Naquela noite, Harry teve um sonho horrível, que o fez pular para fora da cama – se a expressão tem um sentido literal ou não, nenhum dos meninos, no quarto, estava acordado para dizer.

Harry tremia e suava frio. Uma pontada em seu estômago o alertou que o pior ainda estava por vir. Correu ao banheiro e escancarou a boca na privada. Ele vomitou todo o jantar, o almoço e, provavelmente, o café da manhã e tudo o que comera em sua vida. Quando os jatos acabaram, tomou um banho com água quente e vestiu outro pijama.

Não conseguiu voltar a dormir, porque, toda vez que fechava os olhos, as imagens voltavam à sua mente. No sonho, ele morrera. Draco o assassinara, usando-se da pior de todas as maldições.

Antes disso, lembrava-se de ter corrido através de uma floresta aberta com árvores altas que tampavam a visão do céu noturno. Lembrava-se de uma cabana de madeira em chamas iluminando toda a clareira e do olhar de Draco. Ele não estivera contente nem altivo, mas melancólico – uma tristeza que o Harry sujeito do sonho conhecia e compreendia.

Ao Harry real, aquele sentimento seria uma eterna incógnita.

Havia outra coisa da qual ele se lembrava e não compreendia. Havia uma música bailando ao fundo, como uma presença física. Ela o fizera se sentir nostálgico e abatido.

Apesar de esforçar-se para lembrar de toda a letra, lembrava apenas vagamente do ritmo e de uma única frase, sussurrada na noite, como um segredo, como uma promessa – And I love her.

Na iminência de sua morte, quando o feixe de luz esverdeada foi lançada da varinha de Draco, o tempo pareceu ser inexistente. Ele vira o feitiço arrastar-se no ar, fizera esforço para mover a sua mão pelo chão, procurando a sua varinha, mas o seu corpo estava pesado e dolorido, grandes cortes de onde o sangue vazava para fora da carne, a vida já se esvaindo de si.

Naquele momento, ele viu uma imagem aproximar-se de sua consciência e insinuar. Toda vez que ele pensava alcançá-la, ela fugia para longe de si. Ele o seguia, e ela se escondia por trás de outra lembrança, o riso de Rony, os olhos de Hermione; assim, ele afundava-se para dentro de si mesmo, afastando-se da existência, antes que ela pudesse ser arrancada bruscamente de si.

Ele sentiu a pior dor da sua vida, era como se a sua alma estivesse sendo rasgada em dezenas de pedaços. Foi quando ele soube que a maldição o atingira.

A última coisa em que ele pensou foi num sopro de ar quente em longos cabelos ruivos.

Então, ele despertou, agradecido e assustado, para a realidade.