Quando Hermione achara que as coisas não poderiam ficar mais complicadas, a realidade provou que, sim, elas podiam. O trio havia acabado de entrar na Sala Precisa e Harry tentava arranjar uma maneira de fazer Neville – e toda a Armada de Dumbledore – que eles precisavam sair dali e procurar a horcrux. Sozinhos. Hermione tentava pensar em alguma desculpa para ajudar Harry quando ouviu a passagem se abrir novamente e sentiu o coração errar uma batida: Gina e Lino Jordan se aproximavam, seguidos de perto por Fred e George, e assim como Harry, nunca ficara menos satisfeita em vê-los. Ignorou a chegada de Cho ao ver o sorriso do gêmeo e respirou fundo, forçando a mente a se concentrar no que realmente precisavam, a horcrux. Quis sorrir quando Gina não permitiu que Cho acompanhasse Harry até o salão da Corvinal mas sentia seu rosto tenso demais para isso, ainda mais depois que vira os amigos saírem pelos corredores do castelo.

Na Sala Precisa, a situação não permanecera calma, nem perto disso: Miguel Corner e Neville correram para o que pareciam seus postos, ligando rádios e lançando feitiços para avisar à Ordem e ao restante da Armada que toda a ajuda possível se fazia necessária. O restante dos alunos se reunia em grupos, conversando coisas que Hermione não conseguiria entender mesmo que focasse a mente totalmente nisso. Respirou fundo e olhou para Rony, que corria os olhos pela sala; entendendo o que ele procurava, segurou seu ombro e apontou para sua direita, tentando suavizar sua expressão:

─Eles estão ali. Vá. ─ viu o ruivo correr para os irmãos e, num impulso, assim que Rony a soltou, correu para Gina, que a abraçava com força. ─ Você é louca de estar aqui. Harry vai querer te matar, sua mãe vai querer te matar, e...

─ Acho que já tem gente o suficiente querendo nos matar, Mione. Não precisa listar mais nenhuma. ─ a ruiva riu, abraçando a amiga mais uma vez. ─ E, sinto lhe informar, mas sua aparência está horrível.

─Pular de um dragão não colabora muito para ficar bonita, Gina. E honestamente, é a menor das minhas preocupações. Eu preciso...

─ Parar de fingir que eu não existo e vir me dar um abraço, Granger. Não tive todo esse trabalho sobrevivendo todos esses meses para você me ignorar desse jeito. ─ Fred fingiu-se de bravo, puxando a garota para perto dele e esmagando-a em um abraço de urso.

─ Não fez mais que sua obrigação. ─ sentiu o perfume de Fred e sentiu uma enorme vontade de parar o tempo, parar toda essa loucura mas sabia que era impossível. Olhou para os olhos verdes do rapaz e sussurrou: ─ Tome cuidado, por favor. Se acontecer alguma coisa...

─Não vou deixar você, Mione. Ninguém se livra tão fácil de um Weasley, além disso, alguém precisa cuidar para que Harry não toque na Gina, nem nada do tipo...

─ Harry. ─ o nome foi o choque de realidade de Rony e Hermione precisavam. Não haviam se passado cinco minutos, mas na situação em que se encontravam, qualquer segundo faria uma diferença enorme. ─ Ron, precisamos...

─ Eu sei, estava pensando nisso e acho que tive uma ideia, mas precisamos ser rápidos.

─ Hermione.

─ Fred, não.

─ Mas é verdade, e eu preciso dizer. ─ o ruivo sussurrou, abraçando a garota ainda mais. ─ Pode até não adiantar mais nada, mas preciso dizer o quando senti sua falta, o quanto senti falta de abraçar você, beijar você, de estarmos assim, e..

─ Por favor, não torne as coisas mais difíceis. Não deveríamos estar aqui, desse jeito, não deveríamos ter feito o que fizemos. ─ ela suspirou, procurando os olhos do rapaz. ─ Não estou dizendo que não foi bom, antes que diga algo. Você sabe que foi muito mais que isso, mas não foi certo. Foi certo uma vez, anos atrás, mas não agora. Nós dois sabemos disso muito bem.

─ Eu sei, mas não vou me desculpar por isso. Não vou me desculpar por ainda não conseguir me controlar perto de você, mesmo agora. Não vou me desculpar por ainda sentir algo por você, Hermione. Algo que eu não sei se vou ser capaz de controlar, mesmo isso sendo errado. E se for para ser honesto, o único desgosto que estou sentido é por ter demorado todo esse tempo para ter feito isso. Eu ... ─ Fred sentiu os lábios de Hermione nos seus por breves segundos e ficou em silêncio enquanto ela voltava a vestir o roupão e se dirigia à porta.

─ Você está noivo, vai casar em menos de dois meses. ─ Hermione respirou fundo antes de se virar para Fred, dizendo: ─ Eu sei que vai ser difícil, mas o que fizemos nesse quarto vai ficar aqui e a única relação que precisamos ter é amizade, Fred. Por nós dois, pela Rose e pelo seu casamento. Júlia não merece isso.

─ Hermione.

─ Por favor. ─ ela sussurrou, e sem esperar resposta, saiu do quarto. O coração na boca, a respiração descontrolada e lágrimas querendo escapar dos olhos, mas sabia que precisava fazer isso naquele momento: por mais que ainda amasse Fred, ele escolhera seguir em frente com Júlia e ela aceitaria isso, mesmo que não gostasse nem um pouco da ideia de perder Fred mais uma vez.

─Eu adoraria saber em que planeta você está agora, irmãozinho. ─ George tentava chamar a atenção de Fred pela centésima vez, sem sucesso. A semana passara se arrastando para todos e ele não conseguia arrancar mais de algumas frases do irmão por dia. Ele sabia que o motivo de tudo isso era Hermione, mas nem ela nem o irmão comentavam sobre o final de semana n’ A Toca, e isso angustiava muito o gêmeo, que tentava entender a tensão entre os dois: eram como um enigma que, quando estava prestes a ser desvendado, bagunçava-se novamente.  

Parando para pensar na relação dos dois, sempre haviam sido, mesmo antes de toda essa complicação. As coisas aconteceram incrivelmente rápidas e inesperadas, e terminaram da mesma maneira, com cada um em um lado do globo, tentando viver uma vida que, de certa forma, não era a deles. Seguindo em frente com pessoas que não faziam bem para eles, mas que aparentavam fazer.

Conhecendo o irmão muito bem, George sabia que, em algumas vezes, Fred não suportava a noiva: ela era exatamente o tipo de garota que Fred sempre evitara, exatamente o oposto de Hermione, mas que ela seria a única a tirá-la de sua cabeça, e lhe dar o que precisava naquele momento. E exatamente por isso, sabia que o irmão estava completo e infeliz, mesmo que, para qualquer um além de George, Fred mostrasse ser a pessoa mais feliz do mundo. Ele apenas desejava que isso não durasse para sempre, que Fred algum dia percebesse que nada daquilo era necessário: o casamento, as aparências, a felicidade falsa. Ele apenas desejava que o irmão parasse de ser tão orgulhoso e voltasse atrás, que corresse atrás daquilo que realmente queria, da pessoa que, mesmo depois de quatro anos, uma filha e uma confusão, voltara atrás.

─ Eu também adoraria saber, George. ─ o ruivo forçou um sorriso e, abraçando o irmão, lembrou: ─ Vamos logo, temos que encontrar Rony e Harry e provar alguns ternos para o casamento do ano.