Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 30
Irresponsável




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525367/chapter/30

Estavam deitados no gramado em que a família Weasley costumava jogar quadribol, aproveitando a tarde de sol e a companhia um do outro. Fred abraçava Hermione e sorria, feliz com a notícia de que seria tio: Gui e Fleur estavam à espera da primeira filha. Sua mão corria os cabelos da, agora, namorada, que ouvia os batimentos do coração do ruivo.

― Espero que seja uma menina. ― o ruivo disse, depois de um tempo em silêncio. Sentiu o sorriso de Hermione abrir, e ela o olhava curiosa. ― Não seria lindo uma criança ruivinha, correndo por aí? ― ele completou, fazendo a morena rir.

― Claro que seria. Mas acho que, mesmo que seja menina, não será ruiva. ― o ar de sabe tudo transparecia no rosto de Hermione, que agora se apoiava nos cotovelos para olhar para Fred. ― A genética veela pode ser mais forte.

― Ahh. Me lembre de nunca casar com uma veela, então. Adoraria que minha filha fosse ruiva. ― Fred sorriu, imaginando. ― Não se preocupe, sei que é cedo para pensar nisso, mas consigo imaginar um toquinho de gente ruiva  correndo pelo jardim d’ A Toca, atrás daqueles gnomos.

― E como ela se chamaria? ― Hermione perguntou, um tanto mais aliviada com o assunto e encantada com o sorriso do rapaz.

― Não sei, acho que nunca parei para pensar. ― os dois sorriram, e, como em um combinado silencioso, começaram a pensar em nomes. Embora soubessem que era cedo para esse assunto, afinal a guerra havia acabado há poucos meses, o tempo que estavam juntos –quase – oficialmente, gostaram da ideia de pensar em um futuro, mesmo não diretamente. Depois de algum tempo pensando, trocaram um olhar, soltando, ao mesmo tempo, uma só palavra:

― Rose.

Sorriram e trocaram um beijo, lembrando em seguida que deveriam voltar; passaram a tarde toda sozinhos, sem avisar os amigos, que já deveriam ter voltado do passeio. Recolheram a toalha e as comidas que haviam sobrado e fizeram o caminho de volta de mãos dadas, aproveitando o pôr do sol em silêncio. Entraram na casa sem serem notados e Hermione subiu para o quarto de Gina, que a encarava com um olhar malicioso assim que colou os pés no lugar, recebendo em troca uma careta da amiga, que queria detalhes do passeio dos amigos – ou como insistia a ruiva, cunhados.

Não demorou muito para que a Sra. Weasley chamasse para o delicioso jantar, onde Fred e Hermione finalmente oficializaram o namoro, já que as duas Weasley’s, Jorge e Harry já sabiam e adoravam brincar com o casal por isso. Depois de comemorarem e explicarem para Rony que não era uma pegadinha, foram expulsos da cozinha e se dirigiram a sala, onde todos, exceto a Weasley mais velha, ocupavam o tempo com brincadeiras e conversas quaisquer. Eram quase dez da noite quando Harry se despediu, explicando que receberia visita do afilhado no dia seguinte e aparatou para casa, dando a chance para Hermione fazer o mesmo.

― Por que não passa essa noite aqui, querida? Sei que seus pais ainda estão viajando e não acho bom você ter que passar todo esse tempo sozinha, longe de todos. ― Molly insistia, sorrindo para a garota. ―Você sabe muito bem que não incomoda, Hermione, e temos lugares sobrando. A cama no quarto de Gina é praticamente sua.

― Obrigada, Sra. Weasley, mas... ― um trovão ressoou alto fora da casa, assustando alguns distraídos e sobressaltando Hermione, que soube que havia sido vencida naquele momento. Agradeceu mais uma vez o logo subiu com Gina para o quarto, onde arrumou suas coisas. Conversaram sobre bobagens um pouco mais e a morena resolveu que era hora de dormirem quando já não paravam de bocejar. Pegou a escova de dentes e foi até o banheiro, assustando-se com a tempestade assim que fechou a porta. Parou alguns segundos em frente a porta e encontrou Fred escorado na parede assim que abriu os olhos, sorrindo enquanto observava a garota. O ruivo estendeu a mão para a namorada e apontou, com a cabeça para as escadas que levavam ao seu quarto e sussurrou:

― Vem pra cá, tem cama, tem cobertor e tem eu. ―ele sorriu, puxando Hermione para mais perto e beijando o topo de sua cabeça. ― E eu sei que não gosta de dormir sozinha em noites de chuva.

 

 

...

 

 

Hermione acordou com a cabeça latejando. Estava deitada e sentia dores em toda a extensão do corpo, tentou se mover sem sucesso, então apenas forçou seus olhos até abrirem, revelando um quarto branco e uma claridade que ela não lembrava ter em casa, assim como sabia que seu quarto não era branco.

Ainda olhando para o teto e sem se mover, a garota tentava lembrar do que havia acontecido depois do pedido de ajuda de Harry: semanas atrás, um comensal foragido havia fugido de Azkaban e, aparentemente, o grupo de aurores responsáveis para o caso havia o encontrado numa ilha afastada, no meio do nada. Apesar de confiar cegamente em seus companheiros, Harry sabia que o caso era mais sério do que os que já haviam enfrentado, e não hesitou em pedir reforços, que consistiam em Rony e Hermione, que atenderam em prontidão. O problema era que o plano não havia dado tão certo quanto o imaginado, e o comensal foragido não estava sozinho, como achavam que estariam, o que resultou em uma pequena batalha, onde partes de ambos os lados saíram feridas. E, aparentemente, Hermione estava entre esses feridos.

Analisou um pouco melhor o quarto e percebeu que estava no hospital, a julgar pela claridade e o silêncio. Suspirou e tentou sentar, sentindo uma forte tontura e sendo aparada por mãos conhecidas. Fred a ajudou a deitar mais uma vez e Hermione agradeceu com um sussurro, analisando o restante do quarto e encontrando Harry, Gina e Rony do outro lado: o casal escorado na janela e Rony em pé, em frente a porta.

― Graças a Merlin você acordou! ― Harry disse, caminhando até a amiga e sendo seguido pelos outros dois. ― Como se sente?

― Dolorida.  Conseguiram pegá-lo? ― a garota perguntou, arrancando um sorriso dos quatro. ― O que foi?

― Você é a única pessoa da face da Terra que acorda depois de ter se ferido em batalha e pergunta essas coisas. ― Rony respondeu, enquanto Hermione se ajeitava na cama.

― O que aconteceu, afinal? ― perguntou, desviando o olhar de Fred, que a encarava com uma expressão indecifrável.

― Você foi irresponsável e insana novamente, Granger. Isso que aconteceu. ― Draco entrava no quarto, a prancheta na mão e a expressão mais séria que a de Fred. Assim que Hermione reconheceu o amigo, soltou um gritinho e se escondeu embaixo do lençol branco, cobrindo a cabeça e arrancando olhares confusos dos amigos e um ainda mais irritado do médico. ― O que está fazendo?

― Você vai gritar comigo outra vez. ― Hermione sussurrou, espiando o loiro, parecendo uma criança pega em flagrante.

― Se você não fosse tão imprudente, eu não precisaria gritar com você outra vez. O que achou que estava fazendo? Será que a última vez não foi o suficiente? ― o rapaz de jaleco branco tentava controlar a voz enquanto os ruivos e Harry apenas observavam a cena.

― Você fala como se eu tivesse feito de propósito, como se eu tivesse implorado para que me acertarem ou sei lá o que aconteceu. ― Hermione, agora sentada na cama – apesar de protestos – mostrava irritação com a lembrança, e sabia que outra briga estava começando.

― Não duvido que não tenha feito. Acho que você esquece que agora tudo o que faz tem consequências, não é?! Você parou para pensar o que poderia ter acontecido se você simplesmente não voltasse dessa missão? Esqueceu, outra vez, que alguém depende de você agora?

― E o que espera que eu faça? ― Hermione sentia o sangue ferver, e, embora soubesse que aquilo não levaria a nada, continuou a discussão: ― Não vou ficar sentada, trancada em um escritório para sempre, Draco. Meus amigos e meu chefe precisavam e mim para isso e eu fiquei muito feliz em poder ajudar, e antes que diga, pensei muito bem nas consequências dos meus atos, mas não é minha culpa que o plano tenha dado errado.

― Engraçado, não acha? ― o loiro soltou um riso pelo nariz, levantando as sobrancelhas.  ― Parece que os planos nunca dão certo, não é?!

― Eu sei me cuidar, e se não...

― Sabe se cuidar? Então o que está fazendo internada aqui há três dias? O que fazia no hospital naquela vez que quase perdeu Rose porque um plano não deu certo?!  Não me diga que não está mais grávida, Granger, eu sei disso. Mas agora é ainda mais complicado: você tem uma filha, que depende de você para tudo. ― o loiro apertou a prancheta com força e deu uma última olhada na amiga e soltou, saindo irritado logo em seguida: ― Da próxima vez que estiver com saudades da ação, pense nela.

Um silencio pairou no quarto por longos minutos até Hermione perceber que uma lágrima solitária corria seu rosto. Estava um tanto magoada com o loiro e ainda mais com o que ele havia dito sobre a filha, é claro que lembrara dela, mas não pôde negar ajuda a um amigo em algo tão sério. Bufou e voltou a deitar, só então lembrando dos amigos no quarto e observando suas expressões curiosas. Por um momento, achou que não tocariam no assunto, mas Rony fez questão de soltar a pergunta.

― O que ele quis dizer com quase perder Rose?

A garota respirou fundo, flashes do momento passando pela memória e, evitando olhar para Fred, relatou:

― Foi no começo da gravidez, acho que ainda não fazia dois meses que eu estava em Buenos Aires e o ministro de lá precisava de ajuda com saqueadores, que atacavam cada vez mais. Os aurores de lá tinham um plano arquitetado e só precisávamos segui-lo, mas coincidentemente, as coisas deram errado. O grupo de saqueadores era quase tão grande quanto o nosso, e eles nos surpreenderam com uma espécie de névoa enfeitiçada, provavelmente com algum veneno, e como eu estava na linha de frente, junto com alguns homens, o efeito foi maior. ― sentiu o corpo arrepiar e respirou fundo, tentando se livrar da angustia que parecia querer invadir o peito da garota outra vez. ― Não foi instantâneo, na verdade. Conseguimos derrota-los e captura-los, a maioria de nós com apenas arranhões. O pior veio horas depois, com o efeito da névoa. Eu não lembro muito bem o que aconteceu, ― Hermione mentiu, tentando afastar a lembrança de não conseguir parar em pé ou sentir a pele queimando, assim como todo o interior do corpo. Lembrava muito bem das dores e do medo que sentiu quando acordou no hospital com fortes dores na região da barriga. ― mas os curandeiros de lá conseguiram extinguir os efeitos e, graças a Mérlin, nada aconteceu. ― encarou os amigos e recebeu olhares apreensivos, duvidando se deveria ter contado sobre isso ou não. ― E me desculpem pelo Draco, ele...

― Está certo por ter se preocupado. ― Harry disse, saindo da janela e vestindo o casado. ― Me desculpe, Hermione, de verdade. Eu não... eu não havia pensando em Rose quando lhe pedi para ir conosco, e...

― Harry! Eu não acredito que estou ouvindo isso de você. ― a garota tentou se levantar, sendo impedida por Fred, que ainda não a olhava nos olhos. Respirou fundo e se controlou para não brigar com mais um amigo. Ou mais três, pelos olhares de Gina e Rony. ― Eu estou bem, não estou?

― E se algo pior tivesse acontecido? E se... ― o moreno sentiu uma mão em seu ombro e passou a mão pelos cabelos um tanto nervoso antes de olhar para a amiga. ― Desculpe, Hermione. Vou deixar você descansar.

Observou em silencio os amigos saírem do quarto, e assim que a porta fechou, bufou e voltou a se deitar. Óbvio que estava preocupada com a filha, mas estava bem e precisava que entendessem isso; ela sabia muito bem que as coisas poderiam dar errado naquele plano, mas sabia também que precisavam de ajuda. Talvez fosse apenas um comensal, mas se não cuidassem disso, ele poderia se tonar um segundo Voldemort, e foi pensando nisso e num futuro livre das artes das trevas para a filha que aceitara ajudar. Fechou os olhos e criou coragem para perguntar, baixinho, minutos depois:

― Como ela está?

― Confusa e preocupada, se me permite dizer. ― o rapaz demorara a responder, olhando para fora. ―Ela pergunta de você toda hora, mas conseguimos mantê-la distraída durante quase o dia inteiro, já que ela ficava n’ A Toca e mamãe sempre achava o que fazer ou com o que brincar. A noite é mais complicado, ela demora a dormir e pergunta sobre a mamãe até pegar no sono, mesmo estando comigo ou Draco, e antes que pergunte, revezamos porque ele a conhece melhor e precisava cobrir os plantões e ficar de olho em você. Está dormindo com Jorge, agora, ainda é cedo.

Uma enfermeira veio até o quarto aplicando um medicamento em Hermione, provavelmente com efeito anestésico já que a garota sentiu o corpo pesar assim que o remédio entrou no sangue. Assim que a moça saiu, depois de algumas perguntas e informações anotadas, Hermione tentou continuar a conversa, sendo cortada pelo ruivo, que a ajudou a se deitar na cama, cobrindo-a com o cobertor de soft e cor de hospital.

― Descanse agora, Hermione. Teremos tempo para conversas e detalhes depois, mas você precisa melhorar primeiro. Está aqui a muito tempo.

― Quantos dias? ― a garota perguntou, receosa. Sentiu o corpo tremer quando recebeu a resposta, e se perguntou como conseguira passar cinco dias desacordada. Fechou os olhos após ver Fred dar as costas e ir para a porta, com a desculpa de deixa-la dormir e chamou-o novamente. ― Fred? ― evitou olhá-lo, afinal, sabia que estava magoado e não ajudaria em nada vê-lo assim, mas também não podia deixa-lo sair assim. Criou coragem, que parecia estar em falta quando se tratava do ruivo e sussurrou: ― Me desculpe.

Fechou os olhos em seguida e deixou o corpo ser controlado pelo medicamento, sabendo que em questão de segundos, estaria dormindo. E não estava errada, as dores pararam por um momento e se deixou levar pela escuridão confortável sem saber se o beijo que recebia era sonho ou real.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Como Se Ainda Fosse Real" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.