Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 41
IV - Capítulo 39: A inconsistência do ser


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pelo atraso, é que o meu pc resolveu pifar. Tô sem ele há bastante tempo, tô tendo que usar um pc cansadíssimo que tem aqui em casa, ele é mais lento do que eu dia de segundo na primeira aula do dia. Está sendo dias difíceis e sombrios :/



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Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

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Capítulo 39: A inconsistência do ser

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Era sábado, mas Hermione não parecia nenhum pouco melhor do que estivera cinco dias atrás. Pesadelos a perseguiam dia e noite, vivos debaixo da sua epiderme, por cima dos olhos, escondidos em lugares sombrios em que ninguém poderia desbravar.

Dizer que ela estava se comportando de forma instável seria eufemismo. Ela estava irritadiça, convivendo com uma constante sensação de tontura, como se houvesse uma mão invisível socando-lhe na barriga, enquanto tentava equilibrar-se sobre um cabo de vassoura em pleno ar. Encontrara-se vomitando mais de uma vez no banheiro feminino. Exatamente como fazia agora.

Ergueu-se com esforço e dirigiu-se para a pia, lavando o suor do rosto e o azedo da boca. Evitou a sua imagem no espelho, como se esta fosse a própria visão daquele-que-não-deve-ser-nomeado. Deveria estar horrivelmente pálida, os olhos assustados, com olheiras profundas de quem só consegue ter duas horas de pesadelos constantes e seis horas seguidas de insônia durante a noite.
Pensava que havia se livrado da pior fase das visões, mas, agora, sabia melhor; ela apenas havia começado.

Saiu do banheiro, lentamente. Do lado de fora, Blaise a esperava com uma expressão preocupada. Minutos antes, Harry expulsara Hermione do treino com a Ordem, alegando que ela estava, obviamente, cansada demais para se manter em pé; ele a mandara dormir para recuperar as forças. Blaise, sem pedir permissão para se retirar ou ao menos avisar que iria o fazer, seguiu Hermione de perto, apenas para lembrá-la de que, se ela precisasse, ele estaria ali. Sempre.
Agora, ele se aproximava dela novamente.

– Hermione, eu estou tentando respeitar a sua privacidade – começou ele –, mas estou ficando desesperado, porque não sei mais o que fazer para ajudá-la a sentir-se melhor. Que tipo de coisas você veria que a faria reagir dessa forma? Cada dia que se passa, você parece mais doente, mais triste. E eu não sou o único a perceber isto, todos estão preocupados com você. Se não soubermos o que está acontecendo, como poderemos fazê-la ficar melhor?

Ela suspirou, melancólica. Não queria falar sobre o que via. Não queria pensar no que via. Sobretudo, não queria ver aquelas imagens novamente. Nunca mais.

– Falar não me fará ficar melhor – foi a resposta dela.

– Mas somente assim compreenderei o que está se passando na sua cabeça agora. Não existe nada pior do que não saber o que você está pensando, quais pensamentos estão lhe atormentado.

Os olhos dele, toda a sua expressão gritava um apelo.

– Por favor, não me pressione – pediu Hermione, abraçando-o.

Ele a apertou com força contra o seu corpo, como se tivesse a vaga esperança de que pudesse fundi-la a si, para que, assim, pudesse conhecê-la e compreendê-la por completo, porque ela também seria parte de quem ele era.

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Horas mais tarde, uma cena improvável repetia-se. Draco estava impaciente, remexendo sua varinha de uma mão para outra, batendo o pé no piso de pedra, enquanto esperava, sentado no primeiro degrau da escada que levaria até o seu quarto, pela boa vontade de Hermione aparecer.

Contava cada segundo arrastado que se passava da hora usual em que se encontravam todas as noites, imaginando todo o tipo de possibilidade que faria alguém tão metida à perfeição quanto ela se atrasar; em todos os seus piores cenários, estava lá Blaise. Via-o, diversas vezes, segurando a mão dela, beijando-lhe a boca, descendo pelo queixo em direção ao pescoço dela, provando-lhe a pele. Via-o, também, em outros cenários mais criativos, onde este ostentava belas e assimétricas marcas roxas e vermelhas de sangue naquela sua cara presunçosa. Draco abriu um sorriso malicioso ao pensar nisso.

Ao escutar passos, ergue a cabeça em tempo de ver Hermione surgindo em meio à escuridão do corredor. A varinha dela estava apagada, apesar disso, ela parecia confortável andando no escuro. Fitando-a, ele constatou o mesmo que notara mais cedo naquele dia, quando a vira entrar no Grande Salão para fingir comer o seu café da manhã, e nas noites anteriores – Hermione parecia doente não de doença física, mas daquele tipo que abate e corroí o âmago.

– Você parece incrível, Granger! – falou ele de forma irônica, erguendo-se do degrau no qual a esperara por vinte e cinco minutos e quarenta e sete segundos. Ele contara cada um deles.

Se Hermione estivesse com um ânimo melhor, teria se dado ao trabalho de parecer irritada; porém, hoje, limitou-se a seguir o caminho que sempre faziam, sem esperar que ele a seguisse.

– Que feitiço está fazendo o seu cabelo parecer tão comportado e brilhoso, tão diferente daquele cabo de vassoura mal tratado e já muito usado que tinha quando chegou à escola?

Draco esforçava-se mais que o costumeiro para ser rude, em parte para livrar-se da sensação desconfortável em seu peito pesado, em parte para fazê-la reagir, mesmo que de forma negativa.

– Você me parece tão contente – riu-se ele. – Acho que Blaise sabe como fodê-la bem.

Ela virou-se, subitamente. Raiva faiscando em seus olhos.

– Não fale de Blaise como se ele fosse mais um sonserino arrogante e hipócrita como você!

Draco soltou um falso som de surpresa e emendou:

– Você ainda fala! Quase pensei que você só falava quando ele mandava – deu um de seus famosos sorrisos de lado que eram capazes de enlouquecê-la de raiva.

– Eu poderia fazê-lo falar apenas quando eu quisesse – falou ela, com um tênue tom de irritação na voz.

Draco pensou que, no contexto certo, aquela frase seria capaz de fazer cada célula do seu corpo vibrar de excitação.

Todavia, aquele não era tal contexto.

– O que você viu? – perguntou ele, quietamente. Se o perguntassem, nem ele saberia informar de onde tal perguntar saiu.

Seus olhares se encontraram. Os olhos dela, antes tão vivos, estavam agora cheios de pesar, como se ela tivesse perdido mais do que seria capaz de aguentar.

Ela suspirou, lentamente, e virou-se para continuar o seu trajeto.

Ele deveria ter dobrado o corredor à esquerda, pois eles sempre se separavam naquele ponto. Contudo, parecia ser inevitável que os seus passos não seguissem os dela.

– Eu vi Harry... – sussurrou ela, sem olhar para trás nem diminuir o ritmo dos passos. – Ele estava morto, com aquele-que-não-deve-ser-nomeado aos seus pés. E você ao lado dele. Eu vi os corpos mutilados dos meus pais. Foi você quem me avisou onde eu iria encontrá-los. Eu vi Neville ser destroçado e engolido por uma cobra gigante. Eu vi Gina enlouquecendo por causa da dor causada por um único feitiço repetido tantas vezes... Eu vi em que mundo meu filho cresceria, sabendo que a única esperança de ele sobreviver seria entregá-lo aos seus cuidados. Mas... Quem ele seria, senão mais um monstro que eu tentava combater!

Ela calou-se. O silêncio era tão denso, como se também fosse uma entidade viva.

Draco tomou-lhe a mão em mais um de seus impulsos. Hermione congelou-se por um momento, então, virou-se para encará-lo. Ela não falou, mas poderia muito bem ter gritado pela forma como a pergunta muda soou nos ouvidos deles.

O que você está fazendo?

Draco engoliu em seco e olhou à sua volta, procurando a rota de fuga mais próxima.

– Por esse caminho – falou ele casualmente, puxando-a para um corredor estreito. – Estou com fome.

Ele largou a mão dela tão rápido quanto o faria se estivesse segurando ferro em brasa.

– Eu nunca mais quero dormir – falou ela para quebrar a tensão entre eles.

Ele murmurou algo e acenou em concordância.

Ela parecia ainda mais infeliz do que antes.

– Espere aqui, eu vou até a cozinha pegar algo para comer – falou ele. Sem esperar por uma resposta, saiu andando rápido para longe dali.

Hermione abraçou-se forte e encostou-se ao parapeito de uma janela. O vento estava frio, mas esse não era o motivo dos seus tremores. Sabia que não deveria ter falado sobre as visões. Isso só a faria ficar mais triste.

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Draco levou o tempo necessário para acalmar seus nervos, o que significa que ele ficou cerca de meia hora na cozinha, encarando um pedaço de bolo de chocolate como se ele fosse o culpado por todas as coisas ruins que lhe aconteciam. Quando finalmente voltou para onde deixara Hermione, encontrara-a sentada no chão, muito quieta. Aproximou-se, silenciosamente. Abaixou-se para observá-la melhor, protegendo os olhos dela da luz da sua varinha. Segurou-a pelos ombros com uma estranha delicadeza e balançou-a. Ela soltou um gemido de descontentamento e entreabriu os olhos, remexendo-se de forma manhosa, como um gato sonolento.

Draco sorriu de lado, mas esta não era uma de suas expressões sarcásticas; este seu sorriso era um misto de diversão com afeição. Ele lembrou-se do gato da sua mãe, que era uma bola felpuda preta com grandes olhos verdes. Quando era menor, Draco gostava de implicar com o gato, soprando forte sobre o seu olho sempre que o coitado tentava tirar um cochilo no fim da tarde. Ainda sorrindo, ele inclinou-se para frente, soprando no olho dela, esperando que ela despertasse furiosa. Somente o pensamento era capaz de fazê-lo soltar altas gargalhadas. Contudo, ela não despertou. Os olhos dela fecharam-se, e ela fungou, balançando o rosto, como se para espantar um mosquito.

Draco chegou ainda mais perto, perto o bastante para que os seus lábios tocassem a pele dela, e assoprou com mais força. Dessa vez, ela resmungou e mexeu o rosto, porém com maior delicadeza. O nariz dela encostou no dele e acariciou-o, balançando-se de um lado para o outro. Ele devolveu-lhe o carinho, e ambos pareciam estar brincando.

Quando ela ficou quieta novamente, Draco abriu os olhos, afastando-se o suficiente para fitá-la. Ela não estava dormindo, mas estava muito próxima disso. Os olhos dela estavam entreabertos, como duas pequenas luas minguantes, e os lábios dela não pareciam se decidir se queriam sorrir ou se manterem tristonhos.

Ele a vira sonolenta e dormindo mais vezes do que julgava necessário, mas ainda ficava surpreso com o quão ridiculamente bem ficava ela nesses momentos. “Bem” é a palavra que ele escolheu para descrevê-la, na tentativa de esconder uma verdade de si mesma, ignorá-la simplesmente, até que ela ficasse esquecida em algum canto úmido e quente dentro de si. Outra pessoa que não sofresse com o peso de um sobrenome pomposo em seus ombros teria escolhida uma palavra mais significativa, mais sincera – bonita.

– Her... Granger! – falou ele. Sua voz não soara alto, exceto para Hermione, que no seu estado sonolento escutara um grito alarmante. – Levante-se, ainda temos metade do castelo para percorrer!

Ela não percebeu a breve menção, um suspiro tímido, que ele tivera de lhe falar o nome. Ele, contudo, no seu estado desperto e irritadiço, percebeu o quão fácil seria ceder, se ao menos se permitisse.

Bufando, Hermione fez um esforço gigantesco para erguer os braços, esfregar o sono dos olhos e levantar-se. Sem esperar por ele, começou a andar, cambaleando.

Draco tinha a intenção de seguir outro caminho, mas pensar que ela poderia tropeçar no vazio e se jogar para fora do castelo causava-lhe fortes calafrios, por causa de toda a inconveniência que isso causaria. O Potter e todos os seus amigos nojentos o culpariam pelo acidente, o qual ele não poderia evitar, já que não estava lá no momento, assim como nenhum deles, apontaria, mas isso de nada lhe adiantaria; julgá-lo-iam culpado e sentenciá-lo-iam à forca! Sim, diriam mentiras esdrúxulas como fora ele, Draco Malfoy, quem arquitetara a morte da Granger em nome de algum ideal absurdo sobre um mundo governado pelos sangues-puros. Sim, apontariam os seus dedos e jogariam pedras em cima dele, sem se importar com o seu lado da história. Pois, para eles, já existia uma história, a que eles próprios inventaram! Nesta, ele seria o vilão sem escrúpulos nem moral, que teria formas animalescas, e ela seria apenas uma inocente garota cujo único pecado fora confiar demais nele.

Como se ele fosse deixá-la cair!

Ele acompanhou-a de longe, mas não longe o bastante para que não conseguisse impedi-la de machucar a si mesma; apenas longe o bastante para fingir que não se importava com o que ela fazia, para onde ia e o que aconteceria depois disso, e que, se a seguia, era meramente porque acontecia de ela estar seguindo o mesmo trajeto que ele planejava percorrer.

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Uma coisa que Draco descobriu naquela noite era o dom natural que Hermione tinha de exasperá-lo. Em algum momento, ela tivera a ideia brilhante de cortar caminho através da escadaria principal, aquela mesma escadaria que obedecia a leis desconhecidas pela física, movendo lances de degraus de um lado para o outro, sem aviso prévio, formando um belo e perigoso labirinto que poderia levar a qualquer lugar, a lugar nenhum ou a uma longa queda. E era esta última possibilidade que povoava os pensamentos de Draco – ele só conseguia vê-la cambaleando entre as escadas em movimento, até perder o passo, rolar pelos degraus e despencar para a escuridão. Novamente, a imagem do santo Potter acusando-o de matá-la repercutia na sua mente, quase como um loop vertiginoso.

Draco a seguia mais de perto, tenso, usando todo o seu autocontrole para não a agarrar pelo braço e a tirar dali o mais rápido possível. Para piorar, a garota ainda andava com a varinha guardada no bolso, sem usar luz para guiar-se. Era até engraçado, ela pensaria, se estivesse acordada o bastante para isto, a forma como Draco esticava o seu braço para lhe fornecer luz, enquanto escondia suas caretas e seu desaforo na margem desta, penetrando já na escuridão.

No momento em que ela estava mudando de um lance de degraus para outro, este se moveu mais rápido do que os seus pés poderiam alcançar, voando na direção contrária. Hermione perdeu o balanço do corpo e teria, de fato, dessa vez, caído, se Draco não a tivesse segurado e a empurrado para próximo de si.

Apesar do susto, Hermione parecia incrivelmente calma, se comparado ao estado em que Draco estava. As batidas do coração dele eram um grito nervoso em seu ouvido, o suor gelado pregava os seus cabelos na nuca e na testa, caindo sobre os olhos, os músculos doíam e o sangue na sua cabeça parecia estar congelado. A pressão do aperto dele era tão intensa, que estava certo que aquilo deixaria uma marca roxa no braço dela. Que se foda!, pensou ele.

– Eu não me importo com o que você está fazendo ou para onde pensa que está indo, mas eu vou tirá-la daqui agora mesmo, antes que fosse mate a nós dois! – falou ele entre os dentes.

Nos ouvidos de Hermione, a voz dele soou mais como um rosnado do que com palavras com significado.

– Mas estamos quase lá – queixou-se ela.

Se estivessem numa circunstância diferente, Draco pensaria que a voz dela falada daquele jeito preguiçoso, macio, soava muito legal em seus ouvidos. Todavia, com cada célula do seu corpo vibrando em pânico, tudo o que ele desejava era sacudi-la até que acordasse.

Ele a puxou para que andasse e a orientou em segurança pelo labirinto de escadas móveis.

– Espere – comandou ela, mas com a voz arrastada, a interjeição pareceu mais um bocejo curto do que uma ordem. – Onde estamos indo?

– À Casa da Grifinória. Você precisa dormir!

– Eu não consigo dormir lá – murmurou ela, com um tom tristonho na voz.

– Bem, é lá que fica o seu quarto – murmurou ele, irritado. Ele poderia pressentir o que ela queria sugerir, mas não a queria em nenhum lugar próximo do seu quarto naquela noite, pois não sabia do que seria capaz de fazer com ela enquanto suas emoções estavam instáveis. – Meu quarto não é um hotel em que você pode se hospedar toda vez que bem entender, Granger!

– Eu sei que você não deve gostar, mas... É o único lugar em que me sinto segura para dormir...

– Você não deveria se sentir segura comigo – rosnou ele.

Apesar de aparentar estar ainda mais enraivecido, ele se sentia consideravelmente satisfeito com aquilo. Ela era tão tola por confiar nele... Foi neste exato momento que Draco compreendeu que ela estava confiando nele – mesmo que apenas um pouquinho – e, se antes se sentia exasperado, agora, sentia-se desesperado.

– Eu não sou idiota o bastante para pensar que estou segura com você – falou ela, com um toque de ironia e de irritação no tom de voz. – Mas... Eu consigo dormir no seu quarto sem ter pesadelos. Se fosse a toca de um camundongo, não faria diferença para mim – deu de ombros. – Eu só queria poder dormir sem medo.

– Você deveria morrer de medo de dormir no mesmo quarto que eu. Eu poderia azará-la, machucá-la, até mesmo a matar durante o sono!

Ela o fitou como se ele fosse um quebra-cabeça muito complexo, que exigia toda a atenção que ela não poderia reter naquele momento.

– Se você quisesse me matar, já teve muitas oportunidades para isso.

– Talvez, eu esteja querendo que você confie em mim ou pense que não sou uma ameaça para capturá-la, torturá-la e usá-la para propósitos malignos!

– Talvez... – concordou ela, quietamente. – Mas, talvez, você simplesmente não tenha coragem!

Ele a encarou com os olhos semicerrados.

– Não me tente, Granger!

Ele a puxou com tanta força para sair da escada e adentrar a um corredor estreito, que ela tropeçou e bateu o ombro na parede, soltando um gemido de dor.

– Solte-me! – gritou dela, parecendo bastante desperta. – Você está me machucando!

Hermione tentou soltar-se do aperto dele, mas ele não cedeu. Ele jamais cederia novamente.

Ela praticamente teve que correr tropeçando em seus pés para acompanhar o passo dele e, durante todo o percurso, tentava chutá-lo, arranhá-lo, fazer o que fosse necessário para que ele a deixasse em paz. Subitamente, ele parou e virou-se para encará-la com olhos enfurecidos. Aconteceu tão rápido, que Hermione não teve tempo de moderar as suas passadas e chocou-se contra o peito dele. Ela murmurou algum insulto que ele jamais ouviu e afastou-se, massageando seu nariz.

– Seus pais nunca a ensinaram como se comportar? – falou ele, aproximando-se dela, até que estivesse perto o bastante para que ela se sentisse desconfortável para respirar. – Pare de se comportar como uma criança mimada!

– Só quando você parar de se comportar como um babaca que acha que pode fazer o que bem entender só porque tem um sobrenome idiota para adorná-lo!

– Você é impossível!

Ele a soltou e passou as mãos pelo cabelo, soltando um suspiro demorado.

– Estou tentando ajudá-la, e você...

– Você? Tentando me ajudar? – riu irônica. – Você é incapaz de ajudar a si mesmo, Malfoy! E olha que você vai precisar de toda a ajuda que puder para impedir-se de cometer o maior erro da sua vida!

– Que seria? – falou ele em tom de desafio.

– Juntar-se a ele!

– E o que você, oh sábia Granger, me aconselha a fazer? Trair minha família, meu sangue, para unir forças com o Potter?! Não seja ridícula!

Ela abriu a boca para jogar algumas verdades na cara dele, mas se calou. Sabia que brigar com ele levaria a lugar nenhum, além disso, estava cansada demais para discutir.

– Estou indo dormir! Espero que você tenha uma horrível noite com a sua escassa consciência! – disse ela, passando por ele.

– E que você tenha uma noite pior ainda com os seus pesadelos! – gritou ele.
Aquilo havia sido covardia da sua parte, mas ele estava completamente fora de si.

Se ela escutou, fingiu que não o fez e continuou andando, até desaparecer na escuridão.

Draco continuou parado, fitando o caminho pelo qual ela havia seguido, sentindo um tumulto tempestuoso o consumir de dentro para fora.

Ela iria enlouquecê-lo!

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Naquela madrugada, Hermione não despertou em pânico, porque não era um pesadelo que lhe assombrava o sono, mas um sonho morno e laranja.

No sonho, ela estava deitada sobre algo macio, movendo suas mãos para explorar o terreno sentiu a textura de folhas e de pequenas flores, assim como a umidade da terra em seus dedos. Sentia, também, o calor do sol na sua pele, brisa mansa nos seus cabelos e algo diferente que a fazia pensar no sol e na brisa como um só.

Primeiro, houve uma leve expirada de ar sobre a sua face, então um toque ainda mais delicado em sua bochecha, um carinho demorado, que a fez sorrir e mover a face para que o seu nariz encontrasse o dele e devolvesse a carícia.

Ele encostou a testa na sua, respirando lentamente, fazendo com que cada pelo do seu corpo se erguesse. As suas mãos coçavam para se enrolarem no cabelo dele, mas ela não queria mover-se e estragar aquele momento.

Então, ele inclinou-se e beijou-a do jeito que ela gostava. Era um beijo sem presa, mas embebido de paixão. Dessa vez, ela não tentou controlar seus impulsos, deixou que seu corpo relaxasse e que seguisse o dele, suas mãos prenderam-se nos cabelos dele e suas pernas entrelaçaram-se nas deles. Ele segurou a sua cintura e a empurrou gentilmente, rolando na grama, para que ela ficasse sobre o seu corpo.

Sorrindo, ela afastou-se para encará-lo. Blaise sorria e a olhava daquela forma, como se ela fosse o seu verão e a sua respiração, e ele precisasse dela para viver. Ele a puxou para outro beijo, apesar de ela ainda não ter se recuperado do anterior. Sentia a parte racional de si naufragando num profundo de emoções que eram maiores do que seu corpo poderia conter, por isso ela o beijou com mais intensidade, como se pudesse se transbordar nele a paixão que não cabia dentro de si.

Eles rolaram na grama novamente, e ela o sentiu rir na sua boca, enquanto apertava seus ombros, tentando o puxar para mais próximo de si. Ele separou-se dela o bastante para traçar uma trilha demasiadamente longa da sua boca até o seu busto, roçando os dentes no material da blusa. Quando se ergueu com o cotovelo apoiado no chão, não era mais Blaise que a beijava. Aquele que tinha seus lábios, seu corpo e sua mente tinha olhos azuis claros, quase cinzentos, e cabelos loiros, pele pálida e o tipo exato de beijo que a fazia se dissolver na sua boca onde a tocava.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado ^^
Acho esse capítulo fofinho, engraçado e com uma pitada de exasperação. Ou seja, eu gostei bastante.
Deixem um comentário, uma oferenda para que o meu pc volte ao normal ou qualquer coisa do tipo ;)
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PS.: Alguém assiste Daredevil?
PS2.: Alguém já leu qualquer coisa da Cassandra Clare? Estou cogitando fazer uma fanfic ou juntar o universo dela com o da JK e ver no que vai dar... :D