― Olha só, Fred. Eu realmente não sei o que está acontecendo com você, mas você está distante já tem uma semana. Eu falo com você e é a mesma coisa que falar com uma parede. Você sabe que pode confiar em mim, além de ser o gêmeo mais lindo, sou seu amigo. O que houve?

Os dois rapazes estavam na loja, arrumando algumas coisas no devido lugar antes de abrir para o público e Jorge tentava falar com o irmão, que não fazia nada além de olhar para o nada, escorado no balcão.

―Desculpe, Jorge, eu... Tenho muita coisa na cabeça, só isso. ―Fred respondeu, suspirando. Não conseguia tirar a ‘’conversa’’ com Hermione da cabeça, e desde aquele dia – uma semana atrás – não havia tido a oportunidade de conversar com ela, pelo menos não a sós.

― Tem certeza de que não tem nada a ver com o casamento? Ou com aquele jantar desastroso? ―o ruivo segurou o riso lembrando-se da reação da cunhada ao chegar em casa com o vestido branco não tão branco assim. ―Olha, eu sei que a sua noiva ainda quer Rose como dama de honra e é claro que Hermione vai aceitar, ela não é tão má assim.

Fred respirou fundo, passando as mãos nos cabelos antes de perguntar ao irmão:

― Quantos anos a Rose tem mesmo?

― Dois anos e oito meses, nove. ― Jorge respondeu, largando a caixa que carregava no chão. ― Por quê? Não está pensando em trocar a dama de honra, né?! A Rose vai ficar muito mais fofa que a Victoria, ainda mais por ser mais nova e...

―Então ela viajou grávida? ― Fred interrompeu o irmão, pensado em voz alta, deixando Jorge um tanto pálido.

―Desculpe, Fred, o que disse? ― Jorge perguntou, encarando o irmão que parecia cada vez mais frustrado.

―Tudo bem. ― ele bufou, revirando os olhos. ― Semana passada, na manhã do jantar, Hermione passou n’ A Toca com Rose, para pegar a coruja que ela esqueceu no meu quarto. Eu estava em casa e encontrei as duas lá e Hermione e eu começamos a conversar e... ― Fred fez uma pausa, falando aquilo em voz alta pela primeira vez. ― E ela disse que Rose é minha filha, Jorge. Eu não achei que isso fosse possível logo de cara, mas agora parece que tudo faz sentido. ― Fred se jogou em uma cadeira próxima, apoiando a cabeça nas duas mãos. ― Ela teve alguns enjoos nos últimos dias com nós mas ela dizia ser de nervosismo, então ninguém ligou... E Você me disse que Rose ainda não tem três anos, e ela não nasceu prematura. Hermione viajou grávida e isso quer dizer que...

―Você é papai. ― o ruivo tentou sorrir para o irmão, mas sabia que não iria adiantar. ― Olha, eu sei que não é muito fácil acreditar nisso, mas o que você tem que fazer agora é ouvir o lado dela. Hermione nunca faria algo assim sem motivos e...

―Você sabia, não é? ― Fred não olhou para o irmão quando falou, suspirando.

― Ela estava na cozinha com a mamãe no jantar de Natal, e as duas estavam conversando sobre isso quando eu cheguei lá. Hermione achou que era você, então fomos caminhar e depois que eu disse que era o gêmeo errado, ela me explicou tudo e pediu para não falar nada ainda e eu achei que seria melhor que você soubesse por ela...

―Tudo bem, Jorge. ― Fred levantou, passando pelo irmão. ― Não é sua culpa.

O rapaz foi até Fred, forçando um sorriso e o abraçou, sentindo o irmão tremer.

―Por que não tira folga hoje? Eu cuido de tudo aqui.

O ruivo agradeceu, aparatando para casa e se jogando no sofá, era muita coisa para um dia só.

....

Apesar do céu de Londres estar cinza, o dia não era tão melancólico quanto deveria parecer.

Hermione estava estirada no sofá com um livro em mãos enquanto Bichento dormia em frente a lareira e Rose brincava, espalhando brinquedos por toda a sala de estar. Faltavam poucos meses para o aniversário de três anos da pequena e Hermione se perguntava como seria comemorar, pela primeira vez, essa data com seus amigos e com a família de Rose, que ela esperava que, até aquela data, soubesse a verdade.

Eram quase dez da manhã quando decidiu começar a arrumar as coisas para o passeio; como em quase todo final de semana desde que voltara de vigem, era convidada a almoçar com os Weasleys para matar a saudade e para que Molly pudesse passar mais tempo com a neta, que também adorava as visitas.

Lavou a louça do café da manhã, assim como a mamadeira de Rose, encontrada atrás de algumas almofadas, e arrumou a cozinha. Arrumou Rose e tomou um banho rápido, vestindo roupas quentinhas logo em seguida.

Quando chegou n’ A Toca, foi recebida por Molly que era a única em casa. Os gêmeos chegavam apenas para o almoço, e os rapazes estavam no Ministério, em reunião. Sentaram-se na cozinha onde algumas panelas já borbulhavam, e ficaram conversando por algum tempo.

―Como ela está? ― Molly perguntou, observando a neta que corria atrás de uma borboleta no jardim. ― Não estranhou essa mudança toda?

―Ela se acostuma muito rápido com as coisas, mas admito que os primeiros dias foram mais complicados. Agora tudo está bem mais tranquilo, e acho que essa convivência com vocês tem ajudado bastante.

―Fico feliz por isso, mas ela não sente falta de nada? ― a senhora ruiva levantou, verificando uma das panelas.

― Só de poder brincar com o Bichento pela casa. ― Hermione riu. ― Em Buenos Aires a casa era um pouquinho maior e com menos escadas, então Bichento tinha mais espaço para fugir dela, mas Rose gosta daqui, ainda mais agora que ela vê Draco com mais frequência.

Molly sorriu antes de sentar novamente.

― É bom ver que vocês superaram todo o passado e são bons amigos agora, ele fez muito bem para você durante todo esse tempo, assim como você fez para ele. Gosto da amizade de vocês. ― ela olhou para a sala de estar, onde Gina entrava, sendo recebida por Rose, que sorria abertamente. ― E por falar em amigos... Por que não fala com ela, Mione? Minha filha é cabeça dura, mas sei que ela vai te ouvir.

A morena suspirou antes de agradecer e levantar, caminhando até a sala.

― Será que poderíamos conversar? ― chamou a atenção da ruiva que apenas indicou as escadas com a cabeça.

― O que quer? ― Gina perguntou, fechando a porta assim que as duas entraram no quartinho com pouca luz.

― Pedir desculpas. ― a morena deixou as palavras saltarem da boca, encolhendo os ombros. ― Eu sei que o que eu fiz não foi nem um pouquinho certo e que você está no direito de não me perdoar por ter escondido que você tinha uma sobrinha e por todo o resto que você sabe, mas eu estava tão confusa, Gina. Eu tinha planejado contar para você da minha suspeita junto com o resultado do Ministério, mas Fred surtou quando descobriu que eu fui aceita eu acabei esquecendo disso por um tempo. Então nós brigamos e terminamos, e eu não achei certo contar a ele que "estava" grávida quando eu terminei com ele para que ele não se sentisse preso a mim durante esses três anos. Eu sei que pode ter sentido só na minha cabeça, mas eu estava tão confusa e sem saber o que fazer que...

Gina interrompeu o discurso de Hermione a abraçando e sorrindo, enquanto a amiga suspirava aliviada.

―Eu sei. ― a ruiva disse, olhando nos olhos da amiga. ― E fui muito dura com você sem saber o seu lado na história, e peço desculpas por isso. Eu sei que tudo isso não deve ter sido tão fácil quanto eu achei, mas eu quero que saiba que agora eu estou aqui, e você pode contar comigo para o que precisar.

As duas se abraçaram outra vez e Hermione se sentia aliviada por ter conversado com Gina. Ela sentia falta da amizade das duas e não podia deixar as coisas como estavam desde a briga delas, noites atrás.

― E tem mais uma coisa ― Hermione lembrou, e só o pensamento de ter que vê-lo já fez seu coração disparar. ― Eu contei ao Fred sobre a Rose, sobre ser filha dele e tudo. Mas não tivemos a oportunidade de conversar sobre isso, então eu não faço ideia do que ele pensa.

― Hey, vai dar tudo certo. ― a ruiva sorriu, passando o braço sobre os ombros de Hermione. ― Agora vamos descer que eu quero aproveitar minha sobrinha enquanto o resto do povo não chega. ― as duas riram enquanto desciam as escadas, fazendo parecer com os velhos tempos, quando eram quase inseparáveis.

Já no andar de baixo, Rose veio correndo até Hermione, carregando uma coruja parecida com Mack, que, ao invés de cinza, era marrom.

― Olha o que o tio Fred me deu, mamãe! ― Rose sorriu, mostrando a coruja que Hermione elogiou.

― Como vai chamá-la? ― Gina perguntou, chamando a atenção da pequena para o jardim outra vez e deixando Fred e Hermione sozinhos.

Eles se olharam e Fred se pronunciou, depois de tomar coragem:

― Precisamos conversar.