Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 32
Conversas e mais conversas II




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Não sabia quanto tempo tinha se passado desde que adormecera, mas tudo o que queria naquele momento era acordar. Sua mente lembrava da noite na Mansão Malfoy, tantos anos atrás, e só de sonhar com a tortura que sofrera naquela noite sentia o coração errar uma batida e seu corpo todo tremer.  O sonho se tornava cada vez mais nítido e não sabia se os gritos e pedidos eram apenas em sua cabeça, afinal, a dor parecia bem real, como se Bellatrix Lestrange estivesse ali com a varinha apontada para ela.

Se contorceu por o que achou serem minutos e sentiu uma ardência no pulso marcado, de onde um filete de sangue escorria. Quando conseguiu, finalmente, abrir os olhos, Hermione descobriu que a dor era real, assim como o sangramento, e tentou entender o que estava acontecendo ao reconhecer Draco e outros dois medibruxos no quarto, correndo de um lado para outro, murmurando encantamentos e procurando por poções que pudessem surtir efeito. Tentou falar com o amigo mas não conseguia mover os lábios,  e não sabia se haveria voz para falar qualquer coisa. Sentiu uma mão correr pelos cabelos e antes que pudesse reconhecer o dono, adormeceu.

 

 

―Ela vai ficar bem agora. Conseguimos cortar o efeito da maldição e é só uma questão de tempo para a temperatura baixar e ela parar de sentir tanta dor. ― Draco tentava manter a voz calma enquanto explicava a situação para a Sra. Weasley, que insistira em ficar ali com Hermione, ainda sedada e desacordada na cama de onde não podia sair.

Ouvia o medibruxo com atenção e sorriu solidária quando ele suspirou, olhando para a amiga. Sabia que ele estava preocupado, tanto com a garota quando com Rose, que agora, graças a um descuido de Fred e Júlia durante uma discussão, sabia que a mãe não estava nada bem e insistia para vê-la cada minuto que passava.

―Por que não vai para casa descansar, querido? Se ela está tão bem quanto diz, não há com o que se preocupar. Além disso, tenho certeza de que Hermione está bem cuidada. ― a ruiva sugeriu, fingindo não reparar nas profundas olheiras sob os olhos acinzentados.

― Sei que sim, Sra. Weasley. Confio em meus colegas de olhos fechados, não confio é nela! ―os dois riram, sabendo que aquilo era verdade. Conheciam Hermione bem o suficiente para saber que, em qualquer oportunidade, ela estaria tentando sair daquele quarto e do hospital, mesmo que precisasse enfeitiçar alguém. Não era como se ela não tivesse vontade de fazer isso no amigo, mas os dois ainda não haviam conversado direito desde a briga, e o loiro sabia que Hermione, embora fosse orgulhosa demais para pedir desculpas ou até mesmo tocar no assunto, não pioraria as coisas. E era por esse mesmo motivo que ele estava no terceiro plantão consecutivo.

―Acredito que sim, querido. Mas você precisa descansar, não poderá fazer muito por ela ou por qualquer um de seus pacientes se continuar sem dormir e trabalhando desse jeito. ―a ruiva sorriu, segurando o rosto do rapaz. ― Rose está com saudades, e ela precisa de você também.

Um tanto contrariado, embora convencido, o médico prometeu passar em casa, mesmo sabendo que não descansaria até Hermione sair daquele hospital. Despediu-se de Molly, que ficaria com Hermione um pouco mais e foi para sua sala, tirando o jaleco e deixando a prancheta de lado, suspirando ao se jogar na cadeira. Nunca na vida teria imaginado passar por isso, estar preocupado com Hermione Granger, a sabe tudo de Hogwarts, a melhor amiga de Harry Potter, e, agora, sua melhor amiga também. Não pensara que o pedido de desculpas seria bem aceito pela garota e muito menos que conseguiriam conviver por um ano como colegas normais, quase amigos. E conseguiu se surpreender ainda mais quando a encontrou, um ano depois da formatura, em Buenos Aires, trabalhando para o ministro argentino, saindo de um relacionamento que Draco internamente achava que duraria para sempre, grávida do cabeça de cenoura e mais perdida que qualquer outro ser humano que o loiro já havia visto. Ele ainda estava terminando o curso de medicina, e teve que admitir que fora muito melhor cumprir a parte mais complicada - estagiar em um lugar desconhecido - tendo a garota por perto.

Suspirou lembrando-se de como se aproximaram e passaram a conviver diariamente e largou a pena, terminando a tabela de horários que faria nos próximos dias. Guardou suas coisas e recolheu a pasta, aparatando para casa logo depois de deixar o papel com a recepcionista do St. Mungus. Lembrava- se apenas de ter tomado um banho quente e ter se jogado na cama, dormindo logo em seguida.

 

...

 

No dia seguinte, Hermione parecia uma criança que acabara de ser presenteada com o maior urso de pelúcia do mundo, recheado por guloseimas. Esperava Draco aparecer no quarto para fazer os últimos exames e, dependendo do que o médico dissesse, poderia, finalmente, ir para casa, afinal, não aguentava mais ficar presa naquela cama - se aquilo era uma espécie de castigo por ter sido irresponsável, a lição estava mais do que aprendida.

Ainda não sabia muito bem o que a fizera permanecer no hospital por tantos dias, já que se sentia bem e tudo o que havia sobrado da aventura eram alguns arranhões e marcas roxas, mas os amigos e Draco insistiam em fazer mais exames e tentar entender o encantamento nunca visto antes, que afetou a garota mais do que já havia feito por dois dias seguidos, para simplesmente sumir depois disso. Ignorando toda essa preocupação dos amigos, como se estivesse em um contínuo ataque de ansiedade, Hermione só conseguia pensar em sair do quarto branco e voltar para sua casa, no seu quarto, com suas coisas, voltar ao trabalho e, acima de tudo, voltar para a filha, que ainda não havia visto. Era como se estivesse sendo torturada por dez maldições Cruciatus de uma só vez, a cada dois minutos. Por isso que, quando Draco lhe entregou a bolsa com uma muda de roupas e indicou o banheiro, a morena teve que se controlar para não correr até lá, se limitando a agradecer e se despedir do amigo, que iria dar uma olhada em um paciente que acabara de dar entrada, deixando-a sozinha para se arrumar, o que não demorou cinco minutos.

Voltou para o quarto e recolheu suas coisas, tentando controlar o sorriso em seu rosto enquanto observava o sol se levantar, marcando o começo de um novo dia. Guardou a varinha em um bolso interno do casaco que Draco trouxera e sentou na cama para esperar o amigo, que chegou acompanhado por Rony pouco tempo depois.

―Você só precisa passar assinar os papéis da alta e já pode ir, Hermione. Já conversamos sobre as recomendações e cuidados que deve ter, e espero que me escute uma vez na vida.

―Não se preocupe, doutor Malfoy. Prometo tomar cuidado dessa vez. ―ela sorriu, não conseguindo controlar a si mesma. Sabia que a situação não era tão digna de sorrisos assim, mas estava ansiosa por ver a filha e por poder voltar para sua vida depois de quase dez dias presa naquele lugar. ― Que horas você sai?

―Pretendo ver apenas mais um paciente antes de voltar para casa, mas imaginei que perguntaria. Passo na sua casa assim que terminar aqui, então pode preparar uma boa xícara de café, vamos precisar. ―o loiro despediu-se com um aceno, enquanto Hermione e Rony saíam do quarto, em silêncio, caminhando até a recepção. Trocaram poucas palavras o caminho todo, falando apenas sobre a saúde da garota, que sabia que havia algo errado por trás da expressão fechada do amigo, que andava com as duas mãos enfiadas no bolso da calça, andando um pouco mais afastado que o normal e olhando fixamente para o caminho que estavam seguindo. Ainda não eram oito da manhã quando chegaram, e assim que abriu a porta, Hermione convidou o amigo para entrar, agradecendo-o por tê-la acompanhado.

―Não, obrigado. Preciso ir para o trabalho, está ficando tarde e as coisas estão complicadas por lá.

―Ah, claro. Quer usar a lareira, já que está aqui e…

―Não, Hermione. Eu, eu preciso ir. ―o ruivo respondeu, parecendo travar uma luta interna.

―Ron, por favor. ― a garota chamou, sem entender a situação. ― Aconteceu alguma coisa? Qual o problema?

―Não tem problema nenhum, Hermione. Eu só preciso ir. ―ele respondeu, virando para sair e sendo segurado pela amiga.

―Ron, eu sei que as coisas pareceram mudar durante esses anos, mas você pode confiar em mim, você sabe di…

―Do mesmo jeito que você confiou em nós, Hermione? Do mesmo jeito que nos contou que estava grávida, que contou que teve uma filha? ―ele sentiu a mão da amiga soltar a sua lentamente, mas embora aquelas palavras o machucassem tanto quanto estavam machucando Hermione, ele precisava continuar. ―Diga, Hermione. Eu sei que posso confiar em você? Será mesmo? Quantas coisas mais você escondeu de nós nesse tempo? Foram três anos, Hermione. Três anos.

―Rony, eu…

―Mas isso não parece ser um problema não é mesmo?! Quer dizer, tudo bem você viajar para o outro lado do oceano, tudo bem estar grávida, ter uma filha, que é minha sobrinha por sinal, e não ter contado para ninguém, não é mesmo? Mas não está tudo bem eu não querer conversar com você sobre o que me incomoda, uma vez na vida. É incrível como sempre sobra para mim falar a verdade que magoa as pessoas, mas nós dois sabemos que nem Harry nem Gina, e muito menos Fred, teriam coragem para te dizer o que eles realmente estão pensando, e não adianta me olhar com essa cara. Você sabe tão bem quanto eu que eles pensam assim, que essa loucura toda ainda está aqui ―Rony apontou para a garganta, engolindo em seco antes de continuar. ―Por Mérlin, Hermione. Sempre fomos amigos, passamos por tanta coisa juntos, e durante três anos foi como se não existíssemos. Como você acha que as coisas estavam aqui? Nós estávamos morrendo de saudades de você e morrendo de preocupação com Fred, que mal saía daquele maldito quarto. Foi o inferno, e não, não estou dizendo que foi o paraíso para você, mas foram as suas escolhas que fizeram tudo isso acontecer. Uma carta, um patrono, uma visita era o suficiente. Dizer “hey, família, eu estou grávida!” poderia ter tornado tudo menos complicado. Talvez você não tenha reparado na gravidade de toda a situação atual, mas o inferno está voltando. E, Mérlin, é a última coisa que qualquer um de nós precisa agora, e você sabe disso tão bem quanto eu. Eu não estou pedindo que você se afaste de nós, Hermione. ― Rony disse, descendo os degraus e caminhando até o portão. ―Eu só preciso saber quem é essa garota irresponsável e fechada, e o que ela fez com a minha melhor amiga.


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