Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 23
III - Capítulo 21: Trouxa, demasiadamente trouxa


Notas iniciais do capítulo

Um dos capítulos que eu mais adorei escrever. Em modéstia parte, acho que ficou muito bonitinho ;X



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Parte III

{Uma valsa que resultou em uma queda}

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Capítulo 21: Trouxa, demasiadamente trouxa

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Naquela noite, quando Hermione deitou-se na cama e deixou que a inconsciência a levasse, ela sonhou com um lugar em cores vibrantes, uma imensa roda-gigante girava, centenas de luzes piscando no céu, em carrosséis com crianças que riam, segurando seus pedaços de nuvens com as mãos grudentas, sorrindo e acenando para as mães; do trem do terror, não saia gritos, estes vinham de uma alta estrutura cilíndrica no meio do parque, onde doze cadeiras em círculo despencavam para o chão, pernas debatendo-se, braços rijos, cabelos voando em todas as direções, embaçando a visão.

Em todo lugar havia pessoas, casais com as mãos grudadas, crianças correndo com os seus pais gritando para que esperassem, adolescente com os seus amigos discutindo para decidir quem iria com quem, por eles, iriam todos juntos, mas os carrinhos tinham assentos feitos para caberem apenas duas pessoas, não seis.

Carrinhos de pipoca eram arrastados, seguido por outra fileira de carrinhos vendendo picolés que pintavam a língua, algodão-doce, refrigerantes, bombons, trufas, churros, crepes e todas as guloseimas que fariam nutricionistas tremerem só em pensar.

No meio de tudo isso, uma garota e um garoto caminhavam quietamente, um sorriso bobo brincando nos lábios deles, as mãos balançando ao lado do corpo, esperando uma desculpa para se encontrarem e se enlaçarem.

– Aonde você quer ir agora? – perguntou a garota.

Não é uma surpresa dizer que ela era a própria Hermione dois ou três anos mais velha, o corpo esbelto, com curvas acentuadas pelo vestido azul que voava ao vento, sendo necessário que a garota mantivesse uma mão sobre a saia dele.

A surpresa aqui consiste na identificação do garoto: ele era ninguém menos que Draco Malfoy, no ápice de sua juventude e beleza.

E os olhos dele brilhavam intensamente.

Ele era alguns centímetros mais alto que a garota, os seus cabelos loiros estavam cortados curtos, bem aparados, o rosto tinha traços marcantes e belos, o nariz fino erguido, os lábios vermelhos sorrindo. A mudança mais marcante, contudo, estava no seu vestuário: não usava as suas usuais roupas caras e negras, mas roupas comuns, uma calça jeans surrada, uma blusa de manga longa cinza e um par de tênis.

Ele parecia tão comum, nem um pouco como o puro sangue egoísta e cruel pelo qual era mais conhecido.

– Naquela coisa grande, como vocês a chamam mesmo, roda gigante? – disse Draco.

– Bastante criativo, não? – riu Hermione. – Antes disso você precisa provar crepe de pizza, é uma das melhores comidas no mundo inteiro! E milk-shake de ovomaltine! Você absolutamente precisa provar milk-shake!

Então, ela encontrou a desculpa que precisava e segurou a mão dele na sua, guiando-o através da multidão para uma barraca no canto, onde algumas mesas estavam dispostas de forma aleatória, e poucas pessoas sentavam-se para comer sanduiches, antes de voltar para os brinquedos.

Ela fez o pedido: Dois crepes de pizza, um milk-shake grande de ovomaltine com cobertura de caramelo e bastante chantilly.

– Então, eu o convenci de que trouxas podem ser divertidos? – perguntou Hermione em tom de brincadeira, puxando a cadeira de plástico para sentar-se.

– Você me convenceu que parques de diversão são legais e que trouxas são estúpidos – disse Draco, usando o mesmo tom que ela, ainda sorrindo de lado. – Eles chamam uma roda gigante de, adivinhe só, “Roda Gigante”, um barco que se balança para frente e para trás de “Barca”. Eles não são as criaturas mais inteligentes que eu já tive o desprazer de conhecer.

Hermione o esmurrou no braço, de leve. Draco fez uma falsa careta de dor e resmungou.

– Admita que você gostou!

– Talvez eu realmente tenha gostado da Montanha-russa...

– Você é um caso perdido, Malfoy. – Apesar da escolha de nominação, não havia receio ou antipatia em sua voz.

Como no mundo dos sonhos os eventos raramente fazem sentido, a cena imediatamente pulou para a seguinte. O lugar era o mesmo, o tempo era alguns minutos no futuro.

Eles estavam dividindo um mesmo milk-shake, dois canudos verdes chupando o líquido e duas colheres brancas cheias de chantilly e de sorvete. Eles riam e falavam ao mesmo tempo, por isso era impossível distinguir palavras de outros sons.

Luzes laranjas manchavam a pele deles, fazendo-as adquirirem uma cor vibrante. Os olhos de Hermione queimavam, assim como os cabelos castanhos dela, que estavam banhados de laranja e de um vestígio de róseo escuro, uma cor densa, profunda, que se espalhava pela testa da garota, declinando em direção à curva da sua bochecha, almejando tocá-la nos lábios.

Os olhos de Draco seguiam o trajeto da cor com demasiada atenção, e Hermione estava ciente disso. Ela encurvou a ponta dos lábios, apenas para provocá-lo; a cor rósea caiu sobre eles, seguida por um intenso azul anil. As cores não se mesclavam, criavam uma camada dual, um lado dela estava pintado de rosa e, o outro, de azul. E Draco parecia querer inclinar-se para beijar ambos os lados.

Na maioria das vezes, os sonhos acontecem como fragmentos de algo a mais, um simples momento quebrado em dezenas de fotografias instáveis postas em sequências aleatórias.

Eles não estavam mais sentados em frente a um grande copo com milk-shake. Eles estavam deslizando, agora, por tendas. Lugar apertado, coberto por panos e centenas de luzinhas. Havia murmúrios, músicas e risos, mas, para Hermione, havia somente as cores, a sensação de aperto no peito e o instante demasiadamente longo para se fazer uma decisão. Nenhum som; apenas o silêncio da antecipação de algo que poderia ser bom ou que poderia ser um completo desastre.

Ela entreabriu os lábios e deixou que ele a respirasse. As luzes voltaram a brilhar em laranja.

Hermione estava inteira novamente.

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Acordou com o grito preso na garganta.

Sentou-se na cama, abraçando-se e repetindo para si mesma que foi apenas um sonho ruim.

Apenas outro sonho ruim e laranja.

Nada mais.


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Notas finais do capítulo

Gente, mil desculpas por estar demorando tanto para responder aos comentários. Estou de férias há um pouco mais de uma semana e nunca paro em casa. Sempre que piso aqui em casa, aparece um passeio diferente. Nem escrever estou conseguindo, mas vou tentar encontrar tempo.
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Obs.: Estou me sentindo no clima natalino, por isso, acho que muito em breve postarei um novo capítulo ;)
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Beijão!