Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 44
Incômodos




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Ver Júlia desfilar até onde estavam não contribuía muito para Hermione conseguir manter a postura, afinal ela sabia que aquele sorriso significava nada mais, nada menos que problema. As quatro garotas disfarçaram os olhares ao ver a aproximação do casal, e a morena agradeceu a Mérlin ao ver que os rapazes se aproximavam também, a música já nos últimos acordes, e todos eles com sorrisos divertidos no rosto. Harry abraçou Gina e Ron fez o mesmo com Claire, que o aceitou com um sorriso no rosto, embora não entendesse a tensão que se formava aos poucos.

─ Cunhadinha! ─ Júlia saudou, soltando a mão de Fred e abraçando Gina, que retribuía a simpatia. ─ Nem acredito que esse dia finalmente chegou! Você está muito... ─ ela se afastou, analisando o vestido da ruiva e forçando um sorriso no rosto e virando-se para Harry em seguida ─ Bonita. Cunhadinho, parabéns! Espero que sejam muito felizes.

─ Obrigada, Júlia. Fico feliz que tenha gostado, mas se me permite ─ Gina sorriu e, por um momento, Hermione quis rir de tudo aquilo: da reação da amiga, da situação com Júlia e da expressão de Fred, que parecia não saber o que fazer. ─ O que faz aqui? Achei que estivesse em Nova Iorque, no desfile e...

─ Eu sei, e é onde eu deveria estar. Mas terminamos nossos trabalhos por hoje e eu não podia perder o seu casamento, não é?! Então dei uma escapadinha, afinal, eu precisava ver o meu amor também, não é bebê?! ─ Júlia sorriu, e abraçou o pescoço de Fred, que sorriu.

Não demorou muito para Júlia cumprimentar o resto dos Weasley’s presentes na rodinha, com um enorme sorriso no rosto, enquanto Gina discutia algo com Harry, trocando sussurros e olhares. A morena falava com Luna quando Hermione se assustou, sentindo a mão de Draco segurar firme sua cintura e puxando-a para mais perto dele. Os dois se olharam por alguns instantes antes do rapaz conduzi-la para a pista de dança, que ainda? estava cheia, e onde casais dançavam a música lenta que a banda tocava. Draco não havia soltado Hermione, embora os dois ainda não olhassem diretamente no olho um do outro. Ficaram assim por meia música, que o foi o máximo que a garota conseguira aguentar, afinal, imaginava os motivos do loiro para ter conduzido-a até ali, mas a curiosidade sempre fora o ponto fraco de Hermione e ambos sabiam muito bem disso.

─ Não sabia que você dançava, senhor Malfoy.

─ E normalmente não danço, senhorita Granger. ─ o loiro respondeu, girando-a em seguida ─ Mas achei que a situação pedia por medidas drásticas.

─Imaginei que sim. ─ a morena sorriu, encarando os olhos cinzas do rapaz em sua frente, tentando entender os últimos minutos que acabara de viver. Não devia se importar tanto com a presença da modelo, afinal ela e Fred haviam se resolvido, e esse era o único empecilho entre elas. Ou pelo menos era isso que Hermione gostava de pensar. ─ Não deveríamos ter saído de lá, você sabe disso não?

─ Hermione.

─ Mas é verdade, parece que estamos fugindo de alguma coisa! E eu não deveria ter que fugir dela, quer dizer, Fred e eu não temos nada. Os dois vão casar e ser felizes e eu não preciso dar uma de ex ciumenta, que quer controlar a vida dele ou que não gosta do jeito que ele está conduzindo a vida e todas essas coisas que você sabe.

─ Eu sei.

─ Então, Draco. Nós não.. ─ Hermione se interrompeu, parando de dançar por meio segundo. ─ Você sabe?

─ Sei. ─ o rapaz sorriu, girando-a mais uma vez enquanto a música chegava ao fim. ─ Mas como você disse antes da festa, estamos juntos aqui, e achei deveríamos dançar, pelo menos, uma música. Ou não é assim que acontece em casamentos? ─ os dois riram, a garota revirando os olhos. ─ E é óbvio que eu iria usar esse tempo para arrancar de você o que está acontecendo, mas você fez questão de me explicar, mesmo sem querer, então não foi necessário. Como se sente?

─ Com sono. ─ Hermione respondeu, olhando mais uma vez para o cinza dos olhos de Draco e fugindo do assunto com um sorriso no rosto. ─ Acho que vou seguir os passos de Rose e ir para a cama, afinal vamos ter que voltar aqui para o almoço, sabia disso?

─ Hermione. ─ Draco seguiu a garota com o olhar enquanto ela se soltava, gentilmente dele, sem conseguir disfarçar uma careta ao sentir as mãos do rapaz roçarem sua costela, ainda dolorida, o que serviu para o loiro fechar a cara, conduzindo-a para longe da pista de dança. ─ Desde quando está dolorida? Não desvie do assunto, Hermione. Desde quando?

─ Algumas horas. ─ a garota aceitou a banqueta, sentando-se de costas para o bar e de frente para Draco, que não tinha a melhor das expressões. ─ Eu não dei muita importância, é só um incomodo, não dói de verdade, só quando...

─ Toca. Eu sei, consegui ver. ─ o rapaz respondeu, tentando manter a voz calma. ─ Onde está sua bolsa? Tem uma poção para isso dentro dela.

─ N’ A Toca, junto com as coisas de Rose. ─ Hermione respondeu, segurando a mão de Draco. ─ Eu estou bem, é sério. Já passei por coisa pior, e você sabe. Vamos voltar para a festa, okay? Preciso falar com Gina antes que ela me devore com os olhos, e acho que você deveria ver como Blásio está, ele precisa de você mais do que eu.

Sem esperar resposta, a morena caminhou até o outro lado do bar, sentando-se com Gina e Harry, que bebia algo cor de rosa e reprimia um bocejo. Ignorando a taça de voava ao seu lado, a garota roubou um doce do prato da ruiva e sorriu, questionando-a.

─ Nós vamos nos retirar. ─ Gina respondeu, um sorriso sapeca no rosto. ─ Eu sei que não é bem o momento para agradecer, mas obrigada, Mione. De verdade, tudo estava tão maravilhoso e eu não tenho palavras para descrever o que estou sentindo agora.

─ Você não precisa agradecer, Sra. Potter. ─ Hermione abraçou a amiga, sorrindo também. ─ Você sabe muito bem disso. Agora vá aproveitar sua noite, madame.

─Ah, mas pode deixar que eu vou mesmo! ─ Gina riu, colocando os sapatos novamente e abraçando Hermione mais uma vez. ─ Vá para casa, Mione. Mamãe cuida de tudo aqui depois, eu sei o quanto está cansada. Aproveita que os noivos estão indo embora para fazer o mesmo!

As duas se despediram e, assim que os noivos aparataram, a morena foi em busca de Draco para se despedir. Falou com Molly no meio do caminho e ficou feliz ao ver o sorriso radiante da senhora que, apesar de todo o trabalho e do horário, não demonstrava cansaço algum. Conversaram por um tempo até Draco e Blásio aparecerem ali, o moreno se despedindo da Sra. Weasley e agradecendo o convite. Despedindo-se de Hermione com um abraço, Blásio aparatou em seguida, dando a chance para Molly deixá-los a sós com uma desculpa qualquer, não antes de convencer Hermione a deixar Rose dormindo ali. As duas conheciam a ruivinha muito bem para saber que, se ela acordasse àquela hora, ninguém dormiria até a noite seguinte. Reprimindo um bocejo e sentindo o corpo implorar por uma cama, Hermione sabia que era hora de ir para casa, por mais que quisesse ficar mais um pouco. Acenou para Ron e Claire, que estavam com Luna e George e foi até a porta, preparando-se para se despedir de Draco, que para sua surpresa, apenas segurou sua mão em silêncio, conduzindo a aparatação.

Assim que sentiu os pés tocarem no chão, Hermione suspirou, assistindo o loiro tirar o blazer e jogá-lo em qualquer canto da sala do apartamento extremamente organizado. Tirou os sapatos e seguiu Draco para o andar de cima, cansada demais para questionar a decisão dele de irem para a própria casa naquele momento. Seguiu o loiro até o quarto impecável e deixou os saltos em um canto, observando-o ainda em silêncio enquanto ele procurava algo no guarda-roupa. Depois de alguns minutos, Hermione caminhou até o banheiro, soltando os cabelos em frente ao espelho e sentindo a irritação de Draco dali.

Sabia que não devia ter comentado sobre o incomodo, ainda mais para o médi-bruxo, que havia sido o responsável por atendê-la, mas também sabia que teria sido pior escondê-lo. Usou um feitiço para terminar de soltar o penteado e retirar toda a maquiagem e brilho do rosto e saiu do banheiro em seguida, encontrando o quarto vazio. No corredor, ouviu o barulho do chuveiro e se repreendeu por ter usado o banheiro de Draco, e não o social como sempre fazia. Suspirou e seguiu até a cozinha, preparando chá com um breve aceno de varinha e observando, distraída, o apartamento impecável do amigo.
Desde que Rose nascera, Hermione havia se acostumado - de certa forma - com a bagunça da própria casa, afinal, por mais que tentasse manter as coisas no lugar, a filha, como qualquer outra criança, adorava mexer em tudo e adorava encontrar seus brinquedos espalhados pela casa, como se vivesse numa Caça ao Tesouro,  e isso havia se tornado reconfortante depois de um certo tempo: a bagunça deixava claro para qualquer um que passasse por ali que a casa era habitada, que pessoas viviam ali. Hermione tinha lido em um livro que "a bagunça dentro de casa representa a vida. Onde tem bagunça, sabemos que têm pessoas que se preocupam em viver, em aproveitar. Casas extremamente organizadas carregavam pessoas mais infelizes" e de certa forma ela concordava com isso - apenas algumas vezes.
Serviu duas xícaras e voltou ao quarto em tempo de ver Draco secar os cabelos loiros sem muita vontade, bagunçando-os com a toalha. Ele vestia apenas a calça de moletom, o que era extremamente normal para os dois, e aceitou o chá em silêncio, recebendo um suspiro de Hermione.
─Você realmente vai ficar chateado comigo por isso? ─ a garota soltou a xícara no móvel mais próximo depois de alguns minutos, buscando o olhar do rapaz. ─ Draco, por Mérlin. É apenas um incômodo que logo vai embora, não é o fim do mundo. A noite estava tão gostosa para terminá-la assim.
─Não é tão simples assim, Hermione. Nós nem ao menos sabemos o que te atingiu e as consequências disso. Além do mais, se você não tem sanidade para isso, eu posso muito bem me preocupar por nós dois. Sou seu médico no final das contas.
─Eu sei que bem no fundo do seu coração de pedra você se preocupa, ─ Hermione sorriu, caminhando até o loiro. ─ Mas está tudo bem.
─É claro que sim. ─ a morena ignorou o tom irônico na voz do rapaz e se aproximou ainda mais, passando uma das mãos suavemente pelo rosto dele.
─Você está precisando relaxar, Draco.
─E o que sugere?─Malfoy perguntou, abrindo um sorriso de lado, a expressão travessa, e puxando Hermione para perto de si.
Os dois ignoraram a proximidade incomum e se encararam por um momento, como haviam feito inúmeras vezes durante aquele dia, e Hermione suspeitava que Gina realmente havia colocado algo em sua cabeça. Não que fosse ruim ou que fosse realmente acontecer, mas que as coisas estavam diferentes, estavam. Os dois nunca haviam se aventurado a passar de amizade mas nunca por um motivo especial, apesar dos pesares: Draco sabia muito bem sobre Fred, assim como Hermione sabia das garotas com quem o loiro saía, e provavelmente por isso os quase quatro anos que passaram juntos não haviam sido tão tentadores.
Sorrindo, Hermione aproximou seus rostos apenas o suficiente para sentir a respiração controlada se Draco antes de sussurrar e sair do quarto, quase rindo:
─Que tal uma noite bem dormida?! Boa noite, Malfoy.


(...)

 

Acordar na manhã seguinte não havia sido tarefa fácil para nenhum dos dois, mas pouco depois das onze da manhã os dois já que arrumavam para voltarem à casa dos Weasleys, onde almoçariam.

Ainda vestida com as roupas que dormira - uma camisa e uma bermuda de Draco - Hermione esperava o rapaz na cozinha, lendo o Profeta Diário enquanto tomava uma grande xícara de café para se manter acordada. Haviam combinado de passar na casa dela juntos antes de irem pra A Toca, afinal ela ainda tinha um vestido enorme para guardar e não faria muito sentido chegarem em momentos diferentes, além de precisar de roupas novas e um longo banho.

Assim que aparataram nos jardins foram recebidos por meia dúzia de gnomos, que tentavam entender o que havia acontecido com a tenda que estivera ali até poucos minutos. Dentro da casa cumprimentaram a todos com um sorriso, finalmente separando as mãos que não perceberam estar juntas, e logo Hermione perguntou da filha, que por milagre de Mérlin ainda dormia no antigo quarto dos gêmeos. Seguiu até lá depois de ser expulsa da cozinha por uma Molly que não queria ajuda, deixando o casaco na sala de estar, estavam em junho, no ponto alto do verão, e mesmo assim Hermione tinha consigo a malha onde carregava a varinha. Sorriu ao ver que Rose ainda dormia, tranquila, e se aproximou dela, acariciando os fios ruivos que se espalhavam por todo o travesseiro. Era uma sensação maravilhosa e ao mesmo tempo estranha ver seu bebê ali, serena como se aquilo fizesse parte da rotina desde sempre, como se estivesse acostumada com duas casas e - Hermione se perguntava o quão bom isso era - como se já fosse acostumada com Fred desde sempre, já que dormia tão bem na cama que um dia fora dele.
Com meio sorriso no rosto, a garota levantou na intenção de buscar a bolsinha de contas que havia deixado ali na noite passada, a procura das roupas da filha, sentindo um leve incômodo na costela ao se levantar, e se surpreendeu ao encontrar Júlia parada na porta, observando as duas. Surpreendeu-se ainda mais com a expressão fechada da moça e da varinha que ela segurava, firmemente apontada em direção a Rose e Hermione, fazendo com que a garota se arrependesse por não ter a varinha consigo, estremecendo quando a morena em sua frente sussurrou:

─ Seja uma boa menina, não faça escândalo e eu não a uso. Nós precisamos ter uma conversinha, de mulher para mulher.

 


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