Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 40
IV - Capítulo 38: Seu pior pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu passo quase 2 semanas sem entrar na minha conta do NYAH! e quando finalmente entro, vejo que a fanfic já tem mais duas recomendações lindas ç.ç Fiquei tão emocionada! Sério, vocês fizeram o meu dia depois de uma prova surrealista de Filosofia! Leiam as notas finais, por favor.



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Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

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Capítulo 38: Seu pior pesadelo

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Oito noites se passaram desde aquela, porém Draco ainda não conseguiu apagar a sensação da boca dela na sua e dos cabelos dela nas suas mãos. O dia seguinte, quando acordaram na mesma cama, foi uma perfeita confusão, algo sobre o qual ele gostaria de esquecer, se pudesse.

Quando acordara, não sabia o que havia dado em si, provavelmente o sono havia retardado a sua capacidade de compreensão, porque a sua mão movera-se sozinha na direção da garota ao seu lado e acariciara os cabelos dela do jeito que queria a mais tempo do que admitiria se fosse torturado para falar. Obviamente, ele não se contentou com esse simples movimento. O sono o deixara terrivelmente estúpido! Ele aproximara-se e beijara o canto da boca dela, sentindo-a sorrir. Ela movera-se e soltara um suspiro, como quem acaba de acordar de um prazeroso sonho para uma realidade ainda mais agradável. Ela devolvera-o o beijo, enlaçando suas mãos nos cabelos dele. Aquele beijo não foi uma luta selvagem por domínio, mas um afago repleto de afeição que não sentiam.

Não demorara muito para que recobrassem o juízo e Hermione tentasse, de fato, arrancar os dedos dele. De alguma forma, ele conseguira segurá-la até que ela se acalmasse e saísse furiosa do seu quarto.

Ele bufou, passando a mão pelos cabelos, e entrou na sala da aula de Adivinhação.

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Eles deveriam estar almoçando, porém aquele era o único intervalo extenso que tinham para treinar. Poderiam, claro, treinar após as aulas, durante o jantar ou mesmo depois dele, porém os riscos de serem descobertos eram maiores ao transitar no meio da noite pelo castelo do que durante a tarde.

Felizmente, para suas barrigas que já roncavam alto, o treino da Ordem se findou. A maioria dos alunos correu para o Salão, na esperança de encontrar sobras do almoço. Outros, no entanto, estavam conversando casualmente. Harry, por sua vez, encarava Blaise com uma expressão de desgosto. Hermione olhou para o mesmo ponto que o amigo e encontrou Gina e Blaise conversando, aos risos. Ela sorriu, feliz pelo sonserino ter conseguido se enturmar e conquistar os seus amigos Rony, também, não parecia tão irritado quanto Harry acharia adequado, visto que a irmã dele estava falando com exagerado entusiasmo com um membro da Casa inimiga.

– Eu não confio nele – falou Harry pelo que parecia ser agora a milésima primeira vez.

– Gina gosta dele – disse Hermione com um toque de malícia na voz, apenas para aborrecer o amigo. – Ela o acha muito bonito e divertido.

– As suas piadas são ridículas! E como ela pode achá-lo bonito? Será que não se lembra de como a cara dele estava depois de o Malfoy ter dado uma boa surra nele?!

– Oh, agora você está do Malfoy? – disse ela, ainda em tom de brincadeira. Contudo, o nome evocou a lembrança do sujeito e, com ele, uma sensação de ardor em seus pulmões.

Harry não respondeu, limitou-se a lançar um olhar de raiva para Hermione e dirigir-se até onde Blaise e Gina conversavam. Rony teve o bom o senso de seguir o amigo e impedir que ele fizesse alguma besteira, que envergonhasse a si e a sua Casa definitivamente. De alguma forma, ele conseguiu arrastar Harry e Gina para fora da Sala Precisa antes que o ar ficasse saturado de tensão.
Blaise aproximou-se de Hermione, rindo-se.

– Ele gosta dela? – perguntou o rapaz.

– Dava para ser menos visível? – retrucou, sorrindo largamente. – Acho que ele estava com ciúmes por ver vocês dois tão juntinhos e felizes.

– E eu estou certo de que você adicionou algumas meias-verdades a isso – falou ele, puxando-a pela cintura para próximo de si. – E, você, não estava com ciúmes?

– Deveria?

Ela ergueu uma sobrancelha num gesto de ironia.

– Não, mas seria bastante agradável se estivesse...

– Como assim? – riu-se ela, enrolando seus braços ao redor do pescoço dele, aproximando-se para respirar o seu cheiro.

– Assim eu saberia que você também gosta de mim – murmurou ele, tão baixo que ela quase não escutou, apesar da escassa distância entre eles.
A expressão de Hermione se suavizou, e ela colocou o sarcasmo de lado por um momento, apenas o bastante para se inclinar na ponta dos pés, beijar os lábios dele suavemente e dizer:

– Eu gosto de você.

Ele a beijou, sorrindo. Ela o beijou de volta, porém, mesmo enquanto o fazia e o puxava ainda mais para perto, sentia que havia algo de desconfortável sobre aquilo. Mas, Blaise a beijou até que a fizesse se esquecer disso.

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Draco estava pacificamente tendo uma não tão prazerosa tarde de estudos, até começar a ver cenas esquisitas e acordar sobressaltado de um pesadelo. Ele não percebera que estivera dormindo, porque, bem não o estivera completamente; o que aconteceu foi que estivera num delicado estado em que seus olhos viam vagamente as palavras nos livros, enquanto sua mente devaneava sobre desejos saturados de blasfêmia.

Ele não sabia o motivo pelo qual estava pensando sobre isso. Estava tão perfeitamente largado sobre a cadeira, encarando com expressão de tédio a pena que segurava com uma mão e as formas que, com ela, desenhava, que nem notara o início do desenvolvimento daquele pensamento. Ele apenas surgira na sua mente, e, no minuto que o percebera, ele já não estava lá. Todavia, as sensações deixadas por ele continuaram vivas em seu corpo.

Tentou retomar a atenção ao que lia, mas todo o seu corpo latejava.

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Hermione bateu pela terceira vez na porta do quarto do Malfoy. Ela já estava mais do que irritada, o que julgava ser impossível, visto o quão agradável aquele dia estava se mostrando ser, até aquele momento, claro.

Enfim, ela recebeu uma resposta.

– Se você não for entrar nua neste quarto, saía daqui, Granger! – gritou Draco, quem parecia estar com mais raiva do que ela, se isto fosse possível.
Hermione não corou nem se intimidou, ao invés disso bateu na porta com mais força e retrucou com igual desprezo.

– Eu não vou o esperar para sempre, Malfoy! Se eu sair daqui será para ir até o gabinete do diretor para informá-lo de que você está mais interessado em fornicar do que em cumprir com as suas obrigações!

Ela escutou sons confusos vindos do outro lado da porta e, menos de um minuto depois (sim, ela estava contado), saíram do quarto o Malfoy e uma garota alta, loira e muito bonita, ainda abotoando os últimos botões da sua camisa.

A garota, Maura – lembrou-se Hermione –, olhou com um ódio mortal na sua direção. E, antes de se retirar com alguma dignidade, agarrou Draco pela bunda e beijou-o ferozmente. Quando ela desapareceu escada abaixo, Draco virou-se para encarar Hermione com um misto de ira, de loucura e de outra coisa que nenhum dos dois saberia identificar com uma mera palavra humana.

– Da próxima vez em que você me perturbar dessa forma, irei fodê-la nesta escada! – latiu ele.

– Tente! – falou ela, em tom de desafio, sustentado o olhar dele.

Os olhos deles praticamente negros, com um círculo de azul envolta da escuridão. As suas roupas estavam amassadas, como se ele tivesse se vestido rápido demais para se importar que roupas colocava sobre o corpo e como elas aparentavam nele. Seu cabelo era uma confusão, no mínimo. E, Hermione podia ver, havia marcas vermelhas em seu pescoço e no peito.

Seu coração deu um salto alto demais, que a fez perder a respiração. Ela o observou terminar de abotoar a camisa, muito lentamente.

Ele começou a descer as escadas, e ela o seguiu, com relutância. Ele bufava alto, passando as mãos em seu cabelo, visivelmente tenso e insatisfeito. Quando parou subitamente, Hermione quase bateu nas suas costas. Tão de repente quanto parara, ele virou-se e começou a subir dois degraus de cada vez. Hermione o seguiu, perguntando o que ele pensava que estava fazendo.

Ele abriu e fechou a porta na cara dela, deixando-a sozinha nas escadas, conjurando uma série de criativos xingamentos e de maldições direcionados ao seu sujeito. Ela chutou a porta e virou-se para partir, furiosa, no exato momento em que ele saía do quarto, parecendo muito mais satisfeito, mas cansado, que antes. Ele estava suado e sua camisa parecia ainda mais bagunçada, se isto fosse possível.
Ao compreender o porquê da mudança súbita de seu humor, ela corou. E ele sorriu irônico, acompanhando-a para mais uma noite longa de inspeção pelo castelo.

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Hermione revirava-se na cama, sem saber se o que sentia poderia ser denominado de impaciência pertinente ou de raiva latente. Ela odiava, sim, odiava que Draco pudesse fazer o que bem entendesse sem ser punido. Ela não era o melhor exemplo de aluna perfeita, mas era dedicada aos estudos, esforçava-se para ser uma boa pessoa, fazer aquilo que sua consciência considerava ser o certo, foi por causa disso que embarcara em várias aventuras com seus melhores amigos. Draco, contudo, tinha uma péssima moral e um grandioso ego corrosivo e, de alguma forma, sempre conseguia sair impune, além de ganhar o que queria, sempre.

Era ele o Inspetor Geral das Casas de Hogwarts, apesar da negligência ao cargo e do seu uso para bem pessoal. Isso era um absurdo, e, se a escola não estivesse sendo comandada por Dolores, Hermione julgaria que todo o bom senso dos habitantes da escola havia corrido desesperado para o lugar mais distante dali. Mas, isso era o de menos. O que a incomodava profundamente era o fato de ele ser um safado que convencia as garotas a fazerem uma excursão demorada pelo seu corpo. E aquelas idiotas caiam nos seus truques baixos e ficavam todas apaixonadinhas por ele! Ridículo! Como elas poderiam ser tão cegas? É óbvio que ele não se importa com nada que não seja o seu sangue azul!

Mesmo enquanto Hermione pensava nisso, havia um eco distante gritando na sua mente – Você me deseja! A lembrança do beijo ainda a queimava com vergonha e com um gosto sutil do que parecia ser contentamento na sua boca. Por um breve momento, ele cedera, esquecera as diferenças entre eles, que ele se chamava se sangue puro e que descendia de uma antiga família poderosa e abastada, enquanto ela nascera trouxa. Por um breve momento, ele lhe beijara como se desejasse despedaçá-la para que ele fosse... Ele fosse tudo o que lhe restava.

Tocou seu lábio inferior, como se ainda pudesse sentir o beijo dele. Mas o que sentia era em parte sonho, em parte outra coisa que também não era palpável – a nostalgia.

Ela se achava tão ridícula, deitada ali, em volta de todas as garotas do seu ano, pensando nele, exatamente como todas as outras conquistas fáceis dele. Decidiu que não seria jamais tão otária ao ponto de crer que ele sentia algo por ela que não fosse nojo! Ele não a desejava, não; ele mesmo falara que queria apenas machucá-la. Sim, aquele beijo tinha como propósito humilhá-la! Somente!

Ademais, esses pensamentos e esses sentimentos eram ocasionados pela lembrança das visões em que ele dizia amá-la, mas aquele Draco não era o mesmo que precisava suportar todos os dias. Aquele Draco era carinhoso e sensível, tinha mãos e lábios delicados que sabiam como tocá-la, como provocá-la, como amá-la sem fazê-la se sentir como se traísse a si mesma. E era a falsa memória daquele Draco que tornava a sua mente tão confusa.

Levantou-se da cama e, descalça, saiu do quarto. Seu corpo tremia, por causa do chão frio e de algo a mais que não tinha a ver com a temperatura. Estava escuro, mas ela já conhecia bem todos os cantos do Salão Comunal. Arrastou-se para o sofá e ergueu os joelhos, abraçando-os, enquanto encarava a escuridão. Ela sentia a alma dolorida, os olhos ardentes.

Na última noite em que dormira no quarto dele, sentira-se segura... E, na manhã seguinte, ele acariciara os seus cabelos, delicadamente; tão parecido com o Draco que assombrava sua mente, que ela não conseguira evitar o sorriso nem o impulso de jogar-se para frente e beijá-lo...

O retrato da Mulher Gorda abriu-se com um som de suspiro abafado. Hermione virou-se para observar Eleanor entrando no Salão em volta da luz pálida de sua varinha. Quando a viu, Eleanor estancou, surpresa; porém, logo sua fisionomia ganhou formas mais suaves, um sorriso formando-se no canto da boca.
Hermione pensou em perguntar o que ela estava fazendo tão tarde fora do quarto, mas não encontrou a disposição para proferi-lo. Queria apenas ficar bem quieta, até se dissolver entre as sombras.

– Você está bem, Hermione? – perguntou Eleanor, sentando-se ao seu lado.

– Não consigo dormir – murmurou, afundando-se no sofá e encarando o teto.

– Quer companhia?

– Pode ser...

Eleanor a abraçou e afagou seus cabelos, sem dizer uma única palavra. Ficaram ali pelo que poderiam ser horas, até Hermione adormecer.
E acordar para dentro de um sonho.

– Harry! Não, não, ele não pode estar morto! – chorou Gina presa nos seus braços. Ela queria, também, desabar em lágrimas, mas precisava ser forte pelos seus amigos, mais uma vez.

Gina soluçou forte, escondendo seu rosto na curva do pescoço de Hermione. Todo o seu corpo tremia, tanto que Hermione pensava estar no epicentro de um terremoto. As lágrimas nos seus olhos, contudo, permaneciam congeladas. Precisava ser forte! Se repetisse isso vezes o bastante para si mesma, talvez conseguisse resistir.

Respirando fundo, Hermione virou o rosto para encarar o pior de seus pesadelos.

O corpo pálido e ensanguentado de Harry estava largado em meio à ravina, a sua varinha rolara para longe, desaparecendo atrás de algum arbusto. Aos pés do amigo, estava ele, Lorde Voldemort, encarando o seu trabalho com demasiado orgulho.

Hermione não se lembrava de jamais ter sentido tanta raiva. Não era, contudo, uma raiva quente que a consumia, mas uma frívola emoção, que a fazia analisar tudo à sua volta e ponderar, com cuidado, seu próximo movimento. Rony estava ao seu lado, estático, tão pálido quanto o defunto. Blaise estava ali também, mais distante, parecendo perigosamente instável; a qualquer momento, ele avançaria e terminaria por se matar.

Não poderiam atacar agora, não enquanto todos estivessem com a moral quebrada, os sentimentos arrasados e a ira sobrepondo-se à razão. Deveriam recuar e procurar um lugar seguro, chorar por suas perdas e, então, encontrar forças novamente para resistir a esta época de tormenta.

Não muito longe, Hermione podia ver, também, Draco procurando encontrar o olhar dela. Ela deixou que ele o fizesse. O olhar dele gritava – Corra, Hermione, corra!

Ela fez o que deveria ser feito. Moveu-se tão rapidamente, que os inimigos não tiveram tempo sequer de ficarem surpresos antes que acontecesse. Hermione agarrou a manga de Rony, ainda segurando Gina, e gritou para Blaise.

“Saía daqui!”.

Então, aparatou.

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E acordou chorando.

Abriu os olhos, mas a visão embaçada a impedia de ver com clareza o quarto à sua volta. Estava deitada na sua cama, debaixo das cobertas. Enterrou o rosto no travesseiro para abafar os seus soluços. Nenhum de seus pesadelos a quebrara tanto quanto aquele.

Quando conseguiu se acalmar o bastante, para erguer-se e arrastar-se para o banheiro, agradecendo que ainda era muito cedo para as meninas acordarem, percebeu que não se lembrava de como chegara até a sua cama. O pouco que se lembrava antes do pesadelo era de estar deitada no abraço de Eleanor, no Salão Comunal. Não tinha como Eleanor a ter trazido até ali, ela era muito pesada para uma única garota magrela a carregar. Mas... Ah... Ela própria deveria ter se arrastado até o quarto em algum momento com ou sem a ajuda de Eleanor e, por algum motivo, não se lembrava. Talvez, estivesse cansada demais, sonolenta demais para perceber o que estava fazendo. Sim, deveria ser isso...

Entrou debaixo do chuveiro, tremendo pela água gelada, com as suas últimas lágrimas se misturando a ela.

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Acontece que suas últimas lágrimas não foram, realmente, as últimas. Ela passou a manhã transitando num estado de semivida, os olhos fechados para o presente, a mente naufragando em memórias dolorosas que nunca existiram de fato, mas que, para ela, eram tão reais quanto a textura da sua pele. Hermione sentia-se doente de uma doença da alma. Não existia feitiço que pudesse fazê-la melhorar.

No horário do almoço, o grupo da Ordem se reuniu para treinar, porém, pela primeira vez na história, Hermione foi um desastre. Seus feitiços saiam fracos e deformados, com brilho apático que se assimilava àquele em seus olhos. Harry e Rony, logicamente, notaram a mudança no comportamento dela, mas, sabendo o que já sabiam, estavam quase certos sobre qual era o motivo da tristeza dela – mais uma visão-pesadelo. E, bem, por conhecerem a amiga, sabiam também que ela não gostaria de ser argumentada sobre o que vira. Por isso, eles guardaram uma distância respeitosa, esperando para que, quando ela estivesse pronta para falar, procurassem-nos. Gina, contudo, tentou melhorar o ânimo de Hermione, o que descobriu ser uma tentativa em vão. Ela simplesmente não queria falar nem se mexer muito, ficava contente escondida no fundo do quarto, sozinha com seus pensamentos sobre o que poderia ser.

No final da aula, Blaise, aspirando corajem e ousadia junto com o ar, caminhou determinado até Hermione.

– Você não me parece nada bem – falou ele, esfregando o braço dela. – Quer falar sobre isso?

Ela balançou a cabeça, quietamente.

– Tudo bem... Você quer fazer alguma coisa? – tentou ele, controlando-se para não a puxar para um demorado abraço. – Que tal darmos uma volta ao redor do lago?

– Pode ser...

Ele segurou-a pela mão e a levou para fora do castelo, pelo caminho mais curto que conhecia, o qual não envolvia uma série de passagens secretas bem conhecidas por Hermione, infelizmente.

Durante todo o trajeto, Hermione manteve-se calada, observando seus próprios pés. A imagem do corpo morto de Harry era a única coisa persistente em sua mente, porque este era um de seus piores pesadelos. Sempre soube que Harry vivia num constante estado de insegurança, desde novo fora caçado, temido, almejado como morto. Todos aqueles anos de amizade não se passaram sem uma tentativa de assassinato que quase fora bem sucedido. Quase. Um dia, a boa sorte de Harry acabaria, e este seria o dia de sua morte.

Será que suas visões mostravam realmente o futuro? Seria aquele o destino de Harry, sobreviver por tantos anos apenas para perecer quando todos mais necessitavam de sua liderança, de sua persistência e de sua coragem? Se este fosse o caso, poderia ela mudar o futuro? Como?

O que acontecera minutos antes de Harry ser assassinado por seu maior inimigo? O que estavam eles fazendo naquele lugar? Qual seria o objetivo deles naquele dia? Qual o papel de Draco no destino de seu amigo?

Talvez, apenas talvez, a forma de mudar o futuro seria modificar o seu próprio presente. Talvez, apenas talvez, o primeiro passo fosse impedir que Draco fizesse a escolha óbvia e seguisse os passos de sua família. Se ela o salvasse, tudo seria diferente. Harry não precisaria morrer naquele dia, porque Draco não estaria atrás do Lorde das Trevas, encarando-a com aqueles olhos azuis que lhe gritavam para correr. Ele estaria ao seu lado e... E o quê? Seria tolice infantil esperar que Draco não fosse exatamente aquilo que nascera para ser. Ainda maior tolice era pensar que ela, Hermione Granger, seria capaz de ajudá-lo a mudar. Ele mesmo admitira, mais de uma vez, que não queria ser um homem melhor. Ele almejava ser a imagem refletida no espelho de seu pai. Por algum motivo, esse pensamento a magoava mais do que qualquer outro.

Ela queria ajudá-lo, sentia que lhe devia isso, porque ele a ajudara em outras ocasiões, quando não tinha o menor dever – ou a intenção – de fazê-lo. Quando ela caíra do parapeito da janela, ele a segurara; quando quase tropeçara na pressa de fugir de Snape, ele a firmara; quando tivera que escapar no escuro, ele a orientara; quando se encontrara num beco sem saída, com Snape forçando a única barreira que os separava, ele a levara à segurança; quando se sentira assombrada, ele a deixara ficar.

E havia sempre a lembrança daquele único beijo delicado que lhe parecia tão estranhamente familiar, como se ela já tivesse provado dele uma centena de vezes.
Balançou a cabeça com força, desejando afugentar seus pensamentos. Era tão idiota por pensar tudo aquilo sobre ele, quando era óbvio que cada uma de suas ações foi ocasionada por motivações egoístas. Ele jamais a ajudaria pelo simples fato de querer o fazer. Não. Ele queria machucá-la, humilhá-la; jamais ajudá-la.

No entanto, aquele garoto à sua frente, que segurava a sua mão com força, desejava fazê-la feliz. Se os seus pensamentos tivessem que ser repletos de algo, seria da bondade e do carinho dele, ao invés da tormenta que era o outro sonserino. Por isso, ela forçou-se a sorrir, andar mais depressa para acompanhar os passos dele e encostar a cabeça no ombro de Blaise, deixando que ele a abraçasse de frente para o lago e beijasse o topo da sua testa.

Eles ficaram longos minutos ali, abraçados. Blaise beijando o rosto dela de forma suave, até que o sorriso dela se tornasse verdadeiro.

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Quando Hermione chegou atrasada na terceira aula daquela tarde, Rony e Harry já haviam ruído todas as suas unhas de tanta preocupação.

– Onde você estava? – perguntou Harry.

– Você faltou duas aulas seguidas! – gritou Rony, como se isso fosse uma heresia. Mas era inegável a pontada de orgulho em sua voz. Talvez, enfim, Hermione tivesse superado a sua mania de ser a sabe-tudo número um de Hogwarts e quisesse, agora, se espelhar na sabedoria infindável do estilo de vida de seus amigos.

– Eu estava com Blaise – disse ela, observando-o sentar-se no outro lado da sala, onde os sonserinos se aglomeravam.

Harry e Rony demandaram mais explicações, mas estas teriam que esperar até o final da aula. O que era bom, em parte, pois daria tempo a Hermione pensar numa forma de impedir que Harry começar uma briga idiota com Blaise.

Do outro lado sala, Draco não deixou de notar que Blaise chegara logo após uma sorridente Hermione.

Ele contraiu os dedos tensos e exalou, liberando-os do aperto.

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Naquela noite, ao deitar-se para dormir, Hermione sentia-se leve e contente. Havia se convencido que aquilo fora apenas um pesadelo, nada pelo o qual tivesse que se preocupar tanto.

Cerca de duas horas após dormir, acordou chorando baixo, um grito preso na sua garganta. Ela desceu, abraçada no seu lençol, para o Salão Comunal, para mais uma madrugada que passaria acordada, em meio à escuridão, chorando baixo, tremendo forte.

Ela vira o corpo de seus pais marcados pela tortura física e psicológica.


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Notas finais do capítulo

Então, primeiro eu gostaria de agradecer imensamente a Blair Herondale e a Minerva Lestrange por terem recomendado a fanfic e, ainda mais, por estarem sempre me incentivando, mandando comentários incríveis. Sério, vocês duas têm um canto especial no meu coração! Tô aqui mandando altas energias positivas para vocês o/
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Segundo, eu queria dedicar um capítulo para vocês, obviamente. Mas não será este. Será um capítulo muito, muito especial mesmo, lindo de morrer. Possivelmente, ele será o 41, ou seja, vai demorar um pouquinho, mas vou deixar uma prevê aqui: http://so-tur-nos.tumblr.com/post/118611398066/cena-do-capitulo-docuras-e-travessuras-da