Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 19
III - Capítulo 17: Interlúdio




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Parte III

{Uma valsa que resultou em uma queda}

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Capítulo 17: Interlúdio

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O livro não respondia as suas questões. Era como se a magia que o sustentava tivesse se extinguido completamente.

Todas as noites, Draco sentava-se na poltrona em frente à lareira, após todo o castelo estar embevecido de sono, segurava a pena em sua mão e traçava palavras nas margens do livro. Algumas das suas páginas estavam tão manchadas de tinta negra, que não existia espaço para resquício de brancura que pudesse uma vez ter existido ali.

Escrevia as mais mirabolantes e descabidas perguntas, mas o livro continuava a se comportar como todo e qualquer bom objeto inanimado – inerte, sem vontade própria.

Durante as manhãs, Draco adquiriu um novo vício, que, como qualquer outro, tinha poder corrosivo. Ele passava todo o tempo na Biblioteca, pesquisando sobre assuntos relacionados ao futuro – poções, feitiços, magia negra, mitos, bolas de cristal, visões. Visões. Esse era o seu tópico preferido.

Ele buscava uma explicação lógica para negar o que vira naquela noite, há dois meses. Tinha que ser uma brincadeira com a sua cara, o seu futuro jamais poderia estar ligado daquela forma com o da sangue-ruim. Era impossível! Era loucura! Talvez, fosse isso, pensava em alguns dias, a sua mente estava definhando! Se este fosse o caso, ficava satisfeito ao pensar que a Granger também estava enlouquecendo.

Não seria dessa vez que o Potter ganharia!

Alguns dias depois, enquanto saía da sala de aula, Goyle e Cabble o pegaram seguindo a Granger pela curva de um corredor. As primeiras vezes pareceram acidentais, e Draco conseguira rolar os olhos para cima e dizer que ele, como ela, tinha o direito de perambular pelo castelo e ir para onde quisesse, e, se ela estava indo para o mesmo lugar, o que ele poderia fazer? Decretar que fosse proibido que sangues-ruins transitarem por certas partes do castelo? Apesar de o pensamento parecer tentador, o velho idiota Dumbledore jamais aceitaria. Ele era um simpatizante dos trouxas e dos bruxos de sangue impuro.

Contudo, as semanas passaram-se e Draco continuou a seguir, inconscientemente, a Granger.

Os seus dois amigos começaram a olhá-lo com desconfiança e com amargura. Pensavam que Draco planejava fazer algo maligno sem eles. Existiria traição pior?

Não para um sonserino.

Foi dessa forma que ambos passaram a evitar Draco, ressentidos pela traição que este nunca cometara. Draco estranhou a atitude deles, mas não parou para pensar sobre isso por mais de dois minutos; a sua mente estava repleta de questões e de trechos de livros e de lembranças de um futuro que não poderia lhe pertencer.

Ele leu em algum livro, certa vez, que alguns bruxos nasciam com a habilidade de prever o futuro, o que poderia ocorrer através de visões repentinas ou através do uso de objetos que facilitariam a leitura, como bolas de cristal, ervas, tabuleiro de pedras e toda sorte de artefatos místicos. Essa habilidade poderia parecer ser uma graça, mas não deveriam jamais se esquecer de que ela era, na verdade, uma maldição capaz de levar a pessoa à loucura.

Essa era a sua única real descoberta, o resto era um monte de baboseira. Infelizmente, ele ainda não havia encontrado nada sobre livros encantados com visões do futuro. Mas sentia ser apenas uma questão de tempo para criar um plano para entrar na parte da Biblioteca cujo acesso era proibido aos alunos.

Diversas vezes, pensou em procurar a professora louca que dizia ser capaz de prever o futuro. Mas, por enquanto, não estava tão desesperado. Além disso, não tinha paciência com mulheres loucas.

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A única outra coisa que Hermione fazia além de estudar e de se irritar com a briguinha idiota entre Rony e Harry era tentar impedir que o seu coração pulasse para fora do peito toda vez que Victor a olhava. Ela sentia-se como uma boba garota se apaixonando pela primeira vez, mas, para ser bem sincera, era exatamente isso que ela era.

Na noite em que Victor a convidou para o Baile de Inverno, ela se sentiu como se pudesse entrar bailando no Salão Comunal da Grifinória, literalmente. E, de fato, depois que todos foram se deitar, ela se ergueu e experimentou agir como uma menina leviana com a cabeça cheia de nuvens e de plumas.

Como sempre acontece, alguém estava lá, meio escondido nas sombras, rindo dela.

O coração de Hermione poderia ter pulado para fora da sua caixa torácica, se o ato em questão não resultasse na sua morte instantânea. Afinal, esse é um fato conhecido no mundo bruxo: não há feitiço forte ou proibido o bastante capaz de fazer com que os mortos revivam ou com que o seu coração pule de volta para dentro do seu peito, como se nada houvesse acontecido.

De qualquer forma, Hermione ficou bastante assustada, virou-se num pulo, o suor frio arranhando-lhe a espinha, os olhos procurando formas humanoides na escuridão.

– Oh, por favor, finja que eu não estou aqui e volte a fazer a sua dança da vitória – disse uma voz feminina.

Hermione conhecia aquela voz.

– Eu não estava fazendo uma dança da vitória! – Ao perceber o olhar de deboche da garota, Hermione descruzou os braços e deu-se por rendida. – Ok, talvez eu estive agindo de uma forma um pouco boba.

Da escuridão, saiu uma figura – rosto na forma de coração, olhos escuros, cabelos repicados cortados acima dos ombros, tez alva, sorriso fácil num lábio cujas pontas estavam permanentemente ressecadas.

– Posso saber o motivo da inteligentíssima e astuta bruxa Hermione Granger estar embalando-se sozinha feito uma garota de doze anos apaixonada pela primeira vez? Você não está apaixonada pelo Harry, não é? Oh, meu Merlin, só espero que não seja pelo idiota do Rony!

Hermione abafou uma gargalhada com a mão.

Apesar de mal a conhecer, Hermione simpatizava com Eleanor. A garota tinha olhos dóceis, falava com tom de jubilo e parecia ter boas intenções. Além disso, ela também era da Grifinória, Hermione poderia – e deveria – confiar naqueles de sua casa, porque, de certa forma, eram todos eles uma grande família desastrada. Como os Weasleys.

– Viktor Krum convidou-me para o baile – as palavras jorraram leves da sua boca, como uma canção que ressoa por dias na mente, esperando o seu momento para planar pelo ar, livre, enfim.

A garota abriu um radiante sorriso e correu para abraçar Hermione, que estava agitada demais para se sentir surpresa. A morena devolveu-lhe o abraço, e as duas se deram as mãos e dançaram juntas através do Salão Comunal.

Quando caíram exaustas no sofá, Eleanor soltou uma risada vinda aparentemente de lugar nenhum. A verdade, contudo, era que ela já estava presa dentro de si por alguns dias. A risada não era morna, era o eco de um uivo frívolo em blasfêmia, Hermione a olhou de forma confusa, mas logo o seu receio foi afastado pelo grande sorriso da garota.

– Quem diria que, entre todas as garotas de Hogwarts e as perfeitas veelas da Academia de Magia de Beauxbatons, Viktor escolheria você. É inacreditável! Sem ofensas, claro.

– Eu sei, eu sei, é mesmo um sonho! Ainda não consigo acreditar que isso aconteceu. Acho que amanhã, a primeira coisa que farei será procurá-lo e contar sobre esse estranho e maravilhoso sonho que tive, então perguntarei de novo e de novo e de novo, ao longo de toda a semana, se isso realmente aconteceu, se ele me convidou, de verdade, ao baile. Eu?! Há tantas garotas mais bonitas e graciosas que eu.

– Acho que alguém aqui está se apaixonando. – Cutucou-a no braço.

Hermione ficou vermelha como uma árvore de Natal em chamas. Não literalmente, claro.

– Não estou apaixonada por ele, apenas curiosa...

– Curiosa para saber como é ter a boca dele na sua ou algo do tipo?

Hermione conseguiu ficar ainda mais vermelha, tão ardente, que poderia ser usada como sinalizador num farol à beira do mar. Não literalmente, claro.

Eleanor riu alto, apertando a barriga que doía.

Dessa forma, as duas seguiram até tarde da noite. Eleanor constrangia Hermione com perguntas e com comentários sarcásticos, e esta murmurava breves respostas, com os olhos fixos no fogo, pensando que, se a sua temperatura não baixasse, a lareira não seria o único ponto a conter fogo. Literalmente, claro.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho certeza que todo mundo pensava que eu tinha abandonado a fic não é? kkk
Gente, eu jamais faria isso com vocês!
Desculpa ter demorado mais de um mês para att a história, mas eu precisava de um tempo para ajeitar algumas coisa e eu queria que o ENEM passasse, porque só assim eu poderia voltar a me dedicar a esta história.
Agora que estou livre desse mal presságio, as postagens voltarão ao normal - uma vez por semana.
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Espero que vocês não tenham desistido da história e que gostem desse capítulo. E, se mais alguém fez ENEM aqui, venham falar comigo o que acharam e tal, vamos rir um pouco juntos e nos manter calmos, por favor!
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Beijão!