Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 18
III - Capítulo 16: A segunda vez é tão estranha quanto a primeira


Notas iniciais do capítulo

Minha reação ao ler esse capítulo: suspirando eternamente dolorosamente
Recomendo lerem escutando "She loves you" dos Beatles!



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Parte III

{Uma valsa que resultou em uma queda}

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Capítulo 16: A segunda vez é tão estranha quanto a primeira

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Draco estava sentado numa poltrona de frente ao fogo, no Salão Comunal da Sonserina, como se estivesse sentado num trono de puro ouro, olhando sem expressão às chamas queimando a madeira. No seu colo, havia o resto de um embrulho e o livro que desaparecera do quarto de Hermione, no ano passado.

Retornara, emburrado, do Grande Salão, onde, há poucos minutos, o Potter havia sido clamado pela Taça Tribruxo para ser o quarto competidor, segundo representante da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Quisera, naquele momento, explodir a cabeça daquele infeliz, que sempre necessitava estar debaixo de grandes e radiantes e coloridos holofotes para satisfazer sua natureza egoecêntrica.

Quando chegara ao seu quarto, murmurando algo a Goyle sobre os seus planos de azarar o Potter, encontrara um pacote embrulhado em papel brilhoso em cima da sua cama. Rasgara-o, impaciente por causar alguma destruição imediata, e se deparara com uma capa de couro, um livro grosso, folhas novas, letras brilhando douradas na capa, onde estava escrito The Stories are true.

Piscara, petrificado no momento. Parecia-lhe que o resto do quarto estava se movendo num tempo diferente ao seu, as imagens à sua volta passando apressadas, borradas, os sons chegando-lhe como ruídos grosseiros aos ouvidos.

Ele esperara que todos estivessem dormindo para descer ao Salão Comunal e abrir o livro.

Porém, ele não previu a sua hesitação.

Olhou novamente o livro no seu colo. Respirou fundo. Uma, duas, três vezes. Por que hesitava? Não tinha nada a temer. Era somente um livro feito por pedaços de frágeis papeis. Enquanto ele era Draco Malfoy.

Abriu o livro em uma página qualquer, molhou a pena no tinteiro que colocara numa mesinha próxima e, sentindo-se incrivelmente bobo, escreveu – Quem o enviou para mim? E por quê?

Tão logo terminou de escrever, palavras formaram-se sozinhas nas margens brancas do livro. Draco virou-o para poder lê-las.

Mostrar-lhe-ei o seu futuro.

Draco suprimiu uma risada sarcástica, não de forma voluntária. Aconteceu de repente, como todas as coias boas e ruins na vida; num segundo ele estava encarando as letras curvilíneas, num segundo ele foi cegado por uma intensa luz. Sentiu-se perde o apoio físico do chão e flutuar para longe.

Dessa vez, quando a luz extinguiu-se, ele não ficou a ver um denso negrume, onde apenas sons abafados residiam.

Estava dentro de uma casa decrépita, o papel da parede desgastado possuía grandes manchas, como se tivesse sido queimado, parte do teto desabara, formando um amontoado de concreto, tijolo derretido e espatifado e presas de metal retorcido em ângulos que seriam considerados belos por artistas contemporâneos, caso estivessem em exibição num museu, e não esquecidas dentro daquele lugar que cheirava a carvão, mofo e coisa morta.

Como da primeira vez, música preenchia o ambiente, mantendo-o preso numa bolha calorosa. Ao menos, outros pensariam dessa forma. Draco Malfoy achou a música tão horrorosa quanto aquela outra. Queria tampar os ouvidos ou encontrar a sua varinha para explodir o pequeno rádio colocado ao lado da parede, mas não o fez, e isso se deve menos ao fato de ele não ter mãos físicas, e mais à constatação da cena completa diante de si.

You think you've lost your love

When I saw her yesterday

Antes, demorara-se nos detalhes do lugar, por isso perdera a sua entrada. Não literalmente. Draco se viu entrando por um buraco na parede, onde deveria ter existido uma porta dupla; o rapaz, ele próprio, aparentava ter cerca de dezoito anos, olhos cansados, cabelos despenteados, roupas negras, um longo corte na bochecha e o resquício de uma barba por fazer.

Ele carregava alguns gravetos nos braços. Atrás dele, uma Hermione mais velha e bela o acompanhava, carregando um cobertor, que jogara no chão e se acomodara sobre ele. Draco fez uma fogueira e sentou-se ao lado dela, soltando um longo suspiro.

It's you she's thinking of

And she told me what to say

A cabeça dela girou na direção dele, e a dele, à dela. Eles se olharam e se perderam naquele momento.

O Draco real – ou quase – pensou que fosse vomitar.

– Agora, nós finalmente temos tempo, Mione – disse o homem que Draco se recusava a admitir que era o seu eu no futuro. Que tipo de futuro era aquele? – Não precisamos mais nos preocupar com a distância ou com o medo da guerra. Ele está bastante ferido, por causa da batalha em Hogwarts, e levará um ano ou mais para que se recupere completamente.

Ele ergueu uma mão para afagar os cabelos dela, mas ela afastou-se, suspirando infeliz.

– Não é o fim, Draco. Nós não estamos tão seguros quanto estávamos antes. Harry também está muito ferido, estou tão preocupada – escondeu o rosto nas mãos. – Você não sabe o quão é horrível mentir para todos os meus amigos sobre nós. Se eles soubessem que o amo... – soluçou. – Acho que me entregariam aos Comensais. E quem poderia os culpar? Eu os traí, e continuo a fazê-lo.

– Hermione...

Ela ergueu-se, limpando as lágrimas do rosto.

– Você deveria fazer algo bom, Draco. Poderia se aproveitar da fraqueza dele e da batalha pelo poder entre os Comensais para destruir a última horcruxe. Sem ela, ele pode ser vencido!

– Nós já falamos sobre isso – falou ele, sem a mesma maciez de antes. Ele estava sentado com a postura tensa, a boca contraída, os olhos mirando as chamas. – Eu não posso dar um passo em falso que os faça questionar a minha lealdade. Os meus pais estão sendo mantidos prisioneiros, e eles só não estão mortos ainda porque...

– Porque você nos caça e nos abate como se fôssemos animais! – gritou ela, furiosa.

– Você precisa entender...

– Eu não preciso entender nada, Malfoy – disse, num tom afiado.

Ele ergueu-se, os olhos em brasa viva, gélidos e amargos.

– Não me chame por esse nome.

– É o que você, antes de qualquer outra coisa. Eu continuo respondendo aos seus chamados, apesar do perigo, porque eu sou uma idiota que pensa que você mudará. Mas você é um deles, você sempre será um Malfoy! Todo esse tempo, eu mantive a esperança de que você se voltaria contra eles, contra o seu pai, contra a maldade dentro de si, mas você apenas a abraça mais forte.

– Eu preciso fingir que sou leal a ele.

– Você é leal a ele!

– Não fui eu quem matou os seus amigos. Eu nunca matei ninguém.

– Você ajudou os outros a encontrarem-nos e – apontou um dedo trêmulo a ele – torturou-os.

– Eu não tinha outra escolha – murmurou, cabisbaixo. – Se eu me recusasse...

– Pare de fazer desculpas para ser um covarde. – Ela o esmurrou no ombro. – Você poderia ter os salvo, como você me salvou... – a voz diminuiu, até terminar num longo e doloroso soluço. Lágrimas caíram. Esmurrou-o outra vez, mas ele segurou a mão dela, pressionando-a sobre o seu peito.

– As circunstâncias eram diferentes, eu não poderia jamais a assistir sendo torturada sem fazer nada para salvá-la. Eu a amo, mas eu também amo a minha família. Por favor, não me faça escolher um lado.

– Você precisa escolher um lado – disse irritada, mas fechou os seus dedos em volta dos dele. – Nós não podemos continuar a nos encontrar... Nós somos inimigos... Se eu tiver que escolher entre você e Harry, eu escolherei Harry. Sempre.

She said she loves you

And you know that can’t be bad

Yes she loves you

And you know you should be glad

Ele largou a mão dela, como se tivesse recebido um choque, e deu dois passos para trás.

– Eu o amo, Draco. Mas, isso não é o bastante.

– Eu sempre soube... – murmurou, passando os longos dedos pelos cabelos, tornando-os mais bagunçados do que já estavam. – Se as coisas fossem diferentes, se, no passado, eu tivesse me negado a receber a Marca da Morte, se tivéssemos encontrado a última horcruxe antes dele... Eu seria o bastante, Hermione? Se não estivéssemos em guerra, se fôssemos iguais... Eu seria o bastante?

– Você teria me amado, se as coisas tivessem acontecido de uma forma diferente, se aquele-que-não-deve-ser-nomeado nunca tivesse voltado a assombrar o mundo?

Ele encolheu os ombros, olhou para a sola desgastada do sapato e para os olhos castanhos em brasa da mulher.

– Eu não sei, Hermione. O passado me fez ser quem sou; sem ele, provavelmente, eu seria uma pessoa diferente, e eu não sei se essa outra pessoa seria capaz de amá-la.

– Talvez fosse melhor assim... Seria mais fácil para nós dois... Nós precisamos nos afastar, Draco.

– Eu sei, mas eu não quero me afastar de você.

Ele aproximou-se e segurou o rosto dela entre as mãos, mirando no fundo dos seus olhos.

– Eu quero amá-la, Hermione. Deixe-me amá-la.

– Eu não posso interferir nos seus sentimentos, Draco. Eu não posso fazê-lo parar de me amar – disse, como se isso fosse uma questão de lógica. – Mas eu sou dona dos meus próprios sentimentos, e, por isso, eu devo controlá-los, esquecê-los...

– Se você não estiver próxima a mim, de que um bater mais apressado e um arfar abafado me adiantariam? Apenas sentimentos não são o bastante para aquecer o frio que preenche o meu ser toda vez que você se despede de mim, toda vez que acordo sozinho numa cama que deveria ser nossa. Eu preciso de você para suprir esse vácuo dentro de mim que te chama, eu preciso de você para correr os meus dedos nos seus cabelos e na sua pele, para tomar os seus lábios nos meus e para fazê-la suplicar por mim, da mesma forma que suplico por um minuto a mais com você.

– Eu odeio quando você diz essas coisas – sussurrou ela, sem realmente parecer descontente. Ela sorriu e cortou a distância ainda existência entre eles, beijando-o. – Torna mais difícil deixá-lo, porque as suas palavras também são minhas.

– Fique comigo.

– Draco... – Ela respirava o ar que exalava pela boca entreaberta dele, ela respirava ele.

– Só esta noite.

Ela fechou os olhos e voltou a beijá-lo, com mais ferocidade que antes.

– Será a última vez, Draco – disse ela.

E o mundo foi inundado por luz branca.


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Notas finais do capítulo

Qualquer dia desses, o Draco ainda vai me matar de tanta fofura *O*
Espero que tenham gostado ^^ Deixem um comentário compartilhando seus pensamentos e o amor que todos nós temos pelo Draco