Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 38
IV - Capítulo 36: A chegada do inverno


Notas iniciais do capítulo

Desculpa por ter demorado tanto a postar :X



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Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

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Capítulo 36: A chegada do inverno

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A sala explodiu com o som de uma dúzia de vozes excitadas falando ao mesmo tempo. Todos queriam manifestar suas ideias sobre como aquele projeto deixaria o mundo ilusório das ideias para se tornar palpável e, diga-se de passagem, realizável debaixo dos olhos analíticos de Dolores e de seus serviçais.

Harry estava ansioso, o que significava dizer que ele estava, na verdade, nervoso. Quando Hermione apontou que ele deveria ser o único a ensiná-los a se defender, ele se perguntou calado, mais de uma vez – Por que eu? Eu não sou tão especial assim nem diferente de vocês! Também tenho minhas fraquezas e meus medos. Eu não sei se sou capaz.

Mas ele aceitou a sua sina, assim como aceitou que, se uma guerra fosse travada contra as forças dele, seria o único a duelar com o Lorde das Trevas.

Alguém, no meio de todo aquele barulho, disse que deveriam se chamar A Armada de Dumbledore, ou talvez tenha sido apenas seus pensamentos gritando mais alto do que os dos demais. Pelo canto dos olhos, ele viu Hermione dirigir-se à porta. Procurou Rony com os olhos, mas este estava absorto em uma conversa que parecia muito séria, ao mesmo tempo em que não, com Luna e Neville. Suspirando, moveu seus pés para seguir a amiga.

Do lado de fora, neve caía e se acumulava nos telhados e nos cantos das casas. Ainda não era o auge do inverno, mas a atmosfera já estava branca, sinistra e gélida.

Hermione estava olhando para o céu. O ar que saía por sua boca se condensava e virava uma fumaça densa, que se enrolava nela mesma e circulava para cima, fazendo acrobacias complexas. Era bonito.

– Você esteve quieta lá dentro – comentou ele, enterrando as mãos nos bolsos. – Não é do seu feitio... Algo está a atormentando. São os seus pesadelos novamente?

– Não – disse ela, sem o encarar. As suas bochechas estavam tão avermelhadas quanto as luzinhas de Natal que adornavam as janelas das casas. – Na verdade, já faz algumas semanas que não tenho mais aquelas visões nem mesmo pesadelos. É tão estranho conseguir dormir uma noite inteira... É tão incomum não ver coisas pelos cantos dos meus olhos...

– Bem, isto é algo bom, não é?!

– Eu não sei... Talvez, o motivo de eu não estar tendo pesadelos seja que já esteja presa dentro de um.

Ela abaixou os olhos na direção do amigo. Para ele, eles tinham uma expressão melancólica, uma tristeza mais profunda que o próprio sentimento, algo que seria capaz de despedaçar carne e ossos. Ela estava mais confusa e descrente do que jamais esteve na sua vida.

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Naquela tarde, enquanto a neve caía, Draco recebeu uma visita inesperada em seu quarto. A coruja negra de sua mãe. Ela trazia uma mensagem que demorara mais tempo para ser escrita do que para ser lida.

Na carta, a sua mãe pedia desculpas por ter demorado tanto tempo para enviá-la, ela estivera muito ocupada e não tivera a chance de escrevê-la antes. Parabenizava-o pela conquista da sua posição, dizia que estava orgulhosa, ela e o seu pai. Dizia que não seria uma boa ideia que ele retornasse para casa neste ano, pois o seu pai estaria fora resolvendo problemas pessoais de grande importância. Quanto a ela, aproveitaria para visitar a sua mãe adoentada. Imaginava que seu filho teria mais diversão num castelo mágico do que cuidando da sua velha avó. De qualquer forma, logo mandaria os seus presentes de Natal.

Draco jogou-se na cama e leu e releu a carta diversas vezes, até ser capaz de reproduzi-la com perfeição de olhos vendados. Abruptamente, ergueu-se e arremessou o papel nas chamas da lareira. Lágrimas congeladas brilhavam nos seus olhos. Elas não despencariam, porque nunca haveria outra estação que não o inverno dentro do menino.

Pela meia hora seguinte, ele permaneceu perfeitamente quieto, observando o papel esvanecer entre as chamas e as suas cinzas escurecerem. Mas, em cada palavra que ele não dizia, em cada gesto que não realizava, em cada pensamento que silenciava, todo o seu ser gritava – Não sou o bastante.

A mãe dissera que ela e o seu pai estavam orgulhosos, então por que demoraram tanto para admitir? E por que o pai não se manifestara nesse tempo? Por que ele também não escrevera? Não era preciso muito, nem mesmo por uma carta Draco ansiava; uma simples linha era o suficiente.

Estou orgulhoso de você.

Sem ponto de exclamação. Mas sem ponto de interrogação.

Lucius Malfoy não estava satisfeito. Não importava o que o seu filho fizesse, ele era incapaz de sentir orgulho de sua cria.

Como se apenas esta constatação já não fosse o suficiente para quebrá-lo, Draco ainda não poderia retornar para a sua casa neste Natal. Ele ficaria, assim como todos os rejeitados e órfãos, confinado em Hogwarts, sozinho. E por quê? Ele tinha uma mãe e um pai, mas, obviamente, estes tinham coisas mais importantes para fazer do que dar alguma atenção ao seu único filho.

Sua mãe nem se dera o trabalho de convidá-lo para a casa da sua avó. Ela não tinha o direito de decidir o que o faria entediado ou não. Talvez, ele estivesse animado com a ideia de visitá-la também, antes que ela morresse e toda a lembrança que ele tivesse dela fosse uma foto desbotada. Talvez, ele quisesse cuidar de alguém, apenas para saber se as suas mãos eram capazes de causar algo além de destruição. Talvez, ele fosse capaz de qualquer coisa apenas para não passar o Natal sozinho. Talvez, ele também quisesse ser amado.

Mas essas eram coisas que ele jamais admitiria. Nem mesmo para si próprio.

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No mesmo horário, no dia seguinte, Rony foi o primeiro a descobrir algo de relevante num dos livros que pegaram emprestados sem permissão da ala proibida da Biblioteca.

Hermione e Harry estavam de cada lado dele, encolhidos numa mesa afastada no Salão Comunal da Grifinória. Rony apontou o trecho que revelava a informação pela qual Hermione seria capaz de azarar por. Nele, havia a descrição de um encantamento que tinha o poder de manipular e induzir pensamentos.

Influentimens é a capacidade mágica de influenciar pensamentos, sentimentos e sonhos. Pode ser realizado de dois modos: 1) método avançado: não-verbalmente; 2)método comum: executar o encantamento Influentimens. Em ambos os métodos é necessário que a vítima esteja próxima e se sinta confortável, relaxada, para que o encantamento possa ser bem sucedido. Em qualquer outra situação, o resultado final pode ser afetado, de forma que o encantamento não possua a mesma força de influência que nas condições ideais.

Esse é um encantamento poderoso e muito complexo, são raríssimos bruxos que a dominem de fato e por completo. A tentativa de reproduzi-lo sem o devido conhecimento não é sugerido. Além de que este é um encantamento proibido pelo Ministério.

Hermione estava sentada, mas mesmo assim precisou se apoiar na mesa para não cair. Sentia-se tonta e fraca. Ali estava ela, a verdade, a explicação lógica sobre o que estava acontecendo consigo. Ela não estava enlouquecendo nem cedendo aos seus pesadelos, eles não lhe pertenciam, nenhum deles, nem mesmo os mais íntimos.

Ela queria sorrir e gargalhar, mas não tinha forças para isso. O mundo estava se movendo muito rápido e esquecendo-se de que, supostamente, ela deveria se mover com ele e não existir num ponto extático à parte. Ela pensou que fosse vomitar e desmaiar, não necessariamente nesta ordem. Ao invés disso, ela falou:

– Precisamos encontrar o contrafeitiço.

Então, ergueu-se e sussurrou “Volto logo!”.

Harry olhou para Rony, que olhou de volta ao amigo. Ambos deram de ombros. Nos últimos meses, Hermione não estava fazendo nenhum sentido.

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Draco estava andando com alguns sonserinos, quando observou uma cabeleira rebelde na extremidade do corredor. Hermione fez um movimento com a cabeça, indicando que precisavam conversar. Draco não respondeu, mas, novamente, o silêncio não poderia ser uma resposta errada.

Sem esperar por ele, Hermione virou-se e adentrou a uma passagem secreta por trás de uma tapeçaria, um lugar demasiadamente familiar para ambos. Ela esperou três minutos no escuro, antes de escutar o barulho de passos e enxergar um sujeito envolto de luz pálida.

– O que você descobriu, Granger? – perguntou ele.

Bastava um breve olhar no rosto dela para perceber que havia algo muito certo ou terrivelmente errado. E Draco só conseguia pensar em um tema que poderia causar aquele tipo de euforia nela.

– Rony descobriu o feitiço que está nos fazendo ter essas visões.

Ela explicou a parte técnica, rapidamente. Draco balançou a cabeça, com dois dedos entre os lábios. Quando ela terminou, ele disse o óbvio.

– Precisamos encontrar o contrafeitiço!

Ela não deixou de notar o plural do sujeito.

– Precisamos voltar à Biblioteca para procurá-lo – completou ele.

E, novamente, ela não deixou de pensar que havia algo de errado com aquela frase.

– Eu falarei com Harry para planejarmos quando poderemos ir.

– Não temos tempo para isso, Granger. Vamos agora! Eu preciso encontrar esse contrafeitiço! Eu preciso proteger a minha mente daquelas tolices! Tenho coisas mais importantes com que me preocupar.

– Nós não podemos ir agora, em plena luz do dia, com várias pessoas transitando pela Biblioteca! É loucura! Seremos pegos!

Ele passou uma mão pelos cabelos, impaciente. Por ele, nem ao menos estaria ali, tendo aquela conversa; estaria vasculhando as prateleiras da ala proibida, buscando a solução para todos os seus problemas.

– Então, nesta noite!

– Mas...

– Seus amigos não precisam fazer parte disso, eles só nos atrapalharão. Se formos durante o turno de inspeção, ninguém nos encontrará. E, se o fizerem, eu sou o Inspetor Chefe!

– Eu não acho que essa seja uma boa ideia...

Ela mordeu o lábio inferior. Se fosse por ela, não estaria ali, mantendo aquela conversa, mas procurando o livro que revelaria a solução para os seus pesadelos.

Às vezes, eles pensavam igual.

– Você prefere esperar pela boa vontade do Potter?!

Ela conhecia Harry, ele poderia parecer chegar a conclusões precipitadas e agir por impulsos, mas, na verdade, Rony tentava contê-lo e fazê-lo pensar num plano. E ela não queria esperar... Suspirando, ela murmurou que o encontraria mais tarde.

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Antes que a noite chegasse, três eventos consecutivos aconteceram – Neville encontrou um lugar onde poderiam treinar sem serem perturbados; era um lugar grande e mágico, disse ele, tentando explicar como se deparara com uma porta numa parede, no meio de um corredor, onde antes existia somente rocha sólida. Harry marcou a primeira aula para depois de amanhã, quando conferisse se a sala era, de fato, segura. Hermione convidou um surpreso Blaise para participar do grupo de estudos de feitiços não autorizado pela diretoria.

– Eu não acho que esta seja uma boa ideia... Os seus amigos têm uma opinião muito forte sobre sonserinos – murmurou ele, sentando com as costas apoiadas numa árvore, ao lado dela. Eles estavam num lugar muito privado, onde não seriam perturbados por sonserinos ou grifinórios.

Apesar do frio daquele final de tarde, quando Blaise deslizou um braço pela cintura dela e a puxou para próximo de si, abaixando sua cabeça para descansar sobre os ombros dela, Hermione sentiu-se morna como se estivesse sendo banhada pela luz do verão.

– Rony parece gostar de você – disse ela, baixinho, com medo de que se aumentasse a sua voz num tom acima do que o silêncio do lugar, ele se afastaria e levaria consigo o seu conforto. – Harry também, um pouco... Bem, ele aprenderá com o tempo. Quanto aos outros, eu pensei que você tivesse dito que não se importava com o que pensavam de você.

– Eu disse que não me importava com o que meus companheiros de Casa pensavam sobre mim. Com você é diferente... Estas pessoas são seus amigos, eu não quero que elas me odeiem ou que fiquem com uma má impressão sobre mim.

Hermione tentou suprimir um sorriso, mas foi em vão. Ela pensou, nesse momento, que estava, definitivamente, se apaixonando por esse garoto.

– É impossível não o adorar – disse ela, com uma incomum voz meiga que reservava somente para quando seus dois melhores amigos se metiam em alguma confusão e terminavam machucados. – Você é uma pessoa muito... – Pausou, sentindo-se embaraçada por deixar seus pensamentos vazarem por sua boca tão facilmente.

– Que tipo de pessoa você acha que sou? – perguntou ele, sério, com um toque sutil de humor na sua voz. Ele virou a cabeça para poder olhar o rosto dela, que esta tingindo com uma forte tonalidade de vermelho.

Ela olhava para frente, como se estivesse com vergonha de encontrar-se com os olhos dele.

Gentilmente, ele tocou na bochecha dela, fazendo movimentos circulares com a ponta do dedo indicador. Então, muito devagar para não a alarmar, inclinou-se para beijar o canto do queixo dela.

Ela estava quieta, muito quieta.

Ele depositou outro beijo na pele dela, e outro, e outro, seguindo uma lenta trilha até os lábios dela. A batida do coração dela gritava nos seus ouvidos e seus pulmões doíam. Quando ele a beijou, a mão que acariciava a bochecha direita dela prendeu-se nos seus cabelos, puxando-a para perto, mas não havia como ela estar mais próxima dele do que naquele momento, com as pernas dele entrelaçadas com as suas e com a língua dele pincelando o seu lábio inferior e adentrando em sua boca.

Esse foi um beijo lento, sem demandas, sem voracidade. Era mais um experimento de descoberta entre ambas as partes, um carinho delicado e suave.

Ela sentiu o sorriso dele em seus lábios e, dessa vez, não tentou disfarçar o seu.

Ele afastou-se um pouco, dando espaço para que conseguissem respirar, mas não se separou dela. Uma mão continuava presa no cabelo dela, a outra lhe afagando o pescoço.

– O que você estava dizendo? – perguntou ele.

– O que você está fazendo? – perguntou ela.

Como algum dos dois precisava oferecer uma resposta, e ambos sabiam que essa não seria Hermione, Blaise falou primeiro.

– Você disse que estava tudo bem se eu quisesse beijá-la.

Ele olhou nos olhos dela, procurando dúvida ou arrependimento. Hermione sorriu para tranquilizá-lo e, puxando coragem para dentro de si, beijou-o.

Pelos próximos minutos, eles esqueceram o mundo.

Quando Blaise finalmente se afastou dela, foi somente para colocá-la sobre o seu colo e voltar a beijá-la, com os seus braços envoltos na cintura dela.

Estava escuro quando eles retornaram ao castelo, com sorrisos furtivos nos olhos.

Daquela vez, quando perguntou o que ela queria dizer sobre que tipo de pessoa achava que ele era, ela respondeu.

– Você é uma boa pessoa, justa e divertida e educada e carinhosa e forte. Eles irão gostar de conhecer você.

– Eu realmente espero – disse ele, suspirando nervoso.

Hermione pensou o quão fofo era ele estar ansioso por conhecer os seus amigos.

O Malfoy nunca se comportaria daquela maneira.

Falando no Malfoy, ela lembrou-se de que tinha uma tarefa epopeica para realizar naquela noite. Com o ele.


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Notas finais do capítulo

Acho que vocês já estão cansados do meu discurso de sempre, então só vou desejar um bom final de semana para todo mundo. Para os novos leitores, sejam muito bem vindos! Para quem me deixa comentários lindos, sintam-se abraçados de uma forma bem fofa e apertadinha



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