Ao nascer de uma nova Esperança escrita por Rafú


Capítulo 34
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

OIZINHO!!! Sim, mais uma vez atrasada, mais uma vez peço desculpas, e mais uma vez volto a lembrar que isso durará até o dia 19 de Dezembro. Quem assistiu o filme? Eu assisti hoje. Meu Deus!!! Se a parte 1 já está assim, imagina a parte 2!!! Ohhhhhh, quero ver mais umas mil vezes este filme. O Peeta, gente!!! Coitado do Peeta. AHHHH!!! VOU TER UM TRECO!!! Ok, me acalmei. Fiz vestibular da Unirriter hoje. Mais alguém fez? Achei bem fácil, hehehehe. Bom capítulo, no final terá uma surpresinha. Espero que gostem. Quero ver suas reações nos comentários. Bijus.



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–Ray, vamos lá. Abra a boca. – eu disse enquanto levava a colher cheia de papinha ao encontro de sua boca.

– Nã. – ele disse e virou o rosto. – Mama.

– Eu não vou dar mama a você enquanto não comer a sopa. Vamos abra esta boca agora!!!

– Nã.

– Vamos Ray. Colabore com a mamãe. Abra a boca e coma a sopa.

– Nã.

– Se você não comer, eu irei dar para Alice. – disse colocando a colher dentro da vasilha de sopa.

– AICE!!! AICE!!! – ele começou a chamar pela irmã.

– Ela está na escola agora, mas quando ela voltar vou dar toda a sopa pra ela.

Ele apenas riu como se concordasse com a minha ideia. Eu bufei, derrotada.

Ray está com onze meses, tem se mostrado um grande arteiro comigo e um santinho na frente de Peeta. Ele engatinha, fica de pé apoiado em alguma coisa e sempre que consegue, não desgruda de Alice. Fala algumas palavras, mas não muitas. Chega a ser assustador sua semelhança com Peeta, tirando os olhos cinzas, que vieram da minha parte.

Ouço o barulho do telefone. Me viro para Ray.

– Me escuta aqui, eu vou lá atender o telefone e você vai ficar comportadinho na sua cadeira, está me entendendo? Se não a coisa vai ficar feia para o seu lado. – ele começou a rir, zombeteiro. – Apronte alguma coisa e eu contarei a seu pai assim que ele colocar o pé dentro de casa. – ele imediatamente ficou sério.

Ele parece ter medo de Peeta, não sei porque. Peeta nunca gritou ou xingou ele até hoje. Talvez seja a voz grossa de Peeta que o assusta ás vezes. Me levantei e fui atender o telefone.

– Alô.

– Oi, Katniss sou eu.

– Oi, mãe. Como vai?

– Vou bem querida. – disse ela. – Liguei pra saber como vocês vão.

– Vamos indo, mãe. Alice está na escola, Peeta na padaria e eu estou com o Ray em casa. Garotinho arteiro, vive me dando trabalho.

– Está pagando seus pecados. Você também nunca foi uma criança santinha. Vivia aprontando com seu pai.

– Ah, você também? Acredita que Peeta me fala a mesma coisa? – engrossei a voz para imitar a de Peeta – “Está pagando seus pecados.”

– De qualquer forma estão todos bem? – pergunta minha mãe rindo.

– Sim, enquanto não houver outra rebelião estará tudo bem. – olhei para trás, como reflexo ao barulho que ouvi vindo da cozinha. – Hã... Mãe, eu tenho que ir. Ray está sozinho na cozinha.

– Tudo bem querida, mande um beijo para Alice, Peeta e Ray por mim.

– Pode deixar, já está mandado. Tchau. Beijo.

– Tchau. – ela diz e eu desligo o telefone.

Vou correndo a cozinha e vejo Ray quieto na cadeirinha. Está quieto demais.

– Me diz o que você aprontou. – falo fazendo a cara mais brava que consigo no momento.

Ele não ri, pois notou que eu não estava brincando. Ele se estica na cadeira e aponta pro chão.

– Papa. – diz ele.

Dou a volta e vejo a vasilha de sopa virada de cabeça para baixo no chão. Me abaixo e tiro o objeto dali, vendo toda a sopa espalhada nas lajes. Coloco a vasilha na pia e pego um pano para limpar a bagunça de Ray. Lanço meu olhar mais mortal pra ele, e o garoto se encolhe em sua cadeira, notando o quanto estava encrencado. Termino de limpar a sujeira e o pego da cadeira.

– Você vai mamar, como queria, Sr. Bagunceiro. E depois vai pra cama e eu não quero ouvir nem um pio de você. – digo me dirigindo ao sofá da sala e dando-lhe de mamar.

Quando Ray nasceu, fiquei feliz com o fato de ele ser uma criança quieta. Mas isso era só em relação ao choro. É raro vê-lo chorar. Entretanto, se tem uma bagunça acontecendo, tenha certeza que Ray estará no meio. Termino de dar de mamar para ele e espero ele arrotar. Na última vez que não esperei, ele vomitou nos travesseiros. Peeta chegou com Alice.

– AICE! AICE! AICE! – fala Ray assim que nota a presença da irmã.

– Oi Ray. – diz Alice e o pega de mim, dando-lhe um abraço. – Agora solta. – fala a garota colocando Ray novamente no meu colo. Ele solta reclamando.

– Olha o resto da minha família aqui. – diz Peeta se aproximando alegremente e plantando um beijo em meus lábios.

– Oi, amor. Como foi seu dia? – diz ele pegando Ray do meu colo.

– Normal. – respondi com desânimo.

– Que bom. – ele se vira para Ray. – E então, campeão? Não incomodou muito a mamãe, não é?

Ray só ria.

– Ele não quer comer a papinha. – falo.

– O que? Mas como assim? Você não quer crescer e ficar forte como o papai? Tem que comer a papinha da mamãe. – ele começou a sacudir o garoto acima dele.

– Peeta, não faz isso! Ele acabou de mamar!!! – alertei já me levantando.

– E daí? – perguntou ele abaixando novamente o garoto.

– E daí que vai embrulhar o estômago dele e ele vai vomitar.

– Vai não. Filho meu tem estômago forte. Não é filho? Quem é o campeão do papai?

– Mim. – responde Ray tentando pular no colo de Peeta.

– Mim? – ri Peeta. – Mim ter filho índio. Mim não gostar. Mim querer meu filho de volta, cara pálida.

Comecei a rir. Mas parei quando vi Peeta sacudir Ray novamente acima do rosto dele.

– Peeta , é sério. Para de sacudir ele. Isso não vai dar certo.

– Relaxa amor, tá tudo bem. – diz ele sem parar de sacudir o garoto.

– Peeta, para. Ele tá ficando pálido. –choramingo quase implorando.

– Katniss, olha pra mim. Eu também sou pálido. – diz ele.

– Não, Peeta. Ele vai... – paro de falar, pois vejo minha previsão acontecer. O pior é que ele vomitou bem no rosto de Peeta.

Peeta segura Ray a uma certa distância de seu corpo enquanto o menino começa chorar. Uma das raras vezes que ele chora.

– Pega ele. – diz Peeta.

Me aproximo pegando Ray.

– Eu avisei. – falei.

– Sim, avisou. – concordou ele virando de costas. – Vou tomar um banho.

Levo Ray para a cozinha, tentando acalma-lo. O que não é muito difícil.

– Pronto. Já passou. Está tudo bem. Shhh. – digo a ele enquanto o abraço. Levo ele até um quadro pintado por Peeta que está pendurada na parede da sala. – Olha só, Ray. Quem é aquela ali?

– Aice. – responde ele mais animado olhando para o quadro dele e de Alice juntos.

– E aquele garotão bonito do lado dela, quem é?

– Mim. – diz ele.

– Não se diz “mim”. Se diz “eu”. – o corrijo.

– Eu. – ele responde corretamente agora.

Volto com ele para a cozinha e o coloco na cadeirinha.

– Vamos esperar o papai. Já que ele esvaziou seu estômago, agora vai enche-lo. – falo enquanto esquento a sopa da panela.

Peeta chega com os cabelos molhados pingando.

– Desculpa. – diz ele assim que adentra a cozinha.

– Desculpa nada. Toma isso e dá pra ele. – falei passando um prato com sopa pra ele. Ele não falou nada, apenas pegou o prato e começou a dar a sopa para Ray. Não acredito que Ray decidiu comer a sopa. – Isso é sério?

– O que? – pergunta Peeta.

– Estou a duas horas tentando fazer ele comer esta maldita sopa. Aí você chega só estende a colher e ele abre a boca.

– Então amor, - diz ele sorrindo – é que tem que ter um jeito assim... tipo... paternal, entende?

– Jeito paternal o caramba, esse moleque fica é zoando com a minha cara. Tá achando que eu virei palhaça agora. – digo rindo. – Alice fez a lição de casa na padaria?

Alice passa a tarde na padaria depois da aula. Peeta a busca na hora da saída e eles vão para a padaria. Alice não se importou, já que ama aquele lugar. Os dois voltam de noite.

– Ela fez sim. – responde Peeta olhando para Ray.

– Eu vou tomar um banho.

– Pode ir.

Subi os degraus ainda tentando descobrir a tática que Peeta usa para dar comida a Ray. Antes de passar no meu quarto passei no de Alice. Bati na porta, que já estava aberta e não passei daquele ponto.

– Filha. – a chamei.

Ela desviou a atenção da boneca que penteava para mim.

– Oi, mãe. – diz ela.

– Vou tomar banho, quando eu sair você entra, entendeu?

– Sim. – eu já ia saindo quando Alice me chama. – Mãe!

– Que? – falei voltando.

– É só não olhar pra ele. – diz ela.

– Hã? – do que ela estava falando?

– Quando quiser que o Ray coma, é só dar a comida sem olhar para ele.

– Como você sabe? – perguntei entrando e sentando na cama.

– Papai me contou, mas você tem que me jurar que não vai contar a ele que eu te falei. Ele fez eu prometer que eu não contaria.

– Tudo bem, seu segredo está guardado comigo. – falei, mas cruzei os dedos atrás de mim. – Por que não olhar pra ele?

– Papai diz que quando você olha pra ele, está dando toda sua atenção, e isso é tudo o que o Ray mais gosta, atenção, atenção e mais atenção. E quando você não olha, ele nota que não está recebendo atenção alguma então ele come.

– Então ele não come pra chamar a atenção?

– Foi o que papai disse. – diz ela, voltando a atenção para sua boneca.

– Obrigada.

– De nada. – diz ela sorrindo, mas ainda olhando para sua boneca.

Saio do quarto um pouco mais satisfeita ao descobrir a estratégia de Peeta. Vou colocar em teste esta teoria amanhã.

– Desgraçado. – xinguei Peeta em um sussurro quando entrei no quarto. – Deixando eu passar trabalho com aquele garoto.

Isso explica o motivo de ele estar lendo jornal de manhã enquanto alimenta o Ray. Tomei banho e saí, ao passar no quarto de Alice, dei três batidas na porta, sinalizando que o banheiro já estava vago para ela. Ela imediatamente pulou da cama. Desci as escadas. Não, não contaria a Peeta que Alice me contou seu segredo de como fazer Ray comer a comida. Seria sacanagem com ela. Peeta chamaria sua atenção na padaria depois da escola. Adentrei a cozinha e vi Peeta lavando a pequena louça que sobrou.

– Já lavei a louça.

– Obrigada. – respondi hostil demais.

Ele desligou a torneira e se virou para mim, me avaliando com os olhos.

– O que você tem? O que foi que eu fiz?

Suspirei.

– Nada. Estou cansada. Desculpa. Onde está o Ray?

– No cercadinho. Troquei a fralda dele enquanto você estava no banho.

– Obrigada. – respondi educadamente desta vez.

– Sabe... – ele começou quando fui me virar, me virei de volta para ele. – Você... Talvez... Quem sabe... Você não está com... Depressão... Pós-Parto?

– Está falando sério? – perguntei incrédula.

Ok, talvez eu pareça um pouco deprimida nestas últimas semanas. Mas não estou. Estou exausta. Isto é completamente diferente. Não estou triste. Só estou cansada. Eu amos meus filhos, eu amo meu marido, eu amo a minha atual vida. Mas estou me sentindo cansada. Não triste. Não quero morrer. Ray dá mais trabalho do que Alice dava na mesma idade. Não consegui me habituar a isso ainda. Mas vou me acostumar. Me acostumei com Alice e vou me acostumar com Ray. É só uma questão de tempo. Sou uma mulher de vinte e cinco anos, casada, mãe de dois filhos e que teve um passado horrível. Tenho que cuidar de Alice, de Ray, de Peeta quando tem algum flashback, da casa, e agora Peeta só faz o almoço no final de semana, o resto dos dias da semana eu faço a comida. E tem mais as drogas dos pesadelos que nunca acabam. Além da droga do meu passado que adora me lembrar o quanto fui uma pessoa horrível matando várias pessoas que não fizeram nada de ruim. Que fica me lembrando que eu fugi e deixei Peeta nas mãos de Snow na Capital. Fica me lembrando que enquanto eu estou aqui, protegida com Peeta me abraçando todas as vezes que eu acordo gritando de um pesadelo, Annie está lá no 4, gritando sozinha, sem ter Finnick ao seu lado para abraçar ela e consola-la, e ela tem mais o Quentin. Fico me lembrando de Johanna que deve ter pânico da água até hoje. Ou de Rue que morreu igual a um bicho na arena. Ou de Prim, que fiz tanta pra salva-la e não consegui. É disso que estou cansada. Estou cansada de lembranças ruins. Porque quando olho para trás não vejo nada de bom. Nenhuma mísera lembrança boa passa pelos meus olhos. Só explosões, mortes, destruição ,bombas, sangue. Só isso. Meu passado é feito disso. E por mais que eu tente me esquivar do meu maldito passado ele vem pra mim e puxa meu pé no meio da noite, igual a um fantasma.

– Não, esquece. – diz ele se virando. – Como sou idiota. – sussurra ele pra si mesmo, achando que eu não tinha ouvido.

Mas eu ouvi. Mas não podia falar sobre isso agora, pois Ray me esperava no cercadinho, provavelmente já caindo de sono, ou quem sabe dormindo. Caminho até a sala e o vejo segurando um boneco de pano enquanto bocejava.

– Cansou, meu amor? – perguntei sorrindo e me aproximando dele.

Ele em reposta ergueu os braços querendo um colo.

– Mama. – chamou ele.

O peguei e dei um beijo em sua bochecha, enquanto ele aconchegava a cabeça em meu ombro. Subi e passei no quarto de Alice. Ela estava tentando soltar sozinha as duas tranças que eu fiz para ela ir na aula.

– Espera. Eu te ajudo com isso. – falo entrando no quarto.

– Não precisa. Eu consigo. – resmunga ela.

– Você consegue encher os cabelos de nós, isso sim.

Ela bufa, derrotada e se aproxima.

Eu sento na cama e coloco Ray deitado na cama, enquanto Alice parou no meio das minhas pernas. Ray resmunga por eu ter o soltado e se senta, abraçando minhas costas e apoiado a cabeça na mesma. Começo a desfazer as tranças de Alice. Peeta surge na porta.

– Qual deles você quer que eu coloque para dormir? – pergunta ele.

– Hã... Não sei. Você quer que eu cante ou vai ouvir uma história do papai, Alice? – pergunto para ela.

– A história. – responde ela, entrando embaixo dos cobertores.

– Tudo bem, vem cá. – digo a puxando e beijando sua bochecha. – Boa noite. Vamos Ray. – falo desvencilhando os bracinhos gorduchos de Ray de volta de mim e o pegando. Ele volta a deitar a cabeça no meu ombro. Saio do quarto de Alice e a deixo com Peeta e suas histórias. Vou ao quarto de Ray e ligo uma luminária de luz fraca e azul, deixando o ambiente quase totalmente no escuro. Ray vai dormir fácil, ele já está caindo de sono. Sento na cadeira e murmuro uma canção enquanto o menino dos olhos cinza fica me olhando nos olhos. – Porque está me encarando, hein? Pode fechar os olhos. Eu estou bem aqui.

Como se ele tivesse compreendido, fechou os olhos e em poucos minutos dormiu.

O soltei cuidadosamente na cama, e ajeitei as cobertas em cima dele para que o frio não entrasse. Fazia um inverno rigoroso atualmente. Mas valia a pena passar por isso ao ver Peeta e Alice fazendo inúmeros bonecos de neve na rua. Deixei um beijo na testa de Ray e vi ele fazer um careta, ri baixinho não querendo acorda-lo.

Quem diria que um dia eu teria dois filhos? Além disso, pertencentes a Peeta? Eu sem dúvida nunca teria pensado neste futuro, que agora é o presente, pra mim.

Saí do quarto, deixando a porta entreaberta para o caso de Ray chorar, sei que ele não o fará, mas deixo assim por via das dúvidas. Atravesso o corredor, passando pelo quarto de Alice e vendo que Peeta já não estava ali. Mesmo assim me certifiquei de que ela estivesse dormindo, e ajeitei os cobertores mais uma vez.

Voltei ao corredor, mas desta vez rumei ao meu próprio quarto. Assim que adentrei Peeta estava lá. Sentado na cama a minha espera. Ou esperando que eu gritasse com ele por ter sugerido que eu estava com Depressão Pós-parto. Não iria fazer isso. Eu sei que ele se preocupa comigo. Só está tentando me ajudar. Sentei na cama ao seu lado e segurei sua mão com as minhas duas.

– Desculpa. – ele sussurrou quase inaudível.

– Não tem o que desculpar. Eu sei o quanto você se preocupa comigo. Mas estou bem. É sério.

– Mas você não parece bem. – ele diz tomando cuidado com as palavras.

– Mas eu estou. Só estou cansada. Seu filho é uma figura, sabia? Acaba com qualquer energia que eu tenha. – digo rindo. – Eu não estou triste, ok? Não tem como eu estar triste. Eu tenho dois filhos lindos. Um padeiro forte comigo. – digo dando um soquinho em seu braço. Ele ri – Uma casa bonita, repleta de quadros da minha família. Eu tenho uma família! Sabe o que isso significa pra mim? Significa tudo. Tudo o que eu não merecia ter, mas tenho. Tudo o que eu nunca sonhei que ganharia, mas ganhei. Isso tudo, essa vida, as crianças, você... Nunca imaginei que estaria aqui hoje. Nunca imaginei que conseguiria ser feliz de verdade.

– Então está tudo bem?

– Está tudo mais que bem. Tirando seu filho que é teimoso. Mas vou me acostumar a ele. Me acostumei com Alice e com ele vai ser igual.

– Bem, de quem será que venho esta teimosia, né?

– Acho que nem quero ouvir a resposta. – digo rindo. Dou um beijo nele e ele retribui me puxando para mais perto do corpo dele. – Vamos dormir?

– Na verdade, eu não estava pensando em dormir tão cedo. – diz ele beijando meu pescoço.

– Estou exausta. – murmuro.

Ele se afasta, e eu temo tê-lo desapontado, mas ele sorri e beija rapidamente meus lábios mais uma vez.

– Eu também estou, para sua sorte. Mas amanhã não te darei trégua, Sra. Mellark. Vem, vamos dormir. - nós aconchegamos na cama e nos afundamos nas cobertas. Deixei Peeta me abraçar. – O que vai fazer amanhã?

– O mesmo de hoje. – respondo, enquanto respiro seu cheiro.

– Vai se deixar levar por esta rotina?

– Eu amo esta rotina.

– Eu também. – ele sussurra e sinto sua respiração ficar mais calma.

Ao mesmo tempo, a minha respiração segue o compasso da dele.

Mas não por muito tempo. Sou empurrada pelo meu próprio corpo para frente e grito um sonoro e alto “não” quando o pesadelo chega em minha mente. Ainda posso sentir os dedos de Peeta pressionando meu pescoço, impedindo que o ar passasse por ali.

Me assusto quando ele toca o meu braço querendo me consolar, e eu pulo da cama.

– NÃO!!! – grito enquanto caio da cama e bato a cabeça em alguma coisa. Massageio minha própria cabeça sentindo a dor pelo impacto que ela teve.

– Está tudo bem, não vou te machucar. – diz ele saindo da cama e caminhando até o interruptor de luz.

Quando o lugar fica claro, tomo consciência de que não estou no Distrito 13. Que não estou no meio de uma Revolução. Que Peeta não acabou de ser resgatado. E de que ele não me odeia. Fico inerte no chão olhando tudo ao meu redor e fazendo uma breve lista na minha cabeça:

1°) Não existe Jogos Vorazes.

2°) Não existe Rebelião.

3°) Não existe Snow.

4°) Não estou no Distrito 13, estou no 12. Estou em casa.

5°) Peeta me ama, por isso estou casada com ele.

6°) Tenho dois filhos: Alice e Ray.

7°) Não foi real? Foi só um pesadelo?

O último item teve que ser uma pergunta, pois não era um pesadelo, era uma lembrança. Uma lembrança que decidiu voltar no meio da noite. Foi exatamente igual. Eu corri ao encontro de Peeta para abraça-lo e ele apertou suas mãos em volta do meu pescoço.

Olhei para Peeta que continuava parado perto do interruptor, olhando para mim. Esperando que eu agisse de alguma forma. Me levantei e corri até ele, mas parei a três passos, lembrando que foi exatamente isso que fiz no meu pesadelo. Ele completou o trajeto por mim e se aproximou rapidamente não me dando tempo nem espaço para alguma fuga. Me abraçou e acariciou o ponto onde minha cabeça havia batido. Abracei ele ao sentir o cheiro que havia me feito dormir antes do pesadelo.

– Desculpa. – sussurrei quase em um pensamento.

Senti vergonha por ter sido convencida por um pesadelo. Por ter ignorado o contato de Peeta quando ele foi me consolar. Ele não iria me machucar. E se machucasse, eu sei que não seria ele, seria o outro Peeta.

– Eu sinto muito. – sussurrou ele de volta.

– Mamãe? – ouvi a voz de Alice.

Soltei Peeta, e olhei para a menina com os cabelos bagunçados a me olhar atentamente.

– Você acordou, meu amor. – disse a ela enquanto me aproximava.

– O que aconteceu? – perguntou ela.

– Nada de mais. Vem, vou pôr você na cama novamente. – falei a puxando pela mão.

Ela não relutou em me seguir. Deitou na cama e eu ajeitei os cobertores em cima dela. Sentei na beirada, cantando uma canção. Sua voz acompanhou a minha. Quando notei que eu estava cantando sozinha, parei. Deixei um beijo em sua testa e saí do quarto, deixando a porta entreaberta.

Voltei ao meu quarto e Peeta me esperava na cama.

– Tudo bem? – perguntou ele.

Acenei com a cabeça confirmando.

– Tudo.

Deitamos novamente e dormimos. Desta vez os pesadelos não impediram nosso sono. Fui acordada por Peeta no outro dia.

– Alice e eu estamos indo. – avisou ele em um sussurro desnecessário.

– Tudo bem... Ah! Espera! O Ray acordou? – sussurrei de volta.

– Não. – sorri ao ouvir sua resposta. – Ainda. – completou ele.

Fiz uma careta de desgosto e ele riu.

– Por que estamos sussurrando? – perguntei.

– Para o som das nossas vozes não chegar aos ouvidos de caçador de Ray. – sussurrou.

– Ahhh... – falei rindo.

– É sério, o garoto nasceu com a minha cara e os seus ouvidos. – debochou ele.

– Tá, vai logo, Alice vai chegar atrasada na escola. Tchau.

– Tchau. – ele disse e saiu.

Dormi mais um pouco, pois ainda era cedo. Depois me levantei, levando meus pés até o quarto do Ray, ele estava de pé dentro do berço e começou a pular assim que me viu.

– Bom dia pra você também. – falei pegando ele e conferindo sua fralda. Estava limpa.

– Mama! Mama! – exigiu ele.

– Eu sei. Eu também estou com fome. Vamos descer.

Descemos, eu preparei um café pra mim e sentei a mesa, lendo o jornal, tomando o café e dando de mamar para Ray. Senti ele mais pesado que o habitual.

– Hmm, você sujou a fralda, não é? – ele apenas riu. – Tudo bem, eu já ia dar um banho em você.

Subi e liguei o registro da água, deixando a água morna invadir todo o espaço da banheira. Tirei a roupa de Ray, aproveitando que a água quente espalhou seu calor pelo banheiro. O coloquei dentro e ele começou a bagunça. Comecei a lavar seus cabelos loirinhos, iguais aos de Peeta. Ele começou a choramingar e esfregar os olhos quando a espuma o atingiu ali. Me apressei em pegar a toalha e tirar a espuma.

– Pronto, pronto, pronto. Já saiu. Viu o que dá não parar quieto? – ele apenas me olhou fazendo um biquinho. Ficou o resto do banho quietinho dentro da banheira. Ficou bem mais fácil e rápido lavar ele.

O tirei da banheira depois de deixar ele fazer mais um pouco de bagunça, a água começou a ficar fria. O enrolei na toalha para o frio não chegar até ele. Liguei o aquecedor do quarto de Ray e o vesti.

Olhei alguns desenhos com meu filho na sala e depois o deixei no cercadinho, enquanto eu fui adiantar o almoço. Olhei para a rua vendo o sol radiante que fazia e feliz por não estar nevando e vendo a neve mais baixa. Talvez eu vá na padaria hoje. Fiz o meu almoço e o de Ray. O coloquei na cadeirinha, hoje testaria o método de alimentação de Peeta. Servi meu prato e um pra ele. Peguei distraidamente a colher de seu prato, enchendo com a comida e dando para ele, enquanto fazia o mesmo para mim mesma. Me surpreendi quando ele abriu a boca deixando a colher entrar por ela. Sorri ainda mastigando a comida dentro da minha boca.

– Bom menino. – falei depois de engolir o alimento. Ele riu. Lavei a louça enquanto ele brincava com o prato vazio em cima da cadeirinha. – Que tal visitar o papai na padaria hoje? – indaguei a ele, enquanto preparava uma marmita para Peeta.

– Papa!!! – vibrou ele.

– É, o papai, lá na padaria.

– Pada!!!

– Sim, lá na padaria. – mais um que adorava a padaria.

Preparei uma bolsa, vesti Ray com roupas bem quentes e saímos. Impossível usar o carrinho com esta neve no caminho. Tive que levar Ray no colo. Assim que cheguei, vi Patrick arrumar algumas tortas na vitrine. Além de Lucy que estava no balcão como sempre.

– Patroa!!! – vibrou Pat quando entrei. – E o Raymond veio junto.

– O nome dele é Ray, não Raymond. – falei.

– É possível esta criatura estar mais fofa a cada dia? – falou Lucy, já vindo em minha direção e o tirando de mim.

– Diz isso porque você não sabe o trabalho que ele dá. – não pude deixar de dizer.

– PEETA! SEU DOCE DE MARACUJÁ ESTÁ AQUI! – berrou Brand quando saiu da cozinha com uma fornada de pães e me viu.

Os funcionários pegaram a mania de me chamar de Doce de Maracujá do Peeta.

– Por que vocês insistem em me chamar assim? – perguntei.

– Porque quando você está aqui, Peeta vira o melhor e mais calmo patrão do mundo. Não que ele seja um patrão chato. Pra ser sincero, ele é o melhor patrão que eu tive. E olha que já tive muitos. Nunca durei muito nos empregos. Mas este aqui bateu o recorde. – respondeu Brend.

– E o que o doce de Maracujá tem a ver com isso? – indaguei.

– Maracujá é uma fruta que deixa as pessoas mais calmas. E com você aqui, Peeta vira um doce. Então é só juntar: Doce de Maracujá. – explica Lucy.

– Só me faltava essa. – reviro os olhos.

Peeta surge na porta.

– O que você disse Brend? Eu não consegui... Kat, o que faz aqui?

– Estávamos entediados em casa. – respondi por mim e por Ray. – Algum problema?

– Nenhum. Só que eu já ia ir pra casa almoçar. – explicou ele.

– Não precisa. Tá aqui a sua comida. – falei alcançando a marmita.

– Oh, obrigado. – diz ele. Ele se vira para Ray que estava no colo de Lucy. – E aí, campeão?

Ray tenta pular no colo de Lucy enquanto grita, fazendo festa para o pai.

– Calma aí. – diz Lucy tentando controlar o menino.

– Segura bem o meu filho, Lucy. Se você o deixar cair, você vai ver só. – ameaça Peeta de brincadeira.

– Ela não vai deixar cair, porque agora o Raymond está comigo. – fala Pat tirando o menino de Lucy.

– Ray. – eu corrijo revirando os olhos.

Pat o joga pra cima enquanto Ray cai na risada.

– Vou comer lá na cozinha. Volto antes que vocês consigam matar meu filho. – anuncia Peeta indo pra cozinha.

Segui Peeta e sentei a sua frente olhando a cozinha ao meu redor. Acho que não havia ido a padaria desde que Ray nasceu. Ray já havia ido várias vezes com Peeta, mas eu nunca fui junto. Queria aproveitar um pouco o tempo que tinha sozinha e ir para a floresta.

– Senti falta deste lugar. – admiti olhando para tudo.

– E nós sentimos sua falta aqui. – diz ele levando o garfo cheio de comida a boca. Eu sorri para ele como resposta. Puxei a câmera fotográfica que havia colocado na bolsa de Ray e tirei uma foto de Peeta. Ele levou um susto com o flash inesperado e olhou para mim confuso. – Mas o que? Você trouxe a câmera?

– Claro, velhos hábitos nunca morrem. – digo rindo.

– Esse você vai ter que deixar morrer, ou vou me encarregar de mata-lo.

Apenas ri.

Passei a tarde com Peeta na padaria. Até que chegou a hora de buscar Alice na escola, me ofereci no lugar dele e levei Ray comigo. Ele não se opôs. Alice ficou feliz em me ver na saída da escola.

– Você me buscou hoje. – diz ela alegremente.

– É, eu busquei.

– Decidiu sair de casa um pouco, docinho? – ouvi a voz de Haymitch atrás de mim.

– Um dia teria que sair. – falei no mesmo tom.

– Bem, já vou indo, tchau docinhos. Tchau padeiro mirim.

– Tchau Haymitch. – falei por nós.

– Tchau Lice, tchau Tia Kat, tchau Ray. – falou Joe se despedindo de nós.

– Tchau querido. – falei.

Cada um seguiu seu caminho, eu fui para a padaria e Haymitch, para sua casa com Joe. Alice chegou na padaria correndo como sempre.

– PAPAI!!! – gritou ela a procura de Peeta.

Peeta saiu da cozinha e se agachou para pega-la.

– Oi, minha princesa. Como foi a aula?

– Legal. Me dá um doce?

– Escolha apenas um. – diz ele largando a menina no chão. – Patrick alcance um doce pra ela.

Pat o obedece.

Lucy já havia ido embora. Brend também. Ficou só Peeta, Patrick, Diego, Ray, Alice e eu na padaria.

Mas tive uma surpresa durante a tarde. Alguém voltou a aparecer. Eu estava na cozinha conversando com Peeta que preparava a massa de algumas tortas. Até que Pat coloca a cabeça para dentro da cozinha.

– Patroa, alguém veio ver você. – diz ele.

Saio da cozinha tomada pela curiosidade de saber quem era. Me deparo com Gale.

– Gale, oi. Como vai? – digo, dando a volta no balcão e abraçando Gale.

– E aí, Catnip? Eu vou bem. – diz ele.

Só então noto que há uma criança agarrada a perna de Gale, claramente encabulada. Um menino magro de cabelos castanhos, mas olhos incrivelmente verdes. Me abaixo a altura do garoto, e tudo que ele faz e se esconder mais em Gale.

– Oi. Tudo bom? Sou a Katniss. – digo tentando ter um diálogo com ele, mas notei que não conseguiria quando vejo o garoto corar e então voltei para Gale. – Quem é o menino?

– Ah, Katniss. Esqueci que você não o conhecia. Este aqui é o Louis. Meu filho. – diz ele passando a mão pelos cabelos do garoto.

Meu queixo caiu e eu fiquei sem reação.

– Seu filho?!?!?!


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Notas finais do capítulo

UOU!!! Quem diria, hein? O Gale sendo pai. Por essa ninguém esperava, né? Hehehe. Espero que tenham gostado. Comentem!!! Beijocas da Tia Rafú pra vocês!!! ;)