Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana
Notas iniciais do capítulo
Espero que vocês gostem tanto quanto eu adorei escrever esse capítulo.
Dica: Leiam escutando "And I love her" dos Beatles.
Parte Um
{A poção e as primeiras visões}
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Capítulo 4: Não abra os olhos para a realidade
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No hemisfério oposto do dormitório da Grifinória, Hermione revirava-se, inquieta, na cama, presa em um confuso sonho laranja.
Os olhos fechados, a consciência semidesperta. Via não negrume, mas tonalidades de laranja, como se a luz solar tentasse penetrar no seu âmago a todo o custo. Apesar de sentir calor, não atrevia a mover-se. Sentiu beijos úmidos espalhados por seu ombro nu e por sua face. Tomou cuidado especial para não esboçar reação. Sentiu um braço a envolver pela cintura e uma mão lhe acariciar o cabelo.
Ao longe, escutava uma melodia serena, uma música que fazia seu peito inflamar e que trazia lembranças felizes – o vestido preferido balançando ao sabor do vento, o cheiro de flores, estrelas num céu escuro, um par de olhos repletos de admiração.
Ela estivera certa de que aquela seria a noite em que ele lhe diria “Eu tentei de tudo, mas foi em vão. Eu a amo, Hermione Granger”. E ela diria, meio contrariada, por fingimento do orgulho – “Acontece que eu também eu o amo”.
A noite não terminara exatamente daquela forma.
She gives me everything
And tenderly
The kiss my lover brings
She brings to me
Ela queria abrir os olhos e beijá-lo ternamente e lembrá-lo de novo e de novo e de novo que o amava e que isso bastava. Queria dizer que fora feliz durante todos aqueles meses e que haviam lembranças que não poderiam jamais lhe ser roubadas ou apagadas, como a sensação dos dedos dele traçando a pele morna dela, ambos molhados e cansados, envergonhados, depois da primeira vez que fizeram amor. Temia, no entanto, que ao o fazer, quebraria o encanto do momento. Temia abrir os olhos para mais uma cena de guerra, para corpos estirados no chão, para faces de conhecidos retorcidas em desespero.
Tudo o que ela conheceu durante esses dois anos foram guerra e perda. E o amor dele.
And I love her
Em algum lugar do quarto, um choro agudo rompeu a paz. O colchão oscilou, os braços e os beijos se foram para longe dela.
Mas ela não abriu os olhos nem se moveu na direção deles.
Desejava passar o fim dos seus dias daquela forma, naquele estado de sonho, vendo tonalidades vibrantes de laranja e escutando a música que acompanhou a sua juventude e sentindo os beijos dele e o choro distante do seu único filho.
Contudo, era somente uma questão de tempo para que eles a encontrassem novamente. Ela precisava abrir os olhos e encarar a frívola realidade.
Ela precisava fazer uma escolha que mudaria toda a sua vida. E a dele. E a do filho. E, provavelmente, a de todas as pessoas, bruxas e trouxas, e criaturas mágicas.
Um dia, pertencera à casa da Grifinória. Ela era destemida, era uma guerreira. Não fora feita para se esconder.
Ela abriu os olhos.
Escuridão.
Piscou três vezes, antes de os olhos começarem a se acomodar a luz fraca que brilhava no centro do quarto. Olhou em volta para as formas familiares, as camas dispostas na parede de pedra circular, as cores vermelhas e douradas da sua casa, as meninas do segundo ano dormindo tranquilamente.
Jogou-se na cama, suspirando aliviada.
Fora apenas um sonho ruim.
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E aí o que acharam? *O* Eu não sei vocês, mas, para mim, essa é uma das melhores cenas que já escrevi.
Acho que vocês já devem ter sacado que a música "And I love her" é recorrente em todos os sonhos. Alguém tem alguma teoria do motivo? No próximo capítulo, explicarei que esta música está interligada há um antigo assassinato cruel...