Hope for Us escrita por Lady Anne


Capítulo 4
Capítulo 4: Hope


Notas iniciais do capítulo

Hallo! - Olá em Alemão porque foram os nossos lindíssimos e simpáticos ALEMÃES que ganharam esta Copa! Muito amor eles *-*
Cap que esclarece história de Hope! Boa Leitura!



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Eu estava na minha cela, tirando as coisas da mochila para aguardar na pequena cômoda no canto da parede, sem duvida era muito estranho “desfazer as malas”.

Não tinham muitas coisas além das roupas, havia a minha câmera, um bolo de fotografias, canetas, um mapa, a HQ do Batman, uma escova de dente e uma de cabelo e outros pequenos artigos de higiene que consegui em lojas de conveniência.

Peguei as fotos e espalhei na cômoda, de modo que eu pudesse olhar todas. Havia fotos minhas com papai, com meu pequeno Noah e algumas com a mamãe, bem mais antigas. Também tinham as ultimas, com pessoas dos outros grupos, errantes em situações cômicas e insetos coloridos. Mas minha favorita com certeza era a da praia com meu pai, tia Estela tinha batido a foto.

"Hope and Daddy, 2012 ♥"

De todas as pessoas ele era a minha favorita, e não a um só dia em que eu não sinta saudades, apesar de não chorar mais, preciso ser forte se escolhi viver neste mundo.

– Fotos de família? – levei um susto e quase deixei a foto cair. Daryl estava na porta, me observando.

– Ah, sim, só algumas. – respondi rápido, devolvendo a foto pra cômoda.

– Posso? – ele pediu licença para entrar e eu assenti.

Daryl olhou as fotos atentamente, até sorriu um pouco quando parou os olhos numa foto do dia das bruxas em que eu estava de fada.

– Vocês mulheres e seu apego a fotos. – ele balançou a cabeça e pegou a foto de Noah – Seu irmão?

– Sim, Noah, ele tinha apenas seis meses ai. – sorri lembrando.

Ele soltou a foto e olhou as outras, se demorando em algumas e rindo das mais divertidas.

Daryl era um cara no estilo caipira durão, de quem você fugiria se topassem na floresta (ou em qualquer lugar do mundo), mas é só a primeira impressão porque pelo que eu sei ele é um cara legal. Só... Carrancudo.

– Foram as que eu consegui pegar... – suspirei me lembrando do dia em que eu deixei minha casa.

– Como foi pra você? Quando essa merda começou. – ele perguntou enquanto juntava as fotos para ler as legendas atrás.

Estranhei a pergunta, vindo logo dele, mas sentei-me na cama e me preparei pra resumir, porque apesar de estar com outras pessoas eu nunca contei minha história até ali.

– Eu morava com o meu pai, sabe, pais divorciados, Noah é irmão por parte de mãe – ele assentiu – O governo decretou situação de emergência nacional tarde demais, porque você sabe como eles são, “esta tudo sob controle” é o que sabem dizer, como se isso fosse encobrir qualquer coisa que pudesse nos acontecer. Então nós não tínhamos ideia do que estava por vir, e ai eles começaram a surgir, pessoas foram mordidas porque não sabiam como se defender dessas coisas, e eles não tiveram outra escolha a não ser alertar o que estava havendo e passar medidas de segurança. – ele riu sem humor e balançou a cabeça.

– Os malditos achavam que o Exercito salvaria todos nós. Iludidos.

– Meu pai não era um deles, ele não queria ficar parado esperando que eles chegassem até nós, então fizemos as malas, pegamos o carro e fomos pra fazenda do meu tio, que é tipo num cruzamento do nada com coisa nenhuma, então nós pensamos que eles não chegariam até ali, que estaríamos salvos. E até estávamos por um tempo, então uma droga de aeroplano caiu no celeiro e incendiou, só precisou de alguns dias pra que um bando deles chegasse e quebrasse as cercas.

Daryl escutava atentamente, agora estava sentado no chão de costas para parede. Eu estava contando tudo aquilo, mas achei estranho que ele se interessasse.

– Também aconteceu com nosso grupo antigo. – ele disse, eu fiquei surpresa – A fazenda era do Hershel, os errantes apareceram do nada, muitos deles. – balancei a cabeça assentindo.

– A gente pode lidar com um punhado deles, mas um bando vindo da cidade... – suspirei – Bom, foi ai que perdemos muitas pessoas, inclusive meu pai, então o que restou de nós saiu e fomos para o mais longe possível. Mas as pessoas estavam tão... Fracas. – olhei pra ele na esperança de que entendesse.

– Queriam desistir? – ele compreendeu.

– Sim, pessoas muito religiosas, entende? Não estavam preparadas para alguma coisa assim interferindo a vida calma e monótona delas. – ele balançou a cabeça - Disseram-me que a esperança havia acabado, e que todos nós morreríamos. Bem, eu não dei a mínima.

Ele me dirigiu um sorriso fraco, esse parecia o tipo de frase que ele diria.

– E então?

– Eu dei uma dura neles, eu tinha 13 anos e estava um lixo, nem sei como deu certo – Daryl riu, o que me fez rir também – Foi toda aquela baboseira motivadora de sempre, e nós acabamos seguindo aos trancos. Não sei dizer quanto tempo durou, mas aconteceram muitas coisas, pessoas morreram, se suicidaram, até que sobraram três contando comigo. Aí por um milagre encontramos outro grupo, pessoas boas que nos ajudaram. Eu estava com elas há um tempo atrás, mas nós tivemos que nos arriscar e acabou que a gente se separou enquanto fugia. Eu fiquei sozinha por ai, quase enlouqueci. Então eu encontrei Carl e Rick, graças a Deus, e aqui estou eu.

Ele assentiu e permanecemos em silencio por alguns segundos, olhando para o chão.

– Eu achei mesmo que você era durona. – olhei surpresa pra ele, mas não pude evitar sorrir. – Uma garotinha indefesa não contaria essas coisas sem fazer pausas para choramingar. Sinto muito pelo seu pai.

– Tudo bem, ele me ensinou a ser durona. – ele levantou do chão e se espreguiçou – E você, tem uma historia?

– Eu até tenho, mas não vale a pena contar. – ele foi pra porta e se virou – Seu pai fez um bom trabalho.

Assenti sorrindo, ele fez um aceno de cabeça sem graça, sem saber mais o que dizer e se virou, mas antes eu o chamei de volta.

– Que foi? – peguei a câmera dentro da bolsa.

– Continue de costas – bati a foto a esperei que ela saísse.

– Hãm, por quê? – perguntou confuso.

– Porque seu colete é maneiro, e eu fotografo tudo o que eu gosto. – sorri e mostrei a foto pra ele.

– Todo mundo ama o meu colete, garota – ele balançou a cabeça achando graça.

– Boa noite, Daryl – deixei que ele fosse embora finalmente.

Peguei a caneta preta e legendei a foto para coloca-la com as outras. Quando voltei à cômoda parei os olhos em uma foto em especial, que me fez lembrar o que Daryl não havia perguntado (o que foi bom). Ele não havia perguntado sobre mamãe. Senti que, no dia, foi mais difícil saber que estava deixando ela, e não a casa.

FlashBack

2013

Eu estava colocando algumas roupas e coisas úteis dentro da pequena mala na minha cama, nós iríamos embora assim que estivesse tudo pronto. Tirei as fotos dos porta-retratos sem papai ver e as joguei lá também junto com as que eu já guardava, e enfiei a câmera fotográfica na mochila.

Podia ouvir meu pai no andar de baixo, mexendo nos armários, colocando latas no balcão, andando de um lado pro outro agilmente.

A ultima coisa que peguei foi minha edição favorita do Homem-Aranha, então fechei a mochila e a mala.

Respirei fundo e olhei ao meu redor, me perguntando se aquela seria a ultima vez que eu veria meu quarto. Minhas paredes azuis que agora tinham molduras de fotos vazias, meus livros, meu computador, minhas janelas. Minha casa.

Balancei a cabeça afastando esses pensamentos, de nada me seriam úteis, só tornaria tudo mais difícil. Afinal, eu tinha visto aquelas coisas na TV, eu sabia que se eles chegassem aqui estaríamos mortos, era melhor sair enquanto podíamos.

– Ei, garotinha – meu pai estava parado na porta, me observando – Tudo bem?

– Tudo. – sorri fracamente. Não estava tudo bem, mas isso não importava – To pronta.

Ele entrou no quarto e se sentou na cama, de frente pra mim com uma expressão séria.

– Querida... – ele começou com aquele tom de voz que eu conhecia, com aquele “querida” – Eu sinto muito que tenhamos que sair assim.

– Eu sei, pai. – eu não deixaria que ele se preocupasse comigo agora.

– Você entende porque estamos fazendo isso, certo?

– Entendo.

– Você entende que não vamos mais voltar pra esta casa, por um bom tempo, não é? – as palavras que eu temia, mas que pareceram doer mais ainda para ele.

Hesitei e fechei os olhos com força, aceitando a ideia.

– Sim, eu entendo.

– Eu sinto muito, Hope. – ele beijou minhas mãos como fazia quando eu estava triste – Eu te amo, vai ficar tudo bem, vamos ser felizes em outro lugar.

– Vamos sim, também amo você. – sorri da melhor forma que pude, tenho certeza que ele não se convenceu.

– Pode levar suas coisas lá pra baixo? Eu estou levando o resto para o carro. – eu assenti, ele se levantou e saiu.

Dei uma ultima olhada em tudo e peguei minha mala, carregando-a pra fora e trancando a porta, me conformando.

Quando desci as escadas papai já estava levando a mala dele, aproveitei pra me despedir da casa, e também da vida ali. Sentiria falta da lareira, do beisebol aos sábados, do garoto que morava na casa da frente, da cozinha de armários coloridos, dos almoços de domingo, das flores e do balanço no quintal dos fundos, até da escola. Sentiria falta de tudo, absolutamente tudo.

Quando papai entrou de novo e pegou minha mala, puxei-o pra fazer a pergunta que não havia saído da minha cabeça desde que ele dissera “arrume suas coisas, temos que sair”.

– E a mamãe? E o Noah? – ele olhou pra mim e ficou pálido, sem reação. Pareceu perdido por alguns segundo, então se agachou na minha frente e segurou minhas mãos de novo, daquela forma.

– Hope, eu amo a sua mãe, e eu amo o Noah, você sabe disso – balancei a cabeça – Mas eu amo você mais que qualquer coisa e qualquer um, você é a razão pela qual eu vivo, e eu tenho que te proteger, e o único jeito de fazer isso é saindo daqui.

Eu não sabia o que responder, meus olhos se encheram de lagrimas, mas eu as segurei.

– Sua mãe mora muito longe pra que eu possa busca-la, eu não sei o que aconteceria até lá. Eu penso que ela e o Harry – marido atual da minha mãe – vão dar um jeito também, porque eles precisam proteger o Noah como eu devo te proteger.

Não pude mais segurar o choro sabendo que a deixaria também.

– Ela te ama com todo o coração também, e ela também iria querer que você estivesse segura. – sequei as lagrimas com a manga da blusa, tentando parecer forte por ele. – Eu amo você, Hope. Você é pelo o que eu vivo, porque eu respiro e porque eu me alegro. Deixe-me protegê-la.

Eu o abracei e deixei que mais algumas lagrimas corressem. Eu sabia por que estávamos fazendo aquilo, sabia que era necessário, entendia a gravidade da situação, mas nunca iria me perdoar. E sabia que nem ele iria.

– Eu te amo também.

– Seja forte, garotinha. – ele beijou minha testa e ficou de pé.

Pegamos minhas malas e saímos de casa. Tranquei a porta enquanto papai guardava minha bolsa.

Entramos no carro.

Olhei a casa pela janela uma ultima vez e senti um aperto no coração.

Não olhe para trás, Hope.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, espero seus lindos reviews



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