Hope for Us escrita por Lady Anne


Capítulo 17
Capítulo 16: Me Acorde Quando Setembro Acabar


Notas iniciais do capítulo

E AI GENTE!
Começando com algumas coisas sobre esse capítulo, pra mim não esquecer:
O Cémitério de Whinkenhofer Chapel realmente existe, e fica em Atlanta.
A casa 223 da Gordon Street em Charleston SC realmente existe, olhem no Google Maps se quiserem (finjam que tem uma caixa de correio lá, okay? É dificil achar caixas de correio hoje em dia...)
Charleston realmente fica a 298 milhas, 4h30min de Atlanta.
Vão ouvir Wake Me Up When September Ends porque é foda.
Agradecer por toda a ajuda com essa capítulo para o branquelo do Caio, a ridícula da Lari e a pervertida da Tia Stephanie.
Alias, recomendo a fanfic dela, Shades Of Blood, é uma DELICIA de fanfic, vão lá comentar U.U:
http://fanfiction.com.br/historia/551125/Shades_of_Blood/
Também recomendo a da minha dyva Sarah Chase, Demons, ta no comecinho ainda e conquista fácil, vão lá dar aquela lida marota e comentar porque ela merece U.U:
http://fanfiction.com.br/historia/558647/Demons/
Admito que era para ser um capítulo choroso, mas não consegui escrever nada choroso, na minha cabeça Caroline é o tipo que leva o sarcasmo até o final.
Obrigada a todas vocês pelos lindos comentários do capítulo anterior, suas gatas!
Quem viu o episodio três de TWD genty? FRENÉTICO!
Capítulo quase que "especial" aí, fecha Caroline Brown... Por enquanto.
É isso gente, boa leitura, obrigada por tudo, cada favorito, recomendação, reviews, acompanhamentos, bem vindas de novo leitoras novas, um beijo no coração dos fantasmas ♥
Espero que gostem, vejo vocês nos reviews!
Beijos, tudo de melhor e Chandler sempre!
Anne.



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Depois de o que pareceram semanas de céu azul e sol forte, finalmente estava chovendo. O dia amanhecera nublado, pálido, melancólico e sem duvida nostálgico para muitas pessoas, então logo ficamos todos dentro dos blocos – menos Rick, que insistia em estar em movimento com chuva ou com sol – e a chuva começou a cair violentamente antes que encontrássemos com o que nos ocupar. Era de se esperar que chovesse tanto, o calor estava só aumentando.

Sem obrigações ou coisas interessantes para nos manter entretidos, eu me juntei a Carl na sua cela e comecei a reler algumas paginas do diário de Caroline em voz alta, e ele adormeceu tranquilamente com a cabeça apoiada no meu colo como um garotinho, antes mesmo que eu chegasse às ultimas paginas.

Foi então que descobri um ponto fraco de Carl Grimes, se quer que ele durma tudo o que precisa fazer é mexer no cabelo dele por cinco minutos, garantia de sucesso. Deixei o livro de lado e comecei a admirá-lo dormindo – e babando – constatando que não importa quantos curativos e arranhões ele ganhe, sempre vai ser tão bonito como sempre. Os ferimentos já cicatrizavam com a ajuda da pomada que Hershel passou e logo iriam desaparecer, claro que haveria algumas marcas dos cortes mais profundos como o que ele ganhará perto da orelha direta.

Seu cabelo quase encostava nos ombros e por pouco não cobria seus olhos, mas não conseguia imaginá-lo de outra forma, seria como tentar imaginar Rick sem barba.

Não sei o que garotas normais costumam fazer depois de beijar seu melhor amigo ou o que melhores amigos costumam fazer depois de beijar garotas normais – duas vezes – mas eu e Carl definitivamente não somos normais, e mesmo beijando-o e sentindo borboletas dançando no meu estomago até quando ele pega minha mão não consigo não ser simplesmente eu com ele, porque é meu melhor amigo e nós não mudamos um com o outro por causa de um beijo.

Alguma coisa muda em algum lugar de mim, isso faz as borboletas brotarem quando ele esta por perto, irem embora depois e voltarem quando ele se aproxima. Mas não afeta o que temos agora, um laço. Um laço apocalíptico.

Ele se mexeu me fazendo despertar dos devaneios, então percebi que o tempo estava realmente me afetando, porque eu estava encarando uma parede enquanto ouvia a chuva lá fora e mexia no cabelo de Carl num movimento automático.

Puxei a manta para cobri-lo direito e peguei o diário de volta para continuar lendo-o antes que eu ficasse nostálgica, Carl ainda estava dormindo profundamente, então pulei para as ultimas paginas e comecei a ler em voz baixa.

Caroline fez o papel de jornalista depois que a epidemia, que ela havia apelidado de CAPA, “cannibal pandemic” (pandemia canibal) começou, assim relatando tudo o que descobria sobre ela na internet, na TV e nos jornais com admirável empenho mesmo que ninguém além dela fosse ler (pelo menos era o que ela achava), e até colava matérias com as primeiras fotos de infectados, e eu me lembrava de cada uma delas dos jornais nos primeiros dias de infecção.

Ninguém sabe onde começou, ou como, mas conseguiu evoluir mais rápido do que qualquer um poderia imaginar sendo uma epidemia que exigia contato para se espalhar.

Descrito por ela como “a pior pandemia desde a gripe espanhola, em 1918”, e de fato era pior que isso e pior que qualquer outra coisa que poderia ter acontecido à humanidade, ela dizimou nações e os fez reviver como monstros. Mas como no caso da gripe, ninguém descobriu o que causou isso tudo, pelo menos não antes.

Ela havia escrito muito mais paginas por dia do que de costume quando o diário estava chegando ao final, e por um momento quando estava no meio tive receio de que ela tivesse continuado em outro caderno e por vasculhar pouco eu tivesse o deixado na casa.

Mas as paginas começaram a aumentar não porque havia muito a escrever, mas porque Caroline não tinha mais nada em mente a não ser escrever depois que CAPA se espalhou mais violentamente pelo país, então seus pais resolveram tira-la da escola antes que a mesma fosse fechada alguns dias depois.

Deste dia até o ultimo ela se mostrou assustada pelas proporções que tudo estava tomando, mas ainda curiosa e forte para com seus pais que estavam com medo principalmente por ela, e o governo ainda não tinha idéia do que era aquilo. Ou tinha, e ninguém sabia.

Eu, como Caroline, não manjava muito de biologia, mas sabia que um infectado morto era só um cadáver que sabia andar, gemer e mastigar, mas que não sentia medo ou raiva, alegria ou surpresa, nem mesmo fome, era só como se soubessem o que fazer, estivessem programados para isso. E depois de definitivamente morto, era um cadáver normal e sem nenhuma utilidade para ciência, porque seja lá o que os move esta no cérebro e depois de um tiro isso para de funcionar.

Enfim, Caroline relatou seu dia-a-dia e o quanto sentia tédio quase o tempo todo, não via ninguém, nem mesmo Jake, então escrevia muito sobre ele também e havia até uma foto dos dois juntos em uma das paginas. Rezei para que onde quer que Jake estivesse, não estivesse sofrendo, mesmo que tenha sido um banana.

Caroline mantinha seus sarcasmos e certo bom humor mesmo com tudo o que estava acontecendo, ela tinha um tipo de luz interior que não se abalava mesmo que a luz do mundo estivesse esmorecendo. Isso a torna encantadora.

E as coisas foram piorando até os últimos três dias, a esperança de controlar a pandemia nos EUA estava se esvaindo, os outros países também infectados mandavam recursos, mas também não sabiam como intervir para controlar a situação. Penso que os lideres se juntaram para discutir, mas não chegaram a uma conclusão satisfatória.

A primeira vez que estava chegando ao final do diário não pude evitar algumas lagrimas depois de descobrir que só faltavam dois dias porque não resisti e folhei as paginas que faltavam, e o que poderia acontecer em dois dias? Se tratando do apocalipse, muita coisa.

06/09/2012 – Terça-feira

Querido diário,

É estranho como o mundo esta ruindo, mas tudo continua como sempre foi, como se a natureza cruzasse os braços e dissesse “eu não estou nem aí”. O céu continua bonito, as flores florescendo, a grama crescendo, os insetos fazendo o que fazem sempre e a Caroline escrevendo. Mas só a natureza esta em paz, porque não há ninguém que se volte para ela nas ultimas semanas.

Noite passada escutei mamãe falando ao telefone com meu avô, aflita enquanto via o noticiário e tentava falar baixo. Não pude ouvir muito da escada, mas consegui pegar a parte sobre “temos que sair daqui”.

Sair para onde? Sair da cidade, do estado, do país? Todas as hipóteses passaram pela minha cabeça e antes de dormir decidi que perguntaria a ela, mas não a vi saindo para o trabalho de manha, o que me preocupou. Quando sairíamos? Hoje, amanha?

E a família, os amigos? Jake? O Cemitério Winkenhofer Chapel, onde papai está enterrado?

Mas como se eu tivesse pressentido algo ruim, um hospital não muito longe daqui foi “atacado”, alguém que já estava doente morreu e atacou médicos e enfermeiros, o que rapidamente foi reportando nos jornais e na internet, alertando e apavorando a população, incluindo minha mãe.

De: Mamãe

06/09/2012 – 13:17 PM

“Carol, arrume uma mala de mão ou uma mochila com só o necessário, roupas para uma semana no máximo. Quando eu chegar nós pegaremos a estrada, se estiver vendo o jornal já sabe o porque.”

Hoje.

Recebi essa mensagem há quinze minutos, a única coisa que fiz foi pegar a maior mochila que encontrei e enfiar a ultima foto de papai fardado no bolso da frente, porque seria a primeira coisa a salvar num incêndio, numa epidemia ou se chovesse meteoros.

Mas agora eu estou deitada no chão, tentando decidir entre correr até a casa de Jake para me despedir ou terminar de arrumar a mochila e esperar para entrar em um carro rumo a Deus sabe lá onde.

Mamãe não gostaria que eu saísse nas circunstancias atuais, mas não me perdoaria por simplesmente mandar uma mensagem de adeus e ir embora. Ainda é cedo então posso sair por alguns minutos, voltar, jogar algumas coisas na mochila e esperar por mamãe para ajudar com o que mais for preciso.

E então... Ir embora.

07/09/2012 – Quarta-feira

Querido diário,

Não fomos embora ainda. Nem sei se conseguiremos ir.

Tudo começou quando sai para me despedir de Jake, já notava os efeitos da epidemia atingindo as pessoas moralmente. Famílias deixando suas casas rapidamente, carros partindo, quem ficava tinham as cabeças nas janelas e outros andavam no jardim olhando disfarçadamente os vizinhos zarpando.

Provavelmente pensando “Será que devo ir também?”.

“Viu o jornal?” “A coisa esta feia.” “Não podemos expor as crianças.” “Você vai ficar?” “Boa sorte.” “Que Deus nos proteja.” – eu só ouvia essas palavras, colocadas em pequenos diálogos gritados entre as cercas, um vizinho colocando caixas no porta-malas, o outro com um olhar perdido passando as mãos nos cabelos ralos uma vez ou outra, como se tentasse se decidir entre ir junto ou cortar a grama.

Vi carros de bombeiro, policiais, ambulâncias, só faltou o exercito que, aliás, já devia ter aparecido, mas ainda não chegamos á pior parte.

Chegando a casa de Jake as janelas estavam fechadas e a porta também, a garagem estava entreaberta e o carro não estava lá, então dei a volta e para minha surpresa a porta dos fundos estava aberta. Abri-a de vagar e chamei pela mãe de Jake, mas parecia estar tudo vazio.

Entrei e fechei a porta, fazendo barulho o suficiente para me certificar de que não havia ninguém em casa. Subi as escadas até o segundo andar e entrei no quarto de Jake, notando de cara a ausência de uma foto nossa na escrivaninha, o armário escancarado e o abajur espatifado no chão.

Fui até a janela e de lá eu conseguia ver um pouco da cidade, saia fumaça do hospital e ela cobria quase o prédio inteiro, então compreendi o porquê dos bombeiros e sofri um pânico silencioso, mamãe teria que passar por ali voltando do trabalho.

Fui até a parede oposta e peguei uma foto emoldurada de Jake num terno, na formatura do oitavo ano. O sorriso branco, os olhos verde mar e o cabelo em corte militar, mais feliz que nunca e com certeza incomodado com o terno, mas incrivelmente bonito. Sentei na cama e tentei pensar racionalmente.

Ele foi embora. Não ligou, nada de mensagens, nenhum beijo de adeus ou um até logo.

Peguei o celular, apenas três palavras e o botão enviar.

“Goodbye, love.
Carol B.”

Coloquei o quadro no chão e desci as escadas, logo depois deixando a casa. Admito que lagrimas caíram, mas faz parte quando seu namorado vai embora sem mandar nem mesmo uma mensagem do tipo “indo embora da cidade, nunca amei você mesmo, abraços”, enquanto você se preocupa em correr até a casa dele no meio de uma epidemia.

Enfim, coisas piores poderiam acontecer e aconteceram. Voltei para casa e arrumei as malas, mamãe ainda ligou e pediu que eu empacotasse em caixas comida enlatada e coisas úteis, foi assim que descobri meu destino.

Casa do vovô em Charleston, Carolina do Sul. 298 milhas, 4h30min de Atlanta.

Mamãe quase não pode chegar em casa, a cidade estava um caos, a situação do hospital se agravou, o transito estava uma droga e os aeroportos foram fechados. Ninguém saí, ninguém entra.

Ela chegou e arrumou uma mochila também, me ajudou a empacotar mais algumas coisas e colocamos tudo no carro, foi quando a policia apareceu. Tinha policiais na rua toda, mandando os moradores ficarem dentro das casas até que a situação melhorasse, e que não estávamos seguros no momento.

“Mantenham a calma.” “Sem pânico, vamos controlar a situação.” – eles disseram, e nem por um segundo cheguei a acreditar, mas eles não nos deixariam sair.

O que nos restou foi entrar e ver as noticias, dormimos juntas em frente a TV, ainda com a roupa do dia anterior, preparadas para sair quando tivéssemos chance.

Agora, a TV esta desligada, mamãe esta ligando para vovô e estamos tentando fazer o mínimo barulho possível. Porque a rua esta aparentemente silenciosa, mas eu abri a janela esta manha e havia algo lá fora, dois deles. Infectados.

Será hora de tomar um veredicto? Atlanta foi dominada? A Geórgia inteira foi? Não sabemos a dimensão do estrago, mas não planejamos ficar para descobrir.

Teremos que sair silenciosamente, entrar no carro e pegar a estrada menos congestionada possível.

Nunca imaginei que deixaria minha casa nessas circunstancias, talvez quando fosse para universidade, quando me casasse. Mas chegarei a me formar no ensino médio? Enquanto escrevo estou memorizando as melhores coisas, o jardim, meu quarto, a ultima foto em família no natal. Sinto que não verei esta casa de novo...

É um adeus inesperado para a antiga vida, para Jake, para Atlanta, para papai. Se ele estivesse vivo nós já estaríamos a salvo, mas meu soldado não esta aqui para ver o mundo por qual ele lutou ruindo, talvez seja melhor assim.

Tem mais infectado na rua, consigo ouvir os grunhidos. É hora de sair, antes que eles rondem a casa.

Bem, se um... Oh merda.

Onde esta o Manual “O que fazer quando seu vizinho é devorado por canibais”? Acho que vou vomitar, vomitar e chorar, que droga é essa?

Mamãe disse que saímos agora ou não saímos. E se a epidemia chegar na Carolina do Sul?

“Vamos embora do país.” – ela respondeu.

Não há modos de sair do país, nem saímos do estado da Geórgia! Falo isso como se não houvesse chance da epidemia chegar a Charleston, que piada, ela já pegou metade dos EUA e do mundo. Milhões de pessoas, porque não eu?

Onde estão os planos emergenciais agora, o governo, o exercito? Com certeza enfrentando situações piores em cidades maiores, tentando resolver alguns problemas enquanto existem outros aqui. Teremos que fugir para a Islândia numa canoa? Talvez Açores, ou a Republica Dominicana, alguma ilha por ai, afinal, são ilhas, infectados nadam? Esperamos que não.

Okay, mamãe pegou a arma, me sinto num videogame de Jake (porque estou pensando nele?) vou pegar o pé de cabra na garagem. Não se engane diário, eu pareço calma e sarcástica, mas têm tripas espalhadas na calçada no outro lado da rua, minha mãe que não mata nem mosca leva uma pistola no cinto com normalidade, não sei se chegaremos a Charleston, nem sei se entraremos no carro hoje. Estamos definitivamente na merda. Desculpe o palavreado.

O mundo acabando e eu escrevendo, que épico. Caneta e papel me acalmam desde que eu tinha sete anos, então vamos até o final assim, não é?

Isso é um Adeus para Atlanta, para esta casa, minha vida antiga, incluindo você, diário. Hora de começar algo novo, e esperar a cura, ou... Bem, comer churrasco mal passado.

Má hora para humor negro, eu sei.

Hora da despedida, tem que ser rápido, desculpe a letra estar ficando cada vez pior, tem um infectado perto do carro e outros vizinhos chamando atenção demais, espero conseguir ligar para a policia na estrada, se é que vai adiantar.

Foi um prazer tê-lo em minha vida diário, não me pergunte por que não te dei um nome até hoje. Desculpe se fui tediosa, minha vida não é realmente muito interessante, talvez agora fique.

Honestamente, espero voltar um dia, e escrever “Eu sobrevivi”. Bom, no outro caso, se alguma porcentagem da população sobreviver (isso é muito dramático?) e se alguém te encontrar, e se estiver lendo até agora sabe lá Deus porque queira ler a vida de uma adolescente que abandona o diário por uma epidemia, espero que cuide bem de você.

Falando mais diretamente a você que o encontrou: parabéns, você sobreviveu à pior epidemia da historia! Obrigada por ler minha historia, e espero que possa ouvir as musicas que rabisco nos cantos das folhas, são realmente boas. Também tem o numero de Jake numa delas, se puder ligar e dizer que ele é um banana eu ficaria grata. Se quiser me encontrar de novo (e se puder) pode ir até 223 Gordon Street, Charleston SC ,vou deixar algo na caixa de correio. Se eu chegar lá, claro, então reflita se quer correr esse risco.

Que Deus tenha misericórdia do mundo. E que ele abençoe o meu pé de cabra, amém.

Xoxo,

Boa sorte.

C. B.

No canto superior da pagina estava rabiscado “Wake Me Up When September Ends”.

Quando terminei de lê-lo da primeira vez não pude evitar algumas lagrimas, mesmo que ela não tenha feito uma despedida emocionante, na verdade foi cômica. Mas chorei, simplesmente porque não havia mais nada para ler sobre Caroline Brown, pelo menos não na Geórgia.

Carl já havia acordado, o diário cobria seu rosto, mas eu podia escutar os risos baixos que o humor negro de Caroline lhe causava, como causava em mim.

– A gente podia ir para Charleston um dia desses. – fechei o diário e encarei Carl.

– Quem sabe nas férias. – ele deu de ombros casualmente, me fazendo rir - o humor de Carl Grimes em seus melhores dias, épico.

– Sério Cowboy, quero o que esta na caixa de correio. – recomecei a mexer no cabelo de Carl enquanto pensava no que Caroline teria deixado em Charleston – Cartas? Fotos? O que seria?

– Chuto cartas. – ele disse fechando os olhos de novo, então soltei seus cabelos – Porque parou?

– Por que você entra em coma quando alguém mexe no seu cabelo. – ele revirou os olhos – É o seu ponto fraco.

– Carl Grimes não tem pontos fracos, Texas. – levantou uma sobrancelha desafiadoramente.

Me inclinei de modo que conseguisse encostar os lábios no nariz dele, fazendo-o se tencionar ligeiramente. Sei mais sobre ele do que ele mesmo.

– Você tem. – beijei seu nariz e voltei e posição normal – Mas não admite em voz alta.

Um sorriso brincava marotamente em seus lábios, enquanto ele se esforçava para disfarçar.

– Enfim, quando isso tudo acabar vou a Charleston. – Carl pegou minha mão e depositou no peito dele, a segurando como se fosse seu coração – Pode parecer tolice, mas tenho esperança de encontrá-la viva. Sinto como se ela estivesse.

Carl me encarou por alguns segundos, como se estivesse refletindo minhas palavras, formulando uma resposta. Ou uma pergunta.

– Não me leve a mal, mas o quanto realmente acredita que isso vai acabar? – foi a minha vez de encará-lo, e refletir – Quer dizer, o mundo não é mais nosso, não somos a maioria. Seria como reconquistá-lo, só que como conseguiríamos conquistar mais que uma cidade, ou um estado? E como iríamos convencer as pessoas de que podemos fazer isso?

Carl era o tipo realista de pessoa que enxergava com facilidade a dificuldade nas coisas, mas não era pessimista, ele só sabia a verdade, e seria tolice não encará-la.

– Acho que a pergunta certa é porque acredito. – ele franziu a testa, sem entender – Eu gosto desse lugar, gosto das pessoas e da estabilidade, mas podemos ter mais do que isso. Não sei por que sobrevivemos onde tudo morreu, Deus que me perdoe, mas certamente não parece uma dádiva. As pessoas sofrem, só vêem mais mortes, sobrevivem apenas pela sobrevivência, o que nós somos, escolhidos para o novo mundo? Tem que ter um propósito. Existe mais sobreviventes lá fora Carl, grupos maiores que o nosso, países ilhados provavelmente intactos, alguém vai acabar com essa droga alguma hora. Tem que acabar.

Carl me encarava com certa admiração, abria a boca como se quisesse falar algo, mas então a fechava de novo.

– Você me faz acreditar, às vezes. – sorri por saber o efeito que eu causava, mas prossegui minha fala.

– Não acredite por mim, acredite por Rick que não demonstra, mas esta cansado de se preocupar com tudo e todos, acredite por Judith, ela precisa conhecer mais que paredes cinza e um monte de mato para todos os lados, acredite por Caroline. – bati no diário ao meu lado – Acredite por você mesmo. Quero que você aprenda a jogar PSP e tome sorvete de chocomenta, que esqueça qual o peso de uma arma na sua cintura o tempo todo.

Carl levou a mão ao cinto automaticamente, mas não encontrou o coldre ou a arma, Rick tinha proibido armas e até ele mesmo não usava mais a dele.

– Essas coisas a gente não esquece, Hope. – compreendi o que queria dizer só pelo olhar que ele me lançou, os olhos de Carl estavam sempre dizendo algo, expressando o que ele sentia. Eram gelo, água ou céu.

– Sei que isso parece ser toda a mesma baboseira motivadora de sempre, mas às vezes a gente precisa disso. Já te disse, lembre das coisas boas que ainda existem, é por isso que você esta vivendo. – ele sorriu fracamente, como se desistisse de resistir.

– Você é boa nesse negocio de baboseira motivadora, sabe. – balancei a cabeça de modo convencido – Você deve ir a Charleston e encontrá-la, vocês são parecidas.

– Tem razão, temos um sarcasmo encantador. – ele riu e revirou os olhos – O mundo precisa de toda essa ironia e bom humor.

– E de toda essa modéstia. – bati na testa dele com o diário – Certo, desculpe.

– Sou a humildade em pessoa, Grimes. – ele o pegou da minha mão e abriu na ultima pagina – Já ouviu “Wake Me Up When September Ends”?

– Não, você já? – balancei a cabeça me lembrando dos CDs de rock do meu pai, GREEN DAY era um dos favoritos.

– Meu pai era um adolescente de 40 anos. – ele riu depois ficou em silencio, encarando a pagina – O que foi?

– Me acorde quando o apocalipse acabar. – dei um sorriso fraco a ele, e nós suspiramos como se concordássemos.

– É, podia ter durado só até o fim de setembro.

Recomecei a fazer carinho no cabelo dele enquanto olhávamos as fotos que Caroline havia colado em algumas paginas.

Não importa o quanto demore, Charleston é uma promessa, ela merece isso. E se eu encontrá-la, bem, direi que ela tem um ótimo gosto musical.

Caroline Brown chegou a Charleston SC às 16h37min daquele dia.

Caroline continua viva.


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Notas finais do capítulo

Alguém esta muito inclinada a escrever uma DLC sobre Caroline Brown atualmente...