–Amy-

Foi uma longa noite. Meus pensamentos quase não me deixaram dormir. Eu sou uma yokai, minha mãe me “vendeu”, posso perder minha família... Não, muita informação. Resolvi tomar um banho quente para relaxar. Entrei no banheiro e encostei a porta. Como não queria incomodar os criados, preparei meu próprio banho e afundei na banheira. Fechei os olhos... não queria mais saber de nada, não queria ver ou ouvir nada. Demorei o bastante para voltar ao normal. Aquela luz voltou do mesmo jeito, e voltei ser eu, sem dor, graças ao conteúdo daquele frasco. Ainda não acreditava em tudo aquilo. De repente fiquei com sono, então saí de lá, me vesti e fui para cama. Se Kyouta estava falando sério, precisava me preparar. Adormeci.

–Kyouta-

Imaginei como Amelie deveria estar. Pensei se não fui muito rígido, com ela, ainda mais em uma situação dessas. Mesmo sendo tarde resolvi ir até o seu quarto. Bati na porta. Nenhuma resposta. Um impulso me fez abrir a porta e entrar. Precisava parar com aquilo. Vi Amelie adormecida, já de volta ao normal. Por algum motivo senti o rosto arder. Como ela fazia isso? Saí do quarto dela e fui em direção ao meu. O dia logo chegaria, e o treino de Amy viria junto com ele. Não consegui dormir.

Amanheceu logo, então me aprontei rapidamente e desci para o café da manhã. Pedi para Constance chama-la, e logo ela veio.

– Bom dia.

– Bom dia, Amelie. Espero que esteja pronta para o treino. – disse tentando animá-la. Não funcionou. Ela suspirou triste enquanto olhava em minha direção. Não conseguia desviar meu olhar até que ela focou em sua comida por algum motivo. Tive a impressão de que tinha ficado vermelha. Bobagem. Terminamos em silêncio e então a chamei para ir ao jardim.

– Senhor... digo, Kyouta, vou me transformar sempre? – ela perguntou. Sorri rapidamente por que ela se confundiu de novo.

– Como é só o início, você irá se transformar com mais frequência à noite, pode ocorrer de dia também, só até você controlar seus poderes. – ela ficou em silêncio por alguns segundos.

– Então... vou ter que meditar, esse tipo de coisa?

– Também.

– Mas, o que mais vou ter que fazer.

– Você tem que preparar seu corpo, tem o físico de um grilo. – disse provocando-a.

– O quê?! Como você....

– Correndo, agora! – disse interrompendo ela para provocar mais.

Ela quis contestar, porém começou a correr em volta do jardim. Fui me sentar no degrau de entrada da casa.

– Hey, vou ficar correndo por quanto tempo?

– Não sei.

– Como não sabe? – disse alterando um pouco a voz

– Não sabendo. Agora corra.

Continuou a correr por mais 20 minutos. Estava sendo muito mau com ela, estava quase morrendo.

– Tá bom, pode parar! - ela desabou no chão. Comecei a rir sem parar por causa da sua expressão.

– Do que você está rindo? – perguntou Amelie de cara amarrada.

– De nada, quem está rindo aqui? Descanse, alongue, e depois carregue peso de um canto para o outro do jardim sul.

– Você quer me matar?!- disse quase gritando e se levantou.

– Não, pelo contrário. Você não pode morrer.

– Não vou carregar peso, não tudo aquilo – disse apontando para uma pequena pilha de toras pesadas.

– Pelo menos a metade você vai- disse me aproximando – não vou ser bonzinho. - cheguei mais perto, quase nos tocando e olhava em seus olhos.

Ela ficou rígida e me encarou. Parecia surpresa. Claro, eu nunca me comportei assim em sua presença. Ela ficou vermelha, fiquei feliz por isso. É, eu estava indo para um lugar proibido, isso não poderia acontecer em hipótese alguma, ou pelo menos não seria o recomendado... eu estava me apaixonando.

– Tá, vou alongar, mas não tem nada que eu possa fazer em vez de carregar peso? – disse esquivando.

– Você pode lutar contra outro yokai.

– E quem poderia ser?

Deu um sorriso torto e mudei de forma, do mesmo jeito que acontecera com Amelie, só que com a luz inicial em meu relógio de bolso. Em meus olhos, as íris ficaram vermelhas e presas cresceram em minha boca. Eu era da mesma espécie de Amelie. A cara dela foi a melhor, os olhos castanhos arregalados em espanto.

– Você também? É igual a mim.

– Sim, mas não temos nada a ver um com o outro. Apenas sou... seu treinador. Se não quiser carregar peso, lutará comigo.

Ela levantou e sorriu de leve.

– Ok, vamos lutar.

– Se é assim.... – fui buscar duas espadas na casa. Voltei e ela estava me esperando. – Antes de você lutar “contra” um yokai, você precisa “ser” um yokai. Você tem que se transformar. O seu colar é o objeto que mantém a energia e te protege, assim como o meu relógio. Você tem que se concentrar, tem que pensar que sua vida depende disso, achar o início dessa energia e liberá-la. Vai, tenta.

–Amy-

Tá bom que eu ia conseguir me transformar. Pensei no colar e nas minhas mutações. Pensei na dor e também em Alice. Queria defende-la, o objetivo do treino era me deixar mais forte para que eu pudesse fazê-lo. Minha irmã, tão inocente, apenas 7 anos. Precisava daquilo, queria mais do que tudo. Então aconteceu, o colar me transformou de novo. Sorri, estava orgulhosa de mim mesma.

– Ótimo, até que foi rápido. - ele disse - Agora, pegue uma das espadas. Vou te ensinar como usá-las.