Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 34
IV - Capitulo 32: Nem sempre o coração é o único delator




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/523437/chapter/34

Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

.

Capítulo 32: Nem sempre o coração é o único delator

.

Naquela manhã, quando Hermione jogou-se no banco à mesa da Grifinória, seus cabelos estavam mais bagunçados do que o considerado comum e suas roupas estavam em igual estado, os olhos dela parecia pesados, como se não conseguissem se manter abertos por muito tempo.

– Você está bem, Mione? – perguntou Rony, ao mesmo tempo que Harry terminava de engolir o seu suco para levantar esta questão.

– Não, eu tive um sonho ruim – confessou ela, baixinho, para que só os amigos escutassem.

Imediatamente, eles ficaram tensos, trocam um rápido olhar e encararam a amiga.

– O que você viu dessa vez? – perguntou Harry.

– O Malfoy lhe matou de novo? – disse Rony, visivelmente incrédulo.

Se tivesse acordado de bom-humor, teria revirado os olhos para a pergunta de Rony. Porém, como as condições eram outras e como não se lembrava onde o seu humor se escondera na noite passada, ela resolveu ignorá-lo.

– Eu vi a guerra contra você-sabe-quem – sussurrou ela, arrancando um pedaço de pão com as mãos. Levou-o à boca e demorou todo o tempo necessário para se tranquilizar, repetindo a si mesma que foi somente um sonho, não era real. Jamais seria real. – Foi horrível! Eu vi tantas pessoas sendo torturadas e... – A voz oscilou, os olhos piscaram lágrimas. – Assassinadas.

Harry apertou a sua mão.

– Não é real, Mione.

– Mas poderá ser! Ele retornou! Enquanto estamos assistindo aulas e fingindo que nada está acontecendo, ele está recrutando novos aliados tão sádicos e loucos quanto os anteriores, sua força está aumentando; em breve, ele virá por você, Harry! E nós iremos à guerra!

Ele piscou, alarmado. Era ele quem perdia o controle quando o assunto era você-sabe-quem, era ele quem incitava os amigos a lutarem, lembrando-os de que a guerra era iminente. Hermione, ao contrário, era a voz da razão, aquela que o acalmava e que sussurrava que os adultos iriam resolver esse problema por eles, que eles não teriam que se sacrificar mais uma vez.

Harry não sabia o que dizer. E Rony nunca fora bom com palavras.

– Você acha que ele viu o mesmo? – falou Rony, apontando de forma nem um pouco discreta para a mesa da Sonserina.

Hermione assentiu, fitando o pão que não comeria no seu prato.

– Mas ele está no lado oposto da guerra – disse ela, após um longo silêncio.

Harry não conseguiu deixar de notar o tom de rancor na voz da amiga. Ele não queria perguntá-la o que isso significava.

.

Dolores tinha uma longa pena rósea, com a qual acariciava o seu queixo. As suas unhas redondas também eram pintadas de uma tonalidade clara de rósea, assim como esta era a cor da saia e dos sapatos da mulher. A blusa felpuda tinha uma coloração mais forte de rosa, que combinava com o seu batom.

Draco pensou que ela era ridiculamente hilária, mas não se atreveu a rir. Isso tinha muito pouco a ver com o medo que ela arrancasse a sua língua, e tinha tudo a ver com o fato de ter passado as últimas trinta e seis horas sem dormir.

– Mcggonal disse-me que eu poderia usá-los para qualquer serviço – disse a mulher, passando os dedos, vagarosamente, sobre a delicada haste da pena, de uma forma sugestiva.

Draco sentiu uma súbita ânsia de vômito. E Blaise não parecia melhor.

– Eu quero propor algo aos dois – falou ela, o que os fez engolir em seco. Apesar da inimizade latente entre eles, entreolharam-se e combinaram, com um aceno de cabeça, que, se fosse necessário, estavam prontos para sair correndo pela porta ou pela janela da mais próxima. Quando o momento chegasse, seria cada um por si. Felizmente, as próximas palavras de Dolores não foram as que temiam escutar. – O Ministro e eu concordamos que esta escola precisa passar por uma série de reformulações de valores e de disciplinas. Vocês irão me auxiliar a colocá-la em ordem, mais uma vez.

– Vá ao ponto – falou Blaise.

– Se vocês forem leais a mim, irei promovê-los a Prefeitos. Então, vocês terão o poder de auxiliar-me.

– Você não pode fazer isso – disse Blaise. – A posição de Prefeito já está ocupada.

– Nada que não possa ser acertado, em breve. – Ela sorriu de lado, usando a pena para afagar seus cabelos, que, milagrosamente, não eram róseos. – Basicamente, eu quero que vocês patrulhem os corredores de Hogwarts e distribuam punições a alunos rebeldes e mal comportados que estejam fazendo qualquer atividade suspeita.

– Nós não temos o poder de fazer isso!

Dolores revirou os olhos e lançou um olhar para o loiro que dizia “Ele é sempre tão chato assim?”.

Em outro dia, Draco poderia ter deixado escapar uma bela gargalhada.

– Eu estou lhes dando a ordem para tal – falou ela, firme, erguendo-se da cadeira numa pose magistral. – Se algum professor ou estudante reclamar, mande-os falar comigo!

– Os professores não irão aceitar essa loucura!

– O Ministério os convencerá – disse ela, com o tom de quem tem a conversa por terminada.

Draco fechou a porta atrás de si, porque se Blaise o fizesse, ele espancaria a porta na moldura. O garoto estava enraivecido sem aparente motivo, na opinião do sonserino loiro.

– Ela quer controlar Hogwarts! – falou Blaise, alto e bravio, enquanto pulava dois degraus de cada vez. – Quem ela pensa que é para decidir como a escola e os seus alunos devem se comportar? Eu não sei por que o professor Dumbledore a aceitou! A mulher é louca!

– Ele não teve escolha. – Draco deu de ombros, falando casualmente, como se não estivesse realmente interessado no assunto. – Meu pai me contou que o Ministério pressionou Dumbledore a aceitar alguém que seria os olhos dele em Hogwarts, para garantir que tudo permaneceria como antes e que os alunos não entrassem em pânico nem fossem influenciados pelas mentiras do Potter. O Ministro queria afastar Dumbledore, porém ele não poderia fazer isso sem parecer desesperado.

– E ninguém se opôs a isso? – Apontou para cima, de onde haviam vindo, dos aposentos sombrios de Dolores Umbrigde.

– Ninguém quer acreditar que Voldemort retornou – falou ele, de forma óbvia. – Eles preferem pensar que o Potter quer chamar atenção com o seu burburinho e alarmar as pessoas.

Blaise parou de caminhar e virou-se para encará-lo.

– O jeito como você fala... Você acredita no Potter! – afirmou Blaise, surpreso por esta descoberta.

– Você também viu a Marca da Morte e os bruxos encapuzados durante o ataque à Copa Mundial de Quadribol. Somente um tolo nega os fatos!

– E o que o seu pai acha sobre isso? – disse Blaise, com um leve tom de malícia na voz.

– O que você acha sobre isso? – Draco frisou bastante no sujeito da questão. – A sua mãe foi assassinada por um auror pouco depois que nasceu, porque ela era um deles.

– Você não sabe nada sobre a minha mãe!

Blaise deu um passo para frente, visivelmente irado, pronto para socar, mais uma vez, o outro garoto. Para a surpresa dele, Draco não deu um passo para trás nem aparentou estar intimidado.

– Eu não entendo você, Zabini – murmurou Draco, como se falasse consigo mesmo, balançando a cabeça, os ombros baixos. – Você deveria ser como eu.

Foi Blaise quem piscou e se afastou, de boca aberta, incerto sobre o que acabara de escutar.

– Você parece estar decepcionado por eu não ser tão esnobe e frio quanto você – disse ele.

– O que o fez ser uma pessoa diferente de mim? – perguntou Draco, curioso.

Blaise abaixou o olhar, fitou as mãos, abriu-as e fechou-as, como se não fosse capaz de lembrar se elas estiveram sempre ali. Suspirou, fechou os olhos e balançou a cabeça. Por um momento, ele parecia um pequeno menino desolado, que acordara tarde da noite para encontrar os corpos frios de seus pais.

– Você não sabe nada sobre a minha mãe – repetiu ele.

Draco o viu se afastar, tentando imaginar o que acontecera no passado dele que o teria mudado, que o teria feito ser um homem melhor...

* * *

Draco fazia exatamente o que Dolores ordenava, ele patrulhava os corredores de Hogwarts, certificando de que todos os alunos se comportavam segundo o manual de etiquetas da mulher. Se encontrasse algum aluno suspeito de realizar atividades que não condiziam com o perfeito comportamento esperado dele, ele escrevia o nome desse aluno numa lista e escrevia o motivo que o fizera colocá-lo em tal lugar. Ao final da semana, levava a lista à Dolores, quem decidia o que faria sobre aquilo.

Ele ainda não poderia intervir diretamente no comportamento dos alunos, porque não era o Prefeito de Hogwarts. Porém, era apenas questão de tempo para que Dolores conseguisse mais poder na Escola e o incumbisse dessa tarefa.

Blaise, ao contrário dele, se recusava a obedecer as ordens de uma tirana louca, o que o causara uma série de feridas nas mãos e ao redor dos pulsos. Draco fingia que não sabia sobre o motivo de elas não se cicatrizarem e de parecerem mais horrendas cada vez que ele subia as escadas ao aposento da professora.

Apesar disso, Blaise não a denunciava ao diretor. Ele aguentava a sua punição quieto, abafando a sua dor e os seus gritos.

Algo que nem Draco conseguia fazer, quando acordava no início da madrugada, suando frio, os pés debatendo-se contra o lençol que parecia uma rede aprisionando-o contra a cama. Os pesadelos tornavam-se piores a cada noite – eles não eram apenas escarlates, mas eram também ultrarrealistas. Mesmo depois de desperto, continuava a sentir a dor no lugar onde a sua pele fora atingida por um feitiço. Certa noite, ele tivera que se jogar, trêmulo e fraco, debaixo do chuveiro, massageando o braço com cuidado, pois podia jurar que via a carne dele queimada, cinzenta, os músculos ardendo em brasa quente. Foi a pior sensação que já sentira!

E foi tão real...

Ele pensava que estivesse enlouquecendo, mas a verdade era que a sua alma estava sendo devorada pelos seus pesadelos.

Não queria admitir, mas sentia muito medo do seu futuro e do livro que escondia debaixo do colchão da cama.

* * *

Andava sozinha pelo corredor, prestando demasiada atenção ao desenho do piso, enquanto tentava evitar se lembrar da sensação de completude e de paz que sentiu quando, no sonho, Draco acariciou a sua barriga e a beijou, suavemente. Nunca se sentiu tão feliz quanto naquele momento que, de certa forma, não existiria jamais.

Isso a estava enlouquecendo. Ela estava mais pálida e com o semblante cansado e entristecido. Por isso, não queria estar próxima aos amigos, não suportaria o olhar de culpa e de impotência deles. Eles sabiam que tinha pesadelos, mas não sabiam sobre o conteúdo deles, pois isto era algo sobre o qual Hermione não poderia se fazer falar.

Um dia, ela teria que lhes dizer a verdade. Mas, definitivamente, hoje não era o dia.

Dobrou na curva à direita do corredor e deparou-se com o rosto familiar de alguém que ansiava por conversar há semanas. Infelizmente, este simples ato era complicado, devido ao fato de ambos pertencerem a Casas rivais e de ninguém apoiar a amizade entre eles.

– Oi, Blaise – disse ela, sem precisar se esforçar para sorrir. – Posso sentar?

– Oi! Claro que pode, Hermione – respondeu ele, enquanto retirava livros e papéis de cima do banco. Ela tentou ajudá-lo a organizar a confusão de coisas espalhadas em desordem, porém ele afastou-se rapidamente do toque dela, como se este houvesse tivesse o poder de queimá-lo.

Sem nenhuma explicação, ele escondeu as mãos no bolso do casaco e manteve o olhar longe do dela.

– Blaise, há algo de errado? Você não está apreensivo de que nos vejam juntos, está? – perguntou ela, tristemente.

Era uma tola por pensar que ele também ansiava a sua companhia, apesar do perigo que ambos corriam agora que Dolores lutava pelo controle da escola. Ele, provavelmente, gostaria de evitar problemas e manter-se o mais longe possível de uma sangue-ruim.

Como ele demorou para responder, Hermione acreditou que este era o caso. Ela se levantou para partir, antes que ele pudesse explicar-se e fazê-la sentir-se ainda mais humilhada.

– Hermione – chamou ele, erguendo-se também. – Não vá embora, por favor. Eu gosto de conversar com você.

Ela permitiu que ele se aproximasse, como um gato curioso, e afastasse os cabelos do seu rosto. Foi quando ela viu os cortes na mão dele.

– Quem fez isto? – perguntou ela, alarmada, segurando a mão dele cuidadosamente entre as suas. A pele estava flácida, recoberta por pequenos cortes que se uniam para formar palavras: Eu sou um traidor do meu sangue. Eu sou uma vergonha para a minha família.

– Prometa-me que não dirá uma palavra sobre isso para quem quer que seja – pediu ele.

– Dumbledore precisava saber sobre isto! Foi Dolores quem fez isso, não foi?

Pela primeira vez no dia, Hermione descobriu-se ser capaz de sentir fortes emoções.

– Por favor, Hermione, prometa-me!

– Eu não posso...

– Acredite em mim, eu resolverei esse problema da minha forma. Além disso, Dumbledore não pode fazer nada. Dolores tem o Ministro do seu lado, pronto para defender que suas ações são um mal necessário para disciplinar alunos rebeldes. Não quero dar esse gostinho a ela!

Ele a encarou firmemente, até que ela cedesse.

– Prometo – disse ela, suspirando. – Deixe-me cicatrizá-la, ao menos.

Blaise ofereceu as suas mãos e deixou que Hermione cuidasse delas com o auxílio de magia.

Quando terminaram, Hermione sentou-se. Ele encarou-a, em expectativa. Ela o fitou, nervosa. O que deveria fazer agora?

– Você precisa de alguma coisa? – perguntou ele.

Ela soltou um suspiro prolongado. Precisava de tantas coisas, sobretudo que parasse de ter certos pensamentos sobre tal loiro.

– Não, obrigada. Queria apenas conversar, se eu não estiver atrapalhando...

Ele olhou-a por um instante longo demais e sorriu. Então desviou os olhos, como se estivesse envergonhado; o sorriso alargando-se no seu rosto.

– Eu sempre quero conversar com você – disse ele, baixinho, esperando que, de alguma forma, ela não conseguisse escutar. Subitamente, ele voltou os olhos na direção dos dela; a sua expressão tornando-se dura e ressentida. – Não é justo que tenhamos que fingir não nos importar um com o outro.

– Você se importa comigo? – falou ela, os olhos alargando-se em surpresa.

– Não é óbvio? – Não para Hermione. – Eu a salvei de si própria no Torneio Mundial de Quadribol, quando você queria voltar todo o caminho para o caos, para procurar pelo Potter.

Ela abaixou os olhos para as mãos, pensando sobre isso. Depois de tudo o que aconteceu, depois de saber o que realmente acontecera naquele dia, ela compreendia o que Blaise fizera. No dia, sentira raiva por ele a ter impedido de encontrar o amigo. Porém, se ele tivesse a permitido vagar em meio ao fogo, ela teria, eventualmente, sido encontrada por um Comensal da Morte e, por ele, ter sido assassinada.

Ela segurou as mãos dele nas suas e abriu a boca, desejando dizer, novamente, o quanto estava agradecida por ele ser tão teimoso quanto ela. Porém, a vontade foi silenciada pela preocupação. Correu os dedos pela pele dele, sentindo uma textura frágil, onde a pele ainda precisaria curar-se naturalmente.

Pensou que seria apropriado desviar o assunto da conversa para algo agradável, mas a quem estava tentando enganar? Ela queria saber pelo que Blaise estava sendo.

– Foi Dolores quem fez isso com você, não foi? Ela fez o mesmo com o Harry! – Quando Blaise continuou sem responder, ela pisou forte no chão e disse, exaltada: - Eu não posso manter esta promessa, Blaise! Nós precisamos contar a verdade para Dumbledore, alguém precisa deter esta mulher! Ela não tem o direito de torturar os alunos dessa forma!

Hermione ergueu-se, decidida a encaminhar-se aos aposentos do diretor da escola. Mas, Blaise fez o mesmo, decido a impedi-la. Ele segurou-a pelos ombros e obrigou-a a olhar para ele.

Nesse exato momento, Filch, o zelador da escola, passou por eles, carregando com dificuldade uma escada centímetros maiores que o seu próprio tamanho. Ele andava mancando, dobrado para um lado, tentando equilibrá-la com o seu peso.

Os dois jovens observaram-no atravessar o corredor e seguir por uma curva estreita. Ambos sabiam o que isso significava. Já fazia algumas semanas que a professora Dolores começara a intervir na administração de Hogwarts, segundo o poder que o Ministério a empossou para reformar o sistema da escola, a qual, diziam, estava sendo mantida por um grupo de bruxos velhos e débeis.

– Hermione – chamou-a Blaise, balançando, suavemente, seus ombros. – Nem mesmo Dumbledore pode impedi-la. Ela já comanda Hogwarts! Se tentarmos pará-la agora, tudo o que conseguiremos é sofrer severas punições por nossa ousadia. Precisamos esperar pelo momento certo, para nos voltarmos contra ela.

Ela suspirou, frustrada. Sabia reconhecer quando alguém estava certo e quando ela estava sendo movida por suas emoções.

– Você tem razão... É só que eu detesto assisti-la machucando as pessoas com quem eu me importo, sem poder fazer nada para ajudá-las!

– Você se importa comigo? – perguntou Blaise, tão surpreso quanto Hermione, quando fizera a mesma pergunta, há menos de uma hora.

Hermione fez um movimento rápido com a cabeça, um sinal de afirmação, enquanto suas bochechas eram preenchidas com uma vívida coloração rósea.

Blaise sorriu largamente, os olhos brilhando a alegria que sentia, mas que não sabia como explicá-la com palavras. Por isso, ele inclinou-se para frente e beijou-a, sem aviso prévio para que se preparasse para a tormenta de sensações que arrebatariam o seu âmago.

O beijo foi rápido e suave. Os seus lábios se tocaram, tímidos, e se afastaram. Hermione olhou com um misto de surpresa e de confusão para Blaise, quem por sorte não tinha a pele clara. Se a tivesse, estaria ridiculamente vestido de vermelho.

– Desculpe-me – sussurrou ele, desviando o olhar do dela.

– Nã... Eu... – Hermione lutou para encontrar as palavras. – Você não precisa se desculpar. – Com a ponta dos dedos, ela tocou os seus lábios, onde os deles haviam estado, e sorriu.

– O que isso significa, Hermione? – disse ele, sem perceber que estava prendendo a respiração e que, por isso, o som da sua voz saiu entrecortado.

– Não sei...

– Isso significa que a Grifinória acabou de perder 100 pontos! – disse uma voz atrás de Hermione.

Ela não precisava se virar para saber quem era o dono daquela desprezível voz que habitava os seus sonhos, transformando-os em pesadelos.

– Você não tem o menor direito de tirar pontos da Grifinória, Malfoy – disse Hermione, virando-se e fazendo a sua melhor expressão de raiva.

– Vocês ainda não sabem? – disse o loiro, a voz repleta de sarcasmo imoderado. – Eu sou o novo Inspetor Geral das Casas de Hogwarts! Dolores acabou de me oferecer a posição, e, obviamente, eu aceitei.

– Alguém, definitivamente, precisa parar essa mulher, antes que ela destrua a todos nós! – falou ela para ninguém em particular. – Ela está completamente fora de si!

– Isso pode até ser verdade, mas, só entre nós – Draco aproximou-se dela, levando a mão à boca para abafar as suas palavras –, eu não diria isso na frente dela. Você conhece o método dela de lidar com jovens rebeldes, não? O Potter foi o primeiro a experimentar.

– Você sabe que ela tortura os alunos e não faz nada sobre isso! – Não foi uma pergunta. Jamais haveria dúvidas sobre a escassa moral dos Malfoy.

– Eu não ganho nada ao delatá-la. Porém, ao fingir que não vejo as marcas nas mãos dos alunos que saem dos aposentos dela, eu ganho não apenas créditos extras, mas também a posição mais almejada por um aluno em Hogwarts. E eu nem estou no sexto ano ainda! – Ele esboçou um largo sorriso que fez Hermione ter ânsia de vômito.

Ela deu um passo para frente, acabando com a distância mínima entre eles, e encarou-o com olhos que poderiam congelá-lo vivo e, depois, quebrá-lo em centenas de pequenos pedaços reluzentes.

– Isso não é divertido, Malfoy! Pessoas estão sendo machucadas e reprimidas por se recusarem a abaixar a cabeça para as loucuras que Dolores fala e nos impõe. Alguma vez na sua miserável vida, você já ouviu falar do conceito de ditadura? – Ela fez uma pausa para que ele pudesse pensar, mas não esperou o bastante para que se manifestasse. – Nós estamos nos encaminhando a isto! Se não fizermos nada para pará-la, mais alunos irão sofrer. E a custo de quê? Da sua preciosa posição como Prefeito? Um verdadeiro Prefeito procuraria o diretor da escola e confessaria os crimes dela, enquanto ainda é possível detê-la, enquanto ela ainda não governa Hogwarts!

Hermione falou rápido, as palavras sendo arremessadas como dardos na direção do loiro, que ela só percebera que precisava de ar, quando já estava tossindo forte, sufocando, tragando-o como se ele fosse algo de beber, empurrando-o garganta abaixo, sem parar para degustá-lo.

Draco não piscou, estava estático, o sangue correndo ligeiro em sua veias, fazendo-as retumbarem, parecendo que centenas de corações pequenos batiam no mesmo instante. O som era irritante, fazia todo o resto ao redor silenciar-se, e havia, de repente, os seus batimentos, graves, abafados pela epiderme, e potentes – Tum! Tum! Tum!

Será que ela poderia escutá-los? O som era gritante, preenchia todo o mundo. Como ela não poderia apontá-lo?

– Obviamente, você não compreende o significado de emoções como compaixão e solidariedade. Mas, saiba de uma coisa, quando ela cair, você a acompanhará! – Completou Hermione, lançando um último olhar ameaçador a ele, antes de virar-se e puxar Blaise pela manga para segui-la.

Ele procurou uma boa resposta repleta de sarcasmo para mostrá-la que não fora atingindo por suas palavras, mas o seu cérebro não conseguia processá-la. Havia apenas o som gritando dentro de sim – Tum! Tum! Tum! – e a lembrança ainda viva do último sonho que o fizera acordar no meio da madrugada, suando, com uma ereção incomodando-o, presa no espaço apertado da calça do pijama.

Não haveria como ela saber disso. Ela não poderia escutar as batidas ressoando dentro e fora dele, o som existia apenas na sua cabeça, era loucura sua, nada mais.

– Granger! – disse Draco. Na verdade, ele precisou gritar para escutar a sua própria voz acima do som do seu pesadelo. – Espere!

Tão surpresa quanto Blaise, que estancou abruptamente, Hermione virou-se para encará-lo pela segunda vez em menos de quinze minutos, pensando que não havia como aquele dia se tornar mais detestável.

– Vinte e cinco pontos a menos para a Grifinória – falou o loiro. Hermione abriu a boca, pronta para uma longa e infrutífera discussão, mas as próximas palavras dele silenciaram-na. – Você não apenas desrespeitou o Prefeito das Casas de Hogwarts, como também o ameaçou. Esta não é uma ação que sirva de exemplo, Granger. Se não quiser que eu a denuncie à Dolores, e você sabe o quanto ela gostaria de torturar uma sangue-ruim, apresente-se nos meus novos aposentos na sexta, pela manhã. Até lá, pensarei em como ensiná-la a respeitar os seus superiores.

Draco seguiu o seu caminho de origem, passou pelo estreito espaço entre os ombros de Hermione e de Blaise e virou numa curva ao final do corredor. Hermione encarou Blaise, com a boca escancarada em descrença. Não acreditava que havia acabado de escutar isso. E tão pouco o outro jovem o fazia.

– Você não precisa fazer isso– sussurrou Blaise. Ele ergueu a mão e a dirigiu à face dela, na metade do caminho, contudo, deteve-se, incerto se poderia atravessar aquela barreira entre a amizade e a necessidade de ser algo a mais. Sua mão tremeu no ar e avançou; os dedos derramaram-se, muito suavemente, pela bochecha dela, acariciando-a.

Hermione inclinou a cabeça para o lado e fechou os olhos, sentindo um carinho que ela sabia, com certeza, ser verdadeiro.

– Eu sei – disse ela. E havia tantas outras verdades que não falaria.

Na sexta-feira, pela manhã, ela estaria no exato lugar em que Draco apontara. Não por senso de dever ou por receio da sua represália. Não era nada disso a verdade. Se ela não aparecesse, ele pensaria que temia confrontá-lo. E, isto, era algo que Hermione jamais poderia deixar acontecer uma segunda vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpa por ainda não ter respondido aos comentários, mas ultimamente mal tenho tempo de dormir. Além de todos os textos que tenho que ler e produzir para a faculdade, ainda ando planejando uma nova fanfic no mundo de HP... Ou seja... Podem ficar esperando por uma surpresa :D
.
Beijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desejo e Reparação" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.