Mistérios? escrita por Smile Angel


Capítulo 14
Fogo vs. Gelo


Notas iniciais do capítulo

Hey o/ acho que esse ficou grande, tentei colocar ação nele 'u'. Bom, espero que gostem e boa leitura :)



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–Liese-

–Hey, vocês dois. Acordem! – eu disse sacudindo Kai e Kyouta. – Se vocês querem ficar por aqui, tem que me ajudar.

– Que horas são? – perguntou Kai com os olhos semiabertos.

– 6 da manhã, bela adormecida.

– O quê? Nossa. – e se virou mais uma vez para dormir.

– Hey, pode ir levantando. Não se esqueça de que eu tenho as informações cruciais para vocês acharem a garota. Qual era mesmo o nome? Amanda? Amélia?

– É Amelie. – disse Kyouta abrindo os olhos. – E Kai, colabora por favor. Liese, eu arrumo tudo aqui, pode deixar.

– Obrigada, muita gentileza.

– Não é nada, não. Kai, vá e ajude ela.

Kai fez uma cara de quem está sendo torturado e foi em direção ao banheiro. Alguns minutos depois saiu, com os cabelos levemente molhados.

– Pronto? – eu disse pegando minha foice, um facão e duas cestas: uma para pôr o que colhermos e a outra com comida.

– Sim, pra onde vamos? – perguntou ele

– Campo. Temos que colher vegetais e fazer uma limpa no lugar. Tenho que preparar tudo antes de partir.

– Partir?

– Sim. Ou vocês acham que vão chegar no lugar certo sem mim? Nem em sonho. Vamos logo. – eu disse saindo, sendo seguida por Kai.

–Kai-

Saímos da pequena casa, deixando Kyouta cuidar da arrumação das camas e da limpeza. Fomos até uma parte afastada da área da fazenda, onde ficavam as plantações de grãos, com as hortaliças logo a frente.

– Me ajude com isso, por favor. – disse pegando sua foice e me entregando. Era pesada, não sabia como uma pessoa com mãos tão pequenas podia carregar um negócio daqueles. Liese não era forte, seria confundida com uma dama da realeza facilmente se não fosse pelo ar valentão, ou pelas roupas. Era gentil, pelo que pude ver, mas também misteriosa. Passamos pouco tempo em sua casa, mas já sabia que era uma pessoa em quem podia confiar, além de ser muito bonita e parecia ser corajosa. Coisas que me chamavam a atenção.

– Depois que terminarmos aqui vamos sair da propriedade. Na floresta tem ervas que ajudariam na viagem até a garota.

– Ok. – falei simplesmente, não queria atrapalhar. Notei uns arbustos logo a frente, que imaginei que fossem parasitas. – E esse arbusto? – andei até o local e estiquei a mão para tocar as folhas finas.

– Não toca nisso não! Isso pode... queimar.

Tarde demais, estava com uma ferida não muito grande, mas doía muito. Ela largou o facão que estava usando para colher repolhos e veio até mim, se abaixando na minha frente. Pegou minha mão e examinou o ferimento.

– Não é tão grave. Vou dar um jeito nisso. – disse indicando para me levantar e segui-la para perto de um laguinho. Me sentei em uma pedra enquanto ela pegava umas folhas específicas para ferimentos. Fez uma solução de água e plantas e lavou o machucado, depois ela pegou um pano e fez um curativo. – Dói ainda?

– Não, obrigado.

– Não foi nada, só não toque naquelas plantas sem luvas, pode ser pior que isso. Acredite, eu sei como é.

– Se você diz... Aproveitando que estamos aqui, onde estão as plantas que você disse que seriam úteis?

– Estão por aqui. São douradas e compridas, impossível não saber qual é.

– Tá, eu posso procurar enquanto você termina com os repolhos.

– Tudo bem, então. – disse indo ao lago para lavar as mãos. Depois, foi rapidamente para o jardim, me deixando sozinho com a água, o mato e um ferimento bem cuidado.

–Kyouta-

Terminei de arrumar tudo e limpar. Resolvi ir ao banheiro para cuidar da higiene, e fiquei uns minutos debaixo d’água, pensando em como tiraria Amelie de lá. Não demorou muito para eu sair do banho. Me vesti e então saí do lavatório. O dia estava calmo, o céu limpo, um dia sem nada de especial. Pelo menos, até dali a alguns minutos.

Fui ao quintal para ver se Liese precisava de alguma coisa, se ela queria que eu preparasse o almoço. Olhei em volta e a vi sozinha colhendo algumas batatas, ao lado de uma cesta cheia de repolhos. Nenhum sinal de Kai.

– Liese? – perguntei

– Sim?

– Onde está Kai? Ele fez algo errado?

– Bem... fez, sim. Mas já está tudo bem.

– O que ele fez?

– Queimou a mão em uma das plantas. Eu o levei para perto do lago para fazer um curativo e procurar umas ervas que poderiam ser úteis na viagem. Ele ficou por lá para procurá-las enquanto eu vim terminar meu serviço aqui. E você, o que aconteceu?

– Nada, só vim ver se precisava de mais alguma coisa.

– Não, estou bem por enquanto... ou melhor... não está nada bem. – disse mudando subitamente a sua expressão, de serena para aterrorizada. Me virei e vi o motivo da mudança. Um ghoul. Um não... dez ghouls. Mudei de forma o mais rápido que pude e comecei a golpear dois deles. De repente vi um raio azulado e me deparei com uma Liese diferente, exalava um ar frio, com ela carregava duas fitas prateadas, gélidas, que endureceu uma garra negra e fantasmagórica que vinha em sua direção, fazendo cair e se quebrar, como um cristal frágil. Sim, ela poderia ser útil. Estávamos indo bem, juntos derrotamos mais ou menos, 8 ghouls. Dois deles desapareceram.

– Bom, acho que é isso...

– Não. Eles não fogem assim tão fácil. Foram buscar reforços. – disse tentando apurar sua audição a procura de algum sinal.

Suas palavras não tardaram em se tornar realidade. Mais 12 ghouls apareceram, alguns deles com tochas, que logo se envolveram com os feixes de madeira para lareira, formando uma fogueira, linda, porém perigosa. Também usaram o fogo para formar um círculo ao nosso redor. Liese tentou invocar ventos frios, que fizeram as chamas dançarem, diminuírem, mas não cessarem. O ar estava quente, nos tornava lentos. A camponesa tentou resfriar o ar a nossa volta, para facilitar a nossa respiração, o que ajudou e muito. Mais uma tentativa de vento, cada vez mais frio, até que se surgiu uma brecha grande o suficiente para um de nós passarmos.

– Vai você, Liese. Eu fico aqui.

Ela olhou para mim, aquela visão... não era agradável. Estava ficando fraca, como se não bastasse o que fizeram com ela nos tempos passados, mas tentava não deixar parecer. Uma tentativa falha de esconder a fraqueza. O poder dela havia diminuído, não era mais capaz de aguentar altas temperaturas, por isso a localização do pequeno sítio era estratégica, perto de um lago, com muitas árvores, a cabana bem ventilada. Não aguentaria mais tempo, porém ainda tinha alguma força. Me empurrou para fora do cerco de fogo, se abandonando à asfixia, lutando com as poucas forças que tinha. Um sussurro:

– Eu aguento mais um pouco... posso resfriar mais o ar, nem que sejam poucos graus... você já estaria morto, Kyouta... vá chamar Kai... vá. – E fui. Corri o máximo que podia, até encontrar Kai no meio do caminho. Carregava folhas douradas nas mãos, tinha a expressão cansada e assustada.

– Ghoul? – perguntou

– Sim, muitos deles. E Liese... – não precisei terminar a frase. Kai arfou e correu o máximo que pode até a cabana, tentando derrubar ghouls, grandes grupos deles. 4 já tiveram o que seria o peito perfurado pelas garras de raposa de Kai, outros 4 foram derrubados pela minha espada, que agora se encontrava em minhas mãos. O fogo que antes estava na fogueira de pequenos feixes de madeira, agora ameaçavam querer se unir com as paredes frágeis da casinha.

Kai cuidou dos 4 ghouls restantes sozinho, sua raiva aumentou de tal forma que não precisou de ajuda. Um deles morreu enforcado com uma mangueira grossa, e coincidentemente era o mesmo que fizera o cerco. Pagou à altura pelo seu crime. O fogo ameaçou aumentar. Kai pegou a mangueira e me pediu que a ligasse à pequena torneira conectada ao rio, a pouco mais de 100 metros dali. Fui o mais rápido que consegui, em pouco tempo, as chamas foram embora, deixando como herança um feixe de madeira queimada, paredes antes brancas, agora cinzentas, e um corpo inconsciente. Junto com ele, meu irmão, sombrio.

– Kai –

Não, aquilo já era demais. Eu estava quase perdendo a oportunidade de trazer meu irmão de volta, e agora, Liese. Aquele cara ia sentir muita dor, a dor que ele merecia. Peguei Liese no colo, ela estava no modo espirito do gelo, era fácil saber por que, antes não estava usando um vestido branco com reflexos azuis, nem tinham flocos de neve misturados com os cabelos brancos.

Essa era uma das únicas semelhanças entre nós, a cor dos cabelos, entre prateados – esverdeados e brancos não tem muita diferença... ou pode ter toda a diferença do mundo. Eu a deitei em sua cama e avaliei o estrago, ainda respirava. Precisava de algo frio. Pedi que Kyouta fosse até o lago e pegasse água da cachoeira, que era mais fria e a trouxesse para mim.

Assim que ele chegou, peguei um pano, mergulhei ele no balde e o coloquei sobre a testa pálida de Liese. Respinguei água gelada sobre seu rosto, tronco, braços e pernas. Peguei umas folhas na minha mochila e fiz um tônico para ela beber assim que acordasse, ajudaria ela a se fortalecer. Voltei para o seu lado enquanto Kyouta arrumava tudo no jardim. Observei seu rosto adormecido, um convite para embarcar num sono profundo. Sentei no chão ao lado da cama, apoiei a cabeça no colchão, e adormeci.

–Amy-

Os dias passavam devagar, se arrastavam, rastejavam, se levantavam e ameaçavam caminhar, e logo caíam novamente. As mesmas criaturas nos corredores falando que a hora estava próxima, ajudando a me corroer por dentro. Onde estaria Kyouta? Impossível saber.

Em uma noite fria, a Lua brilhava entre as nuvens. Uma criatura veio me ver.

– Enfim, agora começa o seu treino. O dia está próximo, bom aprender a se comportar perto do mestre, a menos que queira ser punida. – Eu não queria. Não queria ficar ali morrendo aos poucos, pálida, subnutrida, sozinha. – Bom, seja boazinha e vamos até o lugar do seu banho.

Ele soltou minhas algemas, me fazendo cair no chão sujo, marcado com meu sangue e lágrimas, com meus fantasmas, que ora eu matava e ora me matavam, minha única companhia. Fui erguida pela cintura, posta de pé e guiada por longos corredores, escadarias, torres, salões, até chegar num grande quarto. Lá, criados me esperavam, havia um banheiro com uma banheira quente pronta; em cima da cama, vestidos repousavam, todos do tecido mais fino que já vi. A criatura me deixou a sós com os criados, que curiosamente tinham forma humana, porém não me dirigiram uma palavra sequer.

Hora do banho. Lá tinha tudo para cuidar de minha higiene. Sem demora, mergulhei na água quente, agradável, há quanto tempo não passava por isso! Me deixaram sozinha para tomar banho, não havia como fugir. Me lavei, tirei toda a sujeira que me cobria, lavei meus ferimentos para que parassem de sangrar. Longos minutos se passaram, me senti livre pela primeira vez em muito tempo, com a água me abraçando docemente, o perfume que eu havia me esquecido que existia. Terminada a hora da limpeza, fui para o quarto. Não havia ninguém lá, somente os vestidos dispostos sobre a cama macia. Escolhi um verde longo e o coloquei. Era uma visão melhor do que a que eu me encontrava na cela. Poucos minutos depois, duas moças entraram no quarto e se encarregaram de cuidar de meus cabelos. O pentearam e fizeram uma longa trança ruiva.

Tudo pronto, entregaram no quarto, comida. Era a criatura quem levava a refeição.

– Olha só, não é que você é bonita mesmo? De agora em diante você ficará aqui, não poderá sair a menos que o mestre te chame. Será alimentada adequadamente de agora em diante, e, se sair da linha, voltará para a cela escura de onde você saiu. – ditas essas palavras, me deixou sozinha.

Agora era eu, um quarto grande, vestidos, bandejas, os ferimentos limpos. Pelo menos, os fantasmas ainda me acompanhavam, isso era o que me separava da insanidade, agora, em uma nova prisão.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo :)



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