–Amy-

Nossa, Kyouta estava preocupado. Devia haver algo sério na floresta, percebi pela sua voz e seu olhar. Chegamos na biblioteca. Com certeza aquele era o melhor lugar do castelo. Tantos tipos e tantos títulos... até que um me chamou atenção. Simples, capa dura, sem floreios na frente. Abri-o, era um diário. Não ia lê-lo apesar de querer muito, então o coloquei de volta no lugar, e fui procurar um título real, porém aquele diário... peguei um livro qualquer o comecei a ler. O tempo passou rápido, quando vi já era hora do jantar. Fizemos a refeição em silêncio novamente, depois subi as escadas. Uma brisa fria veio do alto da casa, passou por mim e tive a impressão de que sussurrava levemente meu nome. Balancei a cabeça e segui para o meu quarto. Mais uma vez meus sonhos foram agitados. Na verdade, foi assim por uma semana seguida, até que em uma madrugada eu acordei e algo me dizia para ir até a biblioteca. Abri a porta lentamente e segui pelos corredores com uma pequena vela. A primeira coisa que fiz quando cheguei foi ir até o diário. Ele se abriu em minhas mãos e algo me empurrou para trás, fazendo eu soltá-lo. Eu o peguei de novo e uma sombra surgiu, me observando, então saiu pelo corredor. Pela luz da vela eu podia vê-la, a segui subindo as escadas em direção ao último andar.

–Kyouta-

Não consegui dormir naquela noite. Algo estava para acontecer. Ouvi um barulho no quarto ao lado, a porta abrindo, passos no corredor... corro para o quarto de Amelie. Abro levemente a porta. Ela não está lá. Corro para a biblioteca seguindo os meus instintos, porém não estava ela nem o diário lá. Corro até último andar... tarde demais.

–Amy-

Havia um corredor com uma única porta, que dava para uma espécie de sótão. Havia muita coisa velha lá. A sombra e o diário me levaram até um pequeno baú. Eu o peguei, examinei a fechadura e fiquei espantada. O meu colar tinha a forma de um lírio, idêntico ao da fechadura. A história daquele colar é complicada, minha mãe disse que tenho ele desde antes de eu nascer... ele fazia eu me sentir forte... sei lá. Olhei para a sombra que ainda me observava, eu estava com medo, parecia que ela queria que eu abrisse o baú. Tirei o colar e o encostei na fechadura, então ouvi Kyouta entrar no sótão. Toda a minha energia se esvaiu do meu corpo me fazendo cair, e a pequena caixa se abriu liberando uma luz intensa. A sombra foi em direção à ela e tomou forma. Não vi muita coisa depois, só sabia que ela me observava rindo.... Algo foi em sua direção, até que o reconheci: Kyouta... ele estava diferente. A forma se foi antes que ele a tocasse. Mas antes ouvi um sussurro...” eu vou voltar para você”. Parte daquela luz veio para mim provocando muita dor, não conseguia me mexer, minha visão ainda embaçada apenas distinguia um rosto familiar... Kyouta estava com lágrimas nos olhos. Ficou tudo escuro.

–Kyouta-

Não conseguia pensar em nada. Amelie caída no chão, tudo o que eu fiz para impedir foi inútil. Maldito diário, maldita sombra. Uma lágrima percorreu o meu rosto. Peguei o colar e pus entre suas mãos. Eu a levei para o seu quarto, a transformação começaria logo. Desci as escadas com ela em meus braços, o rosto pálido, sem vida. A deitei em sua cama e esperei ao seu lado. Não entendia por que ela mexia tanto comigo, como ela fazia isso? Não muito tempo depois o colar se iluminou com a luz da lua invernal. A transformação começou. Seus olhos se abriram e ela me encarou. Não me reconhecia. Os seus cabelos antes ruivos agora estavam negros, seus olhos castanhos eram de um azul vivo. Seus lábios se entreabriram na intenção de falar...não conseguiu. Fez a única coisa que podia, fechou novamente os olhos e adormeceu. Pobre Amelie... Sua jornada começou.