Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 23
People cry because they were strong for so long, Thalia.




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Na tarde seguinte, 14 de junho, sete dias antes do solstício, o trem entrou em Denver. Thalia, Grover e Annabeth não haviam comido nada desde a noite anterior no vagão-restaurante, em algum lugar de Kansas. Não tomavam banho desde que saíram da Colina Meio-Sangue, e Thalia já tinha certeza de que isso era óbvio.

– Vamos tentar entrar em contato com Quíron. – Disse Thalia para os outros dois. – Quero contar a ele sobre minha conversa com o espírito do rio.

– Não podemos usar telefones, certo? – Perguntou Annabeth, franzindo a testa.

– Não estou falando de telefones.

Ah, disse Percy. Se você vai procurar água, tome um banho. Eu não tenho nariz e quase posso sentir o seu fedor.

Thalia revirou os olhos. Ela não se lembrava de Percy sendo tão sarcástico.

Eles perambularam pelo centro da cidade por cerca de meia hora, embora, o tempo todo, Annabeth tenha parecido confusa sobre que estavam procurando. O ar estava seco e quente, o que era estranho depois da umidade de St. Louis. Aonde quer que fossem, as Montanhas Rochosas pareciam olhar para Thalia, como um tsunami prestes a quebrar sobre a cidade.

Finalmente encontraram um lava-jato vazio. Foram para o boxe mais afastado da rua, atentos a carros de polícia. Éramos três adolescentes sem automóvel em um lava-jato; qualquer policial que se prezasse deduziria que não estávamos tramando nada de bom.

– O que exatamente estamos fazendo? – Annabeth perguntou quando Grover pegou a mangueira de um compressor.

– São setenta e cinco centavos. – Resmungou ao invés de responder, e Thalia resistiu à vontade de sorrir. – Só me restauram duas moedas de vinte e cinco. Thalia?

– Não olhe para mim. – Disse ela. – O vagão-restaurante me deixou lisa.

Annabeth, com visível má vontade, pescou seu último restinho de trocados e passou uma moeda de vinte e cinco centavos para Grover.

– Excelente. – Disse Grover. – Poderíamos fazer isso com qualquer spray, é claro, mas a conexão não fica boa, e meus braços cansam de tanto bombear.

– Do que está falando?

Ele depositou as moedas e ajustou o botão para ESGUICHO FINO.

– M. I.

– Mensagem instantânea? – Annabeth franziu o cenho.

– Mensagem de Íris. – Corrigiu Thalia. – A deusa do arco-íris transmite mensagens aos deuses. Se a gente souber como pedir, e ela não estiver atarefada demais, fará o mesmo para meios-sangues.

– Você convoca a deusa com um compressor? – Annabeth ergueu uma sobrancelha loira com desdém, e, novamente, Thalia teve de resistir a suas vontades, só de desta vez a vontade era de estapear Annabeth.

Por que você a odeia tanto?, Percy perguntou, parecendo quase tímido.

A pergunta surpreendeu Thalia o suficiente para fazê-la pular, o que fez Annabeth se virar para ela com um olhar de quem sabia. Thalia rapidamente a descartou com a mão e voltou sua atenção para Percy.

Eu... eu não sei, eu só... eu não confio nela, disse a Percy.

Thalia, eu estive dentro da cabeça dela, Percy lembrou. Ela não roubou o raio. Eu saberia se ela tivesse. E..., ele hesitou, ela não sente nem um tipo de atração por Luke, Thalia.

Thalia arregalou os olhos.

Espere, o quê?

Thalia, seu ciúme é uma das primeiras coisas que eu pude sentir quando fiz contato com você, sem ofensas. Ele estava acompanhado por amor, Thalia. Eu sei que você gosta de Luke, Thalia. Sempre soube. Você não fez um bom trabalho escondendo isso. Principalmente depois... Depois de Alex.

Thalia fechou a cara ao lembrar-se da garota detestável que eles haviam conhecido enquanto estavam nas ruas. Quer dizer, ela não era tão ruim assim, ela só...

Urgh, pare de pensar nela, Thalia, gemeu Percy. Você está me dando dor de cabeça com essa sua raiva injustificada.

Desculpe, Thalia disse como um reflexo, antes de fazer uma careta. Não é injustificada.

Thalia..., Percy suspirou a parecia prestes a dizer alguma coisa, mas desistiu.

Enquanto isso, Grover apontava o bico da mangueira para o ar e água saia chiando em uma espessa névoa branca.

– A não ser que conheça um meio mais fácil de fazer um arco-íris. - Ele "respondia" à pergunta de Annabeth.

De fato, a luminosidade do fim de tarde se filtrou através da névoa e se decompôs em cores.

Thalia estendeu a palma da mão para Annabeth.

– Dracma, por favor.

Annabeth o entregou com uma careta.

Thalia ergueu a moeda acima da cabeça.

– Ó deusa, aceite nossa oferenda.

Jogou o dracma no arco-íris. Ele desapareceu em um tremeluzir dourado.

– Colina Meio-Sangue. – Solicitou Thalia.

Por um momento, nada aconteceu. E então Thalia estava olhando através da névoa para campos de morangos e o Estreito de Long Island a distância. Era como se estivessem na varanda da Casa Grande. Em pé, de costas para nós junto à cerca, estava um garoto de cabelos da cor da areia, de short e camiseta regata laranja que Thalia reconheceu imediatamente. Segurava uma espada de bronze e parecia olhar atentamente para algo na campina.

– Luke! – Thalia chamou.

Ele se virou, os olhos arregalados. Poder-se-ia jurar que ele estava na frente deles, a um metro de distância, atrás de uma cortina de névoa, só que dava para ver apenas a parte dele que aparecia no arco-íris.

– Thalia! – O seu rosto marcado pela cicatriz se abriu em um sorriso. – E Annabeth também? Graças aos deuses! Vocês estão bem?

Sem sua permissão, Thalia sentiu o rosto começar a esquentar.

– Estamos... ahn... ótimos. – Gaguejou. Ela tentava desesperadamente alisar a camiseta suja e tirar os cabelos soltos da frente do rosto. – Nós pensamos... Quíron... quer dizer...

Percy bufou, mas, felizmente, não disse nada.

– Ele está lá embaixo nos chalés. – O sorriso de Luke se apagou. - Estamos tendo alguns problemas com os campistas. Escute, está tudo legal com vocês? Grover está bem?

– Estou bem aqui. – Gritou Grover. Ele virou o esguicho para um lado e entrou no campo de visão de Luke. – Que tipo de problemas?

Bem naquele momento um grande Lincoln Continental entrou no lava-jato com o rádio tocando hip-hop no último volume.

Quando o carro entrou no boxe ao lado, os alto-falantes vibravam tanto que sacudiram o calçamento.

– Quíron teve de... que barulho é esse? – Gritou Luke.

– Deixa que eu cuido disso! – Gritou Annabeth, sua expressão quase diabólica, e levou um segundo para Thalia entender que era por causa da espectativa de deixar Thalia sozinha com Luke. – Grover, venha!

– O quê? – Disse Grover. – Mas...

– Dê a mangueira à Thalia e venha! – Ordenou ela.

Ok, talvez ela não seja tão inocente quando eu pensei, disse Percy.

Não diga, Thalia rosnou de volta.

Grover resmungou qualquer coisa sobre as meninas serem mais difíceis de entender do que o Oráculo de Delfos, depois entregou a mangueira à Thalia e seguiu Annabeth.

Thalia reajustou o esguicho para manter o arco-íris e ainda ver Luke.

– Quíron teve de separar uma briga. – Gritou Luke, mais alto que a música. – A situação anda um bocado tensa por aqui. A questão-impasse entre os Três Grandes vazou. Ainda não sabemos direito como... provavelmente, foi o mesmo sujeito nojento que convocou o cão infernal. Agora os campistas estão começando a tomar partido. As coisas estão ficando como na Guerra de Tróia, tudo de novo. Afrodite, Ares e Apolo estão de certo modo apoiando Poseidon. Atena está apoiando Zeus. Ninguém realmente apóia Hades.

Thalia estremeceu, mas ela não sabia ao certo se era de pensar que Annabeth estava no mesmo lado que ela ou porque Ares estava com Poseidon.

Pelo menos ele está te ajudando, Percy resmungou fracamente.

No boxe ao lado, Thalia ouviu Annabeth e algum cara discutindo, e então o volume da música abaixou drasticamente.

– Então, qual é a sua situação? – Perguntou Luke para Thalia. – Quíron vai lamentar muito não ter podido falar com você.

Thalia contou-lhe praticamente tudo, deixando de fora a parte sobre Percy a pedido do próprio (algo que Thalia não entendeu). Era tão boa a sensação de ver Luke, de que Thalia estava de volta ao acampamento, mesmo que fosse por alguns minutos, que ela não percebeu por quanto tempo havia falado até que o alarme do compressor disparou. Ela viu que só tinha mais um minuto antes que a água desligasse.

– Queria poder estar aí. – Disse Luke. – Não podemos ajudar muito daqui, infelizmente, mas escute... com certeza foi Hades quem pegou o raio-mestre. Ele estava lá no Olimpo solstício de inverno. Eu estava supervisionando uma excursão e nós o vimos.

– Mas Quíron falou que os deuses não podem tomar diretamente os itens mágicos um do outro.

– É verdade. – Disse Luke, parecendo perturbado. – Ainda assim... Hades tem o elmo das trevas. Como alguém mais poderia se esgueirar para dentro da sala do trono e roubar o raio-mestre? É preciso estar invisível.

Thalia se repentinamente se lembrou do boné de invisibilidade de Annabeth, e seu peito se inflou com a raiva e a suspeita.

Relaxe, Percy a repreendeu. Annabeth só recebeu o boné de Quíron recentemente, antes de começar a missão. Eu já lhe disse que não foi ela, Thalia.

No boxe ao lado, a música parou. Um homem gritou aterrorizado, portas de carro bateram e o Lincoln saiu a toda do lava-jato.

– É melhor você ir ver o que foi aquilo. – Disse Luke. – Escute, Annabeth está usando os tênis voadores? Eu me sentiria melhor se soubesse que lhe serviram de alguma coisa.

– Ah... ahn, sim! – Thalia tentou não soar como parecer uma mentirosa culpada, mesmo que não fosse exatamente culpa dela. – Sim, foram úteis.

– É mesmo? – Sorriu. – Serviram e tudo o mais?

A água cessou. A névoa começou a dispersar.

– Bem, cuide-se lá em Denver. – Gritou Luke, a voz ficando mais baixa. – E lembra-se você mesma e diga a Grover que dessa vez será melhor! Ninguém será transformado em pinheiro se ele apenas...

Mas a névoa se foi, e a imagem de Luke desapareceu. Thalia estava sozinha em um boxe molhado e vazio de lava-jato.

Percy suspirou.

Ele poderia ter deixado essa última parte de fora, não é?

Uma onda da culpa com a qual Thalia havia vivido durante cinco anos a bateu como uma parede de tijolos, e seus ombros caíram.

Percy, ela sussurrou. Sinto muito...

Ah, nem comece, exclamou Percy. Não foi sua culpa, e você sabe disso, só é teimosa demais. Eu fiz a minha escolha naquela noite. Estava disposto a morrer por vocês, Thals.

Percy, você era apenas uma criança...

Você também, Thalia, a resposta dele a surpreendeu. Ninguém jamais deveria pedir para uma menina de dez anos proteger alguém.

Thalia engoliu o nó na garganta e limpou com raiva as lágrimas que ameaçavam cair. Ela não iria chorar, não depois de tanto tempo sendo forte.

Thalia.

O quê?

As pessoas só choram porque foram fortes por muito tempo.

Thalia riu fracamente e sem humor.

Quando foi que o meu irmão mais novo se tornou mais sábio que eu?

Nunca, Thalia. Você só precisa de um pequeno empurrão.

Annabeth e Grover apareceram no canto, rindo, mas pararam quando viram a cara de Thalia.

O sorriso de Annabeth sumiu.

– O que aconteceu, Thalia? O que Luke disse?

– Quase nada. – Mentiu Thalia, sentindo o estômago tão vazio quanto seu chalé no acampamento. – Venham, vamos procurar alguma coisa para jantar.

~~~~~~~PJO~~~~~~~

Poucos minutos depois, os três estavam sentados num reservado de um pequeno e reluzente restaurante todo cromado. À sua volta, famílias comiam hambúrgueres e bebiam cerveja e refrigerantes. Finalmente, a garçonete veio. Ela ergueu uma sobrancelha com um ar cético.

– Então?

Thalia disse:

– Nós, ahn, queremos pedir o jantar.

– Têm dinheiro para pagar, crianças?

O lábio inferior de Grover tremeu. Thalia teve medo de que ele começasse a balir, ou, pior, começasse a comer o linóleo. Annabeth parecia prestes a desmaiar de fome. Thalia sentiu o estômago se contorcer, mas não de fome. Ela já havia passado por isso antes. Tantas vezes, no tempo em que vivia nas ruas, que implorava por comida enquanto Percy, pálido e com os ossos visíveis através da pele, se apoiava nela com os olhos caídos. Às vezes, eles conseguiam comida ou mesmo algum dinheiro, mas outras vezes, era necessário que Luke carregasse Percy porque ele, tão pequeno, não tinha mais forças.

Seu cabelo começou a se levantar com a eletricidade dentro dela.

Thalia..., Percy disse como um aviso.

Thalia estava prestes a se levantar e sacudir a garçonete pelos ombros para que ela lhes desse comida, quando um forte ronco sacudiu o edifício inteiro; uma motocicleta do tamanho de um filhote de elefante havia encostado no meio-fio.

Todas as conversas cessaram. O farol da motocicleta brilhava em vermelho. Tinha labaredas pintadas sobre o tanque de gasolina e um coldre de cada lado, com espingardas de caça. O assento era de couro, mas um couro que parecia... bem, pele humana, caucasiana.

O cara da moto podia fazer lutadores profissionais saírem correndo chamando a mamãe. Vestia uma camiseta justa vermelha, que ressaltava os músculos, jeans pretos e um casaco comprido de couro preto, com um facão de caça preso à coxa. Usava óculos escuros vermelhos, presos na nuca, e tinha a cara mais cruel, mais brutal que eu já tinha visto – boa-pinta, eu acho, porém mau, com cabelo negro como petróleo aparado a máquina, o rosto marcado por cicatrizes de muitas, muitas brigas.

Thalia sabia quem ele era. Ela o havia visto no solstício de inverno.

Quando ele entrou no restaurante, um vento quente e seco soprou no ambiente. Todos se levantaram, como se estivessem hipnotizados, mas o motociclista acenou a mão com desdém e eles sentaram de novo. Todos voltaram às suas conversas. A garçonete piscou, como se alguém tivesse apertado o botão de retroceder em seu cérebro. Ela perguntou novamente:

– Têm dinheiro para pagar, crianças?

O cara da moto disse:

– É por minha conta. – Escorregou para dentro do reservado do trio, pequeno demais para ele, e espremeu Thalia contra janela, fazendo-a rosnar.

Encarou a garçonete, que olhava para ele de olhos arregalados, e disse:

– Ainda está aí?

Ele apontou para ela, e ela ficou rígida. Virou-se como se alguém a tivesse girado e marchou de volta para a cozinha.

O homem da moto, que Thalia já conhecia como Ares, olhou para ela. Ela não pôde ver seus olhos atrás dos óculos vermelhos, mas sentimentos ruins começaram a fervilhar em seu estômago. Raiva, ressentimento, amargor. Teve vontade de bater na parede, mais do que o normal, vontade de comprar briga com alguém.

Ele lhe deu um sorriso maldoso.

– Então você é a garotinha do pai, ahn?

Antes que Thalia pudesse formular uma resposta rude, Annabeth, surpreendentemente, interrompeu:

– O que você tem com isso?

Os olhos de Grover lançaram um alerta para ela.

– Annabeth, este é...

– Tudo bem. – Disse Ares. – Não me incomodo com um pouco de petulância. Desde que você lembre quem manda. Sabe quem eu sou, priminha?

Algo piscou nos olhos de Annabeth, como se ela tivesse de repente percebido algo.

– Você é o pai de Clarisse. – Disse ela. – Ares, deus da guerra.

Ares arreganhou um sorriso e tirou os óculos. Onde deveriam estar os olhos havia apenas fogo, órbitas vazias brilhando com miniexplosões nucleares.

– Certo, princesinha. Ouvi que quebrou a lança de Clarisse.

– Ela estava pedindo isso.

– Provavelmente. Tranquilo. Não me meto nas brigas dos meus filhos, sabia? Estou aqui porque ouvi dizer que Thalia estava na cidade. Tenho uma pequena proposta para você. - A última parte foi dirigida para Thalia.

A garçonete voltou trazendo bandejas com montes de comida – cheeseburguers, batatas fritas, anéis de cebola empanados e milk-shakes de chocolate.

Ares entregou-lhe alguns dracmas de ouro.

Ela olhou nervosa para as moedas.

– Mas estas não são...

Ares puxou seu enorme facão e começou a limpar as unhas.

– Algum problema, benzinho?

A garçonete engoliu em seco e se afastou com o ouro.

– Não pode fazer isso. – Disse a Ares. – Não pode ameaçar pessoas com uma faca.

Ares riu.

– Está brincando? Eu adoro este país. Melhor lugar, depois de Esparta. Além do mais... – Ele sorriu maliciosamente. – Vai dizer que não estava com vontade de bater nela? – Thalia decidiu não responder. – De qualquer forma, de volta à minha proposta. Preciso que me faça um favor.

– Que favor eu poderia fazer para um deus?

– Algo que um deus não tem tempo de fazer ele mesmo. Nada demais. Larguei meu escudo em um parque aquático abandonado aqui na cidade. Estava no meio de um... encontro com minha namorada. Fomos interrompidos. Deixei o escudo para trás. Quero que vá buscá-lo para mim.

– Por que não volta lá e pega você mesmo? – Annabeth perguntou num tom rude.

O fogo nas órbitas dele ficou um pouco mais incandescente.

– Por que não transformo a princesa em uma marmota e a atropelo com minha Harley? Porque não estou com vontade. Um deus está dando a você a oportunidade de se pôr à prova, Thalia Grace. Você vai mostrar que é um covarde? – Ele se inclinou para a frente. – Ou, quem sabe, você só lute quando tem aqueles garotos perto de você. um deles morreu e o pai o transformou em árvore, certo? Qual era o nome dele? Perry?

Thalia começou a se levantar para iniciar um literalmente "bate-papo" com Ares, mas Percy a parou.

Espere!, disse ele. Thalia, ele é que está deixando você com raiva. Ele adoraria se você o atacasse. Não dê a ele esse gostinho.

Mas ele...

Thalia, eu não me sinto ofendido pelo que ele disse. Você não deveria ficar também.

– Não estamos interessados – Thalia falou a contragosto. – Já temos uma missão.

Os olhos ardentes de Ares fizeram Thalia ver coisas que ela não queria – sangue, fumaça e corpos no campo de batalha.

– Eu sei de tudo sobre sua missão, sua imprestável. Quando aquele item foi roubado, Zeus enviou seus melhores para procurá-lo: Apolo, Atena, Ártemis e, naturalmente, eu. Se eu não consegui farejar uma arma tão poderosa... – Ele lambeu o beiço, como se a própria ideia do raio-mestre o tivesse deixado com fome. – Bem... se eu não consegui encontrá-lo, você não tem nenhuma chance. Entretanto, estou tentando lhe dar o beneficio da dúvida. Aliás, fui eu quem contou minhas suspeitas sobre o velho Bafo de Cadáver e o Barba de Craca.

– Você disse a ele que Hades e Poseidon roubaram o raio?

– Claro. Acirrar os ânimos para uma guerra. O truque mais antigo de todos. Eu o reconheci imediatamente. De certo modo, você tem de agradecer a mim por sua missãozinha.

– Obrigada. – Thalia resmungou.

– Ei, sou um cara generoso. Faça meu servicinho e eu a ajudarei em sua viagem. Vou arranjar uma carona para oeste para você e seus amigos.

– Estamos indo muito bem sozinhos.

– Sim, certo. Sem dinheiro. Sem rodas. Sem nenhuma pista do que vão enfrentar. Ajude-me, e talvez eu lhe conte algo sobre que precisa saber. Algo sobre o seu irmão.

O coração de Thalia parou por um minuto.

– Meu irmão?

Ele sorriu.

– Isso despertou sua atenção. O parque aquático fica um quilômetro e meio a oeste, na Delancy. Não há como errar. Procurem o Túnel do Amor.

– O que interrompeu seu namoro? – Annabeth perguntou. – Alguma coisa o assustou?

Ares arreganhou os dentes, mas Thalia já tinha visto aquela cara ameaçadora antes, em Clarisse. Havia nela algo de incerto, quase um nervosismo.

– Você tem sorte de ter me encontrado, princesa, e não um dos outros olimpianos. Eles não são tão indulgentes com a grosseria quanto eu. Encontrarei você aqui novamente quando tiver terminado, irmãzinha. Não me desaponte.

Depois disso Thalia deve ter desmaiado, ou entrado em um transe, pois quando voltou a abrir os olhos Ares havia desaparecido. Podia ter pensado que toda a conversa fora um sonho, mas a expressão de Annabeth e Grover lhe dizia outra coisa.

– Nada bom. – Disse Grover. – Ares a procurou, Thalia. Isso não é nada bom.

Thalia olhou pela janela. A motocicleta havia desaparecido.

Ela pensou no que Ares dissera: "Talvez eu lhe conte algo sobre que precisa saber. Algo sobre o seu irmão. Algo sobre o seu irmão."

Será que ele estava falando de Percy? Ou talvez... Não, isso é impossível.

Na verdade, disse Percy, você não sabe o que realmente aconteceu com Jason, sabe?

Thalia sentiu um mal no estômago.

Será que Ares realmente sabia algo sobre seu irmão, ou estava apenas jogando com ela? Agora que ele se fora, toda a sua raiva passara. Thalia percebeu que Ares devia adorar bagunçar as emoções das pessoas. Era esse o seu poder – exacerbar tanto as paixões que elas atrapalhavam sua capacidade de pensar.

– Deve ser algum tipo de truque. – Annabeth falou. – Esqueçam Ares. Vamos embora e pronto.

– Não podemos. – Disse Grover. – Olhe, detesto Ares tanto quanto qualquer um, mas não é possível ignorar os deuses a não ser que se deseje um azar tremendo. Ele não estava brincando sobre transformar você em um roedor.

Thalia tinha os olhos baixos para seu cheeseburger, que de repente não parecia mais tão apetitoso.

– Por que ele precisa de nós? - Perguntou Annabeth.

– Talvez seja um problema que requeira inteligência. – Disse Grover. – Ares tem força. É tudo o que tem. Mesmo às vezes tem de se curvar à sabedoria.

– Mas esse parque aquático... ele agiu quase como se estivesse apavorado. O que faria um deus da guerra fugir desse jeito?

Thalia ergueu os olhos e trocou um olhar com Grover.

Thalia, disse Percy cautelosamente. Não sabemos se ele estava falando de Jason. E Annabeth está certa. O que Ares não pode fazer deve ser perigoso. Pense bem no que você quer.

Thalia pensou por um momento.

E disse:

– Acho que teremos de descobrir.


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Notas finais do capítulo

GENTE, CHEGAMOS AOS 200 COMENTÁRIOS! I'M SO HAPPY!

Como comemoração pelos 200 (202) comentários, aí está um capítulo enorme! Sem muita ação, mas momentos Percy & Thalia e #ThalialovesLuke.E Percy ainda defendeu Annabeth! Partiu reconciliação Percabeth! Espero que tenham gostado do capítulo! Comentem! Quem sabe cheguemos aos 300 antes da parte Ladrão de Raios acabar, porque cara... eu ainda estou tipo no meio do livro! XD

Perdoem qualquer erro, please!

Obrigada a todos que comentaram e eu espero que comentem mais ainda! Recomendações e favoritos bem-vindos!

Seven kisses for you!