Parte Dois

{Os olhos azuis sobre os castanhos}

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Capítulo 8: "Amor? Há! Ridículo!"

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Draco, antes matéria sólida, era, agora, substância etérea, fluxo de consciência vagando através de uma densa escuridão, em companhia às notas de uma canção que preenchia completamente o ambiente, como se elas próprias fossem as causadoras do breu. Ou, talvez, a consciência de Draco fosse, de fato, negra. Ele gostava de pensar que este era o caso.

I sat on a rug,

Biding my time,

Drinking her wine.

A música irritava os ouvidos refinados dele, acostumados ao melhor dos clássicos dos bruxos, não a uma sinfonia formada por instrumentos rústicos e, obviamente, de trouxas. Aquilo lhe desagradava profundamente. Se tivesse mãos, braços, ou mesmo ouvidos, faria questão de explodir o mecanismo pelo qual a música se esvaia para o ar.

O som do pandeiro sendo tocado suavemente lhe parecia agulhas de ferro sendo chutadas no chão, causando irritação à sua mente, na falta dos ouvidos físicos para ferir. O conjunto de acordes, para ele, era um ruído rude, selvagem. Era óbvio que aquela era o tipo de música que os trouxas gostavam.

We talked until two,

And then she said,

It's time for bed.

Outros barulhos chamaram-lhe a atenção – debaixo daquela música importuna, existia a leveza de um lençol derrapando ao chão, a pressão sobre um colchão e o arrastar e o apertar e o se fundir de corpos. Houve um gemido longo, acompanhado por um segundo, dois suspiros pareados, uma risada baixa de mulher e o som repetido de lábios roubando beijos curtos e apressados. Outro gemido agudo. Um beijo profundo. Duas respirações irregulares.

– Draco – alguém o chamou. Mas, o ruído não era completamente um nome, eram palavras transmutando-se em um gemido de prazer. O mesmo som repetiu diversas vezes, como numa preze – Draco. Draco. Draco. – Apesar da insistência, a palavra não conseguia se completar, pois sempre virava ar expelido da boca de uma mulher.

E ela arfou. O colchão afundou e as pernas da cama rangeram.

She told me she worked in the morning and started to laugh,

– Você canta o meu nome – uma segunda voz tão baixa e instável quanto a primeira falou –, e eu canto ao seu corpo com os meus lábios e com as minhas mãos, que não são tão delicadas e sublimes quanto a sua voz, mas que a adoram e que a veneram, pois, para isto, foram feitos, da mesma forma que teus olhos foram feitos para me encantar, cigana, e que os teus beijos foram feitos para me dominar, rainha.

– Eu te amo – disse a mulher.

– É tarde demais para mim também. Eu já amo, Hermione.

Levou um minuto mais longo que o necessário para que Draco reconhecesse, com surpresa e com descrença, que a última voz a se calar era a sua.

I told her I didn't and crawled off to sleep in the bath.

Isso não é possível, repetiu a si mesmo. Com toda a certeza, ele não escutara direito, porque não tinha orelhas! Não, ele não havia dito que... Não podia nem pensar nisso, muito menos no contexto da frase!

Ele sentiu ânsia de vômito, apesar de não ter estômago físico. Se pudesse, vomitaria compulsivamente. Como não podia, restava-o imaginar-se vomitando em cima dos cabelos de palha de vassoura surrada da sangue-ruim. Afinal, o que ele realmente sentia por ela era uma mistura homogênea de ódio, de nojo e de escárnio, não aquela detestável palavra que somente os fracos e os tolos usavam.

Amor! Há! Ridículo!

Draco Malfoy amando? Impossível, impensável!

A Granger?

Era tudo uma piada sacana de muito, muito mal gosto.

Seria isto que a Granger estava vendo, também? Era por isso que ela quase não piscava? Era esse algum feitiço que ela havia colocado nele? Ou seriam ambos alvos dessa inescrupulosa brincadeira?

Não tinha respostas. Mas as encontraria, assim como faria ao babaca que havia feito isso com ele. E o mataria com a pior das maldições.