Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 33
Primeiro de abril.




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― Se você não se mexer em meio minuto, vou te levar de volta para o hospital. ― Draco olhava para a amiga há longos minutos e começava a se preocupar: a garota estava imóvel, sentada na bancada da cozinha, ainda de casaco e olhando para o chão. O loiro não sabia quanto tempo ela havia ficado assim, mas suspeitou do motivo quando Hermione finalmente o olhou, os olhos brilhando com as lágrimas que segurava.

― No que eu estava pensando quando voltei pra cá? ― a garota perguntou, levantando e ligando a cafeteira, virando as costas para o amigo. ― Quer dizer, estávamos tão bem lá. Rose estava bem, e o trabalho não era ruim, claro que eu sentiria muita saudades de Harry, Rony e Gina, mas pelo menos eu saberia que tudo estaria tranquilo e bem, nada disso estaria acontecendo, essa confusão… E eu teria você. Então, por favor Draco, por que eu resolvi voltar? ― sentiu as lágrimas caírem ao mesmo tempo em que o rapaz a abraçava, trazendo-a para bem perto de si e sentindo a garota o apertar de volta. Pegou a amiga no colo e a levou até o quarto, colocando Hermione na cama impecavelmente arrumada e deitando com ela depois do pedido silencioso da garota. Milhares de perguntas enchiam sua cabeça, mas sabia que não era o momento para fazê-las, assim como não era momento para conversarem sobre o ataque sofrido por ela; teriam tempo e tudo o que ela precisava agora era um amigo.

 

―Eu deveria voltar.

―O que quer dizer com isso, Hermione?

―Você entendeu. ― a garota respondeu, largando a xícara no criado-mudo ao lado da cama. ― Eu lhe disse, Draco. As coisas eram mais fáceis lá, tudo estava bem. Deveríamos voltar. Eu, você e Rose, como no começo.

― Eu realmente não sei o que aconteceu com você, mas provavelmente esqueceu de tomar algum remédio. ― o rapaz respondeu, arrancando uma risada da amiga. Ponderou tocar no assunto no momento, mas não podia deixar a garota no escuro por mais tempo. ― Por falar nisso, precisamos conversar. ― Eu sei. Você nunca voltaria atrás tão cedo depois de uma briga se não tivesse um motivo. ― ela suspirou e se soltou do abraço do loiro, olhando para ele. ― O que tem a me dizer, doutor Malfoy?

― Imagino que você saiba que não era necessário ficar todo esse tempo no hospital, não é?! ― ele perguntou, preparado para o acesso de raiva da garota. ― Mas foi preciso fazermos mais alguns exames porque, bem, ninguém fazia ideia do que estava acontecendo com você. Tinham noites que você parecia bem, quase pensávamos em lhe dar alta, e então, era como se seus pesadelos se tornassem reais. Como se você os vivesse dentro da sua mente, mas as consequências aparecessem fisicamente. Sua cicatriz sangrava e alguns machucados surgiam do nada.

―Magia negra, não é?

―É o que achamos. ― o loiro suspirou. Não queria entrar em detalhes porque, acima de todos os problemas, não saberia explicar. ― Procuramos em todos os livros possíveis, e não encontramos resposta alguma, então imagino que saiba que daqui pra frente…

― Você vai ser minha babá. ― Hermione sorriu, revirando os olhos. Suspeitava que essa seria a reação do amigo de qualquer jeito, então não fora tão surpreendida. Tão. Afinal, não esperava todas essas reações por causa de um feitiço, por uma breve distração em campo de batalha.

Tratou de mudar de assunto depois de mais algumas tentativas de entender o que o amigo dizia, e Draco a convenceu de aproveitarem bem a tarde antes de buscar Rose com os ruivos, embora os dois soubessem que Hermione não aguentaria muito mais tempo longe da filha.

 

A semana passou na mesma velocidade de uma lesma. Hermione agora trabalhava trancada no escritório - sob ordens de Harry e do ministro - analisando pastas intermináveis, cheias de papéis. Sentia que sua cabeça explodiria a qualquer momento, e ainda estava controlando - ou tentando - a própria boca para não argumentar com o amigo sobre a decisão. Sentia-se como uma pessoa má pagando pena, mas não precisava de outra briga com um amigo. Suspirou e olhou para o relógio na parede pela milésima vez na tarde e ficou feliz ao ver a coruja branca do lado de fora da janela.

Fez um carinho na cabeça de Edwiges antes de voltar para a mesa, abrindo a carta de Gina. Revirou os olhos com as indiretas da amiga e ponderou sua última pergunta. Faltavam dois dias para o aniversário dos gêmeos e a garota ainda não estava certa do que fazer. Claro que adoraria ir, estava com saudades da família ruiva, e não deixaria Rose de fora dessa festa, afinal era a primeira festa de aniversário dos gêmeos da qual ela faria parte, e todos sabiam que, quando se tratava das festas dos dois, era impossível não se divertir ou esquecer. Mas também não sabia como seria encarar Rony depois da briga, e, embora não admitisse, não saberia como agir perto de Júlia e Fred, mesmo dizendo a si mesma que não deveria se preocupar. Bufou antes de rabiscar uma resposta para a ruiva, desejando-lhe boa sorte na prova e escolha de vestidos com a cunhada, na tarde seguinte, e entregou-a à coruja branca, que logo tratou de voar pelo céu azul celeste.

Com um aceno de varinha, guardou as pilhas de papéis de sua mesa, trocando-as por novas, e voltou ao trabalho, a pena correndo pelas folhas o mais rápido que conseguia. Sentiu o pensamento voar para longe e, quase no fim da tarde, tomou uma decisão. Pediu a Harry se poderia trocar o almoço e sair algumas horas antes no dia seguinte, e o amigo aceitou depois de uma boa explicação: passaria a tarde com Rose e, depois de uma tarde de distração, comprariam presentes. Um para o tio George e um para Fred.

 

 

―Você acha que ele vai gostar, mamãe? ―Rose perguntava pela décima vez, olhando para o desenho que havia feito. Em sua de imaginação de criança, havia desenhado três pessoas: ela, com um laço enorme na cabeça - porque, segundo Fred, ela ficava bem com laços- a mamãe e o papai, os três de mãos dadas. Claro que Hermione teve que olhar com cuidado antes de entender, mas sabia que o ruivo adoraria o presente. Haviam comprado também uma camisa xadrez, por insistência de Rose, e um óculos com os olhos saltados. Para George, compraram o mesmo óculos (para ele não ficar triste, mamãe!) e um cachecol que Hermione adoraria ter para si, de tão quentinho e macio que parecia ser.

Quando as duas estavam prontas, a bolsinha de Hermione jogada no sofá com roupas e coisas de Rose suficientes para uma semana, a morena se abaixou para ajeitar a saia da filha, que insistia em sair do lugar.

― Rose, você já até sabe o que eu vou dizer, mas precisamos manter nosso combinado, okay? ― a garota disse, ainda na altura da filha. ― Não saia de perto de nós e não faça nada sozinha. Vamos acampar pertinho d’ A Toca, mas mesmo assim, fique sempre perto de algum de nós. E qualquer coisinha diferente, você fala pra mim, tudo bem?

A pequena assentiu e deu um sorriso, correndo em seguida para Bichento, que pulava no sofá. Hermione terminou de colocar comida para o gato laranja e guardou os presentes na bolsa, ainda com o feitiço de extensão. Pegou a filha no colo e em poucos segundos, já corriam pelos jardins da casa dos Weasleys, dando início ao final de semana de aniversário de Fred e George.

 

 

Montariam acampamento no final da tarde, que fora mais do que bem aproveitada. Os gêmeos, Rony, Gina, Harry, Teddy, Rose e Hermione passaram a tarde brincando na neve que nem deveria cair: já era abril e parecia não querer esquentar tão cedo. O resultado de sete crianças e Hermione na neve não poderia ter sido outro além de uma guerra de bolinhas (os Weasleys contra Harry, Teddy, Rose e Hermione) e uma fogueira com marshmellows logo em seguida. Aproveitaram o pôr-do-sol através da vista privilegiada do campo onde estavam e, assim que as crianças dormiram, aproveitaram para colocar as conversas em dia. Ainda era trinta de março, mas os gêmeos quiseram fazer algo diferente dessa vez. Com a volta de Hermione, e a vida de todos seguindo em frente, uma reunião entre amigos era mais que bem-vinda.

Era madrugada quando flocos de neve voltaram a cair e a turma decidiu que era hora de entrar nas barracas e deixar o sono vencer. Murmuraram um boa noite para os amigos, e cada um seguiu para seus aposentos: uma barraca de verdade, como a dos trouxas, forrada com vários cobertores e travesseiros.

Hermione tirou as botas que, embora quentes, eram desconfortáveis e tentou se aconchegar nos cobertores sem acordar a filha, que dormia tranquilamente. Não chegou a fechar os olhos antes de ouvir alguém abrindo o zíper da barraca e por pouco não acertou Fred com um feitiço quando o rosto sonolento do rapaz adentrou o local, junto com o vento frio. Acompanhou silenciosamente enquanto ele deitava ao seu lado, fechando os olhos logo em seguida.

― O que está fazendo?

―Tentando dormir. Exatamente o que você deveria estar fazendo agora. ― o ruivo respondeu, ainda de olhos fechados.

― E por que está fazendo isso aqui? E a sua barraca?

― George e Rony roncam demais, não tem como dormir. ― o ruivo ergueu o olhar para Hermione, sabendo que a garota ainda faria milhares de perguntas.

―Existem feitiços silenciadores, sabia?!

―Sim, mas nenhum deles é tão bom quanto dormir com você. ― Fred respondeu, sabendo que ganhara dessa vez. ― Agora, que tal dormirmos antes que Rose acorde?!

 

 

Quando acordaram na manhã seguinte, a neve estava três vezes mais alta que durante a noite, e não tiveram outra escolha a não ser voltar para casa antes mesmo do café da manhã que haviam planejado. Recolheram as coisas rapidamente e logo estavam no calor d’ A Toca, bocejando e com as barrigas roncando; Hermione um tanto molhada graças ao monte de neve que despencara de uma árvore, bem em cima dela. Secou-se com um feitiço, mas ainda assim sentia frio durante o café, e seu corpo tremia quando Harry, Rony e o Sr. Weasley saíram, às pressas, para uma emergência no ministério, para a qual não tivera tempo de perguntar o que era.

Um tanto irritada, ajudou as Weasleys com a mesa do café enquanto Fred e George aparatavam para a loja e as crianças brincavam na sala. Eram quase nove da manhã quando Gina e a mãe saíram com Teddy - e Rose, depois de muita insistência dela- para a casa de Andrômeda, onde deixariam o garotinho e Gina e entregaria o convite do casamento.

Sozinha, e ainda com frio, Hermione decidiu tomar um banho quente, na esperança de acabar com o tremor que não lhe deixava. Prendeu os fios castanhos no alto da cabeça de deixou a água quente correr pelo corpo por longos minutos. Se enrolou no roupão felpudo e desceu até a cozinha, voltando para o quarto de Gina com uma xícara de chá em mãos, a qual largou em um criado mudo esperando que esfriasse o suficiente para tomá-lo. Soltou os cabelos e ia até o banheiro para devolver o prendedor quando se assustou com Fred passando pelo corredor. Os dois se olharam confusos antes de dar risada e a garota comentar:

― Achei que estivesse na loja.

― E estava, mas George disse que não precisava de mim hoje, então resolvi vir para cá, embora ache que ele está tramando alguma coisa. Até porque, é primeiro de abril.

― E seu aniversário. ― Hermione sorriu. ― O que me lembra: o presente de Rose. Ela vai entregá-lo mais tarde, mas preciso explicar. Ela desenhou, sozinha e sem a influência de ninguém, então… Foi tudo da cabecinha dela, só queria que soubesse. E espero que goste.

― É claro que vou gostar.  E não se preocupe, a conheci bem o suficiente para saber que, se ela vai aprontar algo, vai ser por conta própria. ― os dois riram antes trocarem um olhar e o ruivo perguntar: ― E então?

―Então?

― É meu aniversário, Mione. Mereço um abraço, não é?! ― o rapaz sorriu, abrindo os braços e fechando-os em seguida, dessa vez ao redor da cintura da garota. Sentia seu coração bater mais forte e não a soltou quando sentiu Hermione tentar se afastar. A distância entre os dois era apenas seus rostos, a centímetros um do outro, e a julgar pelo olhar de Hermione, a confusão dos dois era a mesma. Confusão, desejo e, de certa forma, cansaço. Ouviu a garota sussurrar seu nome quando tentou se aproximar, e puxou sua cintura para mais perto de si.

― Uma vez na vida, Mione, não pense. Apenas faça, por favor. ― Fred sussurrou, levando uma das mãos até a nuca da morena, que, embora soubesse o quão errado e egoísta aquilo era, soltou o ar que não lembrava ter prendido e deixou o coração falar mais alto, terminando qualquer espaço que pudesse existir entre os dois.

O beijo era ainda melhor que o anterior e um tanto mais urgente, com ainda mais sentimentos e, acima de tudo saudades. Hermione correu os dedos pelos fios ruivos e bagunçados de Fred, que a puxou para seu colo e conduzia-os cegamente para o quarto dele. Os dois sabiam que não deveriam estar fazendo aquilo, mas não parecia existir sensatez no momento. Provavelmente se arrependeriam depois, mas não era hora de pensar nas consequências. Ainda não.


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Notas finais do capítulo

Muuito obrigada a Fremioneforever pela linda recomendação na história!



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