─ Ganha dele, tio Draco! ─ Rose incentivava, batendo palmas e sorrindo, enquanto Teddy fazia o mesmo com Harry, que estava focado no tabuleiro de xadrez na sua frente. Os dois rapazes jogavam a terceira partida para decidir o vencedor, já que cada um vencera uma das anteriores, enquanto Rose e Teddy, que já haviam deixado suas próprias brincadeiras de lado há algum tempo, observavam e torciam, cada um para o próprio tio.

Gina e Hermione observavam sem saber se sorriam ou se reviravam os olhos com a situação, afinal os dois estavam se dando bem, mas continuavam com a competição, a rixa entre os dois. Depois de uma troca mútua de suspiros, as duas voltaram a conversar sobre qualquer coisa, como não faziam por alguns dias. Não demorou muito para entrarem no assunto casamento, falando sobre os detalhes finais da decoração e comida, bem como dos vestidos: Gina faria uma prova em poucos dias, assim como Molly, mas Hermione e Rose ainda não faziam ideia do que lhes aguardava, o que causava certo temor na morena.

─ Quando acha que vamos conseguir escolher o vestido de Rose? ─ Hermione perguntara, lembrando que Júlia havia recém saído de Londres para mais uma série de desfiles, já que era a hora de mostrarem ao mundo as novas coleções de roupas de verão. ─ Sei que não falta muito, mas ela está crescendo muito e muito rápido, não tenho mais tanta certeza se aquele que Júlia sugeriu vai mesmo ficar bom.

─ Podemos ir quando quiser, Mione. Me desculpe, eu realmente não lembrava desse detalhe e... ─ Gina parou de falar, dando um tapa na própria testa e correndo para uma gaveta, do outro lado da sala. ─ Não acredito que esqueci disso! Qual você prefere? ─ Ela estendia dois pedaços de tecidos, um com uma cor diferente: um tom de azul claro e um tom de rose, que encantaram Hermione igualmente.

─ São cores lindas, Gina. Mas seria para...?

─ Seu vestido, óbvio. Preciso que me ajuda com a cor para podermos procurar algum bonitinho, afinal você é minha madrinha! ─ a ruiva sorriu, adorando a ideia de poder espalhar para todos a notícia. ─ Qual você gosta?

─ Os dois, na verdade. Mas o azul... ─ Hermione mal teve a oportunidade de terminar e Gina já guardava os tecidos, sorrindo ainda mais e murmurando um “imaginei”. ─ Mas não precisamos de Júlia para isso? Ou vocês já conversaram?

─ Sobre isso...

─ Como assim empate?! Isso não pode estar certo! ─ Harry exclamava, indignado, enquanto Draco tomava mais um gole do vinho, cuja garrafa estava quase vazia.

─ Podemos rever o jogo, Potter, mas o empate aqui é claro. ─ o loiro não parecia muito contente com a ideia, afinal, aquele havia sido o mais demorado dos jogos. ─ A não ser que queria começar outro, para ter certeza de quem...

─ Acho que isso não é necessário, não é Draco?! ─ Hermione interviu, vendo a filha bocejar e sentindo o próprio cansaço falar mais alto. ─ Acho que esse empate mostra que os dois são igualmente bons, e que está na hora de irmos para casa.

─ Mas ainda é cedo, Mione. Pelo que sei, o expediente de amanhã começa mais tarde! ─ Gina, comentou, não querendo se despedir tão cedo.

─ Acredite, Gina. Se você tivesse o monte de papéis para ler do tamanho do meu, também estaria louca para cair na cama. ─ evitou olhar para Harry, que suspirou, tão desconfortável quanto a amiga. ─ E Rose vai ter um dia cheio amanhã com os avós, não é mocinha?!

Se despediram logo, com abraços de Rose e apertos de mão de Draco, e aparataram para casa, onde Rose pediu pela mamadeira assim que alcançaram a sala.

─ Achei que não precisasse mais dela. ─ Hermione sorriu, fazendo cócegas na filha, que deu de ombros e sussurrou um ‘’por favor, mamãe’’ antes de ser mandada para a sala, para brincar com o tio enquanto esperava.

Enquanto procurava pela mamadeira da ruivinha, ouvia gargalhadas vindas da sala e sorriu só de imaginar o que os dois estariam aprontando. Colocou a mamadeira no micro-ondas e foi até a sala, desviando de um urso de pelúcia voador assim que passou pela porta. Não demorou muito para parar de resistir e se juntar a brincadeira, se escondendo atrás do sofá e atirar almofadas em Draco, que revidava. Quando a coisa pareceu ficar “séria”, começou a correr pela sala, pegando Rose, que gargalhava com a situação, no colo.

Quando se viu encurralada entre um sofá e uma parede, pediu ajuda para a filha, que se divertia ainda mais com as brincadeiras fora de hora: embora não fosse tarde da noite, já havia passado de sua hora de dormir e era bem raro quando podia ficar acordada até mais tarde, a não ser quando estava com o pai, mas Hermione não precisava saber disso.

─ Draco, por favor! Largue essa girafa ou esse coelho vai voar ─ ameaçou Hermione, rindo enquanto segurava Rose com um braço e o coelho acima da cabeça, na outra mão, pronto para atacar.

─ Acerta ele, mamãe!

─ Então vai ser assim?! ─ Draco correu para elas, deixando Rose passar e atacando Hermione, que pedia socorro para a filha, que também entrara na brincadeira. Essa que só parou quando Rose correra até a porta, ao mesmo tempo que o forno apitava na cozinha e Hermione estava sendo carregada, exclamando uma palavra:

─Papai!

─ Olá, princesa! ─ Fred sorriu para a ruivinha depois de alguns segundos analisando a situação. Não demorou muito para Hermione voltar para o chão e, com um aceno de varinha, organizar a bagunça que haviam feito com os animais de pelúcia. ─ Ahn, olá Hermione. Malfoy.

─ Weasley.

─ Oi, Fred. Eu não esperava... é, só um minuto por favor. ─ Hermione tentou formar alguma frase, mas estava atônita demais, e o barulho do forno apitando não era de grande ajuda. Correu até a cozinha, queimando a mão ao tirar a mamadeira de Rose do forno, e xingando baixinho essa confusão toda. Abriu a torneira para esfriar o leite da filha enquanto soprava a própria mão e perguntava a Mérlin porque sua vida não podia ser mais tranquila.

─ Por que não deixa que eu faço isso? ─ Draco apareceu na cozinha, a expressão fechada de sempre de volta ao rosto, recebendo um suspiro como resposta. ─ Eu termino aqui e já saio, vocês dois devem ter assuntos importante a tratar, então.

─ Draco, por favor..

─ Apenas vá, Hermione. Conversamos amanhã. ─ ele pegou a mamadeira das mãos da amiga, terminando de arrumá-la para Rose, enquanto a morena respirava fundo e seguia para a porta. ─ Vou deixa-la aqui em cima, e juízo, Granger.

    ─Aconteceu alguma coisa, Fred? ─ Hermione perguntou assim que voltaram para a sala, depois de colocar Rose para dormir.

─ Não, eu só... Quer saber, não importa muito. Eu não devia ter vindo, desculpe atrapalhar seus planos com o Malfoy. ─ o ruivo pegou o casaco, vestindo-o novamente enquanto Hermione tentava entender.

─ O que... Fred! O que está fazendo?

─ Indo embora, Hermione. ─ o ruivo respondeu, irritado consigo mesmo por ter sido impulsivo a ponto de sair de casa aquela hora, sem ter ao menos um motivo plausível para isso. ─ Eu não devia ter vindo nem nada do tipo. Devia ter imaginado que estaria com alguém ou algo do gênero, mesmo que Rose estivesse junto. Boa noite.

─ Espera aí, Fred. ─ Hermione caminhou até ele, associando as palavras do ruivo e rezando a Mérlin para ter entendido tudo errado. ─ Você aparece na minha casa tarde da noite, do nada, diz oi pra sua filha e simplesmente vai embora, insinuando coisas sobre companhias?

─ Não insinuei nada, Hermione. Apenas pedi desculpas por atrapalhar seus planos para a noite, mesmo que Rose esteja em casa e...

─ Ah, e o que isso deveria significar, Fred? ─ os dois se encaravam seriamente, ambos sem entender como aquilo havia começado.

─ Você sabe o que faz, não é, Hermione?! Não preciso me preocupar com isso, não é como se a segurança da minha filha dependesse disso. ─ o ruivo exclamou, indo em direção a porta e recebendo um olhar indignado da garota atrás de si.

─ Eu realmente não sei o que aconteceu com você, Fred, se você tomou uma dose a mais de estupidez hoje, se isso é convivência com sua noiva ou se é algo natural. Mas sei que eu não devo satisfação alguma da minha vida, ainda mais para alguém que invade minha casa para falar coisas sem nexo algum, achando ter razão. Eu não sei o que você esperava fazer aqui, mas não pense que pode fazer isso sempre que quiser; você é pai dela, sim. Pode visita-la quando quiser, sim. Mas não pense que pode se intrometer na minha vida, falar um monte de asneiras sobre meu comportamento com minha filha ou sobre quem frequenta minha casa, já que Malfoy parece ser um problema para você. Eu não me intrometo na sua vida, espero que não faça o mesmo. Boa noite, Fred.

Hermione fechou a porta sem esperar uma resposta do rapaz, que logo aparatou, bufando ao pensar na besteira que havia feito, afinal nem ele sabia o motivo de ter ido até lá, e muito menos sobre fazer aqueles pequenos comentários. Jogou o tênis em qualquer canto e se jogou na cama assim que chegou em casa e, embora soubesse que não conseguiria, tentou dormir, ainda irritado. Daria um jeito de resolver aquilo, no momento que conseguisse entender tudo.

A última coisa que Hermione conseguiu fazer naquela noite foi dormir, ao contrário do ruivo. Tentava associar o dia que tivera, desde os casos estranhos que não saiam de sua cabeça até o pedido de Gina, o jantar e essa estranha briga com Fred. Sabia que o rapaz não estava bem, mas não conseguia mais controlar a língua para que as palavras não saíssem e sabia que isso era um problema. Esquentou uma xícara de café, tomou a poção de Draco e foi para o sofá, procurando na bolsa uma cópia do caso em que trabalhava, sabendo que ficaria louca se lesse o arquivo mais uma vez. Mas tinha certeza de uma coisa: ficaria ainda mais louca se parasse para pensar em Fred e no que havia acontecido minutos atrás.