosos como antes.

– Como você sabe desse nome? – Ele perguntou friamente.

Annabeth tentou em vão não gaguejar:

– Eu... Eu não sei, eu... Eu tive um sonho. A... A faca, ela...

O rosto de Luke subitamente suavizou. Em um segundo, ele parecia o garoto que tinha sorrido para Annabeth quando ela acordara, e ele levantou a mão para que ela parasse de falar.

– Está tudo bem, Annabeth. – Disse ele. Annabeth teve vontade de perguntar como ele sabia o nome dela, mas ficou quieta. – Eu não deveria ter ficado com raiva. Sinto muito. E Percy... – Ele engoliu em seco, como se o assunto fosse doloroso. – Bem, você vai saber eventualmente.

Luke então se endireitou, se descolando do gradil da varanda para se aproximar de Annabeth. Ele apontou para o copo na mão dela.

– Beba isso. – Ele disse, mas não parecia uma ordem, apenas um conselho. – Vai fazer você se sentir melhor, eu prometo.

Annabeth lhe enviou um olhar desconfiado e, sem tirar os olhos de Luke, levou o canudinho até os lábios.

Ela recuou com o gosto, porque estava esperando suco de maçã. Não tinha nada a ver com isso. Era gosto de biscoito com pedacinhos de chocolate. Biscoito líquido. E não qualquer biscoito! Eram os biscoitos de seu pai, com pedacinhos de chocolate, amanteigados e quentes, o chocolate ainda derretendo. Ao beber aquilo, o corpo inteiro de Annabeth se sentiu bem, aquecido e cheio de energia, assim como saudade. Mais do que nunca, ela sentiu a falta do pai, que deveria estar fazendo aqueles biscoitos naquele momento, em seu pequeno, mas aconchegante apartamento em Nova York.

Antes de se dar conta, Annabeth já tinha esvaziado o copo inteiro. Olhou para dentro dele, e, com certeza, não era uma bebida quente, pois os cubos de gelo não tinham nem derretido.

Luke cruzou os braços, sorrindo divertido e inclinando-se um pouco para trás.

– E então, que gosto tinha? – Ele perguntou casualmente.

Annabeth abriu a boca para dizer que não era da conta dele, mas pensou melhor. Luke era a primeira pessoa a falar com ela quando tinha ficado consciente, além daquela garota estranha. Talvez fosse melhor não fazer um inimigo assim, quando ela havia acabado de chegar ao Acampamento Meio-Sangue, que, ela supôs, era onde ela estava.

– Biscoitos com pedacinhos de chocolate. – Ela respondeu enfim. – Os do meu pai. Feitos em casa.

– Tem uma boa relação com seu pai? – Luke perguntou, parecendo curioso e até um pouco invejoso, e Annabeth o encarou. Ele ergueu as mãos como quem se rende. – Desculpe, não é da minha conta. De qualquer forma, acha que consegue andar? Porque vamos ter que dar a volta na casa. Quíron e o Sr. D estão esperando.

Annabeth se animou ao ouvir o verdadeiro nome de seu professor, e ficou de pé num instante. Quase no mesmo momento, ela caiu para frente, suas pernas ainda não fortes o suficiente para sustentá-la. A única coisa que a impediu de beijar o chão foi Luke, que se moveu na velocidade de um raio para pegá-la.

– Só precisava ter dito que não. – Luke disse, meio rindo. – Vamos, eu ajudo você.

Luke colocou o braço ao redor da cintura de Annabeth, que pôs o dela sobre os ombros dele. Alguma parte do cérebro de Annabeth lhe disse que outras garotas estariam morrendo para estar nessa posição com Luke, mas, para Annabeth, o gesto parecia totalmente fraternal.

Juntos, eles deram a volta até o lado oposto da casa.

Annabeth devia estar na costa norte de Long Island, porque daquele lado da casa o vale seguia até a água, que cintilava a cerca de um quilômetro de distância. A paisagem era pontilhada de construções que lembravam a arquitetura grega antiga – um pavilhão a céu aberto, um anfiteatro, uma arena circular – só que pareciam novos em folha, as colunas de mármore branco reluzindo ao sol. Em uma quadra de areia próxima, uma dúzia de crianças e sátiros jogavam voleibol. Canoas deslizavam por um pequeno lago.

Crianças de camiseta laranja-clara como a de Luke corriam umas atrás das outras em volta de um grupamento de chalés no meio do bosque. Algumas praticavam arco e flecha em alvos. Outras montavam cavalos em uma trilha arborizada e alguns cavalos tinham asas. Pégasus.

Na extremidade da varanda, dois homens estavam sentados frente a frente em uma mesa de carteado. Grover estava lá também, na cadeira entre os outros dois, vestindo uma camisa laranja com os dizeres "Acampamento Meio-Sangue", sem calças, mostrando suas pernas de bode, e parecia nervoso. A menina de cabelos pretos espetados que alimentara Annabeth com colheradas de pudim com sabor de pipoca estava apoiada no gradil da varanda, ao lado deles.

O homem de frente para Annabeth era pequeno, mas gorducho. Tinha um nariz vermelho, grandes olhos chorosos, cabelo cacheado tão preto que era quase roxo e usava uma camisa havaiana com estampa de tigres. Ele parecia um querubim que chegou a meia idade em um acampamento de trailers.

– Aquele é o Sr. D. – Murmurou Luke para Annabeth. – Ele é o diretor do acampamento. Seja educada. A menina é Thalia Grace. Ela é só uma campista, mas está aqui há tanto tempo quanto eu. O outro é...

– Quíron. – Annabeth interrompeu, assentindo. – Eu sei. Ele era meu professor de latim.

Luke virou a cabeça para olhar para ela e sorriu divertindo enquanto erguia uma sobrancelha, mas não disse nada.

– Grover! – Chamou Annabeth, animada por ver seu amigo vivo e bem, embora parecendo incomodado.

O rosto de Grover se animou,e ele olhou para o Sr. D como se pedisse permissão, e o homem balançou a mão com desdém. Grover se levantou da cadeira para abraçar Annabeth, que sentiu os braços de Luke irem embora. Olhando por cima do ombro de Grover, ela viu o loiro ir para o lado de Thalia, e eles trocaram um sorriso rápido.

– Estou feliz que você esteja bem, Annabeth. – Grover sussurrou em seu ouvido, e ela sorriu.

– Eu digo o mesmo, Grover. – Ela sussurrou de volta.

Depois de um minuto, Grover a soltou, e Annabeth se virou para Quíron. Ele parecia o mesmo, sentado em uma cadeira de rodas com seu casaco de tweed, cabelo castanho ralo e barba desalinhada.

– Quíron. – Annabeth cumprimentou, sorrindo e feliz em vê-lo.

Ele sorriu para ela. Seus olhos estavam com aquele brilho travesso de quando ele fazia uma prova-surpresa e todas as respostas da múltipla escolha eram B.

– Ah, bom, Annabeth. – Disse ele. – Agora já temos quatro para o pinochle. Thalia estava se recusando a jogar.

A dita garota sorriu levemente, parecendo um pouco envergonhada, mas só um pouco. Ao lado dela, Luke deu uma risadinha.

Quíron ofereceu uma cadeira à direita do Sr. D, que olhou para Annabeth com olhos injetados e soltou um grande suspiro dramático.

– Ah, suponho que devo dizer isto. Bem-vinda ao Acampamento Meio-Sangue. Pronto. Agora, não espere que eu esteja contente em vê-la.

Foi quando que Annabeth soube que o Sr. D era um idiota.

– Thalia? – Quíron chamou.

Ela avançou, e Quíron a apresentou à Annabeth.

– Esta mocinha cuidou de você até que ficasse boa, Annabeth. Thalia e Luke, meu garoto, por que não vão verificar o beliche de Annabeth? Vamos instalá-la no chalé 11 por enquanto.

– Sim, Quíron. – Eles disseram ao mesmo tempo, e já estavam descendo a escadinha da varanda quando Thalia parou, fazendo com que Luke também parasse para esperá-la.

Ela olhou para Annabeth por um momento, antes de dizer:

– Você ronca como uma porca.

Annabeth viu Luke pondo a mão na boca para conter o riso, mas estava surpresa demais pelas palavras da outra garota para se importar. Thalia então se virou e, com Luke, foi se afastando.

Quíron pigarreou, parecendo constrangido.

– Não se importe com ela, Annabeth. – Ele disse, sorrindo levemente. – Thalia é assim mesmo. Suponho que deva ir se acostumando.

– Certo. – Disse Annabeth, ansiosa para mudar de assunto. - Ahn... Sr. D... significa alguma coisa?

O Sr. D parou de embaralhar as cartas e olhou para Annabeth como se ela tivesse acabado de arrotar alto.

– Nomes são coisas poderosas, mocinha. Você simplesmente não sai por aí os usando sem motivo.

Annabeth apertou as mandíbulas, resmungando:

– Certo. Desculpe.

– Devo dizer, Annabeth – interrompeu o Quíron –, que estou contente em vê-la com vida. Já faz um bom tempo desde que fiz um atendimento domiciliar a um campista em potencial. Detestaria pensar que tinha perdido meu tempo.

– Atendimento domiciliar?

– O ano que passei na Academia Yancy para instruí-la. Temos sátiros de prontidão na maioria das escolas, é claro. Mas Grover me alertou assim que a conheceu. Ele sentiu que você era especial, então decidi ir lá. Convenci o outro professor de latim a... Bem, tirar uma licença.

Annabeth tentou se lembrar do começo do ano escolar. Parecia tanto tempo atrás, mas ela tinha uma vaga lembrança de outro professor de latim em sua primeira semana em Yancy. Então, sem explicação, ele desapareceu e o Sr. Brunner assumiu a turma.

– Você foi a Yancy só para me ensinar? – Annabeth perguntou, surpresa.

Quíron assentiu.

– Honestamente, de início eu não tinha muita certeza a seu respeito. Contatamos o seu pai, informamos que estávamos de olho em você, para o caso de estar pronta para o Acampamento Meio-Sangue. Mas você ainda tinha muito a aprender. Não obstante, chegou aqui viva, e esse é sempre o primeiro teste.

– Grover – disse o Sr. D com impaciência –, vai jogar ou não?

– Sim, senhor! – Grover tremeu quando se sentou na quarta cadeira, embora Annabeth não soubesse por que ele deveria ter tanto medo de um homenzinho gorducho de camisa havaiana com estampa de tigre.

– Você sabe jogar pinochle? – indagou o Sr. D olhando para Annabeth com desconfiança.

– Infelizmente não. – Respondeu ela.

– Infelizmente não, senhor. – Ele corrigiu.

– Senhor. – Annabeth repetiu, rangendo os dentes. Aparentemente, não estava errada ao pensar que o Sr. D era um idiota.

– Bem – Sr. D disse –, este é, juntamente com as lutas de gladiadores e o Pac-Man, um dos melhores jogos já inventados pelos seres humanos. Imaginava que todos os jovens civilizados conhecessem as regras.

– Estou certo de que Annabeth pode aprender. – Disse Quíron.

O diretor do acampamento deu as cartas enquanto explicava impacientemente como se jogava pinochle para Annabeth. Grover se encolhia a cada vez que uma caía em sua pilha. Eles começaram a jogar, mas, depois de alguns minutos jogando em silêncio, Sr. D fez algo que quase fez o queixo de Annabeth cair no chão.

Ele acenou e uma taça apareceu sobre a mesa, como se a luz do sol tivesse momentaneamente se encurvado e transformado o ar em vidro. A taça se encheu de vinho tinto.

Quíron mal ergueu os olhos.

– Sr. D – advertiu –, as suas restrições.

O Sr. D olhou para o vinho e fingiu surpresa.

– Ora, vejam. – Ele olhou para o céu e gritou: – Velhos hábitos! Desculpe!

Houve um trovão.

O Sr. D acenou outra vez e a taça de vinho se transformou em uma nova lata de Diet Coke. Ele suspirou, infeliz, abriu a lata e voltou ao seu jogo de cartas.

Quíron piscou para Annabeth, que tentava conter o sorriso zombeteiro, e disse:

– O Sr. D irritou o pai dele tempos atrás, sentiu-se atraído por uma ninfa dos bosques que tinha sido declarada inacessível.

– O pai adora me castigar. – Dramatizou Sr. D. – Na primeira vez, Proibição. Horrível! Dez anos absolutamente terríveis! Na segunda vez... Bem, ela era mesmo linda, não consegui ficar longe... Na segunda vez, ele me mandou para cá. Colina Meio-Sangue. Acampamento de verão para moleques como você. “Seja uma melhor influência”, ele me disse. “Trabalhe com os jovens em vez de arrasar com eles.” Ah! Que injustiça.

O Sr. D parecia ter seis anos de idade, como uma criancinha fazendo pirraça.

Annabeth repassou os nomes começados em D da mitologia grega. Vinho. A pele de um tigre. Os sátiros que pareciam estar todos trabalhando aqui. O modo como Grover se encolhia de medo, como se o Sr. D fosse seu senhor. Annabeth quase se estapeou por sua estupidez.

– Você é Dioniso. – Disse ela. – O deus do vinho.

O Sr. D revirou os olhos.

– Como eles dizem hoje em dia, Grover? As crianças dizem, “fala sério”?

– S-sim, Sr. D.

– Então, fala sério, Annabeth Chase. Achou o quê; que eu fosse Afrodite?

– Você é um deus.

– Sim, criança.

– Um deus. Você.

Ele se virou para olhar diretamente para Annabeth, e ela viu uma espécie de fogo arroxeado em seus olhos, um indício de que aquele homenzinho reclamão e gorducho só estava lhe mostrando uma minúscula parte de sua verdadeira natureza. Annabeth teve visões de vinhas estrangulando descrentes até a morte, guerreiros bêbados insanos com o entusiasmo da batalha, marinheiros gritando enquanto suas mãos se transformavam em nadadeiras, os rostos se alongando em focinhos de golfinho. Ela sabia que, se o pressionasse, o Sr. D iria lhe mostrar coisas piores. Iria plantar uma doença em seu cérebro que a levaria a usar camisa-de-força pelo resto da vida.

– Gostaria de me testar, criança? – Ele disse em voz baixa.

– Não. Não, senhor.

O fogo diminuiu um pouco. Ele voltou ao jogo de cartas.

– Acho que ganhei.

– Não exatamente Sr. D. – Disse Quíron. Ele baixou uma sequencia, contou os pontos e disse: – O jogo é meu.

Annabeth achou que o Sr. D fosse transformar Quíron em pó em sua cadeira de rodas, mas ele apenas suspirou pelo nariz, como se estivesse acostumado a ser batido pelo professor de latim. Pôs-se de pé, e Grover levantou-se também.

– Estou cansado. – Disse o Sr. D. – Acho que vou tirar uma soneca antes da cantoria desta noite. Mas primeiro, Grover, precisamos conversar de novo sobre seu desempenho para lá de imperfeito nessa missão.

O rosto de Grover cobriu-se de gotículas de suor.

– S-sim, senhor.

O Sr. D voltou-se para Annabeth.

– Chalé 11, Annabeth Chase. E cuidado com seus modos.

Ele se afastou para dentro da casa, com Grover o seguindo arrasado.

– Grover vai ficar bem? – Annabeth perguntou a Quíron.

Quíron assentiu, embora parecesse um pouco perturbado.

– O velho Dionísio não está realmente zangado. Ele apenas detesta seu trabalho. Ele foi... Ahn, confinado à Terra, pode-se dizer, e não pode aguentar ter de esperar mais um século antes de ser autorizado a voltar ao Olimpo.

Eles ficaram em silêncio por um minuto antes de Quíron dizer:

Bem, temos de lhe arranjar um beliche no chalé 11. Ali haverá novos amigos para conhecer. E tempo à vontade para as aulas amanhã. Além disso, haverá guloseimas em volta da fogueira esta noite, e eu simplesmente adoro chocolate.

E então ele se levantou da cadeira de rodas. Mas havia algo de estranho no modo como ele fez isso. A manta caiu de cima das pernas, mas elas não se moveram. A cintura foi ficando mais longa, erguendo-se acima do cinto. De início, Annabeth pensou que estivesse usando roupas de baixo muito compridas de veludo branco, mas à medida que ele foi se erguendo da cadeira, mais alto que qualquer homem, a garota percebeu que a roupa de baixo de veludo não era roupa de baixo; era a parte da frente de um animal, músculos e tendões sob um pelo branco e áspero. E a cadeira de rodas não era uma cadeira. Era algum tipo de recipiente, uma enorme caixa sobre rodas, e devia ser mágica, porque não havia como ela contê-lo inteiro. Uma perna saiu, comprida e com joelho saliente, com um grande casco polido. Depois outra perna dianteira, depois a parte traseira, e depois a caixa ficou vazia, nada além de uma casca de metal com um par de pernas humanas acoplado.

Annabeth olhou para o cavalo que acabara de pular da cadeira de rodas: um enorme corcel branco. Mas, onde devia estar seu pescoço, estava a parte de cima do corpo de Quíron, suavemente enxertada no tronco do cavalo.

– Que alívio. – Disse o centauro. – Fiquei tanto tempo confinado lá dentro que minhas juntas adormeceram. Agora venha, Annabeth Chase. Vamos conhecer os outros campistas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olha aqui, vocês só podem estar de brincadeira comigo. Eu não quero ser chata, mas, gente, não dá! Como é que vocês querem que eu poste capítulos de uma história, se vocês nem sequer pedem? Vocês não comentam, povo! Vocês tem que comentar para que eu saiba se vocês querem que eu faça isso ou aquilo.
Se eu não receber no mínimo 12 comentários (eu deveria pedir 32, que é a quantidade de gente que acompanha) eu juro que não posto mais. Melhor, eu apago a história.
Combinado?
Seven kisses for you!