Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 17
III - Capítulo 15: Velho o suficiente para entender o que significa ser a Morte


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo, poderão conhecer um pouco mais sobre a nova personagem, a Cylia, e sobre os Zabinis.



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Parte III

{Uma valsa que resultou em uma queda}

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Capítulo 15: Velho o suficiente para entender o que significa ser a Morte

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A mansão dos Zabinis era tão grande e luxuosa, quanto a dos Malfoys. A entrada circular possuía teto alto em forma de abóbodas entrelaçadas, o piso e as paredes eram feitos de mármore branco com estrias róseas, grandes vasos de cerâmica chinesa completavam a pompa do cômodo.

Draco não ficou tão admirado quanto Cylia desejava, algo que, visivelmente, machucou o abastado ego da mulher. Ela levou-o à sala de visitas e indicou-o uma poltrona de couro macio, sentando-se à sua frente, como uma rainha ao seu trono.

– Estou cansado – disse Blaise. – A senhora não se importaria se eu me retirasse para os meus cômodos...

– Pode ir, querido – falou Cylia, sem dignar sequer um rápido olhar para o garoto. Com um movimento de mão preguiçoso, ela o dispensou.

Blaise apenas se virou e partiu. O olhar de Draco acompanhou os seus passos para longe, até que desaparecesse por trás das enormes portas de madeira escura.

– Você gostaria de comer alguma coisa?

– Não, obrigado – disse o loiro, lembrando-se dos ensinamentos da mãe. Desde que tinha idade o suficiente para equilibrar-se sobre os próprios pés, Narcisa o ensinava sobre o poder que a cortesia tinha de iludir as pessoas. Se usada da maneira apropriada, poderia servir como instrumento para manipular e influenciar, objetivando conseguir aquilo que se queria.

Independente da resposta dele, a mulher chamou um de seus elfos e exigiu que lhe trouxesse chá e biscoitos amendoados. Enquanto o elfo se desmaterializava no ar, Draco pensava que a última coisa que gostaria de fazer era forçar comida para dentro de si. Nem o corpo nem a mente havia esquecido completamente a sensação de pavor que experimentara; ainda podia sentir a fumaça negra queimando os seus pulmões e cegando a sua visão. Fora horrível, mas a visão da Marca da Morte fora ainda pior. O que aquilo significava? Haveria o Lorde das Trevas, enfim, retornado?

Engoliu em seco, sentindo-se enjoado e cansado demais para fingir que se interessava pelo que a mulher falava. Apesar disso, obrigou-se a prestar atenção. Era o certo a se fazer, era o que o seu pai faria.

– Este era o meu pai e, ao seu lado, está a minha bela mãe – disse Cylia. postada de frente a um grande quadro no lado esquerdo da sala, apesar de Draco não se lembrar de tê-la visto erguer-se. – Ela era ainda mais bela do que fui quando jovem, dizem. Contudo, não era tão esperta; se fosse, ainda estaria viva, aquela tola – riu-se um riso fino e irritante, repleto de escárnio. Ela andou para o próximo quadro, ao lado esquerdo daquele, e admirou as suas feições pintadas por um artista que, na sua opinião, não soubera representar com exatidão a sua real beleza. – Eu tinha dezessete anos quando meu pai contratou o melhor artista que já existira para a difícil tarefa de copiar meus angélicos traços – suspirou de forma dramática, voltando-se para encarar o loiro.

Ele, no entanto, olhava em volta, de forma curiosa, como quem está convicto de que se esquecera de um detalhe importante, apesar de não ser capaz de lembrar qual seria.

– Eu não vejo o seu irmão – comentou Draco.

O sorriso da mulher se desmanchou.

– Ele não gostava de tirar fotos – disse ela, revirando os olhos, sem disfarçar o tom de desprezo na voz. – Além disso, era impossível que alguém o convencesse a ficar quieto por tempo o suficiente para que algum artista conseguisse capturar os seus traços, fosse através da fotografia ou do desenho.

As sobrancelhas de Draco ergueram-se num arco de dúvida explícita. No entanto, ele não a pressionou por uma resposta mais convincente.

– Eu também não vejo um retrato do Blaise – disse o garoto, sem que tivesse pretensão. Ele estava pensando nisso, e, de repente, o pensamento lhe escapou pela boca, como geralmente acontece.

– Ele é exatamente como o pai – falou Cylia, de forma frívola.

Antes que Draco pudesse dizer algo a mais, batidas na porta reverberaram pelo cômodo.

Draco colocou-se sobre os pés num salto e encarou, ansioso, a porta dupla da sala. Longos segundos de apreensão depois, Lucius Malfoy entrou por elas, caminhando como um rei ante aos seus súditos. As suas vestes de linho negro estavam chamuscadas e sujas, assim como seu longo cabelo loiro, os sapatos estavam manchados de terra, de cinzas e de um feixe escarlate muito semelhante à cor de sangue.

Draco subiu o olhar pelo corpo do pai, tentando encontrar alguma ferida aberta ou arranhões na pele. Não os encontrou, mas viu outros feixes de escarlate manchando suas roupas e a palma da mão direita, circulando seu dedo indicador e pintando a extremidade de uma mecha de seu cabelo. O mais esquisito, no entanto, era a limpeza indistinta da tez, perfeitamente alva e suave.

– Pai, o senhor foi ferido? – perguntou o garoto, visivelmente preocupado.

Lucius esboçou o menor dos sorrisos e sussurrou “Não”.

– O que aconteceu? Por que demorou tanto para me encontrar?

O homem e a mulher trocaram um rápido olhar, como cúmplices de um mesmo crime perverso. Não era de sua natureza prepotente conter-se, por isso Cylia soltou uma alta risada estridente.

– Havia algo que precisava fazer antes de encontrá-lo – disse Lucius, lançando um olhar gélido para a mulher, que imediatamente se calou.

– O quê?

O quê poderia ser mais importante do que a certeza da segurança do filho?

– Espere-me do lado de fora, Draco – falou Lucius, escolhendo ignorar a pergunta do rapaz. – Antes de partimos, preciso falar em particular com Cylia.

– Isso é sobre a Marca da Morte, não é? – argumentou Draco, com o tom de voz alterado. Ele apertou a mão em forma de punho e encarou o pai, sentindo-se ser dominado por um raro surto de coragem. – Ele está vivo, a guerra está se aproximando.

– Draco, espere-me do lado de fora – ordenou Lucius, calmo e frívolo, a sua expressão mantinha uma máscara de indiferença inabalável.

– Você estava lá, com os outros homens encapuzando, gerando caos – disse o garoto, os seus olhos brilhavam, fosse por lágrimas de raiva ou de orgulho. – Por isso mamãe não quis nos acompanhar para assistir à final da Copa do Mundo de Quadribol. Ela sabia que isso aconteceria. Por que você não me contou a verdade?

– Meu filho, você é demasiadamente novo para entender as consequências dos seus atos e a importância de sacrifícios.

– E quando eu serei suficientemente velho para entendê-los? – perguntou Draco, mais alto do que deveria, abrindo os braços como se tentasse abranger o mundo inteiro com eles, expondo-se completamente em frente ao olhar gélido do pai.

– Quando precisar matar pela primeira vez, compreenderá o que significa ser a Morte – respondeu Lucius, com um estranho tom de melancolia na voz. – Agora, saía daqui, menino. Eu tenho assuntos importantes para tratar com Cylia.

Draco o obedeceu, como sempre o fazia. Dessa vez, não o fez porque queria agradá-lo, mas porque ele fora atingindo com força pelas palavras do pai. A sua mente estava girando, girando, sentia-se tonto, desconfortável na sua própria pele.

Fechou as portas atrás de si e andou com passos instáveis para fora da mansão. O vento frio da noite bateu em seu rosto e tentou arrancar seus cabelos, ele não era delicado, ele era uma força destruidora. Os galhos das árvores eram retorcidos, balançando-se, para um lado, e a grama frágil era arrancada da relva. Ao menos, era desse jeito que o garoto via as coisas moverem-se ao seu redor – de forma retorcida pelo seu estado de espírito.

As palavras do pai era o grito do vento – Quando precisar matar pela primeira vez, compreenderá o que significa ser a Morte.

Lucius considerava que ele era fraco demais para confiar-lhe os planos dos Comensais, achava que era jovem demais para erguer uma varinha e desafiar um oponente, que não possuía a habilidade necessária para defender-se e impor-se. Gozava-se ao rir-se dele! Via-o como um menino patético que bamboleava sobre as suas pernas, ainda a aprender os primeiros passos.

Não era isso o que era, queria gritar a resposta para o vento. Ele era forte e astuto e passível de crueldade ao nível daquela praticada por aquele-que-não-deve-ser-nomeado. E ele provaria isso ao pai.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado pra caralho, porque eu amei escrever esse capítulo *.*
É um dos meus preferidos, além de ser um dos mais importantes da fanfic. Então, quando quiserem fazer alguma teoria, usem como base esse capítulo. Muita atenção aos detalhes!
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Deixem um comentário dizendo o que estão achando, o que precisa ser melhorado e tal. Beijão!