Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 11
Dinner, Miracles, Girlfriends... Urgh, it hurts my brain!


Notas iniciais do capítulo

LEIAM AS NOTAS FINAIS!



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De volta ao chalé 11, todo mundo estava falando e se divertindo, esperando o jantar.

Pela primeira vez, Annabeth notou que muitos campistas tinham feições parecidas: narizes pontudos, sobrancelhas arqueadas, sorrisos maliciosos. Eram o tipo de criança que os professores classificariam como encrenqueiros. Felizmente, ninguém prestou muita atenção em Annabeth quando ela foi até seu lugar no chão e se deixou cair.

Luke, seu novo conselheiro, se aproximou. Ele também tinha a aparência familiar de Hermes. Estava desfigurada pela cicatriz na face direita, mas o sorriso estava intacto.

– Arranjei um saco de dormir para você. – Disse ele. – E, aqui, furtei para você alguns artigos de toalete da loja do acampamento.

Não deu para saber se ele estava brincando quanto àquela parte de furtar.

– Obrigada. – Annabeth disse, realmente agradecida.

– Sem problemas. – Luke sentou-se ao seu lado, descansando as costas contra a parede. – Primeiro dia difícil?

– Meu lugar não é aqui. – Respondeu Annabeth. – Nem mesmo acredito em deuses.

– É. – Disse ele. – Foi assim que todos nós começamos. E depois que você começa a acreditar neles. Não fica nem um pouco mais fácil.

A amargura em sua voz surpreendeu Annabeth, porque Luke parecia ser o tipo de cara despreocupado desde o início. Parecia ser capaz de lidar com qualquer coisa.

– Então seu pai é Hermes? – perguntou Annabeth, tentou mudar de assunto.

Luke puxou um canivete de mola do bolso de trás, e por um segundo, Annabeth pensou que ele fosse estripá-la, mas ele apenas raspou o barro da sola da sandália.

– É, Hermes.

– O deus-mensageiro com asas nos pés.

– É ele. Mensageiros. Medicina. Viajantes, mercadores, ladrões. Qualquer um que use as estradas. É por isso que você está aqui, desfrutando a hospitalidade do chalé 11. Hermes não é exigente com relação a quem apadrinha.

Annabeth entendeu que Luke não queria chamá-la de ninguém. Apenas tinha muita coisa na cabeça.

– Você já encontrou seu pai? – Annabeth perguntou.

– Uma vez.

Annabeth esperou, pensando que, se ele quisesse contar a ela, contaria. Aparentemente não. Ela imaginou se a história tinha alguma coisa a ver com como ele conseguira aquela cicatriz.

Luke ergueu os olhos e conseguiu sorrir.

– Não se preocupe com isso, Annabeth. A maioria dos campistas aqui é boa gente. Afinal, somos uma grande família, certo? Cuidamos um do outro.

Ele parecia entender o quanto Annabeth se sentia perdida e ela estava grata por isso, porque um cara mais velho como ela, mesmo sendo um conselheiro, devia estar evitando uma secundarista chata como ela (ela jamais diria isso em voz alta, claro). Mas Luke falara com ela quando ela acordou e lhe dera as boas-vindas ao chalé. Até mesmo furtara alguns artigos de toalete, o que era a coisa mais simpática que alguém fizera por ela o dia inteiro.

Annabeth decidiu fazer sua última grande pergunta, aquela que vinha lhe incomodando a tarde toda, e que ela já havia feito, mas não tivera resposta.

– Então... Você ainda não me disse quem é Percy.

Annabeth sentiu Luke ficar tenso ao seu lado instantaneamente. Fosse quem fosse, esse Percy tinha algum significado profundo para o filho de Hermes. E então Annabeth lembrou-se de Quíron dizendo: “Thalia chegou com Luke aqui há cinco anos, e só saiu uma vez desde então. Eles quase morreram na reta final, mas foram salvos por um pequeno milagre.”. Lembrou-se do sonho que tivera antes do Minotauro aparecer, no carro de seu pai, da pequena silhueta que morria. Das vozes que gritavam “Percy!”.

E então percebeu porque a voz de Luke lhe soara tão familiar.

– Percy... – A dita voz sofrida do filho de Hermes trouxe Annabeth de volta para o presente. – Ele era um amigo. Morreu com grande honra.

No momento em que ele disse isso, uma trombeta soou a distância. De algum modo, Annabeth sabia que era feita com uma concha de caramujo, apesar de nunca ter ouvido uma antes.

Luke gritou:

– Onze, reunir!

O chalé inteiro, cerca de vinte pessoas com Annabeth, formou uma fila no pátio. Enfileiraram-se por ordem de antiguidade, portanto é claro que Annabeth era a última. Vieram campistas também de outros chalés, com exceção dos dois vazios no fim e do chalé 8, que parecia normal durante o dia mas agora começava a ter um brilho prateado à medida que o sol se punha.

Eles marcharam colina acima até o pavilhão do refeitório. Sátiros vieram da campina e juntaram-se a nós. Náiades emergiram do lago de canoagem. Algumas outras meninas saíram dos bosques – e quando Annabeth diz dos bosques, ela quer dizer dos bosques mesmo. Ela viu uma menina de nove ou dez anos fundir-se da lateral de um bordo e vir saltitando colina acima.

Ao todo, havia talvez uma centena de campistas, algumas dúzias de sátiros e uma dúzia de ninfas e náiades variadas.

No pavilhão, tochas ardiam em volta das colunas de mármore. Um fogo central queimava em um braseiro de bronze do tamanho de uma banheira. Cada chalé tinha sua própria mesa, coberta com uma toalha branca com detalhes roxos. Três mesas estavam vazias, e Thalia estava sozinha mesa do chalé 1, mas a do chalé 11 era superlotada. Annabeth teve de se espremer na ponta de um banco, com metade do traseiro de fora.

Annabeth viu Grover sentado à mesa 12, e um par de meninos loiros gorduchos bem parecidos com o Sr. D. Quíron ficou em pé ao lado, pois a mesa de piquenique era muito pequena para um centauro.

Finalmente, Quíron bateu o casco contra o piso de mármore do pavilhão e todos se calaram. Ele ergueu um copo.

– Aos deuses!

Todos ergueram os copos.

– Aos deuses!

Ninfas do bosque avançaram com bandejas de comida: uvas, maçãs, morangos, queijo, pão fresco e, sim, churrasco! O copo de Annabeth estava vazio, mas Luke disse:

– Fale com ele. Qualquer coisa que queria. Não alcoólica, é claro.

– Cherry Coke. – Falou Annabeth.

O copo se encheu de líquido espumante cor de caramelo.

Annabeth tomou um gole cauteloso. Perfeito.

– Vai, Annabeth. – Disse Luke, passando-lhe uma travessa de peito defumado.

Annabeth encheu seu prato e estava prestes a dar uma grande garfada quando notou que todos se levantavam, levando os pratos para o fogo no centro do pavilhão. Ela imaginou se estavam indo buscar a sobremesa ou coisa assim.

– Venha. – Disse-lhe Luke.

Quando Annabeth chegou mais perto, viu que todos estavam pegando algo do prato e jogando dentro do fogo, o morango mais maduro, a fatia mais suculenta de carne, o pão mais quente e mais amanteigado.

Luke murmurou ao seu ouvido:

– Oferendas queimadas para os deuses. Eles gostam do cheiro.

Annabeth olhou para ele como se nele tivesse crescido uma segunda cabeça (o que era bem possível), mas ele lhe devolveu com um olhar de advertência para que ela não debochasse disso. No entanto, Annabeth não pôde deixar de se perguntar por que um ser imortal, todo-poderoso, gostaria do cheiro de comida queimada.

Luke aproximou-se do fogo, inclinou a cabeça e atirou um cacho de uvas gordas e vermelhas.

– Hermes.

Annabeth era a próxima.

Ela gostaria de saber o nome de qual deus devia dizer.

Annabeth acabou fazendo um pedido silencioso. Quem quer que seja, conte-me. Por favor.

Ela empurrou uma grande fatia de peito para as chamas. Quando inalou um pouco de fumaça, não engasgou. Não parecia nem um pouco cheiro de comida queimada. Cheirava a chocolate quente e brownies recém-assados, hambúrgueres grelhados e flores silvestres, e uma centena de outras coisas boas que não deviam combinar, mas combinavam. Dava até para acreditar que os deuses podiam viver daquela fumaça. Depois que todos voltaram aos lugares e terminaram de comer, Quíron bateu novamente o casco para chamar a atenção.

O Sr. D levantou-se com um enorme suspiro.

– Sim, suponho que deva dizer olá a todos vocês, moleques. Bem, olá. Nosso diretor de atividades, Quíron, diz que a próxima captura da bandeira será na sexta-feira. Atualmente, o chalé 5 detém os lauréis.

Um monte de aplausos disformes se ergueu da mesa de Ares.

– Pessoalmente – continuou o Sr. D –, não me importo nem um pouco, mas congratulações. Também devo lhes dizer que temos um novo campista hoje. Anne Bell Casey.

Quíron murmurou alguma coisa.

– Ahn, Annabeth Chase. – Corrigiu o Sr. D. – Está certo. Viva, e tudo o mais. Agora vão correndo para a sua fogueira boba. Andem.

Todos aplaudiram. Dirigiram-se para o anfiteatro, onde o chalé de Apolo liderou a cantoria. Cantaram canções de acampamento sobre os deuses, comeram besteiras e se divertiram, e o engraçado foi que Annabeth não sentiu ninguém mais olhando para ela. Era como estar em casa.

Mais à noite, quando as fagulhas da fogueira se enroscavam em um céu estrelado, a trombeta de caramujo soou de novo, e todos formaram filas para voltar aos seus chalés. Annabeth não se deu conta de como estava exausta até desmoronar em seu saco de dormir emprestado.

Annabeth primeiro pensou em Percy, que aparentemente era o pequeno milagre que salvou Luke e Thalia, e suspirou. Depois pensou em seu pai, que não via há quase um ano, mas teve bons pensamentos: o sorriso dele, as histórias que lia para ela antes de dormir quando era pequena, o jeito como lhe dizia para não deixar os percevejos morderem.

Quando Annabeth fechou os olhos, adormeceu instantaneamente.

Assim foi seu primeiro dia no Acampamento Meio-Sangue.

Ela queria ter sabido antes que em tão pouco tempo passaria a gostar de seu novo lar.

~~~~~~~PJO~~~~~~~

Em poucos dias Annabeth se acomodou em uma rotina que parecia quase normal, se descontar o fato de que ela tinha aulas com sátiros, ninfas e um centauro.

Todas as manhãs estudava grego antigo com Malcolm, filho de Atena, e conversavam sobre deuses e deusas no presente, o que era um pouco estranho. Annabeth descobriu que Thalia estava certa a respeito de sua dislexia: o grego antigo não era difícil de ler. Depois de algumas manhãs Annabeth já conseguia ler sem dor de cabeça grande parte das linhas de Homero, sem tropeços.

No resto do dia, Annabeth alternava atividades ao ar livre, procurando alguma coisa em que fosse bom. Quíron lhe ensinou arco-e-flecha, e, embora Annabeth até fosse boa, lutar a distância não era bem a praia dela.

Corrida? Annabeth também era razoavelmente boa. No entanto, as instrutoras, as ninfas do bosque, faziam-na comer poeira. Disseram-lhe para não se preocupar com isso. Tiveram séculos de práticas fugindo de deuses apaixonados.

E as lutas? Aí estava uma coisa em que era realmente boa. Adorava lutar. Mas era uma novata ainda, e quase sempre que ia para a arena, Clarisse, filha de Ares, acabava com ela.

“E vem mais por aí, princesinha”, murmurava ao seu ouvido.

A única coisa em que Annabeth era realmente péssima era canoagem, e, graças aos deuses, essa não era o tipo de habilidade de herói que as pessoas esperavam da garota que venceu o Minotauro, o que era bom para sua reputação.

Annabeth sabia que os campistas mais velhos e os conselheiros a observavam, tentando concluir quem era sua mãe, e Annabeth tinha a sensação de que eles já sabiam, assim como Quíron. Mas não tinha como ninguém ter certeza, e tudo que Annabeth tinha se fazer era esperar por um sinal, assim como a metade do acampamento (quase todo o chalé de Hermes).

A despeito disso tudo, Annabeth gostava do acampamento. Ela se acostumou com a neblina matinal sobre a praia, com o cheiro dos campos de morangos à tarde e até com os ruídos esquisitos dos monstros nos bosques à noite. Ela jantava com o chalé 11, empurrava parte de sua refeição para o fogo e tentava sentir alguma conexão com sua verdadeira mãe. Não vinha nada. Annabeth tentou não pensar muito naquela faca que tanto cobiçava, ou em Percy, o "pequeno milagre", mas isso era muito difícil.

E Annabeth começou a entender o ressentimento de Luke e como ele parecia magoado com o pai, Hermes. Certo, talvez os deuses tivessem tarefas importantes a fazer. Mas não poderiam fazer uma visita de vez em quando, trovejar ou alguma coisa? Dionísio podia fazer Diet Coke aparecer do nada. Por que a mãe de Annabeth, quem quer que fosse, não podia fazer aparecer um telefone?

Na sexta-feira à tarde, Annabeth estava sentada com Grover perto do lago, descansando de uma experiência quase fatal no muro de escalada. Grover subira até o topo como um bode montanhês, mas a lava por pouco não a atingiu. A camisa de Annabeth ficou com buracos fumegantes. Os pelos dos seus antebraços ficaram chamuscados.

Eles sentaram no píer, olhando as náiades que teciam cestos embaixo d’água, até que Annabeth reuniu coragem para perguntar a Grover como tinha sido a conversa com o Sr. D.

Seu rosto assumiu um tom doentio de amarelo.

– Ótima. – Disse. – Legal mesmo.

– Então sua carreira ainda está nos trilhos?

Grover lançou a Annabeth um olhar nervoso.

– Quíron c-contou a você que eu quero uma licença de buscador?

– Bem... não. – Eu não tinha ideia do que era uma licença de buscador, mas aquele não parecia ser o momento certo para perguntar. – Eu só... Adivinhei que teria algo a ver com sua carreira, depois de lembrar de quando Quíron me disse sobre haver sátiros em todas as escolas.

Grover baixou os olhos para as náiades.

– O Sr. D suspendeu o julgamento. Disse que ainda não fracassei nem tive sucesso com você, portanto nossos destinos ainda estão ligados. Se você ganhar uma missão, eu for junto para protegê-la e nós dois voltarmos vivos, então talvez ele considere a tarefa concluída.

O ânimo de Annabeth melhorou.

– Bem, isso não é mau, certo?

– Bééé-é-é! Ele poderia igualmente ter me transferido para o serviço de limpeza de estábulos. As chances de você ganhar uma missão... e mesmo se ganhasse, por que haveria de querer que eu fosse junto?

– É claro que eu ia querer você junto!

Grover continuou olhando melancolicamente para as náiades tecendo cestos na água.

– Tecer cestas... Deve ser bom ter uma habilidade útil.

Annabeth tentou convencê-lo de que ele tinha uma porção de talentos, mas isso só o fez parecer ainda mais infeliz. Eles conversaram sobre mitos gregos e esgrima por algum tempo, e então debateram os prós e os contras dos diferentes deuses. Por fim, Annabeth perguntou-lhe sobre os dois chalés vazios cujos deuses patronos ela não conhecia ainda.

– O número 8, o prateado, pertence à Ártemis – disse ele. – Ela jurou ser virgem para sempre. Portanto, é claro, sem filhos. O chalé é honorário, entende? Se ela não tivesse um, ficaria zangada.

– Sim, certo. Mas o outro, ao lado do de Thalia? - Annabeth pensou um pouco, e lembrou-se de um termo que Malcolm usara em suas aulas uma vez. – É algo a ver com os Três Grandes?

Grover ficou tenso. Eles estavam chegando perto de um assunto delicado.

– O chalé 3, é o de Poseidon. – Disse ele. – Deus dos mares, terremotos, tempestades e praticamente todas as catástrofes naturais. E quando falamos dos Três Grandes, queremos dizer os três irmãos poderosos, os filhos de Cronos.

– Zeus, Poseidon e Hades.

– Certo. Você sabe. Depois da grande batalha com os Titãs, eles tomaram o mundo do pai e tiraram a sorte para decidir quem ficava com o quê.

– Zeus ficou com o céu – lembrei. – Poseidon, com o mar, Hades, com o Mundo Inferior.

– Aham.

– Mas Hades não tem chalé aqui.

– Não. Também não tem um trono no Olimpo. Ele, bem, fica na dele lá embaixo no Mundo Inferior. Se tivesse um chalé aqui... – Grover estremeceu. – Bem, isso não seria agradável. Vamos deixar assim.

– Mas Zeus e Poseidon... os dois tinham zilhões de filhos nos mitos. Por que os chalés deles estão vazios?

Grover olhou em volta nervosamente, para ter certeza de que ninguém estava ouvindo, mesmo que eles fossem os únicos ali.

– Há cerca de sessenta anos, depois da Segunda Guerra Mundial, os Três Grandes combinaram que não iriam procriar mais nenhum herói. Os filhos deles eram poderosos demais. Estavam interferindo muito no curso dos eventos humanos, causando muitas carnificinas. A Segunda Guerra Mundial foi uma luta entre os filhos de Zeus e Poseidon, de um lado, e os filhos de Hades, no outro. O lado vencedor, de Zeus e Poseidon, obrigou Hades a fazer um juramento junto com eles: nada de casos com mulheres mortais. Todos juraram pelo Rio Estige.

Annabeth ouviu um trovão e olhou para cima, mas o céu estava naquele tom laranja do pôr-do-sol, sem nuvens.

– Esse é o juramento mais sério que se pode fazer. – Ela presumiu, voltando a olhar para Grover.

Ele assentiu.

– Mas Zeus não manteve sua palavra. – Annabeth continuou, franzindo a testa. – Thalia está aqui.

Grover se balançou de um casco para o outro, parecendo desconfortável com o rumo da conversa.

– Annabeth, os filhos dos Três Grandes são mais poderosos que os outros meio-sangues. Eles têm uma aura forte, um odor que atrai monstros. Quando Hades descobriu a respeito de Thalia, não ficou muito feliz com o fato de Zeus ter quebrado o juramento. Hades libertou os piores monstros do Tártaro para atormentar Thalia. Um sátiro foi designado para ser o guardião dela quando Thalia completou dez anos, mas não havia nada que pudesse fazer. Ele tentou escoltá-la para cá junto com dois outros meio-sangues com quem ela fez amizade. Eles quase conseguiram. Chegaram ao topo da colina.

Ele apontou para o outro lado do vale, para o grande pinheiro onde Annabeth enfrentara o Minotauro. Suspirando, Grover tirou algo do bolso, algo que Annabeth reconheceu de imediato: era a faca que ela usara para derrotar a Sra. Dodds, tão bela e mortal quanto lhe parecera quando Annabeth a viu pela última vez.

– Você conhece um dos companheiros de Thalia. – Grover praticamente resmungou. – Luke Castellan, filho de Hermes, seu conselheiro, Annabeth. Ele era o mais velho dos três. Thalia e Percy o seguiam para qualquer coisa.

– Percy? – Annabeth ergueu uma sobrancelha, animando-se. Havia ouvido esse nome tantas vezes, e estava tão curiosa sobre o “pequeno milagre”.

Grover engoliu em seco, ainda encarando a faca.

– Ele era o outro amigo de Thalia. – Respondeu em voz baixa. – Corajoso, sonhador e cheio de vida. Ele era a alma daquele grupo.

– O que aconteceu com ele? – Annabeth murmurou a pergunta, sentindo uma pontada no peito ao imaginar a resposta, lembrando-se do que Luke disse sobre seu amigo Percy: “Morreu com grande honra.”.

Grover não respondeu, voltando a olhar para o pinheiro ao longe. Não demorou para que Annabeth juntasse as peças.

– Você era o sátiro que os trouxe até aqui. – Não era uma pergunta, mas Grover assentiu mesmo assim, hesitante.

– As Três Benevolentes estavam atrás deles com um bando de ciclopes e cães infernais. – Contou. – Estavam quase sendo alcançados quando Percy me disse para que levasse Thalia e Luke para um lugar seguro enquanto ele tentava conter os monstros. Estava ferido e cansado, e não desejava viver como um animal caçado. Eu não queria deixá-lo, ele que era tão jovem e alegre, e só tinha oito anos, mas não consegui fazê-lo mudar de idéia. Assim, Percy defendeu-se no final sozinho, no topo daquela colina. Quando ele morreu, Thalia rezou e implorou a Zeus. Ele cedeu, e transformou Percy naquele pinheiro. Seu espírito ajuda a proteger as fronteiras do vale. É por isso que a colina é chamada Colina Meio-Sangue. – Grover olhou para a faca em suas mãos, e ela brilhou quase reconfortantemente sob a luz do sol poente. Ele sorriu tristemente, estendendo-a para Annabeth. – Isto era dele. Ele adorava esta faca.

Annabeth olhou para o pinheiro distante.

A história a tinha feito se sentir oca. Um menino bem mais novo do que ela, havia se sacrificado para salvar os amigos. Enfrentara todo um exército de monstros. Perto disso, a vitória de Annabeth sobre o Minotauro não parecia grande coisa.

Olhando para o pinheiro, Annabeth percebeu algo que não estava ali antes. Ao lado da árvore, duas silhuetas conversavam discretamente. De alguma forma, Annabeth reconheceu uma delas sendo a de Luke, mas não sabia de quem era a outra. A figura desconhecida falou algo para Luke e se afastou para além das fronteiras, mas o filho de Hermes ficou. Annabeth o viu encostar a palma da mão no tronco do pinheiro, antes de seguir o caminho de volta para o centro do acampamento.

Annabeth franziu a testa ao pensar sobre quem era aquela outra pessoa com quem Luke conversava. Ela tinha visto que era alta e forte, mas parecia feminina também. Luke havia tocado sua bochecha antes dela ir embora.

Em seguida, Annabeth sorriu. Luke tinha uma namorada?


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Notas finais do capítulo

Gente, estas sãos as palavras de uma leitora sábia chamada Storm Phoenix, um recado para todos vocês: "COMENTEM CAMBADA!!!pq convenhamos , se vc esta acompanhando é pq vc gosta da historia entao COMENTE! Uma historia q eu acompanhava morreu por causa da morrosemcometariose da autora e essa fic N PODE MORRER!! Obg pela sua atençao e COMENTE!"
Que tal ouvir o que ela diz?