A Inútil Capacidade de Ser Normal [Degustação] escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 6
Cinco




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Asher Beal não é brasileiro, quer dizer ele mora aqui no Brasil desde criança, mas não nasceu aqui. A mãe dele, Ester, conheceu o pai dele, John Beal, em Nova York; e os dois viveram um grande romance e então nasceu Andrew – o irmão mais velho de Asher – e o próprio Asher logo depois. A mãe de Asher escreveu um livro chamado “Seis semanas em New York” contando a história dela e do Sr. Beal que foi lançado assim que eles se mudaram para o Brasil. Anos depois de terem se mudado para Novos Montes o Sr. Beal se envolveu com a política e hoje ele é o prefeito de nossa cidade – eu nem sei se isso é realmente possível, porque tipo, ele não é brasileiro. A mãe de Asher está sempre fazendo encontros em sua grande – e rica – casa com as mulheres da cidade, principalmente com as mães dos colegas de seu filho; minha mãe não perde nenhum desses encontros e é por isso que ela ama os Beal e vai surtar quando descobrir que o Asher está, possivelmente, me odiando.

Minha maior surpresa em relação ao Asher foi quando eu li PLP pela primeira vez, claro que eu não imagino que esse Asher seja igual ao Asher do Leonard Peacock, mas tenho que dizer que ele tem certa maldade nos olhos.

Eu nem mesmo sei em que Tempo estamos, pode ser o primeiro ou o último, não sei. O fato é que não tem ninguém sentado na carteira em minha frente e eu estou olhando fixamente para a nuca de Asher Beal desde que me sentei, e fico imaginando que a qualquer hora sua cabeça vai se virar como a menina de “O Exorcismo” – acho que é esse nome do filme – e que ele vai vomitar uma gosma verde em minha cara.

–João – Pit diz enquanto me balança, mas eu só me viro para ele quando o Asher se levanta e vai em direção a saída da sala.

–Oi? – Eu olho para ele.

–Hora do intervalo – ele diz. – Você tava em uma espécie de transe, como se os cabelos castanhos e lisos do Asher tivesse te hipnotizado.

–Acha que ele vai me processar? – Digo enquanto me levanto, eu nem mesmo havia aberto minha bolsa. – Ou falar para que o pai dele mandem que me mudem de sala?

–Acho que o pai dele não pode fazer isso – Leo diz enquanto se levanta com um caderno pequeno em sua mão. – Se tratando de uma escola estadual.

Nós andamos em direção a saída da sala.

–Ele ta certo – Pit fala quando estamos fora da sala.

–Que caderno é esse, Leo? – Pergunto por que não consigo segurar minha curiosidade.

–É o meu caderno de desejos – ele fala e percebe que estamos com a expressão de “não entendemos nada”. – É assim, eu escrevo aqui meus maiores desejos, e aí quando eu vir uma estrela cadente ou soprar a velinha do bolo de aniversário já vou saber o que pedir em vez de ficar pensando e acabar fazendo o desejo errado.

–Você com toda certeza está andando com as pessoas certas! – Eu digo por que ele está andando com os anormais da sala.

Nós chegamos ao pátio e Pit aponta para uma mesa que está na sombra.

Então enquanto andamos para a mesa vejo uma garota de pele morena e cabelos encaracolados se sentando sozinha em outra mesa. Meu Deus como ela é linda, uma pessoa normal não a deixaria sozinha, penso enquanto me viro para meus amigos e falo:

–Podem se sentar, já vou indo.

Ando devagar até a mesa da garota – o coração acelerado – e me sento no banco do outro lado ficando de frente para ela.

–Oi eu sou o João – digo e ela sorri para mim.

–Eu sei, na verdade acho que agora todos da escola sabem – dava para ser menos vergonhoso? – Eu sou Amanda.

–Espero que não me odeie por achar que eu tentei culpar o Asher pela morte da Karen.

–Não, eu não te odeio, mas acho que você tentou colocar a culpa no Asher.

Nós rimos e eu começo a pensar que eu também possa ser uma das últimas pessoas a conversar com Amanda, que talvez essa seja uma maldição...

–Quer se sentar com a gente? – Digo apontando para a mesa onde Pit e Leonardo estão.

–Claro! – Ela diz e nós nos levantamos.

Nós andamos devagar até a mesa onde meus amigos estão e nos sentamos em frente a eles: Leonardo em minha frente e Pit em frente à Amanda.

–Gente, essa é a Amanda – falo.

–Oi, eu sou o Leonardo. Mas já que o João ta me chamando assim, pode ser Leo também.

Rimos com isso.

–Eu sou o Pit.

–Seu nome é mesmo “Pit”? – Amanda pergunta.

Não, é uma longa história. – Pit responde meio constrangido.

–Me conta, eu gosto de longas histórias.

Pit faz uma cara de desanimo.

–Me deixa contar, Pit? – Peço com entusiasmo. – Eu amo essa história.

–Tudo bem! – Ele fala sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Clique em "Próximo Capitulo" e leia a história do apelido de Pit.