A Inútil Capacidade de Ser Normal [Degustação] escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 5
Quatro




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Termino de tomar banho e me visto rapidamente; saio do banheiro e vou para meu quarto fechando a porta quando entro. Acendo a luz do quarto e ligo o computador, a porta da varanda está aberta e posso ver a lua brilhando no alto do céu escuro quando a fecho.

Está na hora de entrar no meu Tumblr. Eu simplesmente amo o Tumblr porque é uma rede-social (acho que não é bem uma rede social, mas) para pessoas diferentes. O titulo do meu Tumblr é “O Diferente João Lourenço”, e acho que não tem titulo melhor.

Por mais que eu ache legal ficar reblogando, eu acho ainda mais legal o meu diário on-line. Ninguém, nem mesmo Pit, sabe sobre esse blog, o nome dele é “O Blog” – sim sou muito criativo – eu escrevo nele sobre tudo o que aconteceu no meu dia e sobre as coisas que estou pensando. Eu comecei a escrevê-lo logo depois de começar a assistir Awkward, eu simplesmente amo essa ideia de poder escrever sobre tudo que tem relação a mim. Mas é claro que mesmo que ninguém saiba dele ou mexa no meu computador eu prefiro apagar todo o histórico de navegação do blog.

Assim que termino no blog desligo o computador, pego PLP na estante e me sento em minha poltrona para ler.

Tomo um susto ao olhar as horas no telefone e ver que já são quatro e meia da manhã. Coloco o marcador no livro na página em que parei e o deixo encima da escrivaninha; jogo no chão minha bolsa que está na cama e pulo encima dela sem nem mesmo apagar a luz, apago no mesmo minuto.

Acordo sendo balançado na cama e com a voz da minha mãe perto do meu ouvido:

–João, João. Você ta atrasado pra escola, filho.

Atrasado. Levanto da cama rapidamente e corro para o banheiro. Escovo os dentes rapidamente e faço xixi. Volto para o quarto e visto a primeira calça e a primeira camiseta que encontro ao abrir a porta do guarda-roupa. Pego meu celular e a bolsa e saio correndo do quarto.

–Toma um pouco de café, filho – minha mãe diz quando chego a sala de estar.

–Não dá tempo, mãe... –Paro ao olhar as horas no telefone e perceber que não estou nada atrasado. – Eu não estou atrasado, mãe.

–Eu sei, falei que estava para você levantar rápido.

Só mesmo a minha mãe para fazer coisas desse tipo.

Sento em uma das cadeiras da bancada e tomo um copo cheio de café. Logo depois vou até o banheiro e escovo os dentes novamente. Pego minha bolsa e saio de casa.

Atravesso a rua e subo a calçada da escola, paro em frente aos portões abertos, tiro os fones do ouvido, os guardo no bolso de trás junto com o telefone e então entro.

Passo pela entrada e entro no espaço que liga os dois corredores de salas... Percebo então que todos estão olhando para mim: alunos e funcionários.

Mas o que ta acontecendo?

Pit atravessa um pequeno grupo de alunos que se formou na entrada do corredor que vai para nossa sala – e que estão todos olhando para mim – e vem em minha direção.

–Sabe a Karen Franco? – Ele pergunta quando chega até mim.

–Óbvio que sei.

–Ela se jogou da janela do quinto andar.

–Espera, isso não é a letra de uma musica?

–Não... Quer dizer, é... O fato é que ela se matou, pelo menos eu acho que isso pode ser considerado suicídio.

–Fala que você ta mentindo.

–Não estou, e pelo visto você foi uma das últimas pessoas que falaram com ela.

Não pode ser. Da para acreditar que a Karen só se matou porque o Asher terminou com ela? E além de tudo ela ainda tava com meu caderno.

–Pelo que eu ouvi as pessoas comentando – Pit continua a falar. – Ela chegou em casa conversando no telefone e entrou no quarto toda irritada. Os pais dela ficaram um tempo batendo na porta do quarto dela, mas a Karen não atendia...

–Chega logo ao ponto, Alexandre. – Falo irritado.

–Espera... Cinco minutos depois o porteiro ligou avisando que o corpo dela tava... Tinha... Que ela havia se jogado. – Ele fala sussurrando. – E você não vai acreditar a policia ta aqui. Na verdade na diretoria.

–Por favor não diz o que eu to pensando...

–Eles vão querer conversar com você.

Coloco a mão no rosto tentando fazer com que meu queixo não caía. Nesse momento a única coisa que passa pela minha cabeça é dar a volta e ir correndo para casa.

–João Lourenço – a voz do vice-diretor diz pelos alto-falantes da escola. – Compareça a diretoria.

Parece que já foram fofocar que eu cheguei. Não dá mais para fugir, droga.

–Boa sorte! – Pit falando tentando esconder o riso quando passo por ele com a cara fechada e vou em direção a diretoria.

Quando chego à sala da diretora a porta está aberta, lá dentro está Mariza, a diretora; Silvio, o vice... E um homem de terno cinza e uma mulher de farda policial.

–Pode entrar, João – a diretora diz com seu sorriso amarelo antes que eu possa falar algo. – Pode se sentar aqui.

Me sento em frente a mesa da diretora. Silvio está próximo a bancada onde fica o microfone dos alto-falantes, o homem de terno e a policial estão de pé ao lado dele.

–Acho que você já sabe porque chamamos você aqui. – Silvio diz escorando o braço na bancada próximo ao microfone.

–Sim, acabei de saber.

–Eu sou Brasiliano, delegado da 1°DP de Novos Montes – o homem de terno cinza fala olhando para mim com desprezo. – Essa é policial Fernandes... Então como você já sabe porque foi chamado aqui, gostaríamos de saber o que você disse para a Karen Franco ontem quando se encontrou com ela aqui na frente da escola.

–Os funcionários viram você conversando com ela ontem na hora da saída. – Silvio diz se mexendo um pouco, mas com o braço ainda sobre a bancada.

–Eu encontrei ela sentada na calçada. – Digo olhando para a diretora porque estou morrendo de medo do delegado. – Ela tava chorando porque o Asher Beal terminou com ela.

–E o que você falou para ela? – A diretora pergunta.

–Essas coisas que se deve dizer quando alguém está triste com o término de um relacionamento – tento falar as palavras de um jeito mais formal possível. – Que ela vai encontrar outro alguém, que muitos outros garotos querem namorar ela. Quer dizer, que iriam querer. – Me arrependo imediatamente por ter dito a última coisa.

–Então você acha que a culpa dela ter se jogado do quinto andar é do Asher Beal? – Pergunta o delegado ainda olhando com desprezo para mim.

–Não! Eu não disse isso – aquele homem está tentando fazer com que eu me sinta culpado. – Eu falei que ela estava triste porque o Asher terminou com ela, só isso.

–Então é isso: ela se jogou do prédio porque estava triste pelo Asher Beal ter terminado com ela?

–Sim! Quer dizer, não – que ódio desse delegado. – Você ta me confundindo.

–Era só que o queríamos saber. – O delegado fala abotoando seu paletó. – Estamos indo, obrigado pela atenção, diretora. – Ele diz e sai junto com a policial.

–A mãe da Karen mandou isso – Silvio fala saindo de perto da bancada e indo até uma mesa do outro lado da sala. – É seu, não é? –Ele me entrega um caderno de capa azul.

Abro o caderno e leio meu nome na parte inferior da capa, escrito de caneta preta: João Lourenço.

–Sim. – Falo olhando para o caderno.

–Você pode ir para sua sala agora, João. – A diretora fala sorrindo.

Me levanto e ando devagar até a porta.

–Oi – falo quando encontro Pit e Leonardo do lado de fora da sala. – Vocês não sabem como foi estranho.

–Na verdade nós sabemos... – Leonardo fala mexendo na alça de sua bolsa.

–Como assim vocês sabem? – Pergunto.

–Todos sabem – Pit fala. – Sua conversa saiu nos alto-falantes.

–Que parte da conversa?

–Digamos, pelo que ouvimos, que pareceu que você colocou a culpa da morte da Karen no Asher. – Leonardo fala tentando forçar um sorriso.

Claro, penso tentando conter a raiva, aquele gordo do vice-diretor deve ter ligado o microfone quando escorou na bancada.

–Mas vamos pra sala que todo mundo já entrou – Pit fala e nós vamos em direção ao corredor da nossa sala.

Os corredores e o pátio estão totalmente vazios, todos os alunos já entraram para suas salas.

Corremos para nossa sala e paramos na porta ao ver que Jonas está lá dentro. Inglês de novo?

–Vão entrar ou preferem assistir a aula daí? – Jonas pergunta olhando para nós.

Pit e Leo entram correndo na frente e eu vou logo atrás. Paro na frente da sala ao ver que todos olham para mim com uma cara estranha... Inclusive Asher Beal que está sentado no primeiro lugar da minha fila.

Merda, esse ano vai ser realmente diferente.


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Notas finais do capítulo

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