Ao nascer de uma nova Esperança escrita por Rafú


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

OIZINHO, eu sei que estou atrasada, me perdoem. Mas sinto informar que os próximos capítulos poderão chegar atrasados. Estou nas semanas de provas e depois terá mais provas, e tem os vestibulares. E a formatura. Estou com minha agenda transbordando de coisas. Então já deixo avisado que até o dia 19 de Dezembro (um mês depois da estreia de Jogos Vorazes: A Esperança – parte 1), os capítulos muito provavelmente chegarão meio atrasados para vocês. Mas não desistam de mim. Pois eu escrevo para vocês e por vocês. Se vocês desistirem de mim eu vou acabar desistindo da fic, ok? Agradeço a paciência e a compreensão de cada um de vocês. Boa leitura, espero que gostem. Bijus.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/522183/chapter/32

– Eu não quero ir. – reclama Alice.

– Eu sei, mas você precisa ir para a escola, meu amor. – tento consola-la enquanto penteio seus cabelos.

Termino de pentear e a coloco de frente para mim.

– Ninguém vai gostar de mim. – diz ela.

Me levanto e faço ela ficar na frente do espelho.

– Por que não gostariam de você? Você é tão linda.

– Linda igual a mamãe. – ouço a voz de Peeta entrando no quarto. – O que está acontecendo aqui, hein?

– Tem alguém aqui com medo da escola. – afirmo.

– Oras, venha cá. – diz Peeta se abaixando e Alice corre até ele. Peeta segura as duas mãos da menina. – Não precisa ter medo. Sabia que a primeira vez que vi a sua mãe foi no meu primeiro dia de aula?

– Foi? – pergunta Alice curiosa.

– Foi. Ela estava com duas tranças iguais as suas. Ela cantou durante a aula de música e todos os pássaros na rua pararam para ouvi-la.

– Uau. – fala a menina admirada.

– É. – Peeta pega Alice no colo e vai com ela até a frente do espelho. – E você está igualzinha a mamãe no primeiro dia de aula dela. Só que a mamãe estava com um vestido vermelho.

– Vermelho? – pergunta Alice.

– É, vermelho.

– Mamãe, posso trocar a minha roupa? Eu quero colocar um vestido vermelho. Quero ficar igualzinha a você.

– Tudo bem. – eu digo rindo enquanto caminho até o armário pegando um vestido vermelho.

– O café estará esperando vocês na mesa. – avisa Peeta antes de sair.

Alice troca de vestido e nós descemos.

– Olha, papai. Agora estou igualzinha a mamãe. – diz Alice girando.

– Está sim. Está muito linda. – diz Peeta.

Terminamos de tomar o café e fomos para a casa de Haymitch. Era o primeiro dia de aula do Joe também.

– Olá, docinhos. Olá, garoto.

– E aí, Haymitch? Estão prontos para o primeiro de muitos dias de aulas? – pergunta Peeta.

– Estamos sim. EFFIE, JOE, VAMOS!!! – grita Haymitch sem ao menos se virar.

– Delicado você, hein? – digo sarcástica.

– Aprendi com a melhor. – retruca Haymitch.

– Digo o mesmo. – retruco de volta.

– Tudo bem, vamos parar. Não queremos começar o dia com brigas. – se intromete Peeta.

– Não estamos brigando. Estamos tendo uma conversa civilizada. – digo.

– Então, como vai o bebezinho número dois? – pergunta Haymitch.

Completei 5 meses semana passada. Teremos uma consulta com a Doutora Mary hoje para saber como está o bebê e saber o sexo também. Continuo indiferente a ele no entanto. Mas acabei mentindo para Peeta, dizendo que eu consegui ama-lo, que eu o amo. Não queria preocupar ele, então achei que fosse o melhor. Os hormônios me ajudaram a soltar algumas lágrimas enquanto eu contava a mentira a Peeta, ficando, assim, mais convincente.

– Está ótimo, eu acho. Temos uma consulta hoje. Saberemos se é menino ou menina. – respondo, tentando parecer mais animada do que realmente estava.

– Bem, espero que esteja tudo certo então.

Effie chega, carregando a mochila de Joe em uma mão e o garoto em outra.

– Pronto, vamos. – diz ela.

– Por que demoraram? – pergunta Haymitch.

– Joe não queria vir. Eu estava tentando convence-lo.

– Não tinha nada que convencer. Era só dizer vamos e puxar a mão do garoto.

– Haymitch, seja compreensível. É o primeiro dia de aula dele. – pede Effie.

– E daí? No meu primeiro dia de aula, ninguém me avisou que eu estava indo para a escola. Simplesmente disseram, para mim me arrumar e me expulsaram pra fora de casa, dizendo que alguns garotos iriam comigo pra lá. Eu nem sabia aonde ficava este “pra lá”. Só descobri quando cheguei.

– Ok, chega de brigas. É melhor irmos se não iremos nos atrasar. – diz Peeta puxando Alice pela mão.

Andamos até a escola. Quando chegamos perto, Alice travou os pés no chão.

– O que foi? – perguntei.

– Eu não quero ir. Vamos para casa. Por favor. – implora Alice.

– Está tudo bem. Joe estará com você. E nós vamos te buscar no final do dia. – a tranquiliza Peeta.

– Vocês prometem? – pergunta Alice.

– Sim, quando você sair por aquele portão, nós estaremos aqui te esperando junto com Haymitch e Effie.

– Tudo bem então.

Nós entramos na sala de aula junto com ela. Os pais entram junto na sala no primeiro dia. Joe sentou na última classe da fila do meio e Alice se sentou a sua frente. Pensamos que ia ser tranquilo até a professora notar que Katniss Everdeen, agora Mellark, e Peeta Mellark estavam em sua sala.

– Vocês são Katniss e Peeta. – afirma a professora apontando para nós. Ótimo, uma professora vinda da Capital. Era tudo o que eu precisava.

– Sobrou pra vocês. – sussurra Haymitch que estava atrás de nós.

– Sim, somos. – afirma Peeta.

– E essa é a Alice, então. – conclui a professora.

– Sim, é a Alice. – concorda Peeta novamente.

– Nossa, serei professora da filha do tordo. – sussurra ela pra si mesma. Mas ela logo sacode a cabeça como se tentasse se concentrar no que deveria. – Então, meu nome é Clarie. Serei professora dos seus filhos este ano...

Ela fez um longo discurso sobre a escola, como funciona as aulas, horários e várias outras coisas que não prestei atenção pois meus pés começaram a doer de tanto ficar em pé. Lembrando que aonde quer que eu vá estou carregando um bebê comigo. Ele não é tão pequeno quando deveria.

– Você quer sentar? – sussurra Peeta para mim.

Olhei para as cadeiras em volta, eram todas pequenas e baixas, especificas para crianças de 5 anos. Se eu sentasse em uma, ou quebraria, ou não conseguiria mais me levantar dela sem a ajuda de alguém.

– Não, está tudo bem. – sussurro pra ele.

– Então por que você está marchando no lugar?

Eu estava mexendo um pouco meus pés para pararem de doer.

– Eu já disse que está tudo bem, meus pés só estão formigando um pouco. Cale a boca e presta atenção no que a professora está dizendo.

Peeta se virou de novo para a professora ouvindo o que ela dizia. Finalmente ela nos dispensou. Peeta se abaixou a altura de Alice.

– Nós vamos ir agora. Mas nós voltaremos como prometemos, ok? – diz ele.

– Ok.

– Então me dê um beijo.

Alice dá um beijo em Peeta e logo após se levanta, enquanto eu me abaixo até onde consigo para receber seu beijo.

– Tchau maninho. – diz ela depois de beijar minha barriga.

Saímos e eu me sento no primeiro banco que encontrei no corredor.

– Pensei que não queria se sentar. – diz Peeta ironicamente.

– Na hora que você me perguntou eu não queria mesmo, agora eu quero. – retruco.

– Tudo bem, descanse um pouco. – diz Peeta e se senta ao meu lado.

Effie e Haymitch decidem nos esperar. Depois de meus pés pararem de doer, voltamos o trajeto para casa.

– Então, Effie. Não dará um irmãozinho para Joe? – pergunto, enquanto observo Peeta e Haymitch conversando mais a nossa frente.

– Não. Vou ficar só com o Joe. Não tive a sua coragem para ter outro.

– Bem, eu também não. Esse bebezinho aqui... – falo apontando para minha barriga - ... foi um acidente.

– Jura? Não foi planejado?

– Isso mesmo. Mas Peeta já estava me pedindo mais um filho a uns dois anos e além disso, Alice ia me pedir um irmãozinho de Natal. – digo rindo.

– O que? Alice iria pedir um irmão de presente de Natal?

– Sim.

– Alice é uma figura. – afirma Effie rindo.

– Haymitch nunca te pediu outro filho? – perguntei curiosa.

– Nunca. Acho que ele também só quer ficar com Joe. É melhor assim. Ele não tem muita paciência com uma criança. Imagina só duas?

– Nossa, Haymitch iria jogar elas pela janela. – concordo com Effie.

Haymitch se vira, mas continua a andar de costas.

– EI, ESTOU OUVINDO MUITO O MEU NOME NESTA CONVERSA DE VOCÊS. O QUE TANTO VOCÊS FALAM DE MIM? – grita Haymitch por causa da distância.

Peeta se vira também e caminha da mesma forma de Haymitch.

– ESTÁVAMOS DIZENDO QUE VOCÊ É TÃO IMPACIENTE QUE É CAPAZ DE JOGAR SEUS FILHOS PELA JANELA. – respondo.

Vejo Peeta rir.

– OLHA, DEPENDENDO DO CASO SOU CAPAZ MESMO. – brinca o velho mentor.

Os dois se viram novamente e voltam a conversar.

– Mas acho que Peeta os merece. – digo voltando ao assunto das minhas crianças. – Depois de tudo que ele passou, o mínimo que ele merece é um pouco de felicidade.

– Você não proporcionou só um pouco de felicidade para ele, Katniss. – discorda Effie. – Você proporcionou toda a felicidade a ele. Você não nota o que fez?

– Como assim? O que eu fiz? – pergunto não entendendo nada.

– Você transformou ele em um homem. Quando o conheci na colheita Peeta não passava de um menino inseguro que tinha certeza da própria morte. Mas depois dos primeiros Jogos, ele começou a batalhar não só pela sua vida, mas pela dele também. Foi você quem deu a esperança para ele, a coragem que ele não tinha. Você o tornou uma pessoa forte, e se não fosse por você ele estaria até hoje achando que você é uma bestante assassina feita para mata-lo. Na verdade, ele é quem tem mais a te dever. Você não tem que compensar nada a ele. Porque sem a sua ajuda, ele teria continuado na Capital e seria morto pelas mãos de Snow.

– Mas foi ele quem sofreu mais. – retruco.

Eu e minha mania de retrucar as pessoas.

– Os dois sofreram nesta história. E Peeta teria sofrido muito mais se você não tivesse salvado ele.

– Eu não salvei ele, quem salvou ele foi o Distrito 13.

– Salvaram porque você exigiu que o salvassem.

– Isso não vem ao caso, ele merece essas crianças de qualquer forma. Sem ele aqui comigo eu estaria morta neste exato instante.

– Pois eu acho que ele morreria primeiro.

– Pois você está achando errado, eu preciso mais dele do que ele precisa de mim.

– Por que você está gritando comigo? – pergunta Effie.

– EU NÃO ESTOU GRITANDO COM VOCÊ!!! – eu grito só pra me contradizer e começo a chorar. Malditos hormônios!!!

– EI, O QUE ESTÁ ACONTECENDO AÍ? – Peeta pergunta enquanto se aproxima. Ele só nota que estou chorando quando chega perto. – O que houve? Por que está chorando?

– Por causa destas drogas de hormônios. Eu odeio isso. Eu odeio chorar por motivo nenhum. Que idiotice!!! Eu pareço uma criança fazendo birra. Droga de hormônios!!!

Eu paro de falar porque Peeta começou a me abraçar.

– Está tudo bem, isto não vai durar para sempre. Daqui a pouco estas drogas de hormônios vão deixar você em paz. – me consola Peeta.

Me senti uma completa tola. O que parece isso? Estou chorando por causa de nada. Estou parada na rua, com Peeta abraçado em mim, e estou chorando sem ter um motivo. E Peeta está tentando me consolar, sendo que eu não preciso ser consolada.

– Desculpa. – eu sussurro em meio a um soluço.

– Tudo bem, isso faz parte. – diz Peeta secando minhas lágrimas.

– Ai, eu lembro o quanto estes hormônios me enchiam a paciência quando estava grávida de Joe. – suspira Effie, quando voltamos a caminhar.

– É, eu também me lembro. – concorda Haymitch. – Até porque você começava a gritar comigo.

Quando chegamos na Vila nos despedimos dos dois e entramos em casa. Me sento no sofá da sala.

– Estou com medo. – afirmo quando Peeta se senta ao meu lado no sofá e me abraça.

– Medo do que? Da consulta de hoje? – me pergunta ele.

– Não. Não é da consulta. Com isso aí eu estou bem tranquila.

– Do que você está com medo então?

– Do que Alice irá aprender na escola.

– Ah, ela vai aprender a ler, escrever. Fazer cálculos.

– Ela vai conhecer os Jogos Vorazes. – eu digo. Eu sei que ele estava se fazendo de desentendido. Ele só não quer me ver chorar de novo.

– Não se preocupe com isso agora. É o primeiro dia de aula dela. Acho que nem vão passar esta matéria pra ela este ano.

– É, mas um dia ela vai saber. E ela vai saber que estivemos no meio daquilo. Que matamos pessoas que não fizeram nada de ruim. Ela vai ver as fotos nos livros, vai ver filmes. Vai saber tudo sobre a Revolução. E vai saber que eu fui o símbolo dela. Ela vai nos fazer várias perguntas e eu não sei se vou ter capacidade de responder muitas delas.

– Você vai sim. E ela vai compreender porque é nossa filha, Katniss. Não se esquenta com isso. Você vai conseguir lidar com isso. E sabe por quê? – eu aceno a cabeça negando. – Porque você é uma mãe incrível. E ela ama você mais do que qualquer coisa e você a ama muito mais. Estou certo?

Eu aceno a cabeça confirmando antes de falar.

– E é por amar ela tanto assim, que eu preferia que ela não conhecesse o passado.

– Katniss, não seja tão ingênua. Você acha que Alice terá cinco anos para sempre? Ela cresce a cada dia, e fica mais esperta a cada minuto. Ela iria saber disso uma hora ou outra. E ela vai ter orgulho de você. Você foi uma heroína para Panem inteira. Você, sozinha, deu esperança para um povo todo, inclusive para mim. Ela vai sair correndo por aí e gritar: “Minha mãe é uma heroína, ela salvou milhares de pessoas.” – eu começo a rir da imitação de Peeta. – Ela não vai dar importância para as pessoas que você matou. Ela irá admirar você. E além disso, - ele coloca a mão na minha barriga – temos mais um aqui pra se preocupar. O que você acha que é desta vez? Menino ou menina?

– Eu acho que é outra menininha? – digo sorrindo.

– Outra? Não pode ser um menino desta vez? Seria legal ter um casalzinho.

– Pode ser, eu não sei. Eu só acho que seja. Alice quer que seja uma menina, para poder brincar de boneca com ela.

– Pode ser qualquer um, desde que seja saudável. Bem, vamos nos arrumar ou chegaremos atrasados na consulta.

Nos arrumamos e vamos de carro até o hospital. Em meia hora somos chamados pela Doutora Mary. Faço o mesmo de antes, troco de roupa e sento na cama que tem vários aparelhos por perto.

– Então, estão nervosos? – pergunta-nos a doutora.

– Um pouco. – admito.

– Vamos começar pelo coração como da última vez?

– Pode ser. – diz Peeta.

Ela coloca o gel na minha barriga, e coloca o pequeno aparelho em cima da mesma. Liga o alto-falante e imediatamente ouvimos a batida calma do coração do nosso bebê.

Eu comecei a chorar. Todo medo, insegurança, ressentimento que sentia pela aquela criança desceu por ralo abaixo assim que ouvi seu coração a bater. Pode ser exagero, mas chorei o dobro do que chorei com Alice. Agora sim eu posso dizer: Eu amo esta criança, eu o amo, eu o amo, EU O AMO!!!

– Olha. – falei a Peeta apontando para a tela onde aparecia o bebê. – É ele. Você está vendo? Olha lá. É lindo. Eu o amo. – sussurrei bem baixinho, quase em pensamento.

– Eu sei, estou vendo. É lindo sim. – diz Peeta, quando olho para ele o vejo com a cabeça meio torta. Estava fazendo uma careta engraçada. Comecei a rir. Ele não estava entendo nada que tinha naquela tela. – Do que está rindo? – diz ele entortando a cabeça para o outro lado.

Eu rio mais do que antes.

– Você não está entendo nada que tem naquele monitor, não é? – pergunto rindo.

– O que? Da onde você tirou isso? Eu estou vendo tudo nitidamente. – ele diz, entortando novamente a cabeça. Eu continuo a rir mais ainda. Até que ele mesmo começa a rir. – Para de rir de mim. Eu estou vendo o... Ah! Tá bom!!! Eu me entrego! Não vejo nada além de borrões.

A Doutora ri também e começa a apontar para a tela, mostrando onde estava a cabeça, os braços, as pernas e outras partes.

– Bem, vamos saber o que é agora. Menino ou menina. – diz a Doutora Mary desligando o alto-falante. Ela mexe aquele pequeno aparelho na minha barriga e faz uma careta. – Que coisa! Não estou conseguindo achar. Peeta, poderia me fazer um favor?

– Claro. Diga. – diz Peeta já se colocando de pé.

– Pode ir lá fora chamar o Doutor Louis?

– Posso, já volto.

Assim que ele sai a Doutora começa a falar.

– Estou mais tranquila agora, vendo que você se importa com bebê.

– Mas eu...

– Não, você não se importava antes. Acha mesmo que eu caí na historinha “estou chorando porque não pensava que estivesse com um mês de gravidez”? Por favor, Katniss. Não se pode enganar uma médica formada.

– Desculpa.

– Não há nada o que desculpar. E eu digo mais: você o amava desde sempre. Você sempre amou este bebê. Você só não queria admitir. Você saiu de uma revolução. Ainda está digerindo tudo o que aconteceu. Acha que o perigo e a morte sempre estarão ao seu lado. Você acha que ainda tem a chance de perder todos que ama. Mas você não tem. Eu tenho certeza que Peeta já deve ter dito isso pra você mas eu repito: Não existe mais Jogos Vorazes, Katniss. Não existe mais Revolução e nem perigo. Chega de temer pela vida dos que você ama. Eles vão morrer um dia, num futuro bem distante. Vão morrer de velhice, por causas naturais. Você também morrerá desta forma. E eles morrerão felizes por você ter feito parte da vida deles. E digo mais: eu sei o sexo do bebê, mas menti para poder tirar Peeta da sala e poder dar meu sermão em você.

Eu comecei a chorar novamente. Não acredito que uma médica precisou me dizer algo que eu teria notado por mim mesma. Ela está certa. Eu sempre amei esta criança. E é por amar ela que eu queria que ela não existisse. Queria que ela não tivesse que passar por todo perigo que há por aqui. Mas não há mais perigo. Não há mais as coisas ruins que haviam antes.

Peeta e um médico que deve ser o Doutor Louis, entraram na sala.

– Chamou-me Doutora Mary? – pergunta o rapaz alto.

– Sim. – responde a Doutora. – Não estava conseguindo saber o sexo do bebê, mas fiz mais algumas tentativas e acabei conseguindo descobrir. Obrigada e desculpa o incômodo.

– Sem problemas, não estou atendendo ninguém mesmo. – diz o Doutor e sai da sala.

Peeta volta a sentar-se na cadeira ao meu lado. Ele olha pra mim e sorri.

– Você está chorando ainda? – pergunta-me ele.

– São fortes emoções. – eu respondo rindo.

– Bem. – nos interrompe a Doutora. – Já que preferem conversar, creio que não querem saber o sexo do bebezinho.

– Não, não, não. Queremos sim. Pode dizer. – responde Peeta apressadamente.

– Ok, então. Meus parabéns. É um menino.

Peeta se levanta na hora, ergue os braços para cima comemorando.

– Eu disse. Eu disse a você, Katniss. Eu falei que seria um menino desta vez. Você me deve um bolo.

– Que história é esta de bolo? Não apostamos nada desta vez. Vai ficar querendo o seu bolo.

– Tudo bem, eu faço um bolo. Melhor, eu faço uma torta de limão toda pra você.

– Impossível. Uma torta só pra mim? Com Alice em casa?

– Tudo bem, eu faço duas: uma pra você e uma pra Alice.

A Doutora começa a rir:

– Vou imprimir uma foto da ecografia, tenho certeza que Alice vai querer ver o irmãozinho dela. – diz a Doutora antes de sair da sala.

– Alice vai surtar quando descobrir que é um menino. E não digo surtar no bom sentido. – afirmo.

– Deixa que eu sou bom com palavras. Isso eu resolvo. – diz Peeta.

A Doutora Mary volta com um pequeno envelope que deveria conter a foto da ecografia do nosso garotinho. No envelope estava escrito “caçulinha”. Comecei a rir.

– Nossa, muito engraçadinha você, hein? – afirmo.

– Sim, sou mesmo. – concorda a Doutora rindo.

E tivemos a mesma conversa de cinco anos atrás, com perguntas do tipo: “Você teve dores? Sangramentos?” e blá, blá, blá. Voltamos para casa e olhamos para o foto da ecografia.

– Você fala com ela então? – perguntei a Peeta, me referindo a Alice.

– Sim, pode deixar. Mas você vai ficar aqui quando ela surtar. Depois você dá uma desculpa e sobe. – responde Peeta. – Vamos para cozinha? Vou preparar o almoço.

– Sim, você precisa ir para a padaria ainda. Acho que hoje vou com você.

– Você vai?

– É, acho que sim. Não tenho muito o que fazer aqui em casa sem a Alice.

Peeta prepara o almoço, nós comemos, nos arrumamos e caminhamos até a padaria. Peeta não gosta de ir de carro para a padaria.

– Ei, pessoal, cheguei. – anuncia Peeta arrombando a porta.

– Patrão. E olha só. Se não é a patroa carregando o patrãozinho mirim. – diz Patrick, que estava atrás do balcão.

– O que está fazendo no balcão? – pergunta Peeta. – Onde está a Lucy?

– Estou aqui. – diz ela vindo de dentro da cozinha. – Precisei ir ao banheiro. Valeu Pat. Pode voltar pra cozinha agora.

– E desde quando sigo ordens suas? Os únicos que mandam em mim aqui, são o patrão e a patroa.

– Anda logo, seu babaca. – diz Lucy o empurrando para a cozinha.

– Tá, eu vou. Mas não porque você mandou.

– Então eu pago vocês para ficarem brigando na minha padaria? – brinca Peeta pegando o avental que Lucy estava alcançando a ele.

– Não. – responde Lucy. Só então ela nota minha presença na padaria. – Katniss, oi. Não vi você. Uau, você é a grávida mais linda de todas.

– Nossa, Lucy . Que exagero. – digo a ela.

– Exagero nenhum. É a mais linda de toda Panem. – fala Peeta. – Mas agora vou para a cozinha. Fica aqui conversando com a Lucy, Katniss.

– Tá. – digo antes de Peeta se virar e ir para a cozinha.

– Onde está Alice? – pergunta Lucy.

– Na escola. É o primeiro dia de aula dela.

– Sério? Eu lembro do meu primeiro dia de aula, estava tão animada.

– A Alice estava com medo. – afirmo.

– Bem, cada um tem sua forma de reagir ao primeiro dia de aula.

– Isso é, no meu eu estava igual a você.

Fiquei conversando por um bom tempo com Lucy. Mas me deu uma vontade de ir a floresta. Eu ia ir para a cozinha avisar Peeta que eu iria dar uma volta na floresta mas ele saiu de lá no exato momento que me bateu a ideia.

– Oi, tá tudo bem? Precisa de algo? Está com fome? – Peeta às vezes me deixa tonta com sua torrente de perguntas.

– Está tudo bem. Não preciso de nada. Não estou com fome. – respondo todas as suas perguntas. – Acho que vou dar uma volta na floresta.

– Não vai não. – me corta Peeta.

– Por que não? – falo em choque achando que ele não veria problemas.

– Porque você está grávida. É por isso.

– E daí? Não vou perder o bebê se der uma voltinha na floresta.

– E se você cair? Escorregar? Ou sei lá mais o que?

– Peeta, eu conheço aquela floresta tanto quanto minha casa. Estou indo, tchau. – digo e viro as costas para ele, indo para a porta. Mas Peeta corre até ela e para na frente dela, encostando suas costas.

– Mas eu digo que você não pode ir.

– O que? Saia daí. Eu quero sair.

– Não vou deixar você sair neste estado.

– Como assim neste estado? Eu não estou com câncer, lepra ou qualquer outra doença. Eu estou grávida. Não vou morrer só por causa de uma caminhada na floresta.

– Não importa. Não quero que você vá a floresta. – eu bufo, viro as costas e me sento em uma das mesas vazias da padaria. Olho para a janela pois não quero olhar para Peeta. – Você sabe que eu faço isso pro bem de vocês dois.

– Não, você faz isso porque é neurótico. Cético. Devia se tratar se você quer saber. – retruco ainda olhando para janela.

– Você é meu eterno tratamento. – ele sussurra antes de voltar pra cozinha.

Fico um tempo lá, pensando na possibilidade de sair correndo porta a fora e ir para a floresta. Não, não conseguiria no estado que estou. Peeta me alcançaria facilmente, ou algum de seus funcionários. Parece que vou ficar trancada mais uma vez naquela maldita Vila.

– Não fique irritada com ele. – diz Lucy em certo momento. – Ele só se preocupa com você.

– Se preocupa até demais. Ele sabe que eu sei me virar muito bem sozinha. – digo em resposta.

Peeta aparece pouco depois, senta a minha frente na mesa.

– Você ainda está zangada comigo? – não me deixei levar pela sua voz dengosa e nem pela cara de cachorrinho arrependido que ele fez. Virei a cabeça para o lado como resposta e fiquei a observar as crianças que brincavam na rua. – Não fica assim, amor. Você sabe como eu sou. Katniss? Amor? Olha pra mim. Por favor. – continuo a ignorar ele, como se ele nem estivesse ali. Cada dia mais me surpreendo com o grau da minha infantilidade. Ele solta um suspiro, se levanta, vai atrás do balcão e volta com algo em mãos. Um cupcake. – Hmm, você quer? – ele pergunta desenhando um circulo no ar com o cupcake.

– Não. – eu sussurro baixo sem tirar os olhos do doce, minha cabeça seguia o movimento que ele fazia. Ele levou o cupcake a boca e deu uma mordida. Eu segui tudo com os olhos, sentindo minha boca salivar. Trapaceiro. Ele está fazendo de proposito.

– Hmmm, está tão gostoso. Acabei de faze-los. Está cheio de recheio de chocolate. E tem mais esta cobertura de coco por cima. Tem certeza que não quer?

– Tenho. – sussurro mais uma vez, sem tirar os olhos do cupcake.

– Sobra mais pra mim. – diz ele antes de dar mais uma mordida no doce. Como ele é um grande vigarista, comeu todo o cupcake na minha frente e bem devagarzinho, enquanto dizia o quanto estava gostoso. Enquanto eu não conseguia tirar os olhos daquele alimento e ficava a salivar. Como ele é maldoso quando quer!!! Depois de devorar lentamente o doce, ele levantou-se, e buscou outro cupcake e desta vez ele não o comeu. Depositou na mesa e o empurrou até mim. Fiquei olhando desconfiada do doce para ele, e dele para o doce. – Pode pegar, é seu. – diz ele, mas quando estendo a mão para pegar ele o puxa de volta.

– Ei, você disse que é meu. – protesto.

– Vai ser seu assim que você me der um beijo doce igual ao cupcake. – ele diz se levantando e parando ao meu lado.

– Vai ficar esperando sentado. – digo cruzando os braços.

– Tudo bem, acho que vou comer este também. – diz ele abrindo a boca e levando lentamente o cupcake até ela.

– NÃO!!! – eu grito e me levanto puxando Peeta pela gola da camisa e dando um beijo longo nele. Assim que desgrudo meus lábios dos dele, arranco o cupcake da mão dele e mordo me virando de costas para ele. Ele me abraça por trás e eu apoio a cabeça em seu peito enquanto suspiro – Deus!!! Como isso é gostoso.

– Ah, obrigado, meu amor. Eu sei que sou gostoso. – fala Peeta brincando.

– Você não, o cupcake. – afirmo antes de dar outra mordida.

Deixamos a padaria, pois já estava quase na hora de buscar Alice na escola. Prometemos a ela, que estaríamos lá quando ela saísse. Caminhamos apressados, achando que já estávamos mais que atrasados. Quando chegamos lá descobrimos que faltava uma hora para as crianças serem liberadas.

– Nossa, como somos burros. – afirma Peeta sentando em um banco próximo.

– O que vamos fazer? Esperar ou voltar daqui a uma hora? – pergunto me sentando junto com ele.

– Vamos esperar, vamos ter que voltar depois mesmo. Você vai ficar até cansada.

Esperamos aquela longa uma hora. Até que Effie e Haymitch chegam no exato momento em que abrem os portões e as crianças saem correndo.

– Eles chegaram no momento exato. – sussurro para Peeta enquanto nos levantamos.

– Eu notei. – sussurra Peeta de volta enquanto caminhamos em direção ao casal. – São uns filhos da mãe.

Esperamos Alice e Joe saírem. Alice e Joe saem juntos e olham para os lados nos procurando. Peeta levanta um braço e acena para que eles possam nos ver. Quando Alice nos vê, cutuca Joe e diz alguma coisa para ele enquanto aponta para nós. Eles correm em nossa direção. Peeta pega Alice no colo.

– Vocês vieram. – afirma Alice.

– Claro que viemos. Fizemos uma promessa, lembra? – diz Peeta.

Voltamos caminhando para casa, com as crianças enchendo nosso ouvidos sobre como foi incrível o primeiro dia de aula.

– Eu fiz um desenho. – afirma Alice.

– Ah, você fez? E o que você desenhou? – pergunto.

– A campina cheia de borboletas.

– Dever estar muito lindo.

– Eu estou com o desenho na mochila, eu mostro para vocês quando chegarmos em casa.

– E você cantou? – pergunta Peeta.

– Não, não tivemos aula de música hoje, papai. A Melanie está na minha sala.

– Sério? Viu só? Você já tem mais uma amiga na sua turma agora.

– Mas eu não havia visto ela na sala quando entramos. – afirmo, tentando puxar da minha memória se havia visto Melanie e sua mãe na escola.

– Ela chegou atrasada. – explica Alice.

Quando chegamos em casa, Alice tirou seu desenho da mochila e nos mostrou. Era incrível, era um desenho muito complexo para uma criança de apenas cinco anos.

– Uau. – diz Peeta impressionado. – Olha quantos detalhes. Isso aqui está muito bom.

– Obrigada papai. – diz Alice.

– Está muito lindo. Você fez sozinha? – pergunto.

– Fiz sim.

– Bem, agora nós temos uma surpresa pra você. – diz Peeta. – Vamos para a sala.

Nós nos acomodamos no sofá. Esperamos Peeta sentadas, até que ele volta com o pequeno envelope que a Doutora Mary havia nos entregado. Ele entrega nas mãos de Alice.

– O que é isso? – pergunta a menina extremamente curiosa enquanto tirava a foto de dentro do envelope.

– Isto aí é o seu irmão. – digo.

– Isto é o meu irmão? – pergunta Alice fazendo a mesma careta engraçada que Peeta fez na sala da Doutora Mary.

Eu começo a rir.

– É sim, espera, você está segurando a foto de cabeça para baixo. – fala Peeta rindo e arrumando foto na mão de Alice.

– Ainda não encontrei meu irmão nela. – afirma Alice.

– Eu vou te mostrar... – digo e começo a mostrar para Alice onde estava a cabeça, as pernas e todo o resto, assim como a Doutora fez com Peeta. Depois de eu terminar de mostrar tudo, Alice faz a pergunta.

– Mas eu vou ter um irmãozinho ou uma irmãzinha?

Peeta e eu nos entreolhamos, como notei que ele não iria falar eu soltei um suspiro antes de responder:

– É um irmãozinho, Alice. Um menino.

– UM MENINO?! – como previ antes, Alice surtou com a ideia de ter um irmãozinho menino. Ela se levanta e olha para Peeta e para mim como se esperasse uma explicação. – O QUE EU VOU FAZER COM UM IRMÃOZINHO?! ELE NÃO VAI QUERER BRINCAR COMIGO, ELE VAI QUERER BRINCAR COM JOE E COM OUTROS MENINOS. TROCA ELE.

– Como assim trocar, Alice? – pergunto chocada. – Não dá para trocar o bebê.

Então ela começa a chorar, ela devia ter certeza que seria uma menina pelo número de soluços que ela solta.

– Tudo bem, venha aqui com o papai. – diz Peeta abrindo os braços para ela. Ela corre até ele ainda com a foto da ecografia nas mãos e mergulha o rosto na camisa do pai.

Peeta olha para mim e balança a cabeça, afirmando que esta era a minha deixa para mim poder sair dali.

– Eu preciso muito de um banho. Caminhei o dia todo. Vou subir. Me chamem para o jantar. – digo e subo sem esperar uma resposta.

Eu realmente tomei um banho, depois deitei na cama, torcendo para que Peeta consiga convencer Alice de que ter um irmãozinho seria bom. Alice sobe depois de um tempo. Ela senta na cama e eu também me sento. Ela me devolve o envelope contendo a foto da ecografia.

– Papai disse que ter um irmãozinho vai ser legal. – começa Alice.

– Ele disse? – ela afirma com a cabeça. – E o que mais ele disse?

– Disse que eu vou poder ensinar muitas coisas a ele, como desenhar e andar no balanço. E que ele vai querer brincar mais comigo do que com Joe porque sou a irmã mais velha dele. E que ele vai querer fazer tudo o que eu faço.

– Viu só? Ter um irmãozinho será muito divertido.

– É, vai ser mesmo. – Alice se debruça na cama e encosta o ouvido na minha barriga, eu começo a fazer um carinho em seus cabelos – Desculpa, maninho. Eu gosto muito de você. Eu não quero que o papai e a mamãe troquem você. Eu te amo.

Eu sorrio e convenço os meus olhos a não deixarem cair as lágrimas que estão deixando meus olhos úmidos. Alice sempre começa a chorar quando vê Peeta ou eu chorando, não importa qual seja o motivo. Somo interrompidos pela voz de Peeta que soou lá da cozinha.

– MENINAS, VENHAM JANTAR. – grita ele lá de baixo.

– Vamos comer? – pergunto a Alice enquanto levanto da cama.

– Vamoooooos!!! – vibra Alice.

Descemos nós três, eu de mão dada com Alice, e o pequeno garoto dentro de mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sei que para algumas de vocês eu prometi dizer o nome do bebê neste capítulo, mas fiz uma mudança de planos, então desculpem. Acabei mentindo para vocês e para mim mesma. Espero que entendam. Até o próximo capítulo. Beijocas da Tia Rafú para vocês!!! ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ao nascer de uma nova Esperança" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.