Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 22
A song no one sang, once upon a November...


Notas iniciais do capítulo

Título saído no filme Anastasia. O verdadeiro é "A song someone sings, once upon a December".



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525461/chapter/22

NOTAS

F

I

N

A

I

S,

PLEASE!

Thalia odiava admitir, mas, enquanto ela adoraria contar que teve alguma revelação profunda enquanto caía ou que riu em face da morte, tudo o que realmente passou por sua cabeça foi: Aaaaarggghhhh!

Em algum momento durante a queda, o corpo de Thalia havia se virado para encarar a morte. O rio ia em sua direção na velocidade de um caminhão. O vento arrancou o fôlego dos pulmões de Thalia. Torres, arranha-céus e pontes giravam entrando e saindo de seu campo de visão. Thalia não conseguia respirar. Ela sentia enquanto seu coração acelerava cada vez mais devido ao seu desespero crescente. E então...

Houve um flash dourado, e o tempo parou.

Thalia!, veio a vez aparentemente arfante de Percy dentro de sua cabeça. Você precisa se acalmar! Concentre-se em manter-se no ar!

O quê?!, Thalia exclamou de volta. Do que diabos você está falando?! Eu não posso me manter no ar, eu vou cair!

Thalia, o tempo não vai ficar parado para sempre. Concentre-se. Para de pensar que vai cair e ao invés disso pense que não quer cair.

Thalia fechou os olhos e fez o que ele disse. Pensou sobre o quanto queria viver, o quanto queria voltar para o Acampamento Meio-Sangue. Quanto tempo a mais queria ter para voltar a conhecer Percy, com quem não falava já há cinco anos. O quanto queria pedir desculpas à Annabeth pela forma como a tratou e não acreditou nela. O quanto queria abraçar Luke e dizer a ele que seu irmãozinho estava vivo esse tempo todo e que agora eles poderiam voltar a ser a família unida que costumavam ser, mas que não haviam sido desde a perda de seu membro mais importante. Pensou no quanto queria viver...

E de repente não estava mais caindo.

Thalia abriu os olhos lenta e cautelosamente, temendo que a razão de ter parado de cair fosse já ter atingido o fundo: já ter morrido, e nem sequer sentido. Ao invés disso, o que viu foi o rio Mississipi a apenas cinco metros de distância de seu rosto. A visão fez com que cada pensamento em sua mente fosse substituído com o horror e o enjôo de estar a mais de um metro de uma superfície, e mais de vinte e cinco metros de uma superfície firme.

Thalia, não!

A voz sem tom de Percy foi a última coisa que ouviu antes de estar no meio de um turbilhão de bolhas. Thalia afundou nas trevas, certa de que acabaria sendo engolida por trinta metros de lama e perdida para sempre. Ela segurava o pouco ar que ainda restava em seus pulmões, batendo os braços desesperadamente numa tentativa frágil de voltar à superfície, mas as bolhas eram tudo o que ela via, e Thalia já não tinha a mínima ideia se estava perto ou longe do fundo. Rapidamente, cada pedaço de sua mente era tomado pelo desespero que apenas tornavam suas tentativas mais fúteis.

Thalia...

Thalia bateu os braços furiosamente, recusando-se a desistir.

Thalia, espere...

Ela não podia respirar, ela não podia, DROGA!

Thalia!

A força começou a deixá-la...

Thalia, fique acordada...

Seus movimentos nem sequer levantavam bolhas mais...

Thalia, abra os olhos.

Fracamente, Thalia abriu os olhos que ela nem sabia que havia fechado, apenas um milissegundo antes de ser atingida por uma grande bolha de ar. Estava ao redor dela agora. Logo que percebeu que podia respirar, Thalia tentou fazê-lo, mas havia tanta água em seus pulmões... Ela tossiu, tentando expulsar a água para dar lugar ao ar do qual ela tanto precisava...

Depois de finalmente conseguir estabilizar a própria respiração, Thalia se ergueu de pé, enfim recobrando a consciência de que estava dentro de uma bolha de ar no meio do Rio Mississipi. Olhou ao redor, seu cérebro tentando raciocinar muita coisa de uma vez. Primeiro: antes de cair, ela havia voado. Flutuado, tecnicamente, mas ainda assim. Deveria... agradecer? Bem, não é como se Zeus fosse ouvir uma palavra de qualquer lugar debaixo da água, então provavelmente não, não deveria. Talvez não quisesse.

Segundo: ela estava dentro de uma bolha de ar no meio do Rio Mississipi. Como diabos isso deveria ser possível? Além do mais, ela era uma filha de Zeus. Como... poderia estar respirando de baixo d’água, de repente seca?

Terceiro: por que ela tinha a impressão de que havia alguém lá embaixo com ela?

Thalia pegou seu spray, e ele logo se transformou em sua lança. Ela ergueu-a, olhando em volta cuidadosa e desafiadoramente, sua posição defensiva.

– Quem está aí? – Perguntou para as sombras.

Então, nas mesmas sombras, Thalia a viu: uma mulher da cor da água, um fantasma na corrente, flutuando logo a frente da ponta de sua lança. Tinha longos cabelos negros ondulantes, e os olhos, pouco visíveis, eram verde-mar.

Thalia estreitou os olhos, esperando parecer ameaçadora.

Abaixe essa arma, filha de Zeus, os lábios da mulher se mexiam, mas o que Thalia ouvia era um leve sussurro em sua mente, mas não como Percy; Percy não tinha voz. A tolerância de meu senhor é limitada.

– Seu senhor...? – Thalia franziu a testa em pensamento antes de algo piscar em seu cérebro. – Poseidon, certo?

A mulher assentiu.

Meu senhor Poseidon sabe de sua missão, Thalia Grace, disse. A missão para encontrar o Raio-Mestre roubado de seu pai. Ele oferece-lhe ajuda.

Thalia ficou tensa, já sabendo onde isso daria.

– E o que ele quer em troca? – Perguntou.

A expressão da mulher era ilegível.

Ele deseja que você possa provar a inocência dele, respondeu calmamente. Ele não roubou o raio, fato sobre o qual você provavelmente já sabe. Mas a teimosia de seu pai o cegou. Talvez, depois de recuperar o raio, você possa ser capaz de abrir-lhe os olhos, tanto o quanto é possível.

Thalia bufou, abrindo a boca pronta para recusar, mas o sussurro de Percy a parou.

Aceite, disse ele.

O quê? Por quê?

Ah, eu não sei. Deixe-me pensar... Um, você está a metros de profundidade no Mississipi e não sabe nadar; dois, você não tem ideia se o raio está realmente com Hades e, mesmo que esteja, como vai pegá-lo de volta e três, um dos deuses mais poderosos do Panteão Grego está lhe oferecendo ajuda. Devo apontar mais alguma coisa ou...?

Thalia bufou novamente, sentindo o rosto se contorcer numa careta.

Não admira que Annabeth é tão insuportável, pensou.

Cale-se. Eu estou tentando ajudar.

Thalia cerrou os dentes e se virou para a mulher, que ainda a observava com olhos verdes atentos e calculistas.

– Tudo bem. – Disse, guardando a lança e cruzando os braços. – Poseidon me ajuda e em troca eu provo a inocência dele depois que encontrar o raio. Fechado?

A mulher a examinou por um momento antes de assentir.

Muito bem, suspirou. Ouça, Thalia Grace. Antes de descer para o Mundo Inferior, deve ir para a praia de Santa Mônica. Eu a esperarei lá.

– O quê? – Thalia exclamou, descruzando os braços. – Mas...

Thalia, o rio é muito sujo para a minha presença, disse a mulher, os olhos parecendo tristes por um momento. E não se esqueça, cuidado com os presentes...

A voz dela sumiu.

– Presentes? – Perguntou Thalia. – Que presentes? Espere!

Ela tentou falar novamente, mas o som se fora. Sua imagem se desfez. A bolha de ar na qual Thalia estava começou a se mover para cima, e a luz fraca do mundo lá fora chegava mais e mais perto, e Thalia abaixou a cabeça e fechou os olhos antes de emergir ao lado de uma embalagem de McDonald’s flutuante. Eca.

Thalia sentiu uma pontada de confiança no fundo de sua mente, provavelmente Percy, quando usou os braços e pernas para nadar para a margem.

Thalia chegou à margem. A um quarteirão de distância, todos os veículos de emergência de St. Louis cercavam o Arco. Helicópteros da policia circulavam no alto. A multidão de curiosos me lembrou Times Square no dia de ano-novo.

Uma menininha disse:

– Mamãe! Aquela menina saiu andando do rio.

– Que bom, querida. – Disse a mãe, esticando o pescoço para ver as ambulâncias.

– Mas ela surgiu do nada!

– Que bom, querida.

Uma repórter estava falando para a câmera:

“Tudo leva a crer, pelo que soubemos, que não se trata de um ataque terrorista, mas as investigações ainda estão muito no começo. Os danos, como podem ver, são muito sérios. Estamos tentando obter acesso a alguns sobreviventes para questioná-los a respeito de testemunhos de que alguém teria caído de cima do Arco.”

Thalia tentou abrir caminho na multidão para ver o que estava acontecendo depois da barreira policial.

“... uma adolescente”, outro reporte estava dizendo. “O Canal 5 soube que as câmeras de vigilância mostram uma adolescente enlouquecida na plataforma de observação, detonando de algum modo aquela estranha explosão. É difícil acreditar, John, mas é isso que estamos ouvindo dizer. Mais uma vez, não há nenhuma fatalidade confirmada...”

Thalia recuou, tentando manter a cabeça baixa. Tinha de dar uma volta enorme para contornar o perímetro policial. Havia policiais e repórteres por toda parte.

Ela estava quase perdendo a esperança de encontrar Annabeth e Grover quando uma voz familiar baliu:

– Thaliiiiiiiiiiiiaaa!

Thalia se virou e deu com o abraço de urso de Grover – errr, abraço de bode. Ele disse:

– Pensamos que tivesse ido para o Hades pelo pior caminho!

Bem, com certeza é o mais fácil, resmungou Percy.

Annabeth estava trás de Grover, tentando fazer cara de zangada, mas até ela parecia aliviada por ver Thalia.

– Não podemos deixar você cinco minutos sozinha! O que aconteceu?

– Foi como um tombo.

– Thalia! Cento e noventa e dois metros?

Atrás de nós, um policial gritou:

– Abram passagem! – A multidão se dividiu e uma dupla de paramédicos avançou empurrando uma mulher numa maca. Thalia a reconheceu imediatamente como a mãe do menininho que estava na plataforma. Ela dizia:

– E então aquele cachorro enorme, aquele chihuahua enorme cuspindo fogo...

– Certo, minha senhora. – Disse o paramédico. – Acalme-se por favor. Sua família está bem. O medicamento está começando a fazer efeito.

– Eu não estou louca! Aquela garota matou os monstros com aquela lança e depois pulou pelo buraco! – Então ela me viu Thalia. – Lá está ela! É aquela garota!

Thalia se virou rapidamente e puxou Annabeth e Grover atrás dela. Desaparecemos na multidão.

– O que está acontecendo? – Perguntou Annabeth, franzindo a testa do jeitinho que Thalia odiava. – Ela estava falando do chihuahua do elevador?

Thalia contou a eles uma rápida história sobre a Quimera, Equidna, seu show de mergulho e a mensagem da moça embaixo d’água, meniconando Percy aqui e ali.

Puxa, obrigado, disse ele. Valeu mesmo.

– Uau. – Disse Grover. – Temos de levá-la a Santa Monica! Não pode ignorar Poseidon, muito menos depois de aceitar a oferta dele.

Antes que Annabeth pudesse responder, eles passaram por outro repórter que gravava um boletim informativo, e Thalia quase ficou paralisada quando ele disse:

– Thalia Grace. É isso mesmo, Dan. O canal 12 soube que o menina que pode ter causado essa explosão se encaixa na descrição de uma garotinha desaparecida seis anos atrás em Los Angeles e cujo caso já foi fechado. No entanto, acredita-se que a menina esteja viva e viajando este tempo todo. Para os nossos espectadores de casa, esta é a foto de Thalia Grace, vista pela última vez em novembro de 1999.

Thalia, Grover e Annabeth se abaixaram atrás do carro de reportagem e se esgueiraram para um beco.

– Primeiro o mais importante. – Thalia disse a Grover. – Temos de sair da cidade!

Annabeth não falava nada. Seu olhar cinzento estava fixo em Thalia, como se esperasse alguma coisa. Sua mão se contorcia e se apertava em um punho, as sobrancelhas loiras tremendo enquanto ela apertava o lábio inferior entre os dentes.

Ela quer a faca de volta, Percy explicou, respondendo a pergunta silenciosa de Thalia sobre o que diabos havia de errado com aquela garota.

Eu... devo devolver?, perguntou Thalia. Ela não estava certa de que devolveria de qualquer jeito. Finalmente estava falando com Percy depois de cinco anos pensando que ele estava morto. Não queria perdê-lo agora, muito menos perdê-lo para Annabeth, que não o havia conhecido antes de ele ser uma árvore/faca como Thalia tinha, não o amava com Thalia, não cantara “Hey, Jude” e “One Life” para ele dormir como Thalia cantara, não o abraçara para oferecer seu calor nas noites frias como Thalia abraçara, e não o protegeria a qualquer custo como Thalia faria. Ela era uma estranha, uma ladra que havia entrado em suas vidas por acaso e que só tinha sabido de Percy por acaso.

Não, Percy respondeu, e Thalia se perguntou se ele tinha ouvido tudo o que ela pensara naquele curto espaço de tempo. Eu... não quero falar com Annabeth agora.

Thalia deu as costas para os olhos suplicantes de Annabeth.

De algum modo eles conseguiram voltar à estação ferroviária sem serem vistos. Embarcaram no trem bem no momento em que estava saindo para Denver. O trem seguiu para oeste enquanto a noite caía, com as luzes da polícia ainda piscando contra a silhueta de St. Louis atrás de deles.

Durante toda a viagem, Thalia permaneceu olhando para as mãos entrelaçadas no colo, pensando no que havia acontecido naquela semana de novembro de 1999 enquanto ouvia as palavras baixas tranquilizadoras de Percy em sua mente.

Vai ficar tudo bem, Thalia. Não chore. Jason não iria querer que você chorasse. Vai ficar tudo bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pequeno, mas em minha defesa essa parte do livro É pequena, e eu aumentei o quanto pude. E eu queria postar rápido para vocês, so, um pouco de gratidão seria bom...

PRESTEM ATENÇÃO AQUI: eu recebi algumas perguntas de se haveria Thaluke, eu vou responder agora: haverá, sim, um certo drama entre os dois, mas Thalia NÃO VAI ficar com Luke. Você verão isso posteriormente, contanto que acompanhem a história mesmo depois de tal decepção para os fãs Thaluke. Mas eu prometo: vou tentar aumentar a tensão entre eles ao MÁXIMO, está bem? Haverá ciúmes, lágrimas, memórias... E essas coisas meladas.

Quero dar as boas vindas para os leitores novos e, embora sem direitos para fazê-lo, peço colaboração para comentar. (Sabe, um dia desses eu estava pensando na vida e pensei "Por que eu exijo tanto os comentários? No que eles vão ajudar no meu intelecto e atividade cardíaca?" e outro lado do cérebro respondeu "Nah. Eles me fazem feliz, idiota." e o outro respondeu "Difícil isso acontecer..." ............ Cara, isso foi estranho.)

Espero que tenham gostado do capítulo!

Seven kisses for you!