Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 11
II - Capítulo 9: Algo está muito errado com Hermione


Notas iniciais do capítulo

Introdução de uma nova personagem importantíssima! Fiquem de olho nela!



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Parte Dois

{Os olhos azuis sobre os castanhos}

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Capítulo 9: Algo está muito errado com Hermione

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Não tinha a menor ideia de como aconteceu – num momento estava dentro das lembranças de alguém, no segundo seguinte, estava de volta ao seu corpo, estirando os dedos sobre a mesa, piscando rápido, sentindo o rosto febril e o coração batendo no compassado da música que não mais existia.

A primeira coisa que notou ao recuperar a postura foi que o livro não estava mais onde o deixara, à sua frente, a milímetros de sua mão. Olhou em volta e na extremidade esquerda da mesa, debaixo de uma palma alva com unhas perfeitamente cortadas em forma de meia-lua. Olhou para cima e encontrou olhos azuis elétricos, irados.

Ele era a última pessoa que ela queria encontrar. Pensou seriamente em pegar a sua varinha e abrir uma cova no piso da Biblioteca, melhor, um precipício, para onde se jogaria e desapareceria. Melhor ainda, jogá-lo-ia e fecharia o buraco.

Estava com tanta vergonha, que foi necessário somente que Draco entreabrisse os lábios para que ela pulasse e corresse para fora da Biblioteca, esquecendo-se de que os seus pertences não poderiam segui-la sem o feitiço certo.

Draco bufou e fechou as mãos, despejando um golpe sobre a mesa. Este, porém, causou mais estrago na sua mão do que no objeto. Ele fez um chiado de dor e segurou os dedos machucados entre os saudáveis, tentando mantê-los inertes para não alavancar outra corrente de dor pelo seu braço.

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Hermione não prestava atenção para onde ia, apesar de estar claro qual caminho não faria – aquele de volta à Biblioteca, obviamente.

Em algum dos corredores de Hogwarts que possuíam espaçadas armaduras de guerreiros e estandartes das Casas despencando do teto e repousando nas paredes, Hermione esbarrou numa garota que não lhe era familiar. Ela tinha curtos cabelos castanhos, pele clara e olhos escuros, e trajava as cores da Grifinória.

Felizmente, a garota conseguiu o grandioso feito de recuperar o equilíbrio e de evitar a queda de Hermione, de uma só vez!

– Você está bem? – perguntou a garota. – Você não me parece bem – murmurou ela, depois que Hermione fez que sim com a cabeça.

– Não se preocupe comigo.

– Sente-se aqui. – A garota puxou-a pelo braço e indicou um banco. – Eu pegarei alguma comida bastante calórica para você, isso a fará se sentir melhor, prometo! Bem, sempre funciona comigo, quando estou agitada e nervosa.

– Obrigada, mas não é necessário. – Hermione tentou se levantar. A garota voltou a arrastá-la para o banco.

– Você parece estar atordoada, descanse e coma um pouco para recuperar as energias e a razão.

Percebendo que ela não aceitaria um “não” como resposta, Hermione concordou e disse que a esperaria.

Levaram pouco menos de onze minutos desde o momento que a garota desaparecera pela curva do corredor e voltara a aparecer por ela, dessa vez, trazendo um prato com bolo de chocolate e dois copos de suco de abóbora.

– Obrigada – disse Hermione, dando uma garfada grande no bolo. Só agora havia percebido que estava com fome. – Desculpe-me, mas não sei o seu nome.

– Eleanor Rigby. E você deve ser a brilhante Hermione, certo? Todos falam que você é a bruxa mais inteligente da sua idade.

– Eu não estou mais certa de que sou...

– Como assim?

– Eu também não estou certa sobre isso... – Mastigou o bolo devagar, dando-se tempo para evitar o máximo que pudesse responder qualquer questão que estivesse, mesmo que indiretamente, relacionada ao que acontecera minutos no passado. Não era a lembrança de outra pessoa que vira, era muito pior que isto!

– Esta conversa não está fazendo o menor sentindo – riu-se a garota.

– E você acha que eu não sei – suspirou.

– Eu quase me esqueci! Ainda não me apresentei propriamente. Não há muito que saber sobre mim, minha vida é absolutamente tedioso, muito diferente da sua, da qual escutei histórias fantásticas. Depois, quero que as conte a mim, por favor, com todos os detalhes embaraçosos que poupou aos seus outros amigos e curiosos. Preciso admitir que sou uma fã sua e do Harry, vocês sempre parecem estar se divertindo e tendo grandes aventuras, bem mais do que as outras pessoas, ao menos.

A garota continuou a falar como uma metralhadora, sem respirar, sem piscar, as palavras jorrando como bala. Hermione escutou com dificuldade o seu monólogo, mas não fez menção de participar da tentativa de conversa. Estava aborrecida e confusa e assustada. E lembrou-se, tarde demais, de que deixara seus materiais na Biblioteca. Com um suspiro, ergueu-se, agradeceu mais uma vez a Eleanor e despediu-se, deixando um prato com migalhas e um copo vazio sobre o banco. Eleanor acenou, equilibrando o seu copo na mão esquerda.

– Espero que possamos ser amigas um dia, Hermione Granger.

Hermione pensaria o mesmo, se fosse capaz de formular um pensamento claro que não estivesse, de alguma forma, envolvido no que ouvira e no que imaginara sobre o quarto escuro e os seus longos gemidos – para a sua defesa, não era realmente seus, mas de outra Hermione, que estava, provavelmente, sendo controlada por algum feitiço ou que estava louca.

Muito lentamente, caminhou de volta à Biblioteca. A sua respiração tornava-se mais audível e descompassada a cada passo trêmulo que dava. Disse para si mesma que não havia motivo para estar reagindo daquela forma, que ela precisava estar firme para enfrentar o Malfoy.

Quando adentrou a Biblioteca, seu semblante estava estável novamente, os olhos transparecendo a paz que não sentia. A verdade era que ela queria correr na direção contrária e se esconder atrás dos seus amigos, chorando compulsivamente, prometendo que não foi culpa dela, que ela nunca faria aquilo consigo mesma nem com eles. Ela jamais se entregaria ao inimigo daquela forma.

Caminhou em direção à mesa em que deixara seus pertences, na ala mais distante e solitária da Biblioteca, próxima à sessão de livros proibidos. A cena que viu foi exatamente a mesma que vira antes de fugir como um rato assustado. Apesar do orgulho ferido e da vergonha, continuou o seu caminho, tomando cuidado para que as suas emoções não assumissem controle do seu corpo.

Draco ergueu os olhos do livro ao escutar passos e xingou-se mentalmente ao ver a figura inexpressiva, mas demasiadamente real, de Hermione. Eles se encararam por um segundo que parecera durar para sempre, antes desviarem os olhos ao mesmo tempo. Sem a intenção de manifestar uma palavra, ela recolheu os seus pertences e os jogou na sua mochila.

– O que foi isso, Granger? – perguntou ele, o tom de sua voz estava alterado.

Ela fingiu que não o escutou. E ele repetiu a pergunta mais alto.

Hermione puxou o livro debaixo da mão dele, mas ele o segurou. Ela puxou novamente, com mais força, mas ele não o largou.

O livro não tinha nada de especial: a capa era revestida de veludo esverdeado, as páginas eram brancas, o que indicava que era novo, e o nome do volume estava escrito em letras douradas – The Stories are True¹. Contudo, era impossível negar que havia magia nas suas páginas.

– Solte, Malfoy, isto não pertence a você! – disse Hermione. O receio cedera lugar à raiva.

– Nem a você, Granger! O livro é propriedade da escola! Você o esqueceu aqui e, agora, ele está em minha pose!

– Nunca escutei um argumento mais sensato do que este – falou ela, soltando uma risada frívola, que poderia tê-lo cerrado ao meio se ele não fosse um Malfoy. – Você não faz a menor ideia do que isto é capaz!

– Então, explique-me, ô gloriosa Granger!

Ele sorriu de lado, o que apenas a deixou mais furiosa.

– O que foi aquilo que vi, Granger? E como você conseguiu este livro? É uma espécie de feitiço que você e seus detestáveis amigos colocaram para brincar comigo?

– Eu e os meus amigos temos coisas melhores para fazer do que ocupar o nosso tempo se importando com a sua existência!

Draco soltou o aperto do livro. Hermione perdeu a estabilidade e caiu sentada no chão, sentindo-se humilhada e irada.

– Seu bastardo! – Retirou a varinha do bolso da saia e a apontou para o nariz dele. Draco a olhava com um misto de diversão e de desprezo, o que não ajudava a atenuar o clima tenso da situação.

Pela segunda vez em menos de uma hora, eles se encararam. Dessa vez, no entanto, existia somente desafio nos olhos de Draco e raiva descontrolada nos de Hermione. Ela queria colocá-lo nos seus pés e fazê-lo implorar perdão, fazê-lo prometer que jamais tocaria nela de uma forma que a faria sussurrar o seu nome. Este pensamento a desorientou, fê-la dar um passo incerto para trás e abaixar a varinha, escondendo os olhos marejados na mão.

A fragilidade dela fez o sorriso presunçoso dele murchar. Draco esperava que ela o azarasse, não que começasse a chorar. Como era de praxe, ele não deixaria aquilo passar sem um comentário maldoso.

Antes que pudesse falar, Hermione se recuperou e avançou na direção dele, com a varinha mirando o seu olho direito.

– Se você me tocar de qualquer forma, eu juro que arranco cada um dos seus dedos e o faço comê-los!

Ela colocou a alça da mochila sobre o ombro e afastou-se dele, tentando manter um pouco do seu orgulho intacto.

Draco piscou, alarmado. A certinha e sem graça Hermione Granger o ameaçou? Sorriu de lado. Esse era um lado dela que ainda não conhecia, provavelmente nem os seus tediosos amigos sabiam que ele existia.

Resistiu ao impulso de segui-la e atiçá-la para ver o quanto ela suportaria antes de sujar as mãos. Contudo, o bom senso o impediu, porque, nas profundezas do seu âmago, ele temia que ela realmente fosse capaz de fazer o que prometera.


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Notas finais do capítulo

¹The Stories are True : O nome do livro é uma homenagem à minha série de fantasia preferida (que não é HP, me queimem por heresia kkkk), The Imortal Intruments. Em City of Bones, o Jace passa o livro inteiro lembrando a Clary que "Todas as histórias são reais".
Eu não consegui evitar e não sinto culpa! õ/
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Espero que tenham se divertido tanto lendo este capítulo quanto me diverti escrevendo-o.
Deixem um comentário dizendo o que estão achando, mandem suas teorias sobre o que está acontecendo e quem está por trás disso (se é que alguém já tem uma teoria O.o).
Bjão!